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TEMPORADA 1 - EPISÓDIO 2

Eurípedes Magalhães

Temporada 1 Episódio 2 – Eurípedes Magalhães
PROJETO: Desenhando Produtos

Eurípedes, mais conhecido como Pipo, é Designer Manager e Professor, desde 1995 trabalhando em agências como Grey Interactive, Datamídia FCBi, Submarino, Ogilvy, Riot, Avanade, Via Varejo e OLX. Já lecionou no SENAC, UNIP, IED, Iladec, Digitalks, Integra, ESPM e FIT, onde co-coordenou por 7 anos o MBA de Marketing Digital. Foi co-fundador do Reset Lab, uma das primeiras escolas de UX de SP. É defensor da área UX mais madura e profissional, e entende que Customer Experience, Tecnologia, Negócios, Design Thinking e Educação andam sempre de mãos dadas.

 

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A gente vai conversar com ele, que é sênior UX Manager na OLX e meu colega na Mergo, Eurípedes, mais conhecido como Pipo. 

Prazer te ter aqui Eurípedes. 

 

Queria que você começasse falando um pouco de você, o que você faz e sua trajetória. 

 

Eurípedes Magalhães – Eu trabalho com design e publicidade, como um todo, há um tempinho. Na verdade, as pessoas costumam perguntar para mim: “desde quando com o UX?”, eu falo; “puta, gente, desde antes de a gente chamar de UX”, porque na época eu era Web Designer, como a maioria da galera dos anos 90. Eu entrei no mercado fazendo impresso, fazia desde anúncio a identidade visual, passei por agencias, escritórios de designers, esse tipo de coisa. Quando chegou a tal da internet, na época eu já fazia CD-ROM em flash e Director, quando chegou a internet, eu sempre curioso, achei que era bem interessante dar uma olhadinha naquilo, aí virei Web Designer. De Web Designer na época a gente tinha o diretor de arte, aí depende muito do lugar, tinha lugar que te contratava como diretor de arte, tinha lugar que te contratava como Web Designer, ou somente designer. Passando por esse processo, começou a chegar à arquitetura de informação, que é umas das coisas que eu comecei a ter interesse ali, pesquisar, estudar um pouquinho, aí a coisa foi evoluindo, com a UX, e tudo mais. Eu fui passando por todo esse processo. Naturalmente, depois de mais de 15 anos de carreira que eu comecei a olhar um pouquinho para a questão de gestão, para a questão de liderança. Felizmente eu não fui o líder situacional, daqueles líderes que sai um líder e a pessoa assume, foi um negócio que eu busquei um pouco mais, por vários motivos, primeiro que eu entendia que a minha experiência podia ser útil para quem estava começando, para o dia a dia do time como um todo. Segundo que não dava mais para competir com a molecada que chegava fazendo layout, fazendo design visual de um jeito incrível, eu já não conseguia mais competir com eles. Então, acabou fazendo sentido. Informalmente eu fui assumindo algumas coisas numas agências que eu trabalhava, assumindo alguns projetos ali, cuidando de alguns designers mais jovens que entravam. Até que eu voltei para uma agência que eu trabalhava, eu já fazia um pouco de liderança nessa agência, que era a RIOT, fui para a Oglivy, lá eu fiz um pouco menos e voltei para RIOT para formar time de designers. Foi ali que começou um pouco mais com mais peso, não só trabalhar com liderança, mas também montar time, trazer a prática para a empresa, explicar para as pessoas o que faz, vender projeto, essas coisas todas. Eu fiz isso em mais dois lugares, de montar time, de pensar um pouquinho no processo, ajudar a vender projeto também. Agora eu estou numa instituição um pouco mais diferente, que eu não monto processo. Na verdade, a gente acaba fazendo um pouquinho ali dentro da liga que eu cuido, mas não é como nas outras empresas que ficava comigo também esse pedaço. Também sou professor, já tem um tempinho, como o Jojo falou, nós somos colegas na Mergo, felizmente eu já tive oportunidade de dar aula numa série de faculdades, na ESPM, no IED, na UNIP, na IMPACTA, um montão de lugar, além de cursos ali, seja na Mergo ou em outras escolas, que também, inclusive, é uma das coisas que me ajuda muito no processo de liderança, conversar, falar com as pessoas um pouco do que elas têm que fazer e como tem que ser também, que é bastante importante, e também é uma forma de fazer esse conteúdo, que eu tenho essa experiência, ajudar um pouquinho as pessoas que estão começando, tem um pouco disso. Quem trabalhou em agência muitos anos igual eu, fiquei 20 anos em agência, nessas agências eu vi muita gente ir para o banheiro chorar por conta de trabalho. Não é uma coisa que eu quero ver nas próximas gerações, então, compartilhar conteúdo ajuda. Para mim ajuda bastante nesse sentido.

 

Você hoje está na OLX? A OLX hoje, para quem não sabe, é um dos maiores marketplaces de compra e venda do mundo. É uma empresa global, fundada em 2006, tem sedes em mais de 45 países. Como é trabalhar num produto, numa empresa do tamanho da OLX?

 

Eurípedes Magalhães – É bem interessante. É um misto de objetivos, vamos dizer assim. Em agência você trabalha muito na questão de projeto. Em consultoria, que eu trabalhei também em consultoria, você tem projeto e um pouquinho de produto. Trabalhei também na Via Varejo, na Via Varejo você tem uma visão de produto, mas também dependendo do varejo é muito produtizado a entrega. É um ambiente bastante interessante, primeiro porque você tem uma visão bem dinâmica de mercado, e lá eu cuido da parte de automóveis, então é um mercado extremamente dinâmico, tem muita empresa entrando nesse mercado, o Facebook está lá, o Mercado Livre está lá, tem a Webmotors, tem o Icarros, um monte de empresas que faz muita coisa interessante, que é bem dinâmico, a gente tem que buscar muito disso. E também, uma possibilidade bem interessante de fazer coisas melhores, não só lançar, mas fazer coisas melhores. Coisas que nem sempre em outros lugares você tem oportunidade de fazer isso, você vai lá, entrega e “beijo, me liga”. Repetindo, o desafio de cuidar de autos é bem bacana, até porque eu adoro carro.

 

Você foi falando e eu fui me lembrando. Eu também trabalhei grande parte da minha carreira em agência, e uma das coisas que me chamaram atenção até quando eu fiz a transição para a RD, resultado de digitais, foi a questão de trabalhar com o produto único e com uma cultura diferenciada. Como é a sua visão em relação a cultura da empresa? Porque você falou ali do tempo da agência. Qual é a sua visão sobre cultura de produto?

 

Eurípedes Magalhães – Tem alguns pontos interessantes ali, primeiro ponto da cultura da empresa, por exemplo, a OLX aqui, é um lugar que tem a cultura muito interessante, uma cultura bem humana, isso ajuda a você se empolgar com o que você está entregando, não é fácil achar lugares assim que a gente encontrou um ponto legal. E o pedaço da cultura de produto, para mim a parte bem interessante é a gente ter, primeiro, metas claras do que a gente vai trabalhar e do que a gente precisa entregar. Eu acho que são pontos muito importantes. A gente, às vezes, está fazendo o projeto e a meta do projeto é entregar o projeto, a gente não olha para o que a gente busca de resultado, a gente não olha para aquilo, qual era o valor que a gente está entregando ali para o usuário final, para o cliente, a gente não olha para isso. E quando você começa a ter uma cultura de produto que tem uma meta, seja financeira, que seja uma meta de acesso, que seja uma meta de needs, qualquer coisa nesse sentido você consegue ter um direcionamento muito mais estratégico do que um direcionamento, do tipo, ‘preciso fazer um monte de tela aqui, fazer um monte de coisas e entregar ali porque eu tenho um prazo’, tem prazo, eu sei que tem prazo, mas no final das contas você tem objetividade. Eu acho que essa cultura de produto, a parte boa, pelo menos que a gente faz lá, é ter objetividade, isso ajuda bastante no dia a dia.

 

Eu queria entender um pouco mais, já que estamos falando da OLX, e como você é manager lá, eu queria saber um pouco mais como está estruturado o time de designer? Como funciona as dinâmicas do time de designers? Uma curiosidade em conhecer um pouco mais da história, de como é hoje dentro da OLX.

 

Eurípedes Magalhães – Essa é uma pergunta super difícil de responder, porque como toda empresa, a gente está num super processo de repensar uma série de coisas. Por exemplo, a gente tem uma manager para design Ops e Research, então ela tem olhado muito para processos, ela tem olhado muito para metodologias, documentação, esse tipo de coisa. Então, a gente tem refeito muito dessas coisas. A gente tem o Gustavo lá que é o nosso diretor de design, que traz muito uma visão de como ele entende o que é o trabalho estratégico de um time de design, como ele participa dentro do ambiente de produto. Em cima disso, a gente tem pensado ali várias coisas que a gente precisa mudar. Por exemplo, cerimônias, como eu trato uma cerimônia de Critique de projeto? Como eu trato pesquisas estratégicas, versus pesquisas mais do dia-a-dia, como, por exemplo, teste de usabilidade. Tem muita coisa que a gente está mudando. No geral, se eu for falar para você o básico do que a gente faz, a nossa estrutura está dividida em ligas, para cada uma dessas ligas a gente tem o manager, que esse manager trabalha com uma quantidade de designers, dependendo das frentes que estão sendo feitas. Por exemplo, eu tenho uma frente que a gente chama de experiência de automóveis, eu tenho uma frente que é a mais focada para serviços agregados, serviços de financeiras, e tudo mais. Mais ou menos, isso. Então, para cada uma dessas frentes tem um designer trabalhando. São três designers que ficam comigo. E tem uma designer que trabalha com uma parte mais de mobiles. Tem as pessoas que estão no time de Research e também Design Ops. Tem gente ali que vai cuidar de design system, tem gente que direciona todas as coisas de pesquisa. A gente tem alguns pesquisadores que estão dedicados à liga. Eu tenho o líder de pesquisa que está dedicado à liga, outro pesquisador que está também conectado à liga. Tem funcionado desse jeito inicialmente. Foi feito esses ajustes para ver como a gente consegue melhorar a entrega lá na frente.

 

O designer está dentro de uma squad ou é um time centralizado de designers? Porque pareceu que é mais um time centralizado do que distribuído, designers dentro de um time multidisciplinar. Esse designer faz esse grupo… me corrija se eu estiver errado, vocês que são donos dessa vertente de veículos, de automóveis?

 

Eurípedes Magalhães – É isso. Como funciona? A gente tem uma designer para cada pedaço do que a gente entrega, isso consequentemente é uma designer para cada squad, vamos dizer assim. Às vezes, a gente tem… no nosso caso não acontece tanto, mas em outras ligas, por exemplo, acontece de você ter um designer que atende duas squads, dependendo do volume de trabalho, dependendo do que a gente tem que fazer. Aí, naturalmente, é uma pessoa dedicada, de certa forma especializada naquilo que ela faz. Nada impede de a gente pedir uma ajudinha, ela ajudar, uma pessoa que ajuda em mobiles ajudar em automóveis, nada impede isso. Mas no final das contas, a gente tem pessoas dedicadas ali dentro dessas squads.

 

Você falou sobre ligas. Eu nunca tinha ouvido falar sobre esse termo ‘ligas’. Eu muito me baseio no Spotify, que é o sistema de tribos, squads. Eu queria saber se tem alguma correlação ou se é algo que foi criado dentro do OLX?

 

Eurípedes Magalhães – Cara, não fugir dos ovos, é a mesma coisa. Por exemplo, eu passei pela Via Varejo, eu fiquei um tempo na Via Varejo, montei time lá, a gente definiu algumas estruturas lá dentro da Via Varejo. Lá a gente tinha as tribos, dentro das tribos a gente tinha as squads. Na verdade, a gente tinha a vertical, vamos dizer assim, a vertical é o marketplace. Dentro da vertical marketplace a gente tem a tribo de logística, a tribo de atendimento, customer experience, por exemplo. E dentro dessa tribo você pode ter várias squads, por exemplo. Lá tinha uma formatação diferente. Na OLX a gente tem o manager e os designers, lá a gente tinha o manager, e cada uma das tribos tinha um lead de design que cuidava dos designers ali. Tinha uma escala um pouco maior, até mesmo pela quantidade, a quantidade de squads que a gente tem e a necessidade de conectar as coisas. Funcionava desse jeito, lá funcionava melhor dessa forma.

 

E hoje, se fosse escolher, você preferiria do jeito que você trabalha hoje ou do jeito que você trabalhava lá? Se você pudesse pontuar algumas diferenças?

 

Eurípedes Magalhães – Com certeza eu prefiro o lugar que eu estou hoje. É porque, no final das contas, o formato de trabalho, eu nem me incomodo muito com o formato de trabalho, esse tipo de organização. Porque, no final das contas, a gente está falando de design, de entrega de design. O básico de todo designer é: eu vou fazer pesquisa, vou falar com o usuário, vou testar aquilo que eu estou fazendo, vou protipar, vou trazer uma visão de serviço. Isso não muda. Se eu tiver lead, se eu tiver manager, se eu tiver uma área específica de design Ops, se eu não tiver uma área de design Ops, tanto faz. 

 

Na sua visão isso não faz diferença então? Se tem uma área especializada em design Ops ou se eu não tenho, consigo tocar igual?

 

Eurípedes Magalhães – Sim, exato. A única coisa que para mim é muito importante que, por exemplo, é uma das coisas que a gente está trabalhando na OLX, e era uma das coisas que eu fazia na Via Varejo, é buscar ter alguns especialistas em alguns assuntos. O que eu quero dizer com isso? O Product Designer ele cuida das pesquisas, cuida do visual e também, muitas vezes, cuida da parte de UX Writing, nem sempre as pessoas têm superabilidade para isso, então por muitas vezes ter alguém de UX Writing, pode ajudar nesse processo. Na estrutura que eu estava montando lá na Via Varejo, a ideia era ter UX Writing. Na verdade, a gente tinha. Falando um pouquinho mais do time lá para ter um comparativo com a OLX. O que eu fiz lá? Lá a gente tinha os times, os designers dentro das tribos das squads, e eu fiz um time apartado, que a gente chamava de center for excellence, por conta de uma consultoria que deu a dica de usar esse nome, mas nesse time eu tinha UX designer, visual designer dedicado, tinha UX Writing, e tinha algumas lideranças ali que estavam sendo construídas. A ideia era ter ali um pouquinho de expertise para facilitar. Falando de UX Writing, “vamos fazer um guia de escrita”, “vamos fazer um guia disso e daquilo”, ajudava bastante isso. A gente tem trabalhado também na OLX para ver se faz sentido ter esse perfil ali, nem que seja durante um tempo, pelo menos, para que a gente consiga ter entregas melhores. Mas no final das contas, a metodologia de trabalho é a mesma, estamos falando de pesquisar, estamos falando de falar com o usuário, estamos falando de validar.

 

Eu gostaria de entender um pouco da diferença. Para você faz diferença ou não faz? Ou já fez na sua jornada ali? De cara, beleza, eu tenho a tribo ali, tem várias squads dentro dessas tribos e tem o design lead ali dentro. Para você que é manager hoje, e já trabalhou nesse sistema, eu sei que você não trabalha agora, eu queria que você comentasse um pouco da diferença do atual para esse modelo que a gente acabou de falar aqui, se tem tanta diferença para você, pontos fracos e fortes.

 

Eurípedes Magalhães – No meu dia a dia de trabalho eu não tenho preferência, é que depende muito do escopo. Por exemplo, o meu escopo na Via Varejo é um escopo muito diferente do escopo da OLX, o escopo lá era a criação do time, o escopo era alinhamento com Reds, o cunho era Red Of Design. Então, eu tinha uma forma de trabalho e entrega diferente. Por ser também um time muito grande, entregas muito grandes, o meu trabalho estava mais numa estrutura, estava mais num pedaço burocrático, tinha bastante coisa burocrática lá, e muito menos no dia a dia, eu me envolvia muito pouco nas entregas do dia a dia. Por isso era importante ter os leads lá para tratarem disso. Por exemplo, lá eu escrevia letter, trabalhava escrevendo isso, trabalhava desenhando qual seria o fluxo de trabalho de design, construção de DOD, definition of done. Na OLX não é a minha responsabilidade, eu ajudo, eu trabalho, a gente tem uma série de ações que a gente faz que todos os managers se conversam, a gente se ajuda ali e constrói essas coisas, mas, por exemplo, não é tanto o meu dia a dia. O meu dia a dia já fica mais próximo do que é entregue, também fica bem próximo das questões estratégicas mais específicas da liga, não necessariamente específicas do time como um todo. Aqui, por exemplo, eu estou falando de: “vamos aqui pensar no que a gente vai entregar aqui nos quadrimestres. A gente tem que fazer isso, vamos priorizar com quem a gente tem que falar, como a gente vai se organizar”, fora outras atividades que a gente faz, que são atividades que ajudam no desenvolvimento do time de design. Lá eu falava mais, quando a gente falava de coisas estratégicas era: quantas pessoas de design a gente precisa nesse time? Como está organizado o time design nessa vertical? O que a gente precisa de skills aqui, gerais, para eu entregar aquilo que a gente precisa? Então, o olhar era um pouco diferente. Naturalmente, eu trabalhava mais como evangelista de design dentro da empresa.

 

Tem uma questão aí também que é da própria proporção da empresa. São empresas de tamanhos diferentes.

 

Eurípedes Magalhães – Sim, com certeza tem. Mas, às vezes, isso é muito louco, porque… é uma parte até difícil de explicar. Primeiro, a gente tem um número relativamente grande de designers na OLX, agora que está com o grupo Zap junto, que rolou a compra, a gente está com 50 designers lá, por aí. Perdoam-me se eu falar o número errado, mas é entre 30 e 50, 45, uma coisa assim. Na Via Varejo a gente tinha uma construção que era muito focada em ajuda de consultoria, então tinha, no máximo, 15 pessoas que eram designers contratados da Via Varejo, as outras pessoas eram todas de consultoria. O time, quando eu saí de lá, a gente tinha 56 pessoas no time, contando com as pessoas de consultoria. No final das contas, o tamanho é, mais ou menos, o mesmo. Mas o formato de trabalho é um pouco diferente. E também os desafios, porque quando você trabalha com consultoria, e aí é outra questão importante, uma dificuldade de liderança e de alinhamento, porque quando você trabalha com consultoria, a consultoria traz sempre a metodologia dela, a forma de trabalho dela para a empresa. Lá a gente trabalhava com a Accenture, com a CWI, com mais outra empresa, algumas eram muito boas o design, outras nem tanto, outras iam com metodologias prontas, outras nem tanto. O desafio era fazer tudo isso se encaixar e a gente criar uma metodologia Via Varejo de design, uma forma de entrega de design Via Varejo. Inclusive, desde um PTT, sem o logo da consultoria, até quais eram as fases de trabalho. Porque, no final das contas, o time tem que ter autonomia, mas você acaba correndo alguns riscos, tem o risco de você perder uma forma única de trabalho, é um risco bem alto.

 

Eu fiquei curioso para entender a questão do alinhamento. Porque você muda, de certa forma, de camada de responsabilidade, como a gente pode chamar isso? Porque por mais que sejam títulos diferentes, você disse que era ‘Red Of Design’, e agora você é manager. Tem alguma diferença em relação a métricas? O time reporta métricas para você? Você, como manager, precisa reportar métricas para a companhia? Tem algum alinhamento do time de designers ali em relação a essa métrica? Como rola isso?

 

Eurípedes Magalhães – Você está falando as métricas de design, métricas de produtividade de design ou métricas gerais?

 

Eu pensei em métricas gerais, mas se você quiser entrar em alguma coisa específica eu vou adorar saber.

 

Eurípedes Magalhães – São coisas diferentes. A Via Varejo ainda é muito politizada, então tem o time de produto, ainda está rolando um processo para uma transformação mais produtizada, na verdade, ela é mais projetizada, a Via Varejo é mais projetizada, ela está passando por esse processo de produtizar. Ainda tem muita coisa sendo lançada, para depois passar por um processo de melhoria. Já na OLX, por mais que a gente esteja lançando coisas, a gente tem uma visão de produto mais bem definida. Quando a gente olha métricas dentro da OLX, a gente olha para métricas, vai depender muito do tipo da liga, por exemplo, mas a gente olha para métricas de negócio, a gente olha para métricas relacionadas a experiência. Lá na Via Varejo, o tipo de métrica que a gente olhava era uma métrica também relacionada a negócio, mas tinha muita métrica relacionada a produtividade, olhava muito para lead time. De vez em quando, eu vou tentar produzir esses jargões malditos que a gente usa.

 

Entrega de produtividade depois do meu sprinter, número cargos que eu entreguei no meu sprinter?

 

Eurípedes Magalhães – Exatamente. Eu olhava muito para isso. Tinha um controle muito manual em alguns casos, “faz um PTT, vamos fazer um cronograma”. Imagina, se você trabalhar produto com cronograma, mas com uma data final e com o escopo fechado. E não é nem, sinceramente, o produto. Acontece em todo lugar, e lá acontecia um pouco por conta da necessidade da empresa. A Via Varejo passou por um super processo de transformação, a entrega na própria transformação digital, então, um processo doloroso ali, importante, de mudança.

 

Vamos mudar um pouquinho de assunto. Eu queria saber, na sua opinião, o que um bom designer deve ter hoje em dia? Quais são as características que você julga as mais importantes para a nossa área? Se você pudesse falar para quem está começando agora, iniciando a carreira, tentando entrar no mercado, o que essas pessoas poderiam fazer? Quais seriam as chances delas hoje de entrar na OLX, por exemplo? Hoje em dia tem muitas vagas, o mercado está aquecido. O que você poderia passar de mensagem para quem está escutando agora e está começando ou está querendo se aventurar, tentar entrar na OLX?

 

Eurípedes Magalhães – Posso citar um amigo meu positivamente? Vou citar aqui o Rafael Burity, se ele tiver me ouvindo ele vai gostar do que eu estou falando. Galera, estudem arquitetura de informação, pelo amor de Deus. Eu vou entrar mais na sua resposta. Esse é um ponto super importante, porque eu vejo hoje líder de UX perguntando se alguém conhece um pouco de arquitetura de informação. Para mim, o profissional de UX tem que saber de arquitetura de informação, ponto. Não é um… “ah, eu não sei muito bem”. A gente olha lá para o UX Designer, se ele não souber de UX Writing, Ok. Se ele não souber pesquisa a fundo, Ok. Mas não saber arquitetura de informação é um absurdo, porque a gente está falando de usabilidade, a gente está falando de organização de conteúdo, a gente está falando de desenhar os fluxos melhores, a gente está falando de uma série de regrinhas, leis e boas práticas que ajudam no dia a dia. Quando a pessoa não entende, não fazer arquitetura de informação, não sabe o que é fazer uma tríade de conteúdos, de requisitos, não sabe o que é fazer uma análise holística, por exemplo, deixa só para o time de Research fazer isso, é complicado. Eu já peguei muito designer ali com informação que eu falei: “beleza, você é um visual designer bacana, você quer entrar para UX?”, “quero”, “então é o seguinte, vamos lá, vamos estudar arquitetura de informação. A primeira coisa que você vai fazer é fazer uma análise holística dessa parte”, “nunca fiz”, “faz, depois eu vou te ajudando”. O feedback dessa pessoa para mim: “nossa, depois que eu aprendi a fazer análise holística ficou muito mais fácil eu fazer o design, porque eu sei os erros que não tenho que cometer”. Então, é uma das coisas principais. Voltando para a questão como um todo, saindo dessa particularidade da arquitetura de informação, eu vejo que o design, falando um pouquinho do muito que eu passei no meu processo, e muito do que eu vejo hoje em dia, primeiro que o designer tem que ser curioso, isso é ponto pacífico. Quando eu falo curiosidade, eu não falo só curiosidade para saber o que é UX, mas eu falo de curiosidade para entender ali o ser humano como um todo, então, olhar bastante para as outras áreas, que sejam áreas correlatas. A gente sempre fala disso. Quem vai para a faculdade de design, desenho industrial, sabe muito disso, mas as pessoas pouco se aprofundam nisso. Então, olhar para neurociência, olhar para neuro marketing, olhar para negócios, olhar para psicologia, sociologia, um pouco de antropologia, nem que seja um pouquinho, lê um textinho, faz alguma coisa nesse sentido, pode ser bastante interessante o dia-a-dia. Olhar um pouquinho para a tecnologia também é legal, você não precisa manjar tudo, mas você precisa saber ali para que serve o Angular, para que serve o React. Até onde dá para ir um pouco disso, para você conseguir conversar com essas pessoas. Para mim é muito importante que você consiga ter uma visão, por mais que você não seja especialista em algo, você tem que ter uma visão do todo. Eu gosto muito das especialidades, eu tenho predileção pelas especialidades. Uma pessoa especializada no visual, a pessoa especializada em pesquisa, com construção de fluxos, um UX mais duro ali, arquitetura de informação mais dura. Eu gosto bastante disso. Eu sempre fui um pouco reticente com o Product Design, mas eu tenho conhecido alguns muito bons. Isso eu posso colocar se encaixando com essa questão de “puts, como seria para entrar na OLX?”, ou, por exemplo, “como seria para entrar na Via Varejo?”. Eu, pessoalmente, isso é uma coisa minha, não posso generalizar para todas as pessoas, eu gosto muito de ajudar na formação da pessoa. Lógico que, para determinadas posições, determinados lugares que a gente vai colocar a pessoa, a gente precisa dela, vamos dizer, mais pronta, não sei se essa palavra é ideal, mas trazer alguém que vai chegar e no segundo dia já vai mandar bem. Mas eu também gosto de trazer as pessoas que, às vezes, não fizeram muito daquilo, porque um que dá para a gente moldar um pouquinho, dar umas dicas, mostrar a forma com que eu gosto de trabalhar, trabalhar a minha visão de design, a minha visão de entrega, fica um pouquinho mais fácil de trazer isso. Vamos combinar, o líder tem que trazer a visão dele, ele tem que ajudar a moldar, dar visão de trabalho às pessoas. Um ponto é esse. E outro ponto é trazer uma pessoa que está empolgada com aquela atividade. Você consegue achar um sênior muito bom, que não é tão fácil, mas você consegue achar um sênior muito bom e vai para uma posição de liderança, ele vai mais empolgado, ele vai com mais vontade, com mais sangue nos olhos, e isso um bom líder sabe usar a favor. Lógico que vai ter umas derrapadas, a pessoa vai fazer algumas coisinhas erradas, os lideres também fazem, toda semana eu faço uma ‘cagadinha’, o segredo é conseguir limpar ela, resolver ela da boa forma. Mas é isso, eu olho bastante para esse aspecto. Se eu fosse considerar pessoas para contratar, eu ia considerar assim… na verdade, quando eu estou no processo de contratação, eu considero esse tipo de pensamento.

 

E aí o cara está começando. A gente falou ali de início de carreira, mas tem uma pergunta que vez ou outra aparece de novo na roda. Qual é a diferença de um Product Designer e um UX Designer? O que cada um faz no dia a dia que se difere? Tem alguma vantagem, desvantagem? Algum ganha mais, ou menos que o outro? Qual é a história aí?

 

Eurípedes Magalhães – Pergunta polêmica. Vamos lá, de novo a minha visão, não é visão OLX, não é visão Via Varejo. Ele faz o que o UX Designer faria, por exemplo, lá na Via Varejo as pessoas tem escopo geral, acabam fazendo tudo, por conta da situação, por isso que eu queria trazer alguns profissionais especializados para ajudar, mas a gente não chamava eles de Product Designers, chamava de UX Designers, simples assim. No caso da OLX, a gente tem essa visão. São cargos muito parecidos, na minha opinião, eles fazem coisas muito parecidas. O Product Designer, segundo o mercado, ele assume mais responsabilidades, ele trata de mais coisas. Naturalmente, por conta disso, o risco é muito maior da gente ficar com uma perninha solta ali. Eu sei que eu não estou falando mentira, outros líderes que estiverem me ouvindo vão saber que nem sempre você tem as pessoas que entregam 100% perfeito tudo, sendo Product Designers. Eu, pelo menos, tenho essa visão. Da mesma forma que não tem pessoas 100% entregando dentro de UX. São desafios. No fugir dos ovos ali, falando um pouco lá, para mim é a mesma coisa.

 

Eu vi que você tem mais uma predileção de ter pessoas mais especialistas do que generalistas, e você tratou o Product Designer como generalista. Nesse caso de contratações, o que você acha? Você contrataria mais especialistas do que generalistas? Se for o caso de contratar pessoas mais especialistas, na sua visão, isso não gera um boom assim na equipe? Tipo, vou ter que ter um especialista para UX, um especialista para Front, um especialista para UI, um especialista para Research. Como você vê isso?

 

Eurípedes Magalhães – Depende muito. Se tem uma coisa que eu não faço é sofrer no processo de contratação. Eu vejo que o primeiro ponto é a gente ter uma leitura clara do cenário que a gente está. Esse é um aspecto primordial. Qual é o tipo de entrega que eu tenho que fazer, qual é a formatação do meu time, o que eu tenho para investir nisso e o que eu espero de resultado desse time. Certo? Então, vamos olhar para uma das consultorias que eu passei. Lá a gente mandava as pessoas para dentro dos projetos, então eu tinha profissionais que eram relativamente generalistas, mas com algumas características específicas. Então, eu tinha lá uma pessoa que tinha uma pegada mais de pesquisa, e se fosse um projeto que ia depender um pouco mais disso, eu mandava essa pessoa. Lá eu tinha uma pessoa que era mais especialista em Design Thinking, em facilitação, mais em estratégia, e quando eram projetos estratégicos, lá a gente fazia projeto que a gente chamava de Digital ou Modern Workplace, experiência do colaborador, vamos dizer assim, era um trabalho totalmente de estratégia, então tinha gente para fazer entrevista, tinha gente para fazer pesquisa, na verdade, alguns profissionais que faziam tudo isso. E aí, facilitação de workshop, relatório, planejamento do que vão ser as ações, do que vão ser as entregas, conexão com o time técnico, olhando para a arquitetura de sistemas. Eram pessoas que não faziam o visual, não precisava que eles fizessem o visual. Então, naquele cenário fazia sentido ter isso. Da mesma forma, na mesma consultoria, eu tinha projetos que eram mais conectados com o visual, então tinham algumas pessoas especializadas que eu mandava para esses projetos. Em outros projetos, em outros clientes, se não tinha um perfil mais generalista, de quem fazia de cabo a rabo ou, por exemplo, essa pessoa que estava lá no projeto fazia de cabo a rabo, e como tinha a necessidade de fazer algo mais estratégico, como uma facilitação, um design Sprint, alguma coisa do gênero, a gente trazia alguém mais especializado nisso, às vezes, eu mesmo ia, eu ia na maioria das vezes, inclusive, porque eu gostava de estar bem próximo, eu fazia todo esse trabalho com essa pessoa, esse trabalho tinha muito de treinar, inclusive. “A gente vai fazer um workshop, eu vou facilitar um pedaço, você facilita outro pedaço”, a gente vai treinando a pessoa. Fora os outros treinamentos que a gente oferecia, tinha um pessoal de fora para treinar também, uns gringos vieram treinar a gente design Thinking e Research. Então, a gente fazia esse primeiro trabalho e o time tocava. Na Via Varejo eu tinha um time com mais especialidade, porque era um time que trabalhava em projetos mais estruturantes, sei lá, o site da Via Varejo, o design system, algum projeto especial que entrava ali, um incêndio que tinha que apagar, e lá eu tinha alguém mais especializado em visual, eu tinha alguém mais especializado em UX, tem o UX Writing. A ideia, inclusive, era ter Front End dentro desse time por conta do design system. Tem uma pessoa de design Ops também para cuidar de criar documentação, de criar espaços de trabalho com isso, e todo esse time está com o líder em cima. Depende muito da necessidade. Sim, eu tenho predileção para pessoas especialistas, até por conta da velocidade. Por exemplo, eu consigo, enquanto o visual designer está cuspindo tela ou está fazendo mais interfaces, eu consigo fazer o especialista em UX olhar para o próximo projeto ou para a próxima Sprint, por exemplo. Então a gente consegue acelerar esse processo quando eu tenho uma pessoa única, eu tenho que fazer um super roadmap ali, porque essa pessoa não vai fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Sim, infla o time em algumas questões, mas a gente tem que ter inteligência, tem que ver se tem dinheiro para colocar essas pessoas, se essas pessoas vão ter produtividade ali, e aí tomar a decisão de contratação, formatação do time, considerando esse aspecto.

 

Você é manager agora, você tem um cargo de gestão e você é o líder ao mesmo tempo. Porque tem aspectos de liderança envolvidos nos projetos, nas iniciativas e tem a questão de gestão, você tem que contratar, demitir, ver quantas pessoas a empresa precisa, e tudo mais. Eu queria entender, por que você foi por esse caminho? O que te motivou a ser um manager, a trabalhar com gestão também? E o que alguém que é um designer sênior, por exemplo, precisa para ser um gestor?

 

Eurípedes Magalhães – O que me motivou a ir para isso? Acho que tem um pouco ali da minha história, primeiro poder compartilhar um pouco da minha experiência para as pessoas, experiência no dia a dia, tanto a experiência de entrega de projetos, como experiência de UX como um todo. Esses são um dos fatores principais. Outro fator também, não conseguir, sendo bem sincero, eu já não conseguia fazer coisas tão bacanas em visual design, no dia a dia de pesquisas, tudo mais, tão bem quanto outras pessoas, os mais jovens conseguiam fazer. Eu entendi que por conta dessa minha experiência, fazia mais sentido trabalhar nesse ambiente, e deu super certo ali, em termos de motivação, deu super certo, porque eu vi que eu conseguia produzir melhor nesse formato. Eu esqueci a sua segunda pergunta.

 

Porque você passou por isso. Você chegou em algum momento a ser um sênior e disse: “agora eu quero ser manager. Quero trabalhar com gestão”.

 

Eurípedes Magalhães – Acho que tem algumas coisas muito importantes aí nessa história, buscar um cargo de gestão, de liderança, pelo título ou pelo dinheiro, é a pior coisa que você vai fazer, porque é super delicado estar num local como este. As pessoas entram e saem das empresas por conta dos líderes também, tem a grana, tem quem entregue, tem os stakeholders como um todo, mas tem muito da liderança. Já perdi pessoas que não curtiram muito a forma de trabalhar comigo, e já ganhei pessoa porque queriam trabalhar comigo, me conhecia de outros lugares. Isso é bastante gratificante, inclusive. Mas dá para ver um pouco da responsabilidade, de quanto isso é delicado. Então, estar numa posição de liderança, para mim tem que estar muito conectado, alguém que é sênior e está querendo olhar para isso, tem que saber muito bem que a rotina, aquilo que ele vai entregar impacta muito mais a vida das pessoas que estão no dia a dia com ele. Então, não se trata só da entrega, da qualidade da entrega que você está proporcionando ali, se trata muito do valor humano das pessoas que estão trabalhando com você. Se trata muito de entender ali uma dificuldade que a pessoa tem com a família, uma dificuldade que a pessoa tem como é entregue, como você dá um coach, uma dificuldade de você dizer para ela o que tem que ser feito e, às vezes, tem a medida entre dar uma ordem direta, o que pode ser muito doloroso, mas, às vezes, precisa ser dito, versus você influenciar, ou talvez, se você tiver uma visão… eu, por exemplo, não acredito nisso, não acredito numa liderança mãezona, que decide como tudo tem que ser, que tudo tem que passar por ela, eu não acredito, mas pode acontecer. Inclusive, tem empresas que contratam pessoas com esse perfil, a empresa entende que funciona melhor trabalhar dessa forma. Quem está olhando para a posição de liderança tem que saber que vai acontecer esse tipo de coisa. Vamos colocar aqui uma diferença entre a gestão e a liderança, o gestor pode ser líder, o líder talvez possa ser gestor, nem sempre é assim, mas, às vezes, a pessoa não está preparada para a burocracia que está envolvida no processo. Eu, muitas vezes, sofri com essa ideia. Uma coisa é você chegar para a pessoa: “vamos fazer assim, vamos para cá, vamos desenhar dessa forma, eu acho que a melhor estratégia é essa”, quando você começa a falar de variação, começa a falar de demitir, de contratar, quando você fala de fazer orçamento, pensar no budget, organizar férias da galera. Quando você olha para todos esses processos, aí você tem o pedaço de gestão que, às vezes, a pessoa esquece que ela vai ter que passar por isso. Mentoria, coach para a galera do dia a dia, de carreira ou da entrega de projeto. Alguém que está buscando liderança tem que começar a ter uma visão mais ampla do que é design como um todo, do que é uma gestão e liderança, para conseguir sair de lá do outro lado de uma forma boa.

Eu queria que você complementasse uma outra perspectiva, por exemplo, um designer que já é sênior, que já está querendo dar o próximo passo na carreira, tem interesse em ser líder, mas hoje em dia o mercado pede muita experiência. Ou, geralmente, abriu uma vaga de designer lead, você já tem que ter experiência monitorando, cuidando de outros designers, de outras pessoas. Geralmente, essa pessoa não tem, mas ela tem a vontade de ser. Eu queria que você complementasse, eu sei que você já respondeu um pouco. O que as pessoas podem fazer para quebrar essa barreira?

 

Eurípedes Magalhães – Essa resposta vai ser um pouco dura. Sei lá, eu posso até estar com a visão um pouco turva com relação a isso, mas para mim não tem mágica, infelizmente você vai ter que encontrar um lugar que a liderança, que o pessoal que está contratando esteja aberto para receber alguém que não tem tanta experiência. Como você vai provar que você é capaz, numa liderança situacional, beleza, você vai contar que está estudando, que você fez o curso, beleza. Mas se a empresa tiver necessidade de contratar alguém que já cuidou de times, que já gerenciou, que já passou por situações mais críticas, não tem muito jeito. Para mim, infelizmente, tem esse trabalho de procurar um lugar que seja mais adequado, procurar um lugar que está aberto a ter pessoas que não tem tanta experiência naquilo que precisa ser executado, líderes que gostem disso.

 

Essa pergunta é mais até na sua carreira. Provavelmente, antes de ser líder você ter sido um baita profissional. É mais a sua visão disso, se foi sofrido, se não foi. Como contribuidor individual e não como líder.

 

Eurípedes Magalhães – Para mim a transição não foi tão difícil porque foi para mim um pensamento mais a longo prazo, não é um negócio que eu fiquei buscando ardentemente, de certa forma, acabou acontecendo mais naturalmente. Por que aconteceu mais naturalmente? Por conta do tipo de postura que eu tinha na entrega, de como eu me envolvia, de como eu participava dos projetos, a coisa começou a fluir melhor e eu encontrei um lugar que estava disposto a passar por isso. Até porque eu já tinha trabalhado nesse lugar liderando alguns projetos, então tinha essa facilidade. Então no primeiro lugar, começou a fazer isso, aí a coisa flui bem. Você ficou 6 meses como gerente em algum lugar, as empresas já começam a olhar de uma forma diferente. Dependendo do lugar que você passar, vão olhar mais ainda. O pessoal de acquisition tem esse negócio na cabeça de que se você está trabalhando num lugar X você está super apto a fazer algo e, às vezes, nem é isso, mas tem um pouco disso. Aliás, é até um pedaço, líderes de design, gerentes, e tudo mais, se conectem bem com as pessoas de Tech Acquisition, de RH como um todo, Research como um todo. Se conectem bem com essas pessoas, porque dessa forma vocês vão conseguir, primeiro manter os seus profissionais, e segundo trazer os profissionais mais adequados, com a sua visão, que esse também é um aspecto importante do processo. Eu entrei na Via Varejo, por exemplo, não tinha um mês de Via Varejo, tinha gente me mandando mensagem, graças a Deus, não estou reclamando, estou agradecendo, na verdade. Mas tinha gente me mandando mensagem, “gente, calma aí, eu acabei de entrar”, “não, mas você não topa entrar no processo?”, “acabei de entrar aqui, não é o caso”, porque eu era da Via Varejo, tinha um pouco dessa questão dessa visão. É um aspecto complicado. Tem outro aspecto que é importante, que é como você estabelece parcerias com outras empresas, parcerias com lugares que você pode trazer profissionais para o seu dia a dia de trabalho, ou que estão dentro de um projeto com uma entrega com você. Isso também é um aspecto bem difícil, de você escolher o parceiro correto. Eu já tive parceiros muito bons, que estavam juntos comigo, entregavam bem, que a gente conseguia se planejar, a gente fazia alinhamentos. E tive parceiros péssimos, de virar numa sexta-feira e falar: “o profissional X (que era um profissional que eu amava, trabalhava extremamente bem) vai ficar só até semana que vem, ele está pedindo demissão”, “tá bom. Quem vai entrar no lugar dele na segunda-feira para fazer a passagem de bastão?”, “estamos vendo”, aí não dá, aí eu tenho que colocar alguém de outro time para pegar informação com esse cara, para depois quando vier outra pessoa, passar informação para essa pessoa, e a pessoa dessa consultoria ia vir duas, três semanas, como eu fico com a minha entrega? Então, tem parceiros bons ali, que sabem que a pessoa já vai sair, mas já trazem outras pessoas, ou pegam uma liderança interna e fala: “não tem designer para ficar no lugar dele, mas o meu gerente vai acompanhar ele durante essa semana. Eu estou buscando outra pessoa, o meu gerente fica responsável por passar o conteúdo para a próxima pessoa que entrar ali dentro do dia a dia de trabalho”. É um aspecto importante também para a gente olhar, olhar dentro das parcerias que a gente tem no dia a dia, para não deixar ali as plantinhas caírem.

 

Eu queria fazer a pergunta da saia justa. Quais são os erros que os managers cometem ao chegar numa empresa ou a iniciar um novo desafio nessa jornada?

 

Eurípedes Magalhães – É difícil falar os erros que os managers cometem, mas talvez eles estejam cometendo os mesmos erros que eu cometi, pelo menos, algumas coisas que eu vi que eram importantes, que não chegaram a ser tão críticas, mas que eu acredito que são relevantes. Acho que uma das primeiras coisas é você conseguir ter uma leitura muito boa do ambiente que você está. Então, saber muito bem quem são as pessoas que vão te ajudar, as pessoas que você tem que conquistar. Isso é o básico do dia a dia. Mas você também tem que ter uma visão muito clara do que o ambiente precisa, em termos de entrega, em termos de formatação de time, em termos de estratégia de negócio, de produto, estratégia de design, você tem que ter uma visão muito clara até onde aquele time, até onde aquele lugar pode ir, e como você vai fazer com que esse time chegue lá. Por que eu estou falando isso? Porque, senão, você vai ter um trabalho muito passivo, você vai ficar ali esperando chegar coisa no seu colo. Tudo bem, às vezes, demora para você engatar. Eu, por exemplo, estou na OLX desde novembro, se vocês estiverem ouvindo isso daqui a 15 anos, não é novembro desse ano, é novembro de 2020, estamos em fevereiro e eu estou começando a ganhar velocidade agora, está funcionando bem agora.

 

4 meses depois.

 

Eurípedes Magalhães – É, por conta da complexidade ali do negócio. Vamos falar de tudo, da complexidade do negócio, da pandemia que faz a gente ficar mais lento, uma série de outras coisas, final do ano também, tem tudo isso ali. Na Avanade eu demorei mais tempo ainda, porque é um lugar muito mais burocrático, tinha uma série de outras coisas ali. Por exemplo, para você mandar uma proposta para o cliente, você tinha que passar por não sei quantas reuniões, com a aprovação de não sei quantos diretores, jurídico, tudo isso para mandar uma proposta para o cliente ali, porque uma proposta enviada era o documento anexado ao contrato, era exatamente isso, não podia ficar uma virgula fora. Por exemplo, na Via Varejo, quando eu entrei, na primeira semana eu já estava ali sabendo bem o que eu queria e para onde eu tinha que ir, porque o ambiente permitia isso. Então, tem essa visão no ambiente. Você tem a visão das pessoas que estão trabalhando com você, tem uma visão do ambiente que você está e onde você pode chegar, e tem uma visão muito clara também do time que você está trabalhando, isso é mais do que importante, no final das contas. É legal você chegar, dar o seu ritmo de trabalho, é legal você chegar e saber dos risquinhos das pessoas, mas você tem que saber também como é aquela pessoa, do que ela gosta, do que ela não gosta, como ela produz bem, de que forma ela não produz bem, para que você se prepare, inclusive, para receber feedbacks possivelmente negativos. Eu, por exemplo, estava falando com uma pessoa, não vou falar que empresa foi, mas eu estava falando: “eu preciso saber mais no que você está trabalhando”, a pessoa falou: “tá bom, mas eu te mandei várias mensagens e você demora muito para responder”. Toma essa na cara, mereci. Claro que a gente precisava fazer mais alinhamentos presenciais, no tête-à-tête, conversando, sim. Mas também tinha essa questão, a pessoa foi seguindo o trabalho porque eu demorei a responder. O que dói nesse comentário? Dói duas formas, dói porque você não tem uma visão de como essa pessoa é e ela vai falar de forma reta para você e você, às vezes, não está preparado. E dói também porque, você como gestor não olhou para aquilo que você precisava olhar. Isso, inclusive, me ajudou a mudar um pouco a minha forma de trabalho no dia a dia. É importante falar com essas pessoas, essas pessoas vão me acionar bastante aqui por mensagem, então eu tenho que ficar mais atento nas mensagens. Foi super positivo, eu fiquei com vontade de cortar os pulsos, mas foi muito positivo no final das contas, me ajudou a melhorar. Por isso que é muito importante ter essa visão de como as pessoas são, não só do que as pessoas entregam. Se eu puder falar dos erros mais comuns, eu acredito que são esses erros mais críticos ali que acabam pegando no dia a dia.

 

E recomendações gerais? O que você indica para as pessoas evoluírem, se atualizarem, serem profissionais melhores, pessoas melhores, indivíduos melhores?

 

Eurípedes Magalhães – Primeira coisa, vou repetir o que eu falei, aprendam arquitetura de informação. Segundo, não acreditem em super promessas, por favor, não existe fórmula mágica do design. Design tem a ver com maturação no conhecimento. Design tem a ver com o entendimento claro do assunto que você está tratando. Design tem a ver com experiência. Não caiam no conto do template, não caiam no conto do “vou mudar a sua vida, venha aqui e faça isso comigo”, estou falando um pouco mais de cursos. Porque a gente tem aí uma proliferação de cursos surgindo ali, tem cursos muito duvidosos, cursos que não vão formar pessoas de design, ou que vão dar só um inicial, e que, às vezes, estão prometendo que vão fazer mundos e fundos. Então, não considere aquilo como a única verdade. Eu, como professor, eu sempre digo para as pessoas: questionem isso que eu estou falando, eu estou falando o que funcionou para mim, não significa que vai funcionar para você, não significa que é a verdade única do mercado. Tem pessoas que pensam de forma diferente, constrói, aquilo que você entende e você acredita como suas próprias verdades, sem achar que o que eu estou falando está escrito em pedra. Eu falo disso para as pessoas tomarem bastante cuidado com essas promessas vagas aí, ainda mais essas promessas de fórmulas de lançamento. Vocês conhecem fórmula de lançamento?

 

Já ouvi falar, mas não conheço.

 

Eurípedes Magalhães – Eu vou falar rapidamente. Fórmula de lançamento é um cara que criou uma fórmula para você vender qualquer coisa online, vender muito bem essa coisa online e ganhar muito dinheiro com isso. Você cria todo o modelo de trabalho, vai cuspindo informação, vai investindo em mídia e vai tendo esse retorno. Tem gente que ganha muito dinheiro com isso, e que não necessariamente entregam o conteúdo bom de verdade para essas pessoas. “Eu quero vender caneta online”, eu consigo fazer essa fórmula de lançamento e fazer isso. Tomem muito cuidado com isso.

 

Eu conhecia isso como trabalho duro, que é assim: você vai ganhar muito dinheiro, e como é? Então, você vai ter que acordar cedo, você vai ter que ralar muito, você vai ter que estudar pra caramba, você vai ter que sentar a bunda na cadeira e fazer esse negócio funcionar, tá bom? “Ah, mas dá muito trabalho”, então, é assim.

 

Eurípedes Magalhães – Exatamente. Por isso que eu estou falando disso, porque, às vezes, a pessoa vem com uma verdade muito distorcida. E isso, inclusive, é muito prejudicial para o nosso mercado. “Vem cá, meu amigo. Junior vai ganhar R$ 15 mil”, 1 pessoa em 5.000 que aconteceu isso, as pessoas acabam usando isso como discurso de venda e a pessoa que faz um curso desses chega na empresa querendo ganhar R$ 15 mil. Se a empresa puder pagar, ótimo, maravilhoso. Se pudesse pagar eu pagaria por todo mundo 15, 20, 30, o quanto desse. Mas acontece que isso não é real, isso faz com que o mercado fique ruim. E quando você olha, por exemplo, para consultorias que, às vezes, não tem muito desse critério, a Thoughtworks eu sei que tem um super critério para contratação de designer, até porque eu já passei por um processo seletivo, mas tem empresas, empresas de tecnologia ela sabe que ela precisa ter UX designer para vender mais, ela contrata quem estiver na porta. Isso é complicado. Então, muito cuidado com as falsas promessas. E é isso que você falou: senta a bunda na cadeira, estuda, pesquisa, vê o que os velhinhos estão falando, vê o que os novinhos estão falando também, olha para o básico da história. Eu falo muito isso “Back to the basic – Volte ao padrão”. De vez em quando eu leio os livros antigos, vou fazer curso com pessoas, “você já conhece de design”, não tem problema, eu quero ver o que as pessoas têm para falar. Às vezes, tem um negócio novo, às vezes, tem algo que confirma aquilo próprio dito, às vezes, uma fala diferente ou algo que questiona aquilo que eu já sei e que faz eu mudar de ideia. Não se preocupe em revisitar coisas antigas, mas se preocupe, principalmente em ter uma variedade boa de conteúdos, de forma e de visões diferentes. De novo, não existe receita de bolo em UX, eu não acredito nisso, em design como um todo, não existe receita de bolo, o único ingrediente que a gente sabe que tem que seguir é o usuário, olhar para o usuário. Fora isso, eu não acredito em receita de bolo.

 

Mensagem final. Quer dizer alguma coisa?

Eurípedes Magalhães – Queria agradecer. Eu já virei fã de vocês e nem ouvi todos os outros podcasts. Mas já virei fã de vocês. Valeu mesmo. Tem um tempão que eu estava afim de gravar podcast, eu fazia um podcast de marketing digital há 7 anos atrás, então foi legal fazer de novo. Obrigado. Espero que tenha sido bom de verdade, eu sou um falastrão, espero que eu não tenha me repetido muito. E que o conteúdo seja útil para as pessoas, de verdade. Sempre que quiserem é só me chamar. Quem estiver ouvindo, se quiser mandar mensagem, me procura nas redes sociais. Deixa like no vídeo, se inscreva no canal.

 

Se você quiser escrever alguns livros e indicações para a galera, tanto iniciante, como a galera mais sênior, seria muito massa.

 

Eurípedes Magalhães – Temos uma lista interessante de coisas. Tem bastante livro antigo nessa lista, mas são livros que para mim são bases importantes para a galera. Legal, eu separo e mando para vocês.