TEMPORADA 2 - EPISÓDIO 9
Diego Mendes
Temporada 2 Episódio 9 – Diego Mendes
PROJETO: Desenhando Produtos
TRANSCRIÇÃO: Lady González
Diego é líder de Design no Vale do Silício. Ele lidera a equipe de designers trabalhando na área de realidade virtual e aumentada (AR/VR) no Facebook. No Facebook, Diego também foi Design Lead no Stories. Antes do Facebook, o Diego foi Designer em 3 startups (Pocket, Chegg e Meebo) e na consultoria Essential Design. Os produtos criados pelo Diego alcançaram milhões de pessoas no mundo todo, e ele recebeu vários prêmios em sua carreira, como o Material Design Award do Google, o Red Dot Design Award e o Webby Award de melhor experiência do usuário. O Diego é de Maringá, PR e vive nos EUA desde 2003.
instagram.com/diegomendesdesign
Recomendações
Nako, diretor de design no Facebook – compartilha conteudo legal no Instagram e no Youtube
https://www.instagram.com/curvadosorriso/
https://www.youtube.com/channel/UC-zPr5LYtiOeTSE8h9W_GeA?view_as=subscriber
Lucas Hirata:
Design Lead no Google que também compartilha conteúdos e dicas super legais
https://www.instagram.com/lucashirata/
https://www.youtube.com/channel/UCR1aHifbCJTuGSF7jnWO-9g
Expatria do Al Lucca – conteudos sobre designers brasileiros dentro e fora do Brasil:
Hoje nós vamos falar com ele que é design manager no Facebook, ele trabalha com ARVR, obrigado Diego pela sua presença.
Diego – Estou feliz de estar com vocês, poder compartilhar com vocês um pouquinho.
Obrigado mais uma vez, o Diego já me recebeu várias vezes onde ele trabalha. E agora estou tendo a oportunidade de conversar outra vez. Não só isso, ele conversou comigo em outros lugares. Queria que você se apresentasse, dissesse sua história.
Diego – Eu sou de Maringá, estudei lá até o meio da faculdade, estudei em colégio estadual o tempo todo, com exceção do 3º ano que você tem que estudar para vestibular, aí meus pais guardaram uma graninha para pagar o colégio particular para passar no vestibular. E eu comecei minha carreira estudando psicologia, sempre fui curioso em entender como as pessoas pensam, como elas escolhem e tal. Comecei nessa área. Quando eu estava no 2º ano de faculdade no Brasil, meus pais resolveram se mudar para os Estados Unidos, a ideia era poder dar oportunidade para a gente que eles não tiveram quando eram mais jovens.
Eu vim para cá para os Estados Unidos, transferi, fiquei meio perdido um período porque eu pensei que ia estudar psicologia e descobri que psicologia era legal de estudar, mas era muito difícil de aplicar. Resolvi fazer um mestrado em administração e durante o mestrado, eu li um estudo sobre UX, experiência do usuário, aí eu descobri que era isso que eu queria estudar, isso que eu quero fazer.
Então eu fiz um segundo mestrado em design, entrei de vez na carreira de design mesmo, trabalhando em consultoria de design na região de Boston, onde eu trabalhei em vários produtos, alguns que são fáceis de identificar, são bancos automáticos e o iRobot que faz aqueles robôs que limpam sua casa. E depois uma startup aqui no Vale do Silício, chamada Meebo, a Meebo me convidou para vir trabalhar, eu vim e depois o Google adquiriu, depois eu curti muito startup, entrei em outra chamada Cheeg, depois fui para o POC, que era uma startup pequena na época, fiquei lá até a aquisição do Mozila. E fui para o Facebook há 4 anos atrás, trabalhei na equipe de stories, bastante com Instagram, Messenger, com Facebook nos Stories, depois de 2 anos trabalhando como designer, mudei de posição e fui para Design Manager na equipe de ARVR. Vim do lado da terra vermelha de Maringá e agora morando aqui há um tempo.
Você está há quanto tempo?
Diego – Nos Estados Unidos desde 2003, quase 20 anos, 17 anos.
Comenta sobre a transição do Brasil para os Estados Unidos. Você já falava inglês?
Diego – Eu vim com a minha família, não estava sozinho, o que já era uma vantagem boa, vim com 19 anos, era novão, estava bem no começo mesmo, dava tempo de ajustar a carreira digamos assim. Mas o meu inglês era bom, estudei inglês no Brasil, tinha feito Fisk, Cultura Inglesa em Maringá, tinha me formado em inglês nessas escolas particulares boas, meus pais sempre incentivaram muito estudar inglês, tinha feito Fisk, eu tinha me formado em inglês nessas escolas particulares de línguas, meus pais sempre incentivaram muito você a estudar inglês, principalmente meu pai. Imagino que no fundo da mente dele, ele tinha essa ideia de talvez mudar. Meu inglês era bom, não era perfeito, mas dava para me virar tranquilo.
Quando entrei no College, que eu tive que escrever aqueles trabalhos científicos e tal, aí eu tive que aprender, aí eu penei, tive notas baixas no primeiro semestre, porque é uma adaptação muito difícil, você vir de um inglês legal, mas de uso para passear, comprar coisas para um inglês onde você está lendo, estudando, escrevendo, fazendo apresentação em inglês 24 horas por dia, foi bem difícil no início. Mas depois do primeiro semestre fui aprendendo mais, chegou num ponto que meu inglês estava forte, você está sempre aprendendo e tem uma base legal.
Eu acho que se eu não tivesse estudado inglês, teria demorado muito mais. Mas como estudei a vida inteira, facilitou bastante. E teve a transição de visto, quando a gente chegou não tinha visto de estudante, de trabalho e tal. A gente teve que esperar até o visto chegar para continuar a faculdade. Eu trabalhei de pintor, jardineiro, padeiro, zelador, escritório, tudo o que era trabalho manual que dava para eu trabalhar no início, foi essa área, que é bem diferente do Brasil. No Brasil você está estudando, você sonha em ser psicólogo, ter seu consultório e tal, aí você chega aqui, tem que acordar 04h para ir para a padaria fazer pão ou tem que botar luva, gorro para pintar casa do lado de fora no inverno, complicado, né?
Mas é bom porque você aprende, acaba te ajudando a manter a humildade, essa perspectiva de vida, a sua identidade muda e não fica tão ligada ao trabalho, eu acho que é importante para designers, essa é uma das coisas que eu tento carregar comigo, trabalho é trabalho, é diferente de quem eu sou como pessoa.
Muito legal, olhando de fora a gente não tem essa perspectiva que a pessoa está no Facebook e tal, mas tem toda uma escada.
Diego é sempre uma aula, contando a histórias, você passou por tudo isso e tinha que fazer pão. Uma das diferenças que eu vi, até pedi ajuda para você, para entender como era a dinâmica e agora estou lendo um livro sobre as diferenças culturais que a gente tem no Brasil e em outros países, nos Estado Unidos, formas de lidar com situações, por exemplo, objetividade na hora de apresentar, na hora de conduzir um case, na hora de se posicionar perante a um desafio e tal. Qual sua visão que a gente enfrenta como brasileiro, na hora de se posicionar como designer, é muito nítido em relação a objetividade.
Diego – Eu trabalho com alguns brasileiros aqui do Facebook, que também são designers, tenho outros amigos que trabalham no Google, na Apple, em startups e eu vejo que o brasileiro tem qualidades boas, o brasileiro nunca teve acesso a coisas top de linha, a maioria dos designers que vieram do Brasil eram designers que tinham que se virar para aprender a fazer as coisas, craquear. A gente não tinha acesso a última versão do Photoshop, não tinha MAC, tinha que se virar, essa é a diferença que eu vejo muito no designer brasileiro, é essa capacidade de se adaptar muito bem, de aprender coisas novas, de estar sempre tentando crescer.
O brasileiro que trabalha tem uma garra muito forte nesse sentido e a outra parte que é muito boa vindo da cultura brasileira, é a parte social, o brasileiro faz amizade fácil, curte a parte mais social do trabalho e isso ajuda em culturas mais frias, como americana, europeia. Para mim isso foi diferente e demorou mais para se adaptar, é a questão de ele entender como a gente deve se tornar líder. No Brasil quando você é novo na carreira, você espera as pessoas te dizerem o que você deve fazer.
E aqui eles esperam que você desde novo esteja tomando iniciativa. E tal, não tem tanto a preocupação com autoridade, pelo menos nessa área de tecnologia e design. Eu acho que essa foi uma adaptação, aqui não tem problema que não seja seu, se você descobriu o problema, a sua responsabilidade é que você tem que tentar ir atrás e resolver, independente do seu nível de senioridade e etc, mais ou menos isso que eu penso.
Recentemente você fez a movimentação para virar líder, assumir uma posição de liderança. Como você se sentiu quando acordou de manhã e falou: “bom, agora não sou mais contribuidor individual, agora sou manager”. O que mudou?
Diego – A coisa legal no Facebook, é que eles têm pistas paralelas digamos assim para ser contribuidor individual e para ser Manager. E você pode mudar de IC para manager, tentar essa parte de liderança e gerenciamento de pessoas e se você não gostar, você pode voltar a ser IC. No meu caso sempre curti muito fazer o design, prototipar e tal, é algo que sempre curti muito, dessa parte eu sinto bastante falta.
Porque manager gerenciando a equipe, eu não faço muito isso. Mas tem outras partes que são gratificantes, a parte de fazer coaching, ajudar as pessoas a crescerem, dar feedback para as pessoas, ajudar as pessoas a melhorarem seu trabalho e você ver o progresso das pessoas, o crescimento que estão tendo, a alegria de ser manager é essa, ver o crescimento da equipe que você está construindo e não só a alegria de lançar produto que você fez o design e que você prototipou e tal.
Que dica você daria para quem está querendo virar essa chave de se tornar líder? Qual seria a dica de ouro?
Diego – Não sei se tem uma dica de ouro. Eu acho que tem muita gente que pensa que a única maneira de crescer é mudando para liderança e eu não acredito nisso, eu acho que você pode ser líder mesmo sendo IC. O tipo de liderança é um pouco diferente, como IC geralmente essa liderança é através de influência, criar, prototipar, mostrar o futuro do produto, alinhar a equipe nesse futuro que você está construindo, para que não seja só questão de design, mas que seja produto, a equipe de engenheiros e tal. Então, tem esse lado que eu acho que é muito importante também, a gente tem no Facebook, o IC tracking, você pode chegar ao mesmo nível que diretor ou vice-presidente. Você continua sendo IC, é a sua influência que cresce muito como IC nesses tipos de projetos mais ambíguos.
A questão de liderar pessoas você curte se tem isso no seu coração, se é algo que te da alegria. E se for, se você recebe uma energia positiva de ajudar pessoas a crescerem, se isso é algo que te traz muita alegria, vale a pena fazer a parte de liderança, porque tem outras partes de lideranças que são complicadas, planejamento, número de reuniões, estar lidando com pepinos, recrutamentos, essas partes são chatas na liderança. Para mim, a parte que eu mais gosto é a parte de coaching, eu tenho tanta alegria nessa parte de ver as pessoas crescendo, se tornando melhores como pessoas e como designers, mas eu acho que não é para todo mundo, eu acho que as empresas tem que criar um track, para que os contribuidores individuais que querem continuar crescendo como contribuidores individuais, possam continuar.
Não sei se você pode falar, mas como é no Facebook? Tem um plano específico para mudar de tracking? Como foi no seu caso?
Diego – Você bate um papo com a pessoa que está te contratando, porque você já está dentro e tal, então, eles não têm processos de entrevistas. Para você se tornar manager no Facebook obviamente você tem que estar num nível de senioridade bom, não é que eu acabei de sair da faculdade e vou virar manager, mas quando você está no nível como IC, a ideia é que a gente quer que você se torne líder e você quer, a gente quer que você continue fazendo o processo de mentoria, de educação de designers novos que estão chegando. Eles fazem esse processo bem fácil, conforme você vai aprendendo, você vai crescendo nessa área de manager e não esquece o que você aprendeu como IC, na verdade o que você aprendeu como IC, informa como você lidera sua equipe agora, é um processo bem tranquilo dentro do Facebook nesse sentido.
Quais são as principais atribuições de um Design Manager dentro do Facebook?
Diego – Tem a parte de liderança da equipe, seria mais essa questão de gerenciar, coaching, ajudar a equipe tal, ajudar a equipe a crescer, manter um planejamento legal para que a gente consiga contratar designers, para que a gente não bloqueie a equipe de engenharia, para que a gente tenha nosso trabalho um pouco mais a frente do que o trabalho deles. Tem a parte de estratégia, é ajudar a criar estratégia para o futuro do cliente, isso seria onde a gente quer que o produto esteja daqui a 4-5 anos e como a gente chega lá, criar esse planejamento é importante.
E a outra parte de manter a equipe bem focada, a equipe tem que saber claramente qual o objetivo do produto que estão criando, qual a razão pela qual o trabalho ele é super importante, qual o valor que o trabalho que eles estão fazendo traz para as pessoas que vão utilizar o produto. Então, é manter o foco no valor que a gente cria para as pessoas que vão utilizar nossos produtos. E o foco na nossa missão, para que a gente não comece a perder a nossa direção, é aí que a gente trabalha, nas coisas mais importantes para atingir nossos objetivos. Porque aqui no Facebook você pode trabalhar em tudo, é uma das partes que a gente tem que manter o foco na nossa target.
Eu acho que é muito legal, a sua formação original foi em psicologia. Qual sua visão sobre a psicologia aplicada ao design? Como isso te ajuda? É um superpoder que você tem?
Diego – Não acho que é um superpoder, mas eu acho que ajuda, ajuda mais você a entender um pouco melhor como as pessoas fazem as escolhas que fazem, entender a hierarquia de necessidade que as pessoas precisam para tomar decisões, você poder criar empatia com pessoas que são diferentes de você, que é algo que você faz muito na área de psicologia, escrevendo as dificuldades que as pessoas tem e tal.
A gente faz muito isso quando está criando, ouve muito as pessoas que são nossos usuários, nos colocar na posição delas. A psicologia ajuda nesse sentido, a você entender a perspectiva de pessoas diferentes de você, como a identificar, as necessidades que essas pessoas tem e também te ajuda a entender como essas pessoas tomam decisões. Então, eu não sei se é o superpoder, mas definitivamente é algo que te ajuda, a criar produtos para servir a essas pessoas.
Eu tenho dado aula para algumas pessoas que estão em formação de UX, o que a gente tem visto é que tem pessoas migrando para a área de experiência do usuário e muitas vezes elas vêm de backgrounds completamente diferentes. Por exemplo, biologia, veterinária, N áreas. Mas ao mesmo tempo ter a formação em design, ela não é o único pré-requisito para trabalhar na área. Você consegue ter outras especialidades?
Diego – Tem muita gente que trabalha com User Reseacher, a área de pesquisa com usuário. E essa galera geralmente tem uma formação diferente, psicologia, sociologia, então, tem essa área também. Mas em geral eu acho que não precisa ser formado em design para trabalhar em UX, tem servisse design, tem várias outras áreas de design que você sendo formado em seja lá qual for, você pode aprender o processo de design, de como criar produtos.
Eu acho que a parte que é mais difícil para essa turma que não vem de uma tradição de design, é aprender a ter um bom gosto digamos assim, com relação a design, aprender a tipografia, a cor, mexer com layout, entender como acontecer a percepção visual dos produtos que que eles estão criando. Essa parte de design visual é mais difícil de aprender, a não ser que você esteja colocando a mão na passa, esse é meu modo de ver. Conforme você vai trabalhando, você vai aprendendo, tentando. E geralmente você aprende com os erros, eu acho que essa é a parte mais difícil para quem não está vindo de uma área tradicional de design, mas eu acho que é possível aprender essa área também com treinamento, tempo e prática
Uma das coisas bonitas que você falou antes, escolher a carreira pelos motivos certos, não estou indo única e exclusivamente pelo dinheiro, claro que o dinheiro é importante, a remuneração é importante, mas ela não deveria ser o unido fator para determinar se você vira IC, manager, mas quando a pessoa está no início da carreira, começando, é júnior, ela se atira no primeiro emprego que aparece em design, UX para trabalhar. Qual a importância de trabalhar com alguma coisa que a gente gosta?
Diego – Eu acho super importante, tem uma pesquisa que diz basicamente assim: quando você passa um certo número de remuneração e é um número que permite você ter uma vida confortável, você tem sua casa, seu carro, tem o que comer seguro de saúde. Depois que você passa desse nível, aí o dinheiro não fica tão importante, porque você tem praticamente todas as suas necessidades básicas preenchidas. O que passa a ser importante é o seu nível de alegria, do trabalho não parecer trabalho. É o tipo de coisa que você acorda de manhã, vai para o trabalho e não está: “tenho que ir para o trabalho de novo segunda-feira, que coisa horrível”.
Não é essa energia que você tem, você nem lembra que é segunda-feira, você quer chegar no trabalho, você está feliz de estar lá, isso é muito importante. Já tomei decisões no passado de mudar de empresa, de receber menos porque eu gostava mais do trabalho na outra empresa, porque era um trabalho que eu me identificava melhor. Eu acho que é comum quando você chega num nível salarial, você tem suas necessidades básicas preenchidas, precisa chegar lá, então, eu acho que é esse o conflito. Geralmente quando você está no início de carreira a grana é muito importante porque você ainda não construiu seu pezinho de meia.
Então, você está muito mais focado nisso, isso também vai de pessoa, tem gente que tem motivação diferente para ter dinheiro. Por exemplo, tem gente que está sustentando a família toda, sustentando pais, mães, irmãos, às vezes é um pai que faleceu e uma mãe está doente e você tem que assumir aquilo muito jovem para estar apoiando sua família. Eu acho que varia muito essa questão de qual motivação pela qual você está indo fazer dinheiro, isso é importante a gente manter em perspectiva também.
Vale a pena ter dois empregos no início da carreira ou é melhor focar em um só e ser muito bom naquilo?
Diego – Eu acho que depende. Eu trabalhei em duas consultorias ao mesmo tempo quando era mas novo, porque uma consultoria só podia me pagar 20 horas e a outra só 20 horas por semana, vou trabalhar nas duas, eu estudava a noite e era puxado, saía de um, pegava um sanduiche e ia para o outro, estudava a noite e estudava no fim de semana.
Mas quando você é novo e não tem filho, não tem família é mais fácil fazer esse tipo de atividade. Se você está feliz com dois empregos, está aprendendo, tem energia, tem tempo e você está curtindo, eu acho que vale a pena fazer, vai abrir seu leque de experiência e tal. Por isso que eu digo que depende, nem todo mundo está nessa situação que permite a eles terem dois empregos. O que eu diria para você, a questão é como você está crescendo, o que você está aprendendo de novo, como esse emprego ou esses dois empregos estão contribuindo para te ajudar a crescer como design e como pessoa. Porque na verdade, é isso que você quer do emprego, você sabe que quando for procurar seu próximo emprego, você vai estar num lugar melhor, tanto como design quanto como pessoa.
E o que você falaria para pessoas que estão começando com design? O que estudar? Que caminho seguir?
Diego – Estudar é difícil, é um campo muito novo e também tem muita coisa que não funciona, tem muita gente que fala: “vem fazer o um Bootcamp e paga tantos mil, aí você tem emprego garantido”. Tem que tomar cuidado com esse tipo de promessa. Eu acho que não tem uma pílula de milagre, é como qualquer outra área, você tem que aprender, você tem que continuar a estudar, tem cursos que você pode fazer, tem muito material de graça no YouTube, na internet, tem livros para você estudar, tem vários caminhos para você aprender.
No meu modo de ver se você quer ser designer, você tem que aprender design, tem a parte técnica de design, tem que estudar tipografia, layout visual, percepção visual. E tem a parte de prototipagem, tem que estudar como cria protótipos e tal, a parte de processo de design, tem design sprint, design workshop, tem que aprender como fazer, como liderar essas coisas. Tem muita coisa que você pode estudar, não quer dizer que você vai aprender tudo em dois meses. Pensa na sua carreira como que você vai construir, tijolinho por tijolinho. E se você continuar batalhando, você vai chegar lá, esse é o meu modo de ver, foi o jeito que eu aprendi e eu fui aprendendo, a cada 6 meses eu tinha uma área nova que eu estava focando e tal e aperfeiçoando aquela área.
Queria que você falasse sobre cultura de design. Sei que você está numa das maiores de empresas, o Facebook é uma potência. Queria que você comentasse sobre a cultura de design no Facebook, como é estar, viver isso?
Diego – O Facebook tem coisas muito legais, a gente é uma comunidade grande, tem bastante designers, pesquisadores, tem content designers também que é a galera que escreve, algumas pessoas chamam de UX Writing, tem um leque de habilidades muito legais. Além disso o Facebook tem especialistas, tem ilustradores, tem criadores de mundos, tem terceiras dimensões para ARVR e tal. você aprende muito só de tomar café, bater papo e almoçar com seus colegas. A gente tem nossas conferências internas de design, onde outros designers vêm e dão aula para a galera e tal. A gente tem várias maneiras onde você pode crescer, eu acho que essa é uma das vantagens de estar numa empresa grande.
E também tem as culturas individuais de design, o Facebook tem várias empresas dentro do Facebook, o Instagram é uma, o WhatsApp é outra, o Messenger é outra, o Facebook App é outra. Cada uma dessas empresas tem um tipo de cultura de design individual. Por exemplo, a maneira como o Facebook App cria produto, é completamente diferente de como o WhatsApp cria produto, o Facebook App testa mais, está sempre lançando coisa nova, a galera do WhatsApp demora para lançar, o processo é mais lento e rigoroso, porque o aplicativo tem várias considerações.
O Instagram também sempre foi focado numa parte refinada de design, pelo próprio tipo visual do aplicativo. E no ARVR é completamente diferente, é realidade aumentada, realidade virtual, você tem que lidar com questão, pensar sobre som, qual o impacto de som, se ele vem de um lado ou de outro. Tem que lidar com percepção de 2D e 3D e como as coisas mudam a experiência do usuário. É bem diferente trabalhar nessa área do que trabalhar em área de telefone, na internet e tal, to be é bem diferente do que trabalhar em ARVR. Outra coisa legal, é fácil trocar de IC para manager, também é fácil trocar de posição no Facebook, se você está indo bem, você manda uma mensagem para o manager que está contratando, vocês tomam um café e se for um bom feat, se vocês curtirem, você pode começar a trabalhar lá. Eles permitem que você faça essa troca de time.
O Facebook é uma empresa que tem várias empresas. Como é estruturado o time de design nisso tudo? Tem um capítulo maior que engloba tudo e é quebrado?
Diego – Tem uma equipe central de design, digamos assim, de liderança, essa equipe cuida de coisas que impacta em todas as equipes. Por exemplo, recrutamento, a gente contrata milhares de designers por ano, então, nessa parte de recrutamento a gente faz um trabalho central, tem uma equipe especializada em contratar designers para todas as outras áreas. Ou seja, uma equipe de recrutamento de design, que trabalha com Facebook, Instagram, WhatsApp, ARVR, etc. E temos equipes individuais, o Instagram tem líder de design, o Facebook App tem um líder de design, o WhatsApp também a mesma coisa.
Dentro dessas equipes individuais, a gente tem equipes pequenas de design, ou seja, geralmente o que o Facebook tenta criar são equipes pequenas que funcionam como pequenas startups, você tem um gerente de produto, Product manager, um designer e um engenheiro líder, geralmente tem um User Research também, essa galera, forma o que chamam de trial dependendo do número de pessoas, essa turma é responsável pela parte do produto que cuidam, é algo que te dá capacidade de direcionar o produto na direção que você acha que deve ser. O Facebook não é topdown, as inovações e ideias de como evoluir e criar o produto vem de baixo, da galera que está com a mão na massa, do que da direção dizendo para eles o que eles devem fazer.
O que recomendaria para a galera estudar?
Diego – Eu acho que tem duas áreas muito legais, é a área de realidade virtual e aumentada, se você não estudou isso ainda, vale a pena você pensar sobre isso porque tem muita gente que acredita que vai ter um shift, como teve do desktop para o laptop, para o iPhone, o iPhone quando veio, mudou tudo, a maneira como a gente faz design, antigamente era para tela retangular, agora é para uma tela pequena, 90% menor que a outra.
A mesma coisa vai acontecer conforme a área de realidade aumentada vai crescendo e eu acho que vai crescer muito nos próximos 5-10 anos, vai ter muita oportunidade para trabalhar nessa área. Quem começar a estudar, prototipar, estudar como desenhar para essa área vai ter muita oportunidade legal. Outra parte é inteligência artificial, o impacto que inteligência artificial tem é no design, por exemplo, tem aplicativos hoje onde você pode fazer um desenho no papel, mostra para a câmera e a inteligência criar o aplicativo para você. Tem alguns que estão fazendo isso com voz, você dita, quero uma página com título em cima, um menu do lado esquerdo, botão no meio e boom, o negócio cria para você a tela do aplicativo, aquele site. Eu acho que algumas tendências estão no início e vão crescer e acelerar nos próximos anos entre os próximos 5-10 anos.
Qual a relação entre product designer e product manager. Tem product manager no Facebook?
Diego – No Facebook tem, Google tem, na Apple não tem. Na maioria tem, eu acho que o relacionamento sempre foi muito bom, o product manager e o designer trabalham juntos, para criar estratégia, criar visão do produto e tal. Quanto mais sênior o designer for, mais o trabalho acaba integrando muito, mais estratégia ele trabalha. Estratégia que o PM faz bastante também. Onde divergem, é que o PM no Facebook, por exemplo, ele faz o planejamento de execução, ele é responsável por ajudar a galera a criar timeline, quando vai fazer o lançamento de produto, quando vai fazer algum tipo de teste, trabalhar com outras equipes, tem essa parte que PM faz mais que Designer. Mas a parte de estratégia, os dois trabalham juntos e próximos.
A impressão é que o product manager exerce uma função de liderança sobre o product designer, isso existe?
Diego – Eu acho que em algumas empresas isso existe, no Facebook não. O Facebook a gente faz junto, algumas vezes a gente não concorda e leva para discussão, mas é normal, a gente quer que pessoas tenham opiniões diferentes, porque opiniões diferentes ajudam a gente a ser mais disciplinado na maneira como a gente pensa sobre o produto. Mas se todo mundo concordar com tudo, aí que a gente vai entrar em problemas, se fosse pensar em criar produto, não teria razão para ter tanta gente trabalhando nessa área.
Criar produto é difícil, entender as pessoas é difícil, prever o futuro é difícil, ter opinião divergente é importante para checar se suas opiniões estão certas. No Facebook não tem isso que o PM é acima do designer ou acima do engenheiro, eles são pessoas que trabalham juntas e fazem decisões juntas. Os melhores PMs que eu conheço são pessoas que são muito fortes na área de estratégia, mas que são ainda mais fortes na área de relacionamentos. Eles entendem como construir relacionamentos frutíferos com os engenheiros e com os designers nas equipes deles, porque o PM não cria nada ele não é a pessoa que está com a mão na massa, no aplicativo criando code, ele depende desse relacionamento para ser bem sucedido.
Você mandou um texto falando da origem da palavra product design.
Diego – O termo, antigamente chamavam de interaciton designer, user experience designer, user interface designer. O Facebook criou o termo de product designer, eles são generalistas, quem é design em Facebook faz tudo, faz product designer, faz user interface design, faz UX design, interaction design, faz prototipagem, a ideia na época, há 10 anos atrás, era de que eles queriam recrutar a galera que sabe fazer tudo, no Google, por exemplo, você ainda tem essas funções mais tradicionais, de interaction design, visual design e etc. E no Facebook essas funções são juntadas.
E o research, como é? Tem um papel específico?
Diego – No Facebook a gente tem pesquisadores, trabalhamos em parceria com eles, tem o pesquisador que trabalha para ajudar a equipe a entender as opões que ele tem no futuro. Quais são as dificuldades que os nossos usuários tem, quais são as oportunidades que a gente tem para resolver essas dificuldades e tal. Tem as pesquisas de usabilidade tradicional, quando o produto está criado, você mostra para usuários, eles podem mostrar onde estar as falhas do seu design, que testam. A gente faz a pesquisa onde o pesquisador ajuda a criar estratégia, tem ownership e teste de usabilidade para ver se o produto é fácil de usar, se compreendem como usar o design e tal.
Se pudesse voltar no início da carreira, tem alguma coisa que faria diferente na sua carreira?
Diego – Sinceramente, eu acho que não. Eu acho que não porque eu acredito que até os caminhos quebrados que a gente pega, acabam levando a gente para o caminho certo. Estudei psicologia, mas nunca fui psicólogo, mas tem muita parte de psicologia hoje que utilizo no meu trabalho. Queria ter começado mais cedo? Claro, teria crescido mais rápido, entrei em design depois de 8 anos de ter me formado, o meu crescimento foi um pouco mais de vagar comparado a galera que tinha entrada depois da faculdade. Mas eu acho que as experiências que eu tive me ajudam hoje a ser um líder de design melhor. Se eu não tivesse aqueles caminhos quebrados, talvez eu não teria essa visão de gratidão que eu tenho por esse caminho que eu encontrei depois.
Muito bom poder falar contigo. Colocaremos todas as informações na descrição desse áudio.
Queria agradecer a disponibilidade do Diego, de trazer sua história e de como funciona o Facebook.
Diego – Obrigado pelo convite, boa sorte para a galera que está junto.
Agradece e encerra.