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TEMPORADA 1 - EPISÓDIO 4

Adriane Quintas

Temporada 1 Episódio 4 – Adriane Quintas
PROJETO: Desenhando Produtos

Sou especialista em Design Centrado nas Pessoas e tenho background em áreas de Tecnologia e Desenvolvimento. Fui conquistada pelos métodos de design e mais ainda por ajudar empresas e organizações a serem mais orientadas ao design e às pessoas. Atuo como Design Manager no olist, cuidando da operação de design e estratégias em Branding & Product Design. Sou apaixonada por meta design, team building, cultura de design e facilitação de workshops criativos. Trabalhar com pessoas e para pessoas é o que me motiva.

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Hoje vamos conversar com a Adriane Quintas. Adri é designer manager no Olist. O Olist é uma empresa que existe desde 2015, tem mais de 500 pessoas hoje, está crescendo vertiginosamente. O que mais a gente pode falar, Adri?

 

Adriane Quintas – Você está indo bem na linha mesmo. Hoje a gente tem uma startup aqui em Curitiba, foi fundada aqui em Curitiba, já tem alguns anos, antes de Olist, antes a gente era solidário e o nosso mercado é o de varejo, de comércio online. Esse crescimento tem muito a ver com o momento que a gente está vivendo, de revolução da internet, pós essa onda pandêmica que estamos vivendo por aí. O Olist hoje, a gente passou por uma aceleração na forma de startup, e de imagem a gente remodelou o nosso negócio, que era muito mais focado na época, há 3 anos, para lidar realmente, ajudar pequenos e médios lojistas a entrarem no mercado de varejo online. Então essa tem sido a nossa missão de democratizar esse acesso, ajudar muito com a parte logística, também contribui muito com essa parte de atendimento, qualidade do que a gente entrega para o consumidor final. Então, estamos nesse desafio, destravando esse universo.

 

Mas fala um pouquinho de você, para o pessoal te conhecer. De onde você veio? Como você caiu no design? Por que você escolheu isso? O que você fez antes? Como você chegou na Olist?

 

Adriane Quintas – Eu sou formada em análise de sistemas, na verdade. Então, eu tenho um repertório de tecnologia, trabalhei muito tempo com desenvolvimento, fazia programação Full Stack, desenvolvia Back End, fazia parte de Front End. Eu sempre gostei muito da parte de Front, e gostava muito de pensar o porquê que as coisas iam na tela daquele jeito, o porquê das coisas. Então foi muito natural que eu fosse cada vez mais me aprofundando um pouco mais da parte de UI, de usabilidade, heurísticas, e a partir disso eu acabei caindo no universo de design, onde eu me especializei em design centrada nas pessoas. De lá, na verdade, o que me conquistou nem foi a parte de interação humano-máquina, mas foi a parte de design de serviço, que é referente a parte do primeiro diamante, o porquê das coisas, o que a gente vai fazer, quem são as pessoas, que histórias elas têm. Porque o ser humano é algo muito curioso para mim. A história das pessoas, de onde elas vêm, e como elas enfrentam problemas tão parecidos, muitas vezes, mas lidam de maneiras completamente curiosas e diferentes, isso me chama muita atenção. Sem contar que também nos ajuda a pensar e refletir sobre a nossa própria vida, os privilégios que a gente acaba tendo, e assim por diante. Mas o design, de certa forma, sempre foi muito presente na minha vida. Nós somos três irmãos na minha casa, e os três são formados em design. O meu bisavô era artista plástico, minha família toda é instrumentista, então, de certa forma, a arte e o design sempre estiveram muito próximos de nós, mesmo não sabendo que estava tão conectado. Acho que foi natural fazer essa migração também, por todo esse contexto que eu já estava vivendo. Na empresa que eu trabalhava antes, eu trabalhava muito focada com gerência de projetos, então eu ajudava muito na estratégia, a parte de alinhamento com o time de tecnologia, de como a gente ia desenrolar cada uma das iniciativas, projetos. Era uma empresa de software ERP, para gestão empresarial, e lá eu tive a oportunidade de ciar o primeiro time de UX na empresa. Então, eu construí uma cultura, uma empresa de mais de 30 anos, em que nunca teve um papel de design lá dentro, então eu acho que foi uma experiência única e muito rica de como que você cria uma cultura, as pessoas entendem, de fato, o que é UX, e você ganha uma escala realmente, uma confiança das pessoas, elas entendem que faz muita diferença para o processo e para o resultado. Ali eu aprendi muito sobre como você consegue dizer para as pessoas que o caminho que elas tomaram, até então, foi relevante, mas não é expressivo. Porque é muito difícil quando você vai lidar com experiência um produto que já existe, parece que você está indicando, apontando com o dedo aonde estão as falhas, tipo: “vocês erraram até aqui para conceder esse produto. A experiência está horrível, a interface está uma bosta”, e na verdade não é isso, eu acho que você aprende a dialogar de uma maneira que, eu tenho certeza que vocês tomaram as melhores decisões, mas elas não vão ser disruptivas para criar uma experiência incrível, ou gerar um super resultado na empresa. Então, o design vem muito com esse olhar de como a gente também consegue comunicar de uma forma mais eficiente para as pessoas. E foi natural, que eu acabei caindo no Olist, no momento de expansão do time. Eu estou no Olist desde 2018, que já me torno uma veterana, mesmo sabendo que tem muita gente que entrou antes do que eu lá, mas no último ano a gente dobrou de funcionários, o nosso quadro de colaboradores, então já me sinto até uma idosa ali dentro, sabendo de tantas coisas, tantas histórias, o porquê de cada uma delas. A gente faz parte de um time em que a cultura de design é muito forte, o Olist, como um todo, valoriza muito a experiência, então a gente tem várias cerimonias, vários momentos da nossa cultura que fica muito nítido que há uma preocupação do que a gente está entregando para as pessoas, seja um valor que a gente tem, que faz parte dos nossos princípios de empresa ser dedicado ao que a gente entrega, para quem a gente entrega, até realmente cerimonias em que, não somente a gente ouve lojistas falando o que realmente tem de experiência com a gente, e você ouvir da própria pessoa como está sendo a experiência é uma dupla jornada, a jornada da dor de ver aquela pessoa sofrendo, e aquela jornada de “cara, que massa, que ainda tem muita coisa para fazer”, tem um oceano para desbravar ali, de melhorar o que a gente entrega de produto, o que a gente entrega de comunicação, de como isso impacta a vida dessas pessoas. Hoje o meu desafio no Olist tem sido muito em relação a isso, em como realmente colocar cada vez mais o designer sendo um protagonista do que a gente está construindo de futuro ali.

 

Você tinha experiência com startup antes do Olist?

 

Adriane Quintas – Não, trabalhei sempre no mercado mais tradicional. Inclusive, essa foi uma grande mudança na forma de trabalho para mim, hoje eu não consigo me ver voltando para um contexto mais tradicional. A principal coisa que eu senti diferença foi a distribuição da informação, porque quando você está numa empresa tradicional, pelo menos, as minhas experiências foram assim, as informações são muito focadas no departamento a que elas pertencem, então você não tem muito acesso à informação do marketing, muito acesso à informação do financeiro, você meio que fica imerso das informações que chegam, até pelo seu departamento, pela sua liderança, alguma coisa nesse sentido. E no Olist eu vi que, na verdade, a informação é da empresa, você tem condições de ter acesso a qualquer informação, o motivo pelo qual você precisa dela tem que estar muito claro, e o que você vai fazer com aquela informação. Então, eu tenho total condições de saber, e a empresa como um todo, conhece todos os resultados, conhece todos os direcionamentos, os nossos KPIs. Então, fica muito claro que a informação é transparente. Eu fico pensando, voltar para um mercado que seja as coisas um pouco mais colocadas em caixinhas, eu acho que isso inviabiliza muito o trabalho do designer, porque se você não consegue entender como o negócio funciona, como eu vou construir uma experiência que realmente conecte com as necessidades das pessoas, mas também funcione o negócio, porque não pode ser só um lado, você precisa entender também o que você quer atingir de resultado da empresa, divisão, e assim por diante. Essa foi a diferença mais gritante que eu percebi.

 

Eu queria voltar um pouquinho e queria que você comentasse. Você falou que começou como designer, que era Front e virou para o design, depois disso você já foi lá para frente e já virou líder. Eu queria que você comentasse um pouco sobre essa passagem. Como é você ser designer, um sênior, não sei em que posição você estava, e você virar essa chave para líder?

 

Adriane Quintas – Na verdade, eu pulei a camada praticamente toda de execução de designer. Se eu fosse fazer uma tradução do que eu atuei como designer mesmo, foi mais como Service Designer, e não tanto na parte de UX em si, de UI, de tangibilizar interfaces, e assim por diante. Então, sempre me motivou muito essa coisa do colaborativo, até na minha especialização, quando eu fui fazer a conclusão dela, eu puxei muito essa coisa do colaborativo, da co-criação, eu sempre gostei muito mais desses momentos de troca e da facilitação de reuniões. Eu saí de um cargo de gerência de projetos e fui direto para um cargo de Red de UX na empresa que eu trabalhava. Foi toda aquela camada de execução do dia a dia, e não executei, sendo bem sincera, fiz algumas coisas, até puxo alguns protótipos, coisas muito pontuais, mas nem é algo que me satisfaça muito, eu sei que as minhas skills são bem limitadas. Eu gosto muito de investir nessa facilitação, na condição. De lá para cá, eu fui cada vez mais me aprofundando nessa parte, nessa dinâmica de como fazer um bom kick-off, como você consegue fazer bons alinhamentos de identificação de oportunidade, definição de problema e de construção de conceitos de ideias, mais do que realmente tangibilizar o final e focar mesmo no design mais de interface. Para mim esse foi o salto, mas isso não me fez menos uma pessoa que deixou de estudar, porque mesmo tendo esse gap, conseguindo retorno com o papel de liderança, eu precisava muito dominar e conhecer as técnicas, os softwares, as boas práticas para, inclusive, eu conseguir orientar o meu time. Então, por mais que você não seja uma pessoa super especialista, você precisa ter minimamente um conhecimento e bagagem, e referência, para que você consiga colocar aqueles pontos na mesa e serem discutidos.

 

Teve alguma coisa que você sentiu falta por não ter feito ali? Isso influenciou em algumas decisões suas? Ou alguém veio e falou assim: “você não fez isso, você não fez esse papel”, será que é realmente isso? Será que você está qualificada realmente para essa cadeira? Porque hoje em dia é muito difícil você virar essa chave para a liderança, você tem que provar muito. As empresas hoje em dia, elas têm uma régua bem alta. Eu queria saber como foi na sua experiência?

 

Adriane Quintas – Eu acho que eu me cobrei mais de não ter feito essas funções na prática, e esperar que o meu time me cobrasse, do que de fato, os times com o que eu trabalhei me cobrasse. Eu acho que isso tem um grande ponto sobre ser intelectualmente transparente, porque todas as vezes que eu fui palpitar sobre interface ou indicar um caminho, alguma coisa nesse sentido, eu sempre deixei muito claro: “essa não é a minha skill, mas me parece que esses pontos aqui precisam ser considerados”, quando você deixa o seu time também sabendo que você não precisa saber todas aquelas respostas, fica muito mais fácil eles também acolherem, que talvez aquilo que você está falando seja uma sugestão, seja um ponto para considerar, e não uma decisão formada. Então, você tem que construir e deixar também que as pessoas construam em cima daqueles argumentos. Muitas coisas que eu já opinei aqui dentro do Olist nunca foram para frente, porque trouxeram argumentos e eu falei: “nossa, faz muito sentido, eu não tinha essa percepção”, e nem só sobre as definições de componentes, mas às vezes, de fluxo, de regra de negócio. Então, não tem a ver só com a técnica em si da prototipação, mas sobre tudo que vem por trás dela, que muitas vezes você no papel de líder não está tão imerso ali para saber se a pessoa teve a melhor decisão. O meu papel, muitas vezes é mais questionar, para que eles também me tragam alguns insumos, e eu também consiga ajudar nas tomadas de decisões. Eu acho que houve mais uma cobrança minha, de querer realmente contribuir ativamente, mas eu fui tendo essa postura muito mais de questionar e ver como eu poderia contribuir de outras maneiras.

 

Não sei se você sabe, mas eu e o Salva trabalhamos juntos na RD, durante um bom tempo nós fomos designers de produto dentro da RD e tínhamos os verticais. Por exemplo, eu conhecia bastante a minha vertical, que era a parte de giração de leads. O Salva tinha um baita domínio na parte de automação e a parte de estrutura de como estabelecer bons dados ali para tomar as decisões dentro do produto. E de certa forma, a gente tinha uma influência sobre as pessoas que acabava entrando no time. Então, a gente não tinha o papel de gestão, mas de alguma maneira, ou já estava há muito tempo na empresa, ou já entrou e já pegou algum pepino mais difícil de resolver, e a gente já estava meio que resolvendo e entregando, tendo entregas contínuas, você acaba tendo a responsabilidade de ajudar outras pessoas. Mas não era a nossa obrigação, digamos assim, reportar isso, e nem as pessoas precisavam responder a gente. Você estava falando sobre esse momento de virar. Como você se sentiu quando caiu a ficha que você era líder?

 

Adriane Quintas – Eu tive outros momentos de liderança, acho que até como gerente de projeto, dependendo de como é o escopo da empresa que você trabalha, tem um papel um pouco de liderança. Mas eu sempre fui uma pessoa muito de trazer as pessoas para perto, sempre busquei uma liderança muito… não é nem questão de ser democrática, mas uma liderança participativa, de ouvir as pessoas e construir em cima disso. Então, eu já liderei times de tecnologia por um tempo, e é muito legal ouvir de algumas pessoas até hoje, “nossa, ainda lembro de você sendo a minha líder, foi uma das melhores pessoas”, eu fico pensando: “cara, mas o que eu fiz?”, porque ali naquela época eu ainda estava aprendendo a ser líder, ali eu errei pra caramba. No momento que eu estou hoje, eu vejo que a ficha caiu para mim, pelo menos, dentro do Olist, quando muitas pessoas me conheciam e eu não conhecia todas dentro da empresa. Quando as pessoas falam: “nossa, você precisa conversar com a Adri sobre isso, ela vai conseguir dar uma orientação”, e não é em relação a design apenas, mas, às vezes, até sobre como lidar em outras situações. A gente tem alguns grupos de liderança dentro do Olist que a gente troca figurinhas, e vem outras lideranças e falam assim: “nossa, Adri, como você faz tal coisa? Como você dá feedback nessa situação?”. Eu fiquei pensando, caramba, se as pessoas estão te reconhecendo por isso, provavelmente elas ouviram de outras pessoas também, ou elas mesmas criaram essa imagem mental de que a gente resolve bem essas situações e você acaba trocando esses insights. Para mim, a chave de ter conquistado a liderança no Olist, porque eu acho que liderança tem muito mais a ver com postura, do que com cargo, você ser uma pessoa realmente influente dentro da empresa, foi quando eu percebi esses movimentos, de que eu estava atingindo e influenciando mais pessoas, além do meu círculo do meu time. O restante do Olist também estava conseguindo me ouvir, perceber, contribuir, a gente trocar figurinhas, e assim por diante.

 

Eu também tive o momento de fazer essa transição, prestando o serviço, a empresa não é minha, então eu vou prestar serviço para alguém com o papel de gestão. Qual é a forma de pensar que você conduz o seu processo com o seu diretor, com o seu CEO, ou seja, lá a pessoa com a qual você precisa reportar? Você está entrando numa nova empresa, você não está entrando num time específico, mas na verdade, você está entrando com o papel de ajudar outras pessoas, contratar pessoas, demitir pessoas, fazer avaliação. Então, tem toda uma outra esfera de atuação, além da camada de design. Como você alinha? Ou se você utilizou alguma técnica para alinhar, ou se alguém te propôs isso para que você tivesse assim: O que é esperado de você nos primeiros seis meses, no primeiro ano? Rolou alguma coisa assim?

 

Adriane Quintas – Rolou em partes, meio superficial, mas foi bem dinâmico, na verdade. Então, eu concordo com você, eu vejo que a gente lidera em três camadas, na camada para cima com a nossa liderança direta e com outros diretores e diretoras, e assim por diante, a camada para baixo, que é o nosso time, de fato, e para o lado, que são colegas de liderança também. Essas três camadas você precisa estar constantemente se relacionando, desenvolvendo a confiança, a parceria, e assim por diante. Eu lembro quando eu entrei no Olist, a gente entrega uma cartinha de boas-vindas, e na cartinha de boas-vindas o meu diretor acabou dizendo um pouquinho do que ele esperava nos primeiros dois meses. Mas era muito intangível ainda, era muito: “eu gostaria que você ajudasse muito na questão de cultura e operação de design”, mas isso é um oceano, você pode fazer inúmeras coisas. E daí, quando eu percebi que estava muito aberto, a ponto de eu poder contribuir de fato, acho que ele deixou aberto até como uma forma de: “me diga o que a gente pode fazer diferente?”, foi isso que eu fui fazer, fui fazer o processo básico de design, fui fazer Discovery dentro da empresa, saí entrevistando um monte de gente, um monte de liderança, equipes operacionais, linha de frente, fiz um onboarding em todas as áreas, fui atender lojista novo, fui vender plano boliche, fui fazer absolutamente todas as tarefas para conseguir primeiro conhecer a empresa, conhecer o serviço que a gente estava entregando, e também entender qual era a percepção das pessoas em relação ao design dentro da empresa. Se uma das minhas missões era empoderar o design dentro do Olist, eu precisava entender aonde a gente não era empoderado e onde a gente era empoderado. E eu acabei que copilei todo esse material, daí surgiu vários to does a partir dali. Acho que esse foi o primeiro movimento que eu fiz. Se tem um tópico de design que eu gosto muito de me aprofundar é Metadesign, eu acho incrível o poder que o designer tem de, inclusive, pensar o design. Quando eu fui, de fato, atuar em cima do time, pensando em como a gente ia mudar um pouco das nossas rotinas, como a gente ia incorporar alguns novos processos, e assim por diante, eu rodei com eles alguns workshops de a gente construir, a gente construiu uma persona na época que fosse o papel de Product Designer. O que é essa pessoa dentro do Olist? O que ela representa? Quais são as principais habilidades? Eu lembro que teve um tópico que a gente tinha, por exemplo, meio que uma gangorra, para dizer se vai mais para um lado, uma balança, se vai mais para um lado do que para o outro. A galera tinha colocado dois aspectos, uma sobre ser uma liderança… porque eles também desenharam a liderança na época, uma liderança que filtra muito ou uma liderança que é super transparente. E aí, gerou um embate ali entre as pessoas. Uma pessoa queria um líder super transparente, que falasse sobre todos os problemas. A outra pessoa não, precisa ser uma pessoa que filtre, senão, a minha cabeça vai explodir. Então, você começa a entender um pouco de como as pessoas também são, como você direciona a comunicação individual, mas também consegue construir uma narrativa que seja para o time como um todo. Eu fui aplicando um pouco dos nossos próprios métodos de design em cima da construção do time, eu acho que isso ajudou muito a construir a confiança mutua, a gente está num momento agora de escalada, passando por outros desafios agora, com certeza, mas essa base está bem mais sólida.

 

Levando em consideração o que você falou agora, eu queria saber quais foram as principais dificuldades que você encontrou nos primeiros momentos da sua carreira como líder e como você conseguiu contornar isso? Como você conseguiu ganhar a confiança do seu time e moldar o seu time?

 

Adriane Quintas – Acho que a maior dificuldade que eu tive foi nunca ter tido uma liderança feminina antes, todas as minhas lideranças, até então, eram masculinas. Não acho que isso seja um grande problema, porque acho que existem pessoas e pessoas, mas eu tive poucas referências de como atuar como uma mulher líder. Muitas vezes eu tentei absorver padrões de outras pessoas para dentro do meu processo de liderança. Eu sou uma pessoa que gosta muito de conhecer a vida pessoal das pessoas, gosto de perguntar como está a vida, a família, conhecer o individuo ali. Às vezes, tem lideranças que não gostam, são super pragmáticas, super focadas no resultado, e muitas vezes eu tentei ser mais essa pessoa pragmática e me doía muito, porque eu acho que não era o meu estilo, inclusive, de conduzir a pessoa. Se eu sei que a pessoa está passando por um problema pessoal, eu vou lidar com ela, seja até num momento de chamar atenção, dar um direcionamento um pouco mais duro, de uma outra forma. É a minha forma de trabalhar. Eu acho que o maior desafio que eu tive, foi primeiro entender que eu precisava desenvolver o meu autoconhecimento para daí eu conseguir entender qual era o meu estilo de liderança, e daí conseguir adaptar ele para cada uma das pessoas. Eu acho que o autoconhecimento aí faz toda diferença.

 

Mas como a gente pode ter mais mulheres líderes?

 

Adriane Quintas – Contratando mais mulheres, com certeza. Incentivando programas de mulheres. No time do Olist o time de design sempre foi muito equilibrada a proporção homem e mulher, mas eu sempre dou preferência para mulheres, sempre, eu acho que é a minha obrigação como mulher colocar mais mulheres no mercado de tecnologia. Eu acho que cada pessoa tem alguma diversidade, alguma causa que se identifica mais e que naturalmente a gente vai tentar ser mais ativista em cima daquela questão, e para mim sempre foi a presença e a representatividade feminina, eu busco trabalhar em cima de todas as diversidades, mas essa é a que mais me toca, porque eu consigo me empatizar muito, sei das dificuldades que já tive e quero que mais mulheres estejam em cargos de liderança, estejam no mercado de trabalho de tecnologia, sejam bem remuneradas. Eu participo de alguns grupos de mulheres, “mulheres de produtos” é um deles, eu acho que como mulher, a gente também tem que incentivar e ter uma postura de levantar outras mulheres, isso significa você encontrar quais são as comunidades em que as pessoas estão chegando, e trazer cada vez mais essa palavra, incentivar, abrir mais vagas, e questionar muito as decisões da empresa. Eu já fui uma pessoa que questionei muito sobre diversidade no Olist, e hoje eu vejo o quanto a gente já evoluiu, já faz mais de 1 ano que a gente tem um comitê de diversidade. A gente tem que ser críticos, pessoas críticas que realmente façam o teste do pescoço, aqui nesse ambiente tem outras pessoas que tem outras diversidades? Não tem, então é sua responsabilidade como líder pesquisar mais, buscar mais, e muitas vezes, treinar pessoas, que elas estejam prontas para os desafios.

 

Hoje a gente sabe que a nossa área é mais dominada pelo homem, mas a mulher vem ganhando cada vez mais espaço. Como é ser uma mulher que lidera homens? Como é exercer essa função, esse papel que é muito importante hoje em dia?

 

Adriane Quintas – Na verdade, eu fico mais orgulhosa de estar num papel de liderança e mostrando que sim, qualquer mulher pode atuar em qualquer papel que ela deseja e contribuir com esse aumento do número, mais do que pensar, “ah, eu estou liderando um homem, estou liderando uma mulher”, eu acho que é mais importante olhar a representatividade. E eu gosto muito de participar, como o podcast aqui, eu acho que essas são boas iniciativas, que você vai dando voz às mulheres, eu acho que isso é uma coisa super importante, e compartilhar muito conteúdo sobre mulheres, seja em palestra, seja em livro, incentivar que as pessoas realmente estejam consumindo materiais produzidos por mulheres. Então, eu me sinto, na verdade, muito mais honrada de fazer parte disso e saber que eu posso construir e influenciar o mercado, do que ficar me preocupando se eu estou liderando um homem ou uma mulher. É óbvio que existem umas diferenças, mas não é diferença de gênero, é diferença por pessoa, porque a pessoa tem uma personalidade X e você vai conduzir ela de uma maneira, mas não é uma diferença por gênero. Mas, de qualquer forma, eu consigo sentir do meu time, das minhas colaboradoras, das minhas designers, que elas se sentem muito bem representadas por terem uma mulher na liderança, isso para elas faz muita diferença, e isso me estimula cada vez mais. Então, quando eu vou entrar numa reunião e eu vejo que só tem homens, muitas vezes eu já falo para o meu chefe: “nessa reunião só tem homens”. Às vezes, eu tiro o print da tela, uso isso para alguns outros momentos. E olha que na Olist a gente é super preocupado com isso, mas tem situações que acontece isso. E ao mesmo tempo, eu também sou uma pessoa que quando entra numa reunião eu vejo que nenhuma mulher está falando, eu começo a falar assim: “e aí, Joana? Qual é a sua opinião sobre isso?”, eu também tento buscar com que elas encontrem o espaço de fala, porque, às vezes, o assunto vai indo, e aquela mulher pode contribuir muito e, às vezes, ela está um pouco fechada, retraída. Eu acho que isso estimula a elas terem essa postura também com as próximas.

 

A gente está falando de construir times, empoderamento feminino, não interessa se é homem ou mulher. Eu queria saber quais são as características que você acha que o designer tem que ter, que são essenciais para entrar num time de alta performance?

 

Adriane Quintas – Eu olho muito mais soft skills do que hard skills. Hard skills você desenvolve no dia a dia, não tem jeito, você é uma pessoa que não conhece de métricas, você vai entrar num time que se olha métricas você vai desenvolver métricas. É óbvio que você estar estudando sobre essas coisas te faz ficar muito mais bem preparado e preparada, mas você desenvolve. Quando me pergunto o que eu procuro numa pessoa para fazer parte do time do Olist, eu vejo resiliência, porque a gente vai encontrar pontos que a gente vai ter que se posicionar, ir contra, muitas vezes, ou questionar, argumentar. E curiosidade, no sentido de, sempre querer entender o porquê das coisas, o porquê elas já foram de algum jeito e por que elas não podem mudar? Porque isso acontece muito também, quando você trabalha num sistema e com uma plataforma que já existe, você sempre vai participar de uma reunião que alguém vai falar: “isso sempre foi assim”, mas tem que ser curiosa de perguntar: “Por que sempre foi assim? O que isso quer dizer?”, essa inconformidade de ver alguma coisa errada e querer, de certa forma, destravar. E eu acho que tem essa questão do brilho nos olhos, de impactar pessoas, porque se você não tiver essa coragem, esse interesse genuíno de quem vai usar o seu produto, fica muito difícil de você conseguir realmente ganhar uma influência, e você se posicionar de uma forma muito mais estratégica dentro da empresa. Se você consegue ter esse olhar de conseguir extrair informações e coletar informações de uma forma quanti-quali, e traduzir isso num olhar de negócio é mega relevante. Então, eu vou conectando essas três coisas: comunicação, argumentação, curiosidade, resiliência. Isso tudo vai moldando, está muito na moda essa coisa de protagonista, mas essa coisa de ter o senso de ser bom naquela iniciativa, eu acho que isso é muito legal.

 

Eu queria fazer cinco perguntas na sequência, todas ao mesmo tempo, mas eu não consigo, eu vou separar. Eu fico com muita curiosidade de entender algumas coisas, porque você falou de Metadesign, você falou sobre organizar os times, de certa forma a cultura da empresa. E muitas vezes, a gente vê as pessoas falando sobre trabalho, que uma das coisas que as pessoas valorizam é justamente a cultura das empresas. Eu vou para uma empresa, legal, porque eu preciso pagar as minhas contas, preciso ter um salário, quero trabalhar com algo que faça sentido e a cultura da empresa tem que ser muito legal também, porque eu quero estar num ambiente que eu vou crescer, que eu vou me relacionar com pessoas bacanas também, que vão me ajudar. Na sua visão, qual é a importância da cultura, quando a gente decide mover para uma outra empresa que a gente está? E já que você falou de Metadesign, utilizar o design para subverter o próprio designer ali, construir uma linguagem em cima disso. Como a gente escala uma cultura de design dentro da empresa, sabendo que a gente nunca vai chegar no que a gente gostaria, ou sempre vai ter algo a mais para evoluir? Como a gente mantem essa roda girando?

 

Adriane Quintas – Eu estou tentando lembrar a primeira pergunta, porque agora eu fiquei com essa última na cabeça.

 

Se a cultura é importante para você fazer o movimento de uma empresa para outra?

 

Adriane Quintas – Pessoalmente, para mim é 100% importante. Talvez, o principal ponto para mim. Inclusive, esse foi um dos pontos que me fizeram trocar e vir para o Olist. Eu me conectei muito com os valores, desde o momento zero que eu entrei para a empresa para a entrevista, eu senti nas pessoas alguma coisa que depois isso só foi se confirmando, se estabelecendo, mas eu não julgo ninguém. Eu acho que tem pessoas que tem vários momentos de vida, tem objetivos diferentes, talvez a cultura não seja o principal pilar, mas na minha vida faz muito sentido, porque eu sigo muito uma linha, a gente consegue sim ter uma boa remuneração fazendo aquilo que a gente gosta, aquilo que preenche o nosso dia, o nosso coração. Eu gosto de sentir que a minha vida não está sendo em vão. Eu preciso ter esse senso de ter um propósito, ter um significado para aquilo que eu estou fazendo. Porque eu enxergo que é uma energia que eu invisto, que se não for alguma coisa que vai me trazer um conforto, uma plenitude lá na frente ou hoje já, para mim não faz sentido. Essa é a forma com que eu trago para a minha vida. Em relação a escalar o design, quando eu entrei no Olist, fui conhecendo as pessoas, eu vi que elas já tinham uma certa curiosidade e elas conversavam muito com o restante da empresa. Nós éramos um time de quatro pessoas, o Olist já devia ter umas 120, 150 pessoas, então quatro designers já eram bem reconhecidos dentro da empresa, você já vê que o nível de cultura já estava um pouco acima.

 

Já tinha um manager antes de você?

 

Adriane Quintas – Sim, o meu diretor hoje, ele atuava como gerente de design, eu assumi o papel dele na época, porque ele subiu também para a parte de produto, ele expandiu o escopo dele e abriu a lacuna ali. Talvez, esse foi até um grande desafio que eu enfrentei. O Amilton, que é o nosso diretor, ele é uma pessoa muito reconhecida, pelo menos, aqui em Curitiba é muito reconhecido, acho que no Brasil, em geral também. E é um profissional excepcional. Se alguém achar um defeito nesse cara, eu pago uma cerveja. É incrível trabalhar com ele, porque ele é muito inteligente, agrega muito. Então, eu me cobrei muito pensando: “cara, eu vou ter que substituir exatamente aquela pessoa”, preencher essa lacuna não foi fácil, ainda mais eu sendo mulher, você já coloca um monte de coisa na cabeça, então eu quis fazer algo bem de assentar as coisas, para que as pessoas mais me conhecessem do que elas achassem: “nossa, ela está vindo aqui ocupar o espaço do Amilton”. Como eu percebi que as pessoas já eram reconhecidas dentro do Olist, eu falei: “cara, talvez, o meu papel aqui nem é ser mais do que elas, no sentido de estar na frente, conduzir, fazer por elas, participar da reunião no lugar delas”, alguma coisa nesse sentido, eu coloquei no papel o contrário, eu falei: “cara, a minha missão no Olist é fazer com que elas se promovam cada vez mais”, elas que brilhem, e eu fico aqui só no backstage ajudando, fazendo com que as coisas funcionem. Até hoje o pessoal me reconhece muito por conta disso, que eu sou a pessoa que vou lá e dou um empurrãozinho na beira da piscina, mas se precisar eu jogo a boia. Então, eu acho que isso mostra a forma com que a minha liderança acaba sendo muito consistente no Olist, eu não estou ali para ocupar o lugar de ninguém, e nem fazer com que eu brilhe no lugar dele. Acho que isso ajudou realmente a construir a cultura, porque desde o momento que eu participei dos primeiros projetos e fui vendo que tinha uma oportunidade de fazer uma seção co-criativa com o time , conversar com o time de aquisição, puxar uma outra frente, eu faço muito. Vou ajudar a organizar, mas você conduz, você articula. Eu acho que isso naturalmente vai fazendo com que as pessoas já vão ganhando espaço, vai construindo a cultura de baixo para cima.

 

Me corrija se eu estiver errado, mas pelo o que eu entendi, já tinha uma certa maturidade, já tinha um entendimento que a cultura de design é importante para a empresa?

 

Adriane Quintas – Sim.

 

Pelo próprio fato de o Amilton ter sido manager antes de você, de certa forma, isso mostra a valorização do design como ferramenta estratégica para a empresa, que é importante, vale a pena dedicar. Mas a gente sabe que nem todas as empresas têm essa visão, e que muitas vezes, até uma pessoa que pode estar escutando a gente, talvez, não esteja nem perto dessa realidade. Talvez o design não tenha essa valorização toda do ponto de vista estratégico-cultural para a empresa. O que você diria para uma pessoa que tem uma situação parecida com a que eu descrevi, e que gostaria de disseminar a cultura de design dentro da empresa? O que você faria? Quais são os primeiros passos que você tomaria?

 

Adriane Quintas – Eu passei por isso, inclusive, na empresa anterior, criando a cultura do zero lá. Eu lembro que eu passei por quatro grandes momentos. O primeiro momento foi de encontrar uma pessoa que fosse apoiadora de design, então eu percebi em um diretor lá que ele gostava muito de olhar sobre inovação, ele sempre compartilhava no LinkedIn dele algumas coisas sobre inovação, sobre como que as empresas estavam evoluindo, crescendo rápido. Então, eu comecei a metralhar essa pessoa de vários materiais sobre design, que eu comecei a falar: “olha, isso aqui que você está falando sobre inovação, por trás tem um processo de design”, eu fui mostrando um pouco desse lado para a pessoa, “olha, essa empresa aqui que você admira tem um time de design forte por baixo”. E aí eu conversava com algumas empresas, falava para ele: “eu conversei, descobri isso”, então eu vi nele uma pessoa que seria um grande apoiador, porque ele é aquela pessoa que é um grande tomador de decisão na empresa e que ele está vindo para o meu lado, está conseguindo comprar o jogo. Esse foi o primeiro movimento que eu fiz. O segundo movimento foi pegar algum projeto, que eu falei: “cara, esse projeto aqui eu vou pedir para fazer o processo de ponta a ponta, do jeito que eu acho que é legal, e vou deixar o resto das coisas caírem mesmo, vou me dedicar dois meses nessa frente aqui, fazer a coisa redondinha e assim por diante”, e foi isso que aconteceu. Quando a gente viu o resultado desse projeto no ar, a gente começou a ver: “cara, faz muito sentido, está fazendo diferença”. A gente chegou a fazer uma cocriação com mais de 20 usuários e foi super rico, porque a gente nunca tinha feito isso na empresa. Inclusive, no dia que a gente foi fazer, a gente não contou para ninguém o que ia acontecer, durante uma semana a gente começou a fazer um monte de comunicado na empresa, falando que ia acontecer uma reunião, que ia acontecer uma coisa diferente, mas a gente não falou o que era, a gente só falou depois que aconteceu, daí a galera começou a entender o que a gente estava construindo. Essa curiosidade das pessoas foi super relevante, porque aí a gente trouxe um monte de outros colaboradores e colaboradoras para participarem junto. E a gente falou: “cara, as pessoas que a gente selecionou são pessoas que têm influência dentro dos seus departamentos, então essa pessoa vai ficar em silêncio durante aquele período, quando sair da reunião ela vai jogar um monte de informação para todas as colegas dela”, ela vai falar assim: “nossa, foi super legal, aconteceu isso, aconteceu aquilo, isso é super rico, aprendi tal coisa”, então a gente usou dessas pessoas para fazer o burburinho no resto da empresa. Essas foram duas coisas que eu fiz. A terceira foi realmente começar a estruturar um pouco mais uma dinâmica de trabalho, sempre olhando quais eram os projetos que mais valiam a pena envolver designers. A proporção de pessoas, a gente estava numa proporção, só para vocês terem ideia, de 100 desenvolvedores para 4 designers, era óbvio que a gente não dava conta de todos os projetos. O meu papel era muito de pressionar a liderança, para que a gente soubesse quais eram os principais projetos e aqueles ali saíssem com o processo de ponta a ponta. Essas são as três dicas que eu dou: encontrar uma pessoa que seja uma apoiadora, e que seja uma pessoa tomadora de decisão. Ver uma oportunidade em algum projeto piloto e faz o projeto de ponta a ponta, deixa o resultado aparecer. Depois disso, escolher quais são outros projetos que valem a pena realmente colocar o esforço de design.

 

No seu ponto de vista, como fortalecer a cultura de design em empresas que ainda não tem essa cultura? Ou não valorizam tanto essa cultura? Como deixar o time de design, como dar mais luz para o time de design? Como fazer com que essas empresas… porque o designer hoje em dia é muito importante, a gente está cansado de ver casos de empresas que não levaram tão a sério e que não obtiveram tanto sucesso. Por outro lado, empresas que já nasceram com o design enraizado, o sucesso que são hoje. Eu queria saber a sua opinião sobre isso, acho que é um pouco parecido, mas nem tanto.

 

Adriane Quintas – É um pouco parecido, ali eu falei um pouco mais do papel da liderança, talvez agora eu posso falar um pouco mais da atuação de uma pessoa de design, que é um pouquinho diferente. Quando eu estava trabalhando nessa empresa, estava bem no hype das designs Sprints. Eu mandei para a galera um monte de artigos sobre isso, a galera ficou maluca. O que a gente rodou de design Sprint foi uma atrás da outra, eu vejo que ali o papel do designer foi muito importante, porque as pessoas leem o livro do design Sprint e pensa assim: “nossa, cinco dias. Então semana que vem, na segunda-feira, eu posso rodar o meu design Sprint”, e a gente começou a mostrar para eles que não, para você rodar na segunda-feira, você tem que ter uma massa de dados, uma construção de racional que faça sentido, senão, o que a gente vai fazer cinco dias na semana? Vai perder a semana inteira tentando descobrir o que a gente precisa fazer. O time de design foi muito importante nesse sentido, de ter essa voz ativa, eu sempre estimulei muito isso dentro do meu time. Tenham voz ativa, não aceitem, se vocês acham que estão entrando num processo que não é justo com o trabalho de vocês, levantem a mão, questionem, se vocês não conseguirem sozinhos, vocês têm o meu apoio para a gente articular o que é melhor. Porque tem o lado do negócio, mas também tem o lado de… eu não vou poder fazer uma pesquisa? Eu falava isso, muitas vezes. Se não vai rolar espaço de pesquisa, então toque o projeto sozinho, não precisa eu desenhar interface, como eu vou desenhar uma interface sem ter essa tomada de decisão? Então, ou a gente faz minimamente o processo, nem que ele seja um pouco mais enxuto, num tempo menor, mas ele precisa ter algumas etapas mínimas. Eu fui criando esses combinados com o time, empoderando eles um pouco mais nesse sentido. A dica que eu dou é as pessoas construírem esse processo mínimo, entender como a empresa funciona, mas como é uma pesquisa mínima que você faça, como que é a definição de objetivo mínimo que você pode fazer e qual é a prototipação mínima que você pode fazer. Geralmente a gente fala assim: Eu tenho um tempo específico de trabalho e eu vou recortar as etapas, eu vou cortar a pesquisa, vou cortar tal coisa. E na verdade, você tem que pensar como que você enxuga tudo, no sentido de tudo caber dentro daquele espaço, e deixar um pouco mais claro para as pessoas, eu não vou deixar de fazer pesquisa, mas talvez eu faça uma pesquisa um pouco diferente, converse mais com a galera de linha de frente, que já me tragam um pouco mais de informação, e talvez seja suficiente. Eu acho que a postura que o designer sempre tem nesse momento é essa, criar minimamente o seu escopo de trabalho, vender esse escopo e sempre promover os escopos.

 

Quais são as características de um designer Junior, que ele pode trabalhar para conseguir conquistar um espaço maior? Hoje em dia a gente tem muita gente querendo entrar, o nosso mercado está super aquecido, mas a gente vê que existem muitas barreiras, todo mundo quer só contratar designer sênior, tem que ter experiência e tal. E tem muita gente boa que tem talento, mas que não consegue entrar no mercado. O que você falaria para essas pessoas? O que elas deveriam trabalhar nas suas características, ou dar mais atenção para conseguir um espaço no mercado?

 

Adriane Quintas – Eu sempre comento isso com o pessoal quando eu dou aula, alguma coisa nesse sentido que, uma é a construção de um portfólio, e mesmo que você nunca tenha passado por nenhum projeto, você consegue sim construir um portfólio de UX, seja por um redesign de um aplicativo que você gosta e você vê um problema. Eu acho que é importante mostrar que você conhece minimamente o processo. Eu estou falando de um designer Junior, e não um designer que está realmente em estágio, acho que estágio você tem que acolher e capacitar a pessoa de ponta a ponta. O Junior, que minimamente já conhece um pouco do processo, precisa ter um portfólio que conte um pouco do que você já conhece do processo, do que você já colocou em prática, mesmo que seja como forma de estudo e não no mercado. Esse é um ponto. E eu valorizo muito quando a pessoa coloca um aprendizado pessoal, “rodei esse projeto e aprendi tal coisa”, nesse “aprendi tal coisa” sempre dá a liga do que você poderia fazer diferente, o que você aprendeu, de fato. Quando você lê ou quando a pessoa conta sobre essa experiência, você consegue ver a maturidade que ela tem de como ela vai criar o próximo desafio, qual é a automotivação que ela tem. E não é o senso crítico de “nossa, mandei muito mal”, mas é “cara, eu vivi essa experiência, agora tenho um conhecimento que na próxima vez eu posso fazer diferente”. Então, como a pessoa vende o que ela aprendeu é muito relevante, porque aí você consegue entender, de fato, qual é o potencial que ela já tem ali. Porque, de certa forma, o design é prática, você não vai executar 10 projetos e vai ficar incrível, você vai conseguir consertar e vai ficar maravilhoso. Você tem que conseguir cada um dos desafios, “nesse desafio eu aprendi isso aqui, na próxima eu quero fazer isso aqui diferente, ou testar essa outra coisa”, se a pessoa conseguir transmitir melhor isso, acho que fica mais tangível o talento que ela tem, auto percepção que ela tem, o autoconhecimento que ela tem, para qual caminho ela está querendo ir na carreira. Então acho que fica muito mais fácil de você até introduzir essa pessoa dentro do time.

 

O que a gente pode ajudar, em termos práticos, alguém que vai fazer uma entrevista, e a gente sabe que as pessoas ficam nervosas, a gente vê no semblante das pessoas que elas estão super nervosas, elas não estão relaxadas, elas não estão sendo quem elas são. Como a gente pode ajudar as pessoas numa entrevista?

 

Adriane Quintas – Eu estou fazendo várias entrevistas ultimamente, essa semana me mandaram uma mensagem falando que eu sou muito simpática. Eu acho que tudo começa com a simpatia exatamente. Você que é a pessoa que está entrevistando, você também está sendo entrevistado, querendo ou não, é um namoro dos dois lados, eu preciso me apaixonar pela vaga e a empresa precisa se apaixonar por mim. Então, a simpatia para mim, é essencial. Você precisa estar focado ali, se você está na entrevista e você está fazendo outra coisa, é um desrespeito com a pessoa. Eu até tenho dois monitores aqui, mas eu até aviso na entrevista, eu falo: “eu estou anotando as minhas coisas nesse outro monitor e estão te vendo nessa câmera aqui”, eu acho legal você ser transparente com a pessoa. Eu gosto de fazer sempre uma abertura, eu acho que o fato de eu falar durante uns 5 minutinhos ali, já vai aliviando um pouco a pessoa, eu já vou tentando trazer um ar um pouco mais tranquilo. Acho que tem algumas coisas que a gente já tem alguns vieses, você já consegue pegar um pouco da pessoa. Uma pessoa que está muito nervosa, você já pode falar: “não se preocupe, aqui é mais um bate-papo, a gente quer te conhecer, então está bem tranquilo, você também vai ter o seu momento de tirar dúvidas”. Acho que toda a forma com que você vai tendo empatia com a pessoa, é muito importante, ela está sendo altamente avaliada e ela está altamente interessada em fazer parte do seu time. Então, minimamente a gente tem que dar esse respeito, agradecer muito o tempo e a disponibilidade dela, se a gente ainda coloca no meio da jornada de trabalho uma entrevista, você não sabe nem o esforço que ela teve que fazer de arranjar aquele espaço na agenda, às vezes, ela já está trabalhando em outro lugar, então tem que acolher a pessoa. Geralmente, como eu conduzo as entrevistas, eu sempre me apresento um pouco. Às vezes, tem alguma outra pessoa junto comigo do meu time, eu também deixo ela se apresentar, conto um pouco do que é o desafio, conto do Olist e já deixo claro para a pessoa: “a gente tem aqui 1 hora para a conversa, e eu vou deixar, pelo menos, uns 10 minutos para você também tirar dúvidas comigo. Então, não se preocupe, porque você também vai ter esse espaço, eu estou de olho no relógio, eu vou tentar conduzir aqui de uma forma que fique otimizado para nós dois”, eu gosto muito de respeitar o tempo que a pessoa está ali. Tem 1 hora, vamos fazer dessa 1 hora da melhor forma possível. Não sou a pessoa que gosta de extrapolar essa 1 hora. Às vezes, acontece, porque o papo vai indo e para a pessoa também está tudo bem. Mas eu gosto muito de respeitar o horário ali, chegar no horário, encerrar o meu horário. Acho que essas são coisas que mostram tanto a cultura da empresa, quanto a forma com que a pessoa vai ser recebida aqui, o respeito por ela. E, às vezes, eu gosto de fazer umas brincadeiras, quando eu vejo que a pessoa está muito cansada, está muito nervosa. Porque agora que a gente está muito em home office, a gente consegue conhecer um pouco das pessoas. O Leonardo ali eu já vi que tem uns livros, o Josias tem o microfone de podcast, você consegue ir criando uma história na sua cabeça que você pode usar isso como uma forma de conectar com a pessoa. Esses dias atrás eu estava conversando com um designer, ele estava muito nervoso, eu vi que ele anda de skate, eu também ando de skate, então eu já peguei isso e falei: “aonde você anda? O que você gosta de fazer?”, isso já deu uma aliviada e você percebeu a pessoa, você está realmente entregue para aquele momento.

 

Você que está ouvindo esse podcast, você não sabe que atrás da Adri tem um A4 impresso escrito “cuide primeiro das pessoas”. Qual é a história disso?

 

Adriane Quintas – Eu sou facilitadora de um dos How Bootcamps A gente já está trabalhando juntos desde 2019, estou indo para a quinta turma do Bootcamp de UX Design, para quem realmente está começando no mercado e quer fazer essa transição. E um dos lemas deles é esse, “cuide primeiro das pessoas”, eu já trouxe para cá. Tem outros materiais deles também, mas esse é o que mais me toca.

 

O que a gente deveria ter te perguntado e a gente não perguntou?

 

Adriane Quintas – Que conselhos eu gostaria de receber de outras lideranças. Acho que vocês podem me responder essa também. Agora eu inverti o jogo.

 

O que a gente não perguntou que você gostaria de falar?

 

Adriane Quintas – Não sei, não estou preparada para essa pergunta.

 

Você falou que você é facilitadora para pessoas que estão entrando ali. A nossa preocupação também com esse podcast é justamente dar visibilidade para essas pessoas que estão começando no mercado. Nos seus cursos, nas suas facilitações que você faz, o que você gostaria que as pessoas que vão assistir a sua aula, qual é a mensagem principal que você queria transmitir para elas? Se você pudesse falar uma coisa para essa pessoa: “aprenda isso aqui, por favor. Isso aqui que é o mais importante”.

 

Adriane Quintas – Eu acho que, na verdade, o que eu diria para elas é: “controle um pouco a ansiedade”, porque quando você está entrando no Bootcamp, por exemplo, o nosso Bootcamp são 10 semanas, é relativamente longo, quando a pessoa entra na primeira aula, ela já quer falar sobre as coisas da última aula. É super normal, eu super entendo. Mas a gente sempre fala: “confia no processo, tem etapas”. Essa é a melhor mensagem que eu posso dizer para as pessoas: “confie no processo, controle a ansiedade”, existe o momento de tomar decisão, existe o momento de pirar a cabeça e pensar em um monte de ideia maluca, existe o momento de refinar uma ideia, de pensar no MVP. Às vezes, a gente está querendo pensar no desafio, já pensando na solução. Existem as etapas, e elas existem por um motivo, então é realmente confiar em cada uma delas, em porquê que cada uma delas existem, é essencial. Essa é a melhor dica que eu posso dar para qualquer pessoa que está entrando no mercado: Confie no processo de design e segure um pouco essa ansiedade, é natural, mas precisa entender que as coisas vão no progresso.

 

Olha como é legal isso de relacionamento, de criar comunidade. A Adri dá um curso na How Bootcamps, e eu dou aula na Mergo. Teoricamente, nós teremos que ser concorrentes.

 

Adriane Quintas – Não somos, somos parceiros.

 

Uma coisa que eu já percebi da teoria para a prática, e eu queria ver se você já reparou isso também, porque se pudesse ajudar as pessoas, acho que seria um pouco isso. A gente acaba mostrando uma série de conceitos, tem o processo de design, uma design Sprint, tem uma série de técnicas que a gente pode utilizar para executar o entendimento de um problema, direcionar para uma solução, e tudo mais. O que você diria para uma pessoa que faz o curso e que chega na empresa e quer aplicar tudo que aprendeu, exatamente como aprendeu? E se, “Adri, está faltando esse processo aqui que a gente não fez. A gente tem que voltar e fazer esse processo aqui”. O que você diria para a pessoa que sai do curso e quer aplicar exatamente como aprendeu?

 

Adriane Quintas – Essa poderia ser realmente uma pergunta que eu falaria “você não me fez, qual a diferença da aula para o mercado?”, essa é uma excelente pergunta. Eu gosto muito de levar isso para os alunos, para as alunas, nesse sentido de que a realidade é outra. Quando a gente está estudando design, design thinking, qualquer outra dessas micro disciplinas ali, a gente se baseia muito em livros e a maior parte desses livros não são escritos no Brasil, é muito da realidade do exterior, dos Estados Unidos, da Europa, e assim por diante. A maturidade dessas empresas, a maturidade desses desafios é completamente diferente do nosso. Eu vejo muitas vezes esses livros romantizando muito o processo de construção de produto no processo de design. Isso não significa que não exista uma empresa no Brasil que consiga rodar daquela forma, eu acredito que exista, mas é muito diferente, é muito distante ainda da maior parte das empresas. Eu sempre tento avisar a galera nesse sentido, é importante que vocês conheçam o processo, que vocês conheçam as ferramentas e as técnicas, para que vocês consigam tomar as decisões do que colocar em prática em cada momento. E quando vocês forem escolher, vocês precisam saber qual é o objetivo, qual é a cultura da empresa, qual espaço vocês têm. Vocês vão ter que desenvolver essa maturidade, esse Background, esse repertório de atuação, justamente praticando, às vezes, abrindo mão de uma coisa e errando, às vezes, fazendo de uma outra forma e acertando, testando uma outra técnica, colocando uma outra coisa no meio do caminho. Realmente, se vocês falarem: “nossa, é assim que começa um produto”, não é bem assim, na prática as coisas são um pouquinho diferentes. E existe também uma realidade de produtos que já existem, já estão no mercado, versus você estar começando realmente um produto do zero. No produto do zero é muito mais fácil de você colocar todo esse processo em prática, porque você quase não sabe nada, então é muito fácil ver as etapas acontecendo naturalmente, fazer a emersão muito mais clara, aí você define para que caminho você vai com o produto, e assim por diante. Quando você está num produto que já existe, não faz muito sentido você tentar fazer essa exploração se não for com base no produto que você já tem. Então, na verdade, muitas das ferramentas que você usa lá na ideação, por exemplo, na jornada, faz muito mais sentido você já fazer a jornada no começo, que daí vai te dar insights do que você pode evoluir no produto hoje, e isso vai desencadeando talvez o restante do processo. Então, você tem que ter a malícia de saber qual momento colocar cada uma dessas ferramentas, para que elas consigam te dar os insumos que você está procurando. Eu acho que é legal ter essas duas visões.

 

Mensagem final. Quer dizer alguma coisa?

 

Adriane Quintas – Primeiro agradecer o convite, é sempre bom bater papo com mais pessoas que atuam também na liderança de design, que estão promovendo mais conhecimento sobre isso. Essa troca é super rica, fez muita diferença na minha transição, acho que eu não comentei isso no começo, mas eu fui uma pessoa que frequentou muitos eventos quando eu estava fazendo a transição, li muitos livros, fiz date com um milhão de empresas, com um milhão de pessoas, e essa troca é muito importante, porque eu tenho certeza que o meu aprendizado foi muito mais rápido por ter aprendido com o que outras pessoas tinham aprendido antes de mim. Então, primeiro agradecer e parabenizar vocês pelo projeto. E o recado final, independente de você estar atuando como designer, mais execução ou liderança, qual é o caminho, invista no autoconhecimento, isso faz muita diferença, primeiro para você ter uma percepção pessoal, desenvolver a sua inteligência emocional. A gente está sempre em contexto em que a gente exige ter muita empatia pelos outros, mas é importante ter empatia com a gente mesmo também, saber quais são as nossas fortalezas, aonde estão os nossos pontos de desenvolvimento. Então, invista no autoconhecimento, acho que isso é uma virada de chave essencial. Isso ajuda, inclusive, a construir aonde vocês querem trabalhar, eu sempre pensei muito sobre isso, eu não sabia direito qual era o tipo de empresa que eu queria trabalhar, mas eu sabia o tipo de empresa que eu não gostaria de trabalhar, o tipo de iniciativa que não me faria bem. E isso você só consegue com o autoconhecimento também. Você vai conseguindo criar o seu ranking de priorização, do que te conecta, do que te dá um alívio no coração. Isso ajuda, desde as suas decisões de aonde investir a sua energia, porque você, querendo ou não, muito provavelmente vai ser empregado ou empregada por uma outra liderança, então isso é muito importante. E isso é muito conectado com o que a gente entrega para as pessoas. Se você não consegue ter uma auto percepção, como você vai perceber o comportamento, o contexto de um segundo ser humano? Primeiro eu gosto de ter clareza de quem eu sou, para daí eu conseguir enxergar em cada uma das outras pessoas, pontos de atenção, de oportunidade, assim por diante.

Materiais:

  • Materiais: Palestra: Brené Brown: The Call to Courage (Netflix)
  • Série documental: The Playbook (Netflix)
  • Livro: O design do dia a dia, Don Norman 
  • Trilogia de livros do Mario Sergio Cortella: Por que fazemos o que fazemos?, Vivem em paz para morrer em paz, A sorte segue a coragem 
  • Palestra: John Maeda: Como a arte, a tecnologia e o design formam líderes criativosA