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TEMPORADA 2 - EPISÓDIO 6

Diogo Cabral

Temporada 2 Episódio 6 – Diogo Cabral
PROJETO: Desenhando Produtos
TRANSCRIÇÃO: Lady González

Por quase duas décadas, venho trabalhando para oferecer uma melhor experiência ao usuário que maximize os modelos de negócios. Eu acredito em combinar pensamento crítico profundo com elaboração – alimentado por experimentação e dados.

Atualmente trabalho como chefe de design para plataformas e designOps na Nubank. Antes da Nubank, criei experiências digitais para Globo.com, Citigroup, SonyMusic, Loreal, B2W, Gol Airlines, Shell e muitos outros.

Livros

O Cavaleiro Inexistente, do Calvino

Homo Sapiens, do Harari

Fast and slow, do D Kahneman

Discurso sobre o Método, do Descartes

 

Hoje nós vamos falar com designer director no Nubank, tem uma trajetória incrível, Diogo Cabral. Seja muito bem-vindo.

Diogo – Obrigado pelo convite. 

A gente teve uma semana curta, trabalhamos bastante. Vamos falar sobre sua vida, fique livre para contar sua história.

Diogo – Eu acho que vai ser legal compartilhar um pouco por onde eu passei, as coisas que me fizeram tomar as decisões que eu tomei, umas coisas ficaram boas, outras nem tanto, mas me deram bastante aprendizado de um jeito ou de outro. 

O que você viu no design que aguçou sua curiosidade?

Diogo – Boa pergunta. A melhor maneira de começar respondendo é que eu não vi nada no design. Porque eu não sabia nem que design existia propriamente como a gente conhece hoje, como era conhecido há uns 25 anos ou mais. Então, como comecei essa história? Quando eu tinha 13-14 anos, sempre fui apaixonado por computador, adorava qualquer coisa eletrônica, desmontava radio relógio e não sabia montar de volta. Eu era curioso e meu irmão mais velho era autodidata creme de leite questões também relacionadas com o universo computacional. Eu lembro que na época a gente ganhou um computador chamado MSX, que era uma relíquia, tataravô do PC, tinha o MSX1, MSX2, eu fiquei fascinado, você ligava aquela caixa ali, a tela era de fósforo verde horrorosa, tenebroso.

Era aquele que tinha que ligar no monitor, tinha que ligar a TV?

Diogo – Se não me engano você podia ligar um deles na TV, mas tinha um monitor especial para ele, se eu estou lembrando bem. Você comprava o MSX e comprava o monitor, que era um verde, tinha uns melhores outros piores, todos eram horríveis no final das contas, tinham algumas que não eram tanto. A gente ligou, mas não tinha Windows, não tinha nada, era linha de comando, qualquer coisa que você quisesse fazer, arquivo, qualquer gestão, qualquer operação você tinha que dar em linha de comando, aquilo era um universo meio árido, mas eu estava gostando, é muito mais interessante que uma TV e para o pesadelo de alguns amigos, bem mais interessante que jogar bola e outras coisas, eu gostava de passar minhas tardes fuçando aquele negócio. 

E tinha jogo também que você podia comprar para jogar. E eram umas coisas tenebrosas, o jogo tinha 20 disquetes, era horroroso, você tinha que comprar um monte de disquete e ir colocando para fazer funcionar. Só que o meu irmão era bem autodidata, ele foi uma vez numa livraria e comprou umas revistas de Basics, era uma linguagem super simples, eu acho que existe até hoje, não sei, que se programava jogos ou qualquer coisa que você queria fazer em MSX, você tinha que usar Basic. E ele voltou cheio de revistas, ele falou: “vou estudar isso aqui para a gente fazer uns programas no computador”. Ele estudou, aprendeu a codar em Basic. E a nossa ideia na época foi fazer jogos, legal, vamos montar uns jogos. E de algum jeito essa foi minha primeira experiência com design, porque era uma combinação clássica de design e engenheiro, alguma coisa assim, desenvolvedor.

Eu estava pensando qual era a narrativa do jogo, o que era uma fase, o que você tinha que fazer para passar de fase. O 1º jogo que a gente fez foi um de avião, você decolava de um porta-aviões, tinha que fazer uma missão e depois tinha que voltar para o porta-aviões, como você pousava, se ia ser mais difícil pousar, se ia ser mais fácil, que parte do jogo ia ser mais difícil, decolar, não decolar, perseguir os caças inimigos. Para mim tinha a questão de pensar na experiência mesmo do jogo e também a parte gráfica que era abaixo da crítica, você tinha que usar muito o seu poder de abstração para imaginar que 3-4 pixels juntos, aquilo significava o avião, fazer perspectiva, tudo era muito difícil, rudimentar. 

Mas era interessante fazer, meu irmão conseguia codar, vamos fazer o porta-aviões decolar, dava um porte de problema nisso, o software caía, usava mais memória do que devia, mas no final das contas a gente consegui criar esse jogo e eu fiquei meio apaixonado por isso, não necessariamente pelo jogo em si, por criar jogos, mas pela dinâmica de como você pensa, o que você tem que fazer? Qual a fase 1, fase 2? E a parte gráfica eu era bem interessado. Mas isso aí foi segundo grau ainda, era quase um hobby. Eu ia fazer vestibular na época, ia ser para direito, ainda bem que eu não fiz, mas era para onde eu ia, era a carreira que eu queria seguir, então, eu falei: “o que eu vou fazer? No que isso vai dar? Lugar nenhum”. 

Depois a gente trocou o MSX, foi para o PC, e eu também adorava montar PC, tinha uma certa tara em achar as peças, os componentes e fazer o melhor arranjo da placa de vídeo, eu tive uma coisa de otimizar o hardware. E junto com meu irmão, a gente gostava de fazer jogos dentro do PC, usava muito um software para fazer uns gráficos, era bem horroroso o negócio. Mas funcionava, a gente se divertia fazendo aquilo. Aí eu fui fazer vestibular para direito, passei por uma série de problemas familiares na época, que decidi não fazer, acabei fazendo vestibular, passei para UF, eu morava no Rio na Tijuca e a UF era bem distante da minha casa, já não estava muito comprado com aquela ideia. Falei: “não quero fazer isso, vou fazer outra coisa”. 

E eu lembro que eu pensei que a única coisa que eu consigo cobrar, ganhar dinheiro fazendo é alguma coisa relacionada a internet, eu sabia montar, fazer site com HTML no bloco de notas, alguma coisa de programação, tinha uma ideia de como usar os softwares gráficos, toda dinâmica de internet, fazia FTB, BBC, cara, eu era uma enciclopédia viva, porque boa parte das minhas horas se não era na escola, era no colégio, eu dedicava a aquilo. Eu sei fazer isso, tem muita gente que não sabe fazer, talvez é um caminho para voltar a trabalhar. 

Eu lembro que na época meu pai conhecia uma diretora de arte, ela teve uma agência em Goiás, alguma coisa assim. E ela tinha acabado de mudar para o Rio, ela era casada com o amigo do meu pai trabalhava na Telemar se não me engano, ela queria abrir um negócio no Rio. Na época eu queria montar site, um monte de empresas querendo ter uma presença na internet, ela estava disposta a fazer isso, ela era uma designer de formação ou tinha feito publicidade. Mas ela tinha uma veia com design gráfico. E estava migrando para esse mundo digital, só que ela não sabia codar, como a internet funcionava. E meu pai perguntou se eu queria ajudar ela, eu falei: “claro”. “Ela está disposta a te pagar uma grana”. Melhor ainda. 

Aí ela fazia, eu acho que ela usava um negócio na época e passava para eu montar aquilo. Ela fazia o layout e eu montava, foi basicamente esse meu 1º emprego como designer de algum jeito, eu sempre considerei, você saber construir uma experiência quanto você desenhar essa experiência. Quando você pensar na experiência no seu lado mais abstrato, qual o tipo de problema que eu estou resolvendo, o que deveria passar qual a jornada, depois desenhar uma experiência mais tangível. Sempre considerei isso quase ou igual importante quanto a parte de como funciona. 

Ali foi um choque, quando eu olhei o que e ela fazia, pensei: “cara, como ela consegue fazer um negócio tão interessante”? Tem uma brincadeira que dizem: como você sabe se você é design, se você odeia tudo o que já fez no passado, eu me encaixo perfeitamente nessa categoria, eu odeio quase tudo o que eu já fiz, me considero nessa concepção um designer, bem old school. Eu olhava como ela desenhava as páginas, a navegação, eu achava incrível. Eu queria aprender a fazer aquilo. 

Tem uma parte aqui que eu consigo me virar, mas essa outra eu quero aprender. E comecei a perguntar para ela, fiquei meio curioso como ela fazia, eu lembro que eu pegava e não lembro qual a ferramenta que eu usava na época, mas eu começava, abria um arquivo em branco e tentava construir igualzinho o que ela tinha feito, para tentar entender como ela chegava lá. E era impressionante eu estava copiando e estava ficando incrivelmente pior. 

Eu estou copiando uma coisa e eu não consigo nem copiar, mas com o tempo eu fui pegando um pouco dos elementos, tipografia, espaçamento, uma coisa do visual design ali, algumas decisões que ela colocava de navegação e eu fui ficando confiante, fui pedindo para ela, “se você puder, me passa uma página interna, que eu entro em contato”. Tinha as páginas que ela gostava de fazer, que ela levava para o cliente provar e tinha outras que ia no bolo ali, eu falava: “me passa essas que eu vou fazer”. E foi isso, realmente nesse momento, em contato com ela, somada com a experiência que eu estava, falei: “descobri o que era design, descobri o que era design para o mundo digital”. 

Eu fui um designer que foi estudar design gráfico depois, meu primeiro contato com design gráfico foi esse meio sem querer, muito a partir de uma lógica de alguém que usava todas as ferramentas na época, eu era muito influenciado em internet, jogos. Então, a partir do contato com ela que eu fui entender que existia um mundo chamado design, tinha histórico, tinha todo um programa de formação e aí eu falei: “beleza, eu acho que eu vou fazer isso, estudar isso porque vai ser importante para mim”. Foi assim que eu fui parar em design, não foi uma decisão “deixa eu fazer uma faculdade de design”. E também não tive ninguém na minha família que era design. Às vezes tem esse caso, a pessoa tem um pai, irmão, tio que é designer ou foi e acaba sendo uma referência também. 

A gente armazenava dados numa coisa chamada fita cassete e o que a gente está vivendo hoje é muito diferente. E tem várias pessoas que estão vindo de outras profissões por não encontrar oportunidade na sua área e enxergar no Design de experiência, uma oportunidade, “ei, parece que esse negócio aqui está sendo requisitado, parece que as pessoas estão precisando disso”. E você também é formado em filosofia?

Diogo – Exatamente.

Como a filosofia te ajuda na vida com o design?

Diogo – A filosofia é uma coisa engraçada na minha vida. Eu acho que saiu na Globo.com muitos anos depois, o CEO da Globo.com que é uma pessoa que eu tenho em altíssima conta, uma pessoa incrível, em dado momento quando a gente estava pensando em experiência, fazer produtos, ele estava fazendo mestrado em filosofia, ele teve a bela ideia, “eu acho que a gente precisa ter mais profundidade em como a gente pensa, em como a gente tem experiência, como a gente pensa em como vai impactar o usuário, como vai impactar a vida das pessoas, que decisões a gente está tomando, porque a gente está tomando”. E ele falou: “vou colocar um curso de filosofia dentro da Globo.com”. 

Na época se não está falhando minha memória, para designers e pessoas de produto. E ele montou o curso com a PUC, era 1 ano e meio de curso, desde filosofia pré-socrática até a contemporânea. E ele montou esse curso, fui para essa aula, todo mundo meio desconfiado, era de manhã um pouco antes do horário de trabalho, avançava meia hora para o horário formal de trabalho e começava uma hora antes. Enfim, fiz a primeira aula, o professor era muito bom, o Marcos Reis, ele era um professor de filosofia da PUC, ele era a pessoa que ia ministrar boa parte do curso dentro da Globo.com. E eu lembro que na primeira aula, ele apresentou alguns conceitos de estética, falou de filosofia grega. 

E aquilo para mim foi um boom intelectual, me senti absolutamente insignificante. Como até hoje na minha vida eu não tive a oportunidade de ver esse nível de pensamento das coisas. A partir dali fui em praticamente todas as aulas que tiveram e virou uma paixão pessoal. Eu fui depois de estudar por conta própria, comprei vários livros, fui fazer cursos. Em dado momento, eu falei: “eu acho que eu preciso me formar nisso”. E fui fazer uma faculdade de filosofia para ter o pacote completo. Mas voltando a história da filosofia com design e como me auxilia, eu acho que a filosofia tem um aspecto interessante que serve não só para o design, mas serve para tudo mesmo. Que ela desenvolve uma musculatura de você olhar as coisas por outro ângulo. Eu acho que a filosofia aumenta sua capacidade de girar os mesmos elementos que estão à sua volta, enxergar eles por um ângulo absolutamente diferente que talvez você se encante com esse ângulo diferente. 

Então a história da filosofia é um pouco essa história que você tem uma tese sobre algo e alguém apresenta outro prisma. Tem um conceito do filósofo que é da desconstrução. Então você está sempre desconstruindo aquilo que está sendo apresentado para você. E eu acho que isso serve para muita coisa na vida. Serve para você pensar, veja um aspecto bem filosófico, qual é a vida boa, qual é a vida que vale a pena ser vivida e você tentar desconstruir isso em ideias para ter mais consciência sobre as decisões que você toma ou as decisões que você não toma. Mas também serve para o trabalho. Quando alguma solução específica é apresentada, quando um tipo de experiência é projetada, você pode desconstruir ela, pode levar ela nos seus pedaços mais fundamentais, entender onde tem benefício, onde pode ter risco. 

E também com as pessoas, a filosofia ela pode te dar a capacidade de provocação. Isso é muito socrático, era a pessoa que provocava todo mundo na Grécia. Mas ele provocava muito, alguém falava: “eu sei o que é justiça, eu sei o que é amizade”. E ele falava: “será que sabe mesmo”? Deixa eu te dar outro ângulo, ele não era tão bacana assim, ele era bem ácido, pelo menos é o que conta a história, muito contado também por Platão. 

E esse ângulo diferente que às vezes é dado para alguém sobre uma situação pessoal pode ser a partir de uma conversa que você tem sobre performance, a partir de uma conversa que você pode ter sobre carreira. Para onde você quer levar sua carreira? Então eu acho que a filosofia me ajudou muito na vida como um todo e em design também, nessa reconfiguração dos elementos que estão a minha volta e tentar pensar por outros ângulos. E esses ângulos de alguma maneira enriquecem sua capacidade de enxergar um problema, tomar uma decisão de um caminho a seguir. Bem no macro, eu acho que esse é um benefício muito importante da filosofia.

E como você chegou numa Globo? 

Diogo – É uma história com zero glamour, é uma história bem de acasos. Eu trabalhava numa consultoria na época que era uma fábrica de software, não sei se esse termo ainda se usa, mas era uma empresa, era Ilumini. A gente trabalhava para o Citibank, para várias companhias grande fazendo software corporativo, sistemas internos. E eu tinha uma equipe de design, na época o gestor que tinha sido meu gestor em outra empresa, ele levou a gente para lá. Eu tinha mandado meu currículo, portfólio para o pessoal da Globo.com, tinha um Blog na época que a galera postava bastante, o Felipe Memória trabalhava lá, tinham outras pessoas que trabalhavam lá também. E surgiu essa vaga, eu mandei e fui chamado para fazer entrevista. 

Isso foi em início de 2006 provavelmente ou final de 2005, mas foi por ali. Eu fiz as entrevistas e tal, foram boas e no final recebia uma proposta para ir trabalhar na Globo.com, fiquei super feliz, estava compradíssimo com a ideia. Na época ela era a referência de empresa para se trabalhar com digital, produtos digitais, tecnologia. E quando eu fui contar essa história para esse gestor, que eu tinha uma relação bem pessoal, aí ele falou: “não quero que você vá, tem muita coisa legal para acontecer aqui, muito legal que você recebeu essa oferta”. 

E aí ele foi colocando na mesa algumas coisas que realmente me interessavam muito na época, de ter um pouco mais de responsabilidade com projetos maiores, ter mais autonomia, queria estar mais a frente de um tocar de alguns projetos, estar menos só na execução, mais liderando. E ele falou: “vou puxar você”. Cobriu a parte da grana, ele montou um pacote ali para mim muito irresistível, eu fiquei super balançado. E acabei decidindo de não ir para a Globo.com, conversei com o pessoal, agradeci pela oferta. E eu lembro que foi uma conversa super difícil, “não sei se é a melhor decisão”. Mas estava achando e eu lembro que a galera falava: “não sei se você está tomando uma decisão muito boa”. E nessa hora eu pensei: “caramba, estou condenado aqui e nunca mais vou entrar nessa empresa”. Não foi nada muito pesado, fiquei com essa sensação, mas bola para frente. E daí um mês depois, esse cara que era meu gerente, depois encontrei com ele na Globo, ele falou: “eu estou saindo da empresa, eu recebi uma oferta incrível”. Algumas coisas que ele tinha colocado na mesa, já tinham acontecido, mas outras tinham uma certa dependência dele, porque tinha sido muito recente. Ok, saiu. E agora? 

Eu fiquei no limbo, eu não vou ter algumas coisas que eu queria ter e também não fui para a Globo,com. E aí para completar a história, o cara que era o Alexandre Nigre, ele era meu líder nessa empresa, na Ilumini. E ele conhecia o Bruno Parodi que tinha ido para a Globo.com para tocar entre outras coisas o G1, o G1 não estava lançado, mas era o projeto na época. Eu acho que ele tinha chamado o Nigre para ir trabalhar lá, alguma coisa assim. Eu sempre gostei muito do Nigre, a gente sempre foi bem amigo, que ele me contou, eu falei: caramba, é a tempestade perfeita, o cara saiu, o Nigre vai sair e ainda vai para a Globo. Eu falei: “não tem como você mandar o meu portfólio para o Bruno, de repente tem jogo, vai que o pessoal está precisando, não preencheu a vaga”. 

Daí ele mandou e chego na mão do André Brás, que era o gerente de design na época da Globo.com e ele me chamou para conversar. A gente bateu um papo e em 3 dias eu tinha uma proposta para ir, aí tinha outro gerente na Ilumini, foi assim que eu entrei. Teve essa história estranha que eu bati na trave, ia e não ia. E o Nigre não deve achar isso tão engraçado, mas na época o processo dele demorou mais do que o meu. Ele estava no processo, me recomendou, eu fui e ele estava me mandando mensagem depois: “e aí, vai rolar”? E depois ele foi também. Mas a gente continuou trabalhando junto mais um tempo na Globo.com.

E a sua empresa na Globo.com é gigantesca. Você entrou como Interaction Design e saiu como Design Manager. E queria que você contasse como foi sua trajetória na Globo e a passagem pelos cards.

Diogo – Foram muitos anos e eu já saí da Globo há quase 2 anos, mas farei o melhor para lembrar de histórias marcantes. Os nomes dos cargos na Globo mudaram ao longo do tempo. Na prática entrei como um Product design, a Globo tinha uma divisão, um design que tinha um lado que a gente chamava de arquiteto de informação, era a pessoa que pensava, mas a estrutura da navegação, quais eram as informações, que informação ia com o que, em que momento, fazer a árvore, o mapa do site. 

E tinha outro perfil, que era o perfil mais relacionado com a parte de interação e vídeo design, que na época eu acho que chamava Interaction design onde eu entrei, a Globo tinha essa divisão bem clara, pensando na materialização e vídeo design e a outra pessoa que pensava mais fundamentalmente, gerava uma piada interna, quem pensa em interação e vídeo, também usa muito de lógica e racionalidade, mas era mais uma piada interna do que qualquer outra coisa. Lembro que comecei trabalhando lá em escopos menores. Eu até hoje eu acho que tinha muitos benefícios dessa combinação, desses dois perfis diferentes, hoje a gente vê muito a figura do product design que é alguém mais generalista. 

Mas eu achava que aquela combinação da Globo foi muito única e fez muito sentido durante muito tempo, eu acho que ajudou muito as pessoas a se formarem como designers. Mas em dado momento, eu lembro que eu fui fazer, eu acho que foi um primeiro boom da minha carreira lá dentro, era 2006, eu caí para fazer um projeto que era Destaques da Copa do Mundo, em 2006. E a home da Globo.com tinha sido lançada há pouco tempo, eu lembro que teve a copa, a cara da home precisa endereçar bem a copa do mundo. E caiu para mim, foi meio desesperador por um lado, porque eu nunca tinha trabalhado naquele nível de intensidade com tanta gente influenciando a solução final. Era a galera de esportes, o Juarez que era CEO, a galera de jornalismo porque também tem um viés jornalístico forte na Globo, era a galera de design, de engenharia, era muito complexo resolver, achar uma solução para um produto que já tinha uma escala gigantesca. Então, resumidamente a solução que chegou lá foi criar uma série de destaques específicos para aquela página, da home e que contasse a história da Copa, “vai ter jogo, não vai ter jogo, vai ter jogo ao vivo”. 

E quando a Copa do Mundo acabou, a home voltou para o formato que era anteriormente. E ninguém queria mais aquele formato anterior, tinha uma variação, deu uma vida para a home page. Quando ela voltou para o modo anterior que tinha um modelo de destaque ou dois, ela ficou um pouquinho menos interessante digamos assim, isso fez com que eu começasse a trabalhar aos poucos em projetos que tinha um nível de complexidade um pouco maior. E eu estava gostando disso, não queria necessariamente resolver um problema específico, por mais que um problema específico que você precisa ter um Kraft sensacional, entender bem como aquela parte está resolvendo um problema maior ou como ela resolve um problema maior, mas para mim esse olhar mais sistêmico era super interessante, pensar na Home da Globo.com como um sistema que atua, dá respostas diferentes em tempos diferentes de acordo com o que está acontecendo. 

Então, tinha uma coisa de ela ser mais fluída, clássica ali. Eu acho que isso me fez cair em projetos que tinham essa natureza também, eu lembro que outro projeto que eu fiz na época foi o que a gente chamava de página de matéria, multimatéria, que era onde as histórias eram contadas, você clicava numa chamada, caía numa página que tinha um artigo e eu lembro que também teve essa abordagem sistêmica de pensar em como é que aquele template é um sistema complexo para contar vários tipos de histórias diferentes. 

Algumas vão ter vídeos, outras vão ter tabelas, outras vão ter informações ao vivo, complementando aquele conteúdo. Isso foi para chegar à liderança, em um dado momento ainda como sênior, mas depois formalmente como líder, como lead, você ter esse papel de conduzir um conjunto de soluções para funcionarem bem orquestradas, em conjunto, um ecossistema. Então, eu acho que se não me engano quando eu estava exercendo papel de liderança, foi dentro de esportes, para mim foi super interessante de ver como todas as partes que contaram a história de esportes, que era tempo real, parte de jogo, parte de tabelas, cartolas, editorias, a home do Globoesporte.com, como elas funcionavam, elas deveriam funcionar muito em harmonia para responder a necessidade diferentes de pessoas diferentes, de contextos editoriais diferentes também. 

Esse mergulho em problemas complexos no olhar mais sistêmico, me fez chegar na Globo.com numa posição de liderança. E eu acho que a minha passagem para a gestão, para gerente manager, foi muito desafiadora. Eu acho que na prática tem coisas que você faz muito bem e que te levam a ter sucesso em um campo a outro, mas talvez te leva a ter insucesso ou fracasso em outra área. Eu acho que para mim foi um pouco dessa história. As coisas que me fizeram de algum jeito ter sucesso com designer, não era uma coisa que me fazia ter sucesso como gestor e eu descobri isso muito na pele, muito na lata, vou contar duas histórias que contam bem essa passagem.

A primeira história tem a ver com quanto você precisa se descontruir e estar aberto para que as pessoas te escutem, para que você consiga realmente ajuda-las de alguma maneira, então, eu lembro que quando eu fui posto nessa posição, era uma situação do tipo: vamos ver, consegui fazer duas coisas liderando, parece que funcionava. Entreguei qualidade os projetos tiveram impacto, deixa eu tentar aplicar um pouco dessas coisas com o time que eu vou estar liderando. Então, aquela coisa meio, é excelência do trabalho, é a velocidade, o impacto, o time performando. 

E estava dando muito errado para ser honesto, por várias razões, eu era uma pessoa do time que de repente tinha virado gestor, isso sempre é um desafio para quem está no time, para quem vira gestor. Mas também tinha muito a maneira como eu operava. Quando eu era um designer mais hands-on, eu tinha essa perspectiva assim, botar um problema debaixo do braço e chegar na melhor resposta que desse para chegar. E quando você está fazendo gestão de um time, claro que o time quer, você quer, todo mundo quer que o produto seja excelente, que a resposta seja incrível, mas você depende que as pessoas trabalhem bem em conjunto. Outro dia eu vi um documentário do Mourinho que ele falava isso: “você como coaching você treina o time, você nunca treina o indivíduo necessariamente, você treina como o time funciona bem junto”. 

E eu acho que para isso acontecer você tem que ter uma entrada, tem que ter confiança, tem que ter uma abertura com o time e não estava tendo. Muito pelas coisas que eu estava fazendo. Eu lembro que em determinado momento eu chamei o time inteiro ou boa parte do time. E eu lembro dessa reunião até hoje, “vou falar duas coisas para vocês, a primeira coisa é que eu acredito nessa posição”. A Globo.com tinha crescido muito, o gestor que estava um pouco mais distante, tendo que vir uma equipe gigantesca, não estava conseguindo estar tão próxima de certas áreas, eu acredito numa posição intermediária, alguém que vai conseguir olhar um universo específico, naquele caso era esportes se não me engano. E ter as discussões que a gente precisa ter dentro desse domínio, ter um suporte de carreira, de discussão se necessariamente precisar da gestão que está mais próxima do c-level e tal. Aí eu falei: “eu acho que vocês têm que acreditar também, se vocês não acreditarem que podem ter benefícios ter essa posição, não vai funcionar e eu não tenho problema nenhum de fazer outra coisa. Estou nessa posição, topei ela, eu acho que tem valor, queria saber se vocês também acham que tem valor”. 

E o segundo ponto era sobre mim eu falei: “honestamente, não sei fazer isso, eu acabei de virar gestor, eu não tenho a mais vaga ideia de como é ser um bom gestor”. Então eu vou falhar miseravelmente com vocês em várias coisas. “Mas uma coisa eu posso garantir, vou fazer o meu melhor para garantir que funcione, vou tentar, escutar, estudar, o que tiver ao meu alcance e eu acho que as coisas vão melhorar. 

Mas preciso da ajuda de vocês para me deixar, para que vocês permitam com que eu erre, que eu possa estar nesse papel e todo mundo cresça junto”. E essa reunião foi muito legal, não acho que foi uma coisa mágica, mas todos começaram a funcionar melhor depois dela. Eu acho que a confiança começou a mudar, as trocas começaram a ser mais interessantes, eu também comecei a entender meu próprio papel estando mais aberto para entender esse papel. Eu acho que essa história, teve um momento, a galera fala muito que um bom líder tem vulnerabilidade, eu acho que eu tenho uma história dessa na prática, fiquei vulnerável e foi muito legal. 

E eu acho que esse time para mim, me leva para a segunda história, em um dado momento eu acho que esse time funcionou muito bem, foi uma galera que fez um projeto incrível dentro da companhia, virou padrão. Até há bem pouco tempo esse projeto estava sendo padrão, isso foi em 2013, por aí e muitas dessas coisas que foram feitas lá, algumas foram modificadas, outras perduraram até tempos recentes, se bobear, algumas até hoje. 

Então, eu acho que os frutos que esse time produziu, o trabalho que esse time fez foi muito legal. Mas para além disso, era uma galera que se divertia muito fazendo e eu achei que foi muito sensacional, naquele momento, eu descobri que eu gosto tanto de ajudar a criar um ambiente como aquele, estar num ambiente como aquele do que tanto quanto fazer uma solução que vai ter impacto, que é uma solução bacana, que é um design que dura. 

Eu sempre tive isso na minha cabeça, que design bom é design que dura, você não faz uma coisa que é super efêmero, eu acho que esse lado da solução de design, de resolver um problema sempre me deixou muito animado, empolgado para fazer meu trabalho, eu descobri que esse lado de estar perto das pessoas, de entender melhor elas, de me entender melhor a partir do convívio com elas, era tão ou mais interessante do que o outro lado. 

E foi o momento que eu decidi fincar minha carreira em olhar gestão. Por mais que você possa olhar um projeto, liderar um projeto, ajudar em questões mais técnicas, tem esse lado, que para mim é o lado mais encantador que é o de estar perto do time, de entender as dores, o time entender suas dores e vocês irem caminhando junto nessa evolução como pessoa como de carreira e etc. São duas histórias, coisas que aconteceram dentro da Globo.com que eu gostei bastante, conta de como fui parar em gestão no final, quando eu saí já estava nessa posição.

Que massa isso, porque eventualmente as pessoas pensam que porque alguém está numa posição de gestão, a pessoa tem que se posar como: “agora sou o gestor, esperem tudo de mim”. “Espera aí, vou falhar, estou assumindo esse negócio agora, me ajudem a aprender”. Muito legal isso, demonstração de humildade com relação às pessoas. E você ficou 14 anos na Globo, um pouco mais. 

Diogo – Eu já nem lembro, mas deve ser isso aí. 

Você recentemente passou para outra empresa e recentemente assumiu no Nubank.

Diogo – Exato.

Você já entrou como gestor?

Diogo – Exato.

Qual a primeira coisa que você olhando quando chega numa empresa nova já que está assumindo um papel de gestão?

Diogo – Na verdade, me fiz essa pergunta antes de ir para o Nubank porque em determinado momento da minha vida, como carreira mesmo, como carreira em gestão eu pensei: “quero ter uma experiência de ajudar um time do qual eu não conheço ninguém, não formei”. Eu não tinha tido essa experiência de ter ido trabalhar com um time 100% novo. Tem uma brincadeira com essa história quando entrei no Nubank, o Guilherme Neumann ainda estava lá, ele trabalho comigo na Globo.com há muitos anos atrás. E eu entrei e falei: “que legal, vamos trabalhar juntos de novo”. E na semana seguinte: “estou saindo”. 

Mas brincadeiras à parte, eu conheci o Neumann, tinha uma ou outra designer que trabalhava lá, eu não sabia nem o que estava fazendo, que time que estava, mas sabia que estava na Nubank. Quando eu entrei, quis ter esse desafio de falar: “como vai ser isso? Você vai entrar e vai ter um time lá, deixa eu ver como é que eu vou lidar com isso, é um desafio completamente diferente”. E a primeira coisa que eu botei na minha cabeça era: conhecer mais profundamente todo mundo que eu ia trabalhar diretamente. O pessoal fala muito do plano de 100 dias, tem gente que usa isso até em entrevista. Eu não fiz exatamente em 100 dias, mas o que tinha na minha cabeça é que o começo dessa história era conhecer as pessoas. 

Nas primeiras semanas eu basicamente falei com todo mundo que eu ia trabalhar junto, queria conhecer todo mundo que ia estar próximo de mim, eu lembro, tomando café no térreo. Hoje em dia é mais difícil, eu acho que é um desafio para quem está chegando em companhias dentro de um cenário remoto bem mais desafiador para você ter essa conexão pessoal, mas na época esse foi meu pensamento. A primeira coisa que eu olho, quem são as pessoas que estão trabalhando lá, como elas pensam, o que deixa elas chateadas, qual o cenário que deixam elas felizes ou mais tristes, o que dá para melhorar. 

Eu acho que sem ter essa confiança, sem estabelecer essa relação no primeiro minuto. Fica muito difícil você fazer qualquer outra coisa depois. Se você não confia no time, se o time não confia em você, se você não entende cada um, isso sem dúvida vai impactar na sua capacidade de ajudar o time a crescer e conquistar mais coisas. 

E para mim isso opera no nível individual. Como uma pessoa gosta de one a one, é ser mais pragmática, mais rápido, é bater mais papo. Eu acho que ter essa nuance de você saber conseguir falar todas essas línguas diferentes que cada um tem, tem um histórico diferente, uma história para contar por trás. Se eu sair do Nubank e ir para outra empresa, se eu voltasse no tempo, o que eu faria de diferente, talvez eu fizesse algumas coisas diferentes, mas sem dúvida nenhuma essa preocupação de ter os one a one, conhecer cada um, ir tomar um café, eu repetiria tudo. Na verdade, eu acho que eu faria até mais, eu acho que foi super importante. 

E o que faz uma pessoa que é diretor de design?

Diogo – Eu não vou conseguir deixar você e quem tiver essa dúvida muito feliz porque a minha resposta vai ser um pouco cretina, depende. Eu acho que depende muito da companhia que você trabalha, eu vou falar sobre o Nubank que eu acho que é a referência que eu tenho hoje e honestamente, é um tipo de papel que um diretor tem, que eu acredito muito que é importante ter. Tem um aspecto que vai ser você conseguir liderar o time, um grupo de pessoas para sair do ponto A para o ponto B, a gente fala muito da parte de visão e de estratégia, tem um elemento importante que você ajudar o time a entender onde nós estamos, o que vai acontecer, o que pode acontecer, quais são as variáveis que estão na mesa, que vão fazer parte do que uma companhia faz em 12 meses, em 36 meses, em 5 anos. 

E ajudar o time a fazer escolhas. Eu acho que o papel de um head ou diretor de design, alguém que está exercendo uma confiança mais ampla, é ajudar o time a fazer escolhas que são boas escolhas, se você não conseguir conquistar, impactar como você gostaria, que no mínimo você vai aprender bastante com elas. 

Eu acho que você nessa posição tem o mínimo de responsabilidade, seja provocando de volta, seja liderando um projeto ou às vezes liderando uma reunião, uma dinâmica, você ajuda com que as pessoas tomem melhores decisões e ajuda a definir, como o sucesso se parece? Às vezes eu acho que tem muito essa confusão, do que precisa ser feito com o que a gente gostaria de ter como resultado? E às vezes essas conversas se confundem. Para mim o papel de um líder é trazer para a mesa uma discussão sólida como qual é o sucesso? O que a gente quer conquistar e quais são nossas ambições? Quais as histórias que a gente quer contar para a gente mesmo vindo do futuro? 

Depois você vai pensar no que você precisa fazer, talvez no como você vai fazer, mas eu acho que sem você imaginar essa camada de resultado, fica muito difícil, é muito mais fácil você se perder no meio do caminho. Esse é um papel, ajudar no direcionamento e eu acho que significa ajudar na tomada de decisões, ajudar nas escolhas. Tem outro lado que talvez seja o lado da Nubank, esses lideres tem um papel em ajudar a termos produtos com mais qualidade. Tem um papel importante na liderança de ajudar a definir o que é qualidade, que ângulo a gente olha. Se você for na rua perguntar para alguém: “por que seu produto é melhor que o do outro”? “O meu tem mais qualidade, tem uma experiência melhor”.

Mas todo mundo vai falar a mesma coisa, quais são os parâmetros pelos quais você se baseia para conseguir saber que você realmente tem um serviço, um produto com qualidade? É importante o papel do time ajudar nessa definição, como o time consegue operar sempre com um farol um farol muito claro nas decisões que ele está tomando também nesse âmbito de qualidade. Eu acho que tem um terceiro papel que é estou de hands-on, eu acho que é muito do Nubank e algumas companhias. Se você tem uma capacidade de resolver um problema, de fazer uma proposta muito boa, se você tem um conhecimento, uma experiência prévia ou então, ambos. 

De repente um skillset específico e você pode executar muito bem um projeto, por que não fazê-lo? E nesse momento você é menos um diretor e muito mais alguém que está com aquela vontade de levar a companhia, o produto, o serviço para um lugar melhor. Eu acho que muitas outras empresas eu vejo que tem um pouco desse receio. Se o cara é diretor, ele não mede a mão na massa. E em algumas é: não mete porque não sabe. Em outras é: não mete porque não deveria meter a mão na massa. Mas eu acho que quando você acha uma companhia, se você tem um conjunto específico de um skillset e consegue fazer uma proposta boa, faça. 

E se coloque numa posição não de alguém que tenha as respostas, mas de alguém que vai conduzir uma solução para um lugar melhor e no meio desse processo você vai receber input do seu time, de parceiros e outras pessoas de outras áreas. Mas eu acho que tem esse lado de você sim colocar a mão na massa, conduzir algo e não necessariamente direcionar. Eu acho que tem um quarto papel que é mais pessoas, você conseguir ajudar cada individuo do seu time a crescer, eu acho que quem cresce é a pessoa, é o esforço que ela coloca. 

Às vezes eu escuto: eu fiz o fulano virar sênior. Eu desconfio um pouco disso, eu acho que você como gestor faz as provocações, ajuda dando feedback, ajuda dando informações mais claras, algumas são pragmáticas e outras nem tanto, mas você ajuda a pessoa a tomar melhores decisões, isso também no âmbito pessoal, de carreira. Será que você quer ser um gestor? Será que você quer continuar sendo um especialista? Eu acho que um papel de um diretor, de alguém que está olhando mais amplamente é ajudar um determinado indivíduo a tomar uma decisão dele colocar pros e contras, chegar numa decisão que faça sentido e suportar. 

Eu acho que tem esse lado em ajudar a carreira, como você configura um setup para o sucesso daquela pessoa dado um objetivo que ela quer. Eu acho que um outro lado, que é menos o indivíduo, é o time, como você pensa e ajuda a companhia a ter um time que vai conseguir performar, vai funcionar bem junto, vai trabalhar bem junto para entregar determinado resultado. E às vezes eu faço analogias com futebol, eu acho que existem vários exemplos de times que eram incríveis, só tinham estrelas e não ganharam nada. E times que não tinham exatamente estrelas, mas ganharam tudo ou ganharam muitas coisas em terminado momento. Eu acho que essa lógica de quem funciona bem com quem. Quem te complementa? Se pudesse escolher algum perfil para trabalhar com você que você acha que complementaria você para trabalhar melhor ainda, que perfil você buscaria? 

Tem uma questão nessa pergunta que é do próprio self awareness da pessoa, de ela entender pontos fracos e quem complementa ela, mas eu acho que tem outro lado que é a partir dessa visão mais individual, que é em que cenário, com quem você acha que produz mais, que trabalha mais feliz, mais contente, mais desafiado. Eu acho que tem esse papel de formação de times de entender quais são as características que um time deveria ter de perfis, background, de diversidades para que funcione bem.

A gente tocou num ponto que é muito interessante, entender dinâmicas de liderança, como formar times, como construir times, o que fazer quando chega numa empresa. Que dica você daria para quem está começando no design?

Diogo – Eu acho que o melhor conselho que eu tenho, se é que dá para colocar desse jeito, arriscar, não tenha medo. Eu vejo muitos designers no começo muito preocupados em ter a metodologia certa, em saber quais são as fontes que você está lendo, preciso ser bom e preciso ser bom rápido. Um pouco da minha história, um pouco da história que eu vivi na minha formação na Globo.com, tem uma questão de crescimento que tem muito de suor. 

Pode ser que você chegue em algum momento da sua carreira que você tenha atalhos para crescer, tem boas referencias, sabe conduzir melhor essas conversas. Mas eu acho que no começo, é como você usa sua energia de quem está começando para arriscar. 

Pega um projeto, uma ideia que você tem e arrisca ela, faz um protótipo, faz 20, exercita sua capacidade, exercita seu olhar, exercita sua capacidade de ler um problema, experimentar. Eu acho que a gente vive num mundo onde fala-se muito de metodologia, mas quando você vai ver o produto final, a experiência que alguém vai usar, não conecta com a mesma riqueza da metodologia. 

Então, se você está começando e você é um designer, quer fazer isso da sua vida eu diria: use esse músculo que é do seu olhar, sua mão, no sentido de você prototipar, experimentar, vai duas, três, quatro, cinco vezes nessa caminho, eu acho que ele só tem a trazer benefício no começo, você vai aprender muito fazendo e vai ter muito crescimento em não ter medo de experimentar e de errar, isso vai ser muito importante no futuro da carreira, de uma outra maneira, mas eu acho que ter esse músculo exercitado desde o princípio é super importante.

Você me lembrou de uma aula que eu dou de formação, numa aula que eu dou de formação, eu mostrava alguns protótipos para o pessoal, depois mostrava o resultado final. Para chegar nisso, eu fiz 50 vezes e joguei fora 49 opções diferentes para ficar com uma só no final. E todo mundo fica com aquela cara: “nossa, você jogou 49 opções fora”. Sim, eu fiquei experimentando e esgotando tudo o que eu podia para chegar em algo que fazia sentido e que eu ia ter que colocar a prova do mesmo jeito, testar depois, validar se aquilo ia funcionar ou não. 

Diogo – Não poderia concordar mais, eu acho que um design especificamente não tem algo como uma resposta precisa, não tem uma bala de prata. Na Globo.com tem uma brincadeira da bala de prata, que é aquela bala que vai matar qualquer inimigo. Não acho que tenha isso, quase todo design é transitório, mesmo aquele que é mais duradouro, em algum momento vai ter alguma coisa que poderia ter sido melhor. Exercitar, jogar fora, treinar sua capacidade de dizer não, eu acho que é importante.

Legal Diogo. Quer dizer sua última mensagem?

Diogo – Eu acho que é super importante você se expor a pensamentos diferentes. Uma coisa legal que a filosofia me deu, eu acho que é muito legal vocês estarem com o podcast, isso ajuda e trazendo convidados, colocando a opinião de vocês, eu acho que faz com que as pessoas possam estar expostas a pensamentos diferentes. Então, ao invés de procurar um pensamento que se encaixe com o seu, procure pensamentos diferentes que eu acho que é bem enriquecedor. 

Muito obrigado, Diogo. Nós iremos colocar na descrição desse episódio desse podcast, as recomendações de leitura do Diogo, indicações de outros podcasts que ele gosta também, qualquer coisa que ele gostaria de indicar, nós colocaremos na descrição desse áudio e no final dessa transcrição. Muito obrigado, Diogo.

Diogo – Muito obrigado, espero ter correspondido à altura, se quiserem me chamar de novo fiquem à vontade, foi muito bom participar.

Muito bom conversar contigo.

Agradece e encerra.