Temporada 1 Episódio 6 – Leandro Lima
PROJETO: Desenhando Produtos

Leandro é apaixonado por resolver os problemas do usuário usando design e tecnologia. Ele acredita que as necessidades das pessoas guiam minhas decisões de design em busca dos melhores resultados. Seu objetivo com seu trabalho diário é dar um toque humano a uma abordagem baseada em dados. Testes de usuário, análise de dados e diferentes técnicas de pesquisa me ajudam a criar e refinar ideias. Ele acredita também em desenvolver soluções usando uma combinação de dados e empatia para criar ótimas experiências de usuário, isso é o que mais o motiva.

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Hoje vamos conversar com ele, que é designer numa das maiores empresas de tecnologia do mundo que é o Google, já atuou numa fintech na Escandinávia, Klarna e entre 2016 e 2019 esteve no Booking, Leandro Lima. 

Leandro Lima – Estou há 1 ano em Munique, Alemanha. Eu sou o Leandro Lima, estou trabalhando com design desde 2007. Eu ainda acho que é pouco tempo, eu não me acho super experiente, para ser muito sincero, mas talvez seja um pouco de síndrome do impostor, mas eu estou desde 2007 tentando ser útil. Nesse período, eu comecei em algumas agências em São Paulo, no Brasil. A primeira agência que eu trabalhei era um lugar pequenininho, chamava Casa Rosada, quase uma empresa familiar, fiquei lá acho que por 3 anos, depois eu abri a minha própria agência. Eu aprendi muita coisa na Casa Rosada, mas chegou uma época que eu estava tendo muito freela, eu precisava formalizar esse freela. Eu conversei com o dono da agência, e ele deu bastante suporte, na realidade, para eu tentar empreender naquela época. Então foi bem tranquilo sair da Casa Rosada, a gente ainda manteve um relacionamento por bastante tempo, tivemos alguns clientes juntos, isso foi bem bacana. Depois de um tempão com a minha própria agência, que era a PopUp, a gente dava consultoria e UX, o maior foco era no começo as startups, mas foi crescendo e a gente começou a pegar clientes maiores. Eu lembro que foram 102 ou 103 projetos em 6 países diferentes, então foi um período bem divertido e bem intenso. Eu recebi uma oferta para trabalhar na Red Ventures, a Red Ventures é uma empresa, eles fazem marketing de aquisição, eles são da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e eles estavam abrindo escritório em São Paulo. A ideia era eu fazer parte dessa primeira equipe brasileira deles. Mas foi o primeiro ambiente que eu tive que trabalhar, apesar de eu já ter feito projetos para outros países com a agência que eu tinha antes, foi a primeira vez que eu estava num lugar que era 100% em inglês, que era bem mais internacional. Foi um período muito louco, de experimentar muito. Eu sempre gostei de estatísticas, e tudo mais, o período que eu comecei a trabalhar com experimentação, design, de um jeito bem intenso, bem legal, e depois de 1 ano na Red Ventures eu tive a oportunidade de ir para a Booking.com em Amsterdã, eu fiquei 3 anos lá. Aí foi um período que eu aprendi coisa pra caramba sobre como trabalhar com métricas, volume de usuários gigantes mexendo, atuando no produto, e tudo mais, observar essas pessoas, mensurar. Eu aprendi muito sobre isso. Fiquei 3 anos, fui para Klarna, na Suécia, que é uma fintech. Eu trabalhava na equipe do sistema de pagamento para e-commerce, e também sistema de delivery da Klarna, porque eles têm um produto, se você tem um e-commerce, parece um PagSeguro, se eu tenho um e-commerce você pluga a API da Klarna no seu site, você não precisa se preocupar em criar todo um sistema de pagamentos, você pode fazer tudo isso acontecer pela Klarna. E é muito grande aqui na Europa. Eu fiquei lá por 1 ano. Eu falo que eu sou a favor de design entediante, e eu falo que na Klarna eu trabalhei na parte mais entediante de qualquer coisa que você pode pensar como design, por isso a gente é importante. Eu começava a minha apresentação na Klarna com um coaching de usuário, que era preencher o formulário de pagamento, é uma das coisas que eu mais gosto de fazer quando eu estou comprando coisas, e eu quero que essa experiência seja “uau” e cheia de deleite, maravilhosa, surpreendente. Disse ninguém nunca. Eu trabalhava num produto extremamente burocrático, chato, entediante. O meu objetivo não era fazer ele ser uma experiência “uau”, porque quando você está comprando uma coisa numa loja virtual você não precisa fazer uma experiência “uau”, o “uau” está no produto que a pessoa está comprando, não em preencher o cartão de crédito. O que eu precisava fazer ali era uma experiência que desse para o usuário segurança de que o dinheiro dele ia ser processado e o produto dele ia ser entregue. Eu estou numa fase que eu sou muito a favor de design entediante, eu posso explicar isso mais para frente, mas era uma coisa que se ninguém percebesse que o meu design existia, era porque está funcionando muito bem. Acho que, às vezes, a gente esquece essa parte de que design bom é invisível. Depois de 1 ano na Klarna, eu vim para o Google. No Google eu trabalho hoje com produtos internos para administração de pessoas. O Google é uma empresa gigante, com milhares de pessoas. O que eu trabalho é com os líderes do Google, para dar para eles algumas ferramentas em que eles consigam gerenciar equipes que tenham 2 mil, 3 mil pessoas.

A gente estava falando antes de começar, para quem a gente faz o podcast, quem são as pessoas que provavelmente vão ouvir a gente, que vão escutar a gente falando sobre design, sobre produto, sobre vida. Eu queria te perguntar, Leandro, por que trabalhar com design? Como você começou?

Leandro Lima – No começo existiam boletos que precisavam ser pagos, essa era uma excelente motivação. Antes de trabalhar com design eu era professor, eu trabalhei com educação infantil por um tempo, fui envolvido também com esportes, com futebol por um tempo, fui atleta. Mas o que me fez ir para design, o que me fez pensar em ir para design, é que eu gosto de quebra-cabeças. Eu até falei que o estilo de joguinho que eu mais gosto de jogar são os puzzles, eu gosto muito de resolver quebra-cabeça. E eu sinto que fazer o design eu estou todos os dias resolvendo um quebra-cabeça. Eu tenho um objetivo, que é onde eu quero chegar com aquele produto, eu tenho informações que vêm de várias fontes diferentes, algumas vem de dados, outras vem de pesquisa, outra vem de conversar com pessoas, outra vem dos stakeholders, dos gerentes de produto, e tudo mais. São várias informações que vem, muitas vezes são informações conflituosas, mas eu tenho que fazer com que essas informações vivam em harmonia, de alguma forma. Isso é um puta quebra-cabeça. Acho que esse é o momento que eu mais gosto do meu trabalho, quando eu vejo que eu encaixei todas as peças e falo assim: “olha só, é assim que isso funciona”. Eu acho que essa é a minha maior motivação, eu não consigo pensar em uma outra, eu sinto que eu estou todo dia resolvendo um quebra-cabeça diferente.

Teve algum momento que você percebeu assim: “cara, design é o meu propósito. Esse negócio é legal”? Teve algum momento que rolou esse estalo ou foi algo gradual?

Leandro Lima – Foi uma coisa bem gradual, para ser muito sincero. Eu comecei a criar produtos, eu estava achando isso legal. Nunca teve um estalo, do tipo: “nossa, eu preciso ser designer. Isso que eu nasci para ser”. Na realidade, eu fiz um blog e eu nunca atualizei esse blog, porque eu descobri que fazer o blog era mais legal do que atualizar o blog. Era para ser um blog memes, mas eu nunca criei nenhum conteúdo para ele, mas eu achei legal fazer isso, achei legal escrever HTML, e tudo mais. Eu falei: “tem empresas contratando pessoas que fazem exatamente isso que você fez, dá para ganhar dinheiro com isso”, no começo eu até fiquei relutante de ir, se isso era bom mesmo, porque o que eu tinha feito era um cursinho da Microcamp, essa é a minha formação de design, eu estava relutante para ir por causa disso, eu não tinha uma formação, nem nada. Eu fui experimentando, fui testando bastante. Eu acho que, às vezes, eu sou até uma pessoa bem cautelosa nesse ponto, fui vendo se é design mesmo que eu gosto, até a hora que eu, de repente, estava envolvido bastante com isso. Mas eu não diria que teve um momento estalo assim, um momento “é isso que eu vou fazer, é isso que eu preciso fazer para a minha vida”, não. E teve o fato de os empregos estarem pagando os meus boletos naquela época, está pagando os meus boletos até hoje. Estou fazendo uma coisa que eu gosto, os meus boletos estão sendo pagos, por que não? Tem muita coisa que eu gosto de fazer que não é relacionado a design, eu adoro automobilismo, por exemplo, adoro Fórmula 1, gosto muito de videogame, gosto muito de viajar. Fazer design estava pagando os meus boletos, mas estava também bancando esses hobbys. Eu falei: “está funcionando, eu estou conseguindo fazer essas coisas que eu gosto”, eu estou acompanhando o automobilismo, jogando simuladores, que é uma coisa que eu gosto bastante, porque eu estou conseguindo que o design pague esses hobbys. Isso para mim foi uma motivação, eu quero continuar mantendo esses hobbys, apesar de eu não estar podendo viajar agora, porque no momento que o programa está sendo gravado agora estamos em lockdown aqui em Munique, eu quero continuar a viajar, eu adoro conhecer o mundo e eu consigo fazer isso sendo designer. Essa para mim é uma motivação muito importante.

Eu queria que você contasse um pouco como foi você ser sair do Brasil? O que te motivou ir para fora? Quais foram as principais dificuldades que você teve, que você encontrou de sair daqui do Brasil e ir para o seu primeiro trabalho fora daqui, para Europa? Se você pudesse falar um pouco sobre isso. Acho que tem muitas pessoas que têm curiosidade em saber. O que precisa ser feito? Por onde começar?

Leandro Lima – Até 2014 eu nunca tinha saído do Brasil, nem para turismo, nem nada. E eu fiz a viagem mais padrão brasileiro, a primeira vez eu fui para Miami, passei três semanas de férias lá. Eu fui com a minha esposa, a minha esposa é designer também, a Dani Guerrato, tem algumas pessoas que conhecem ela, a gente viajou para Miami, ficamos lá três semanas, a gente voltou pilhado. Tipo, o avião pousou em Guarulhos, a gente desceu, enquanto a gente esperava a mala chegar, a gente falou assim: “Qual é o próximo lugar? A gente vai fazer de novo”. Esse foi o estalo de verdade, foi um estalo do tipo, São Paulo é pequeno demais perto do mundo. Isso foi o estalo, do tipo “eu quero conhecer o mundo”. Eu comecei a ir atrás de escolas de inglês que ficavam fora do Brasil. Eu não sabia como era o processo para se mudar para fora, eu não tenho cidadania europeia, nem a minha esposa, nós não temos parentes europeus na nossa família, não tenho passaporte, nem nada. Na minha cabeça, a única maneira de sair do Brasil era me matricular num curso de inglês fora. Eu falei: “vai ser meio que o útil ao agradável”, porque eu precisava, o meu inglês era bem fraco naquela época. Eu comecei a procurar essas escolas. Só que no mesmo período, enquanto eu estava procurando essas escolas de inglês, eu recebi essa oferta da Red Ventures para trabalhar lá, e aí a gente foi de novo até a Carolina do Norte, onde fica a sede da empresa, passamos um tempo lá para conhecer, todo um boarding foi feito na Carolina do Norte para conhecer a cultura da empresa, voltar para o Brasil e a gente voltou de novo. Eu lembro, eu e a Dani falamos assim: “legal, o foco era no escritório do Brasil”, a gente já sabia que o foco não era ir para a Carolina do Norte, mas eu estava: “puta, como eu venho para cá? Como eu venho para esse lugar como designer?”. O escritório da Red Ventures, lá é uma coisa muito louca, você pode até procurar no Google, tem uma quadra de basquete dentro do escritório, uma mesa de boliche, parece um clube. Às vezes, nem parece que você está lá para trabalhar. Eu fiquei nessa pilha, “eu quero ir”, até que um dia eu vi uma postagem no Facebook de uma pessoa, hoje é um amigo meu, o cara é um puta designer, eu não o conhecia na época, se chama Pedro Marques, eu vi uma postagem dele no Facebook, ele já estava na Booking nessa época, falando que tinham vagas abertas, eles estavam contratando pessoas lá na Booking. Eu falo em todo podcast que eu participo que eu devo uma cerveja para o Pedro, porque a Booking tem programa de recomendação para novos funcionários, eles recomendam e dão um bônus para as pessoas que recomendam, e o Pedro mandou esse link de indicação dele para eu me inscrever na vaga, eu não me inscrevi por esse link, eu vi o link, entrei no site da Booking, fui na parte de careers e me inscrevi por lá, pelo site. Eu não sei por que eu fiz isso, mas eu fiz isso e eu recebi a ligação. Aí foi quando eu comecei a me tocar que existia uma chance, e o que eu precisaria fazer, de fato. Eu fiz uma entrevista por telefone na Booking primeiro, eu estava muito nervoso para fazer essa entrevista, e com zero esperanças. Uma semana depois que eu fiz a entrevista, o entrevistador me ligou me convidando para ir até Amsterdã para fazer uma entrevista cara a cara. Ele perguntou se eu tinha passaporte, eu falei: “tenho, vamos embora”. Na minha cabeça eu estava assim: “eu ganhei uma viagem para Amsterdã”, eu não achava que eu ia conseguir o emprego, de verdade. Eu cheguei lá, eu estava muito relaxado para fazer a entrevista porque eu estava curtindo a viagem para Amsterdã.

Eles pagaram a sua passagem?

Leandro Lima – Sim, eles pagaram a passagem e três dias em um hotel, e a passagem de volta. Eu viajei numa sexta-feira, cheguei lá no sábado, eu ia ficar sábado e domingo, segunda eu ia fazer a entrevista, e acabando a entrevista eu já entrava no avião para voltar. Então, foi bem rápido, mas foi um fim de semana em Amsterdã. Eu recebi a notícia que eu passei na entrevista logo depois que eu fiz, eu conversei com as pessoas, fiz a entrevista, desci do prédio, eu estava dando a volta assim, tem o Starbucks na base do prédio que fica a Booking, eu entrei nessa Starbucks para tomar um café e o recrutador me ligou, ele falou: “você está perto do escritório?”, eu falei: “eu estou aqui embaixo do escritório”, ele falou: “volta para cá então, porque eu preciso falar com você”, eu voltei, ele já estava com o contrato na mão, ele falou: “a gente quer contratar você”. A minha resposta para ele foi: “você tem certeza?”. E aí começou todo o processo burocrático de mudança, eu comecei a entender como é esse processo de mudança. Uma dica que eu dou para as pessoas que estão ouvindo, que querem mudar, eu entendo que existem pessoas que querem trabalhar em startups, não em Big Techs, não querem trabalhar em empresas gigantes como a Booking, como o Google, por N razões, e razões pessoais. Trabalhar em um lugar ou em outro, não é nem melhor, nem pior, mas tem pessoas que preferem outra situação. O que eu falo, é assim, para a sua primeira experiência, para sair pela primeira vez, foca em uma empresa que dá o suporte jurídico para você fazer mudança, porque mesmo com o suporte, você vai fazer merda. Sem esse suporte jurídico, é muita papelada para você lidar sozinho. No caso da Booking, eu pousei no Brasil de volta e já tinha um e-mail para mim de um advogado se apresentando, falando: “eu vou cuidar da sua migração, sou advogado da Booking, está aqui tudo o que você tem que fazer”, a única coisa que eu tive que fazer foi ir atrás de documentos, no caso da migração para a Holanda, os documentos precisavam ser traduzidos por um tradutor juramentado em holandês. Eles já me deram o telefone de uma tradutora, eu lembro que ela morava em Holambra, interior de São Paulo, é um puta rolê até lá, mas deu tudo certo. Eles me deram o telefone da tradutora, falou: “você precisa de uma tradutora, está aqui essa pessoa, já fala com ela, ela já sabe o que precisa ser traduzido”, eu liguei para ela, ela já falou assim: “você precisa do documento A, B, C, D. Me manda esses documentos”, eu mandei, ela mandou de volta. O que eu precisei fazer foi levar documentos do ponto A até o ponto D. Mas esse advogado foi quem me deu tudo na mão, falou assim: “está aqui tudo, você só precisa assinar esses documentos e entregar em tal lugar”, aí entregava, voltava, ligava para ele de novo, e falava: “fiz tudo”, ele falou assim: “agora você tem que assinar tal coisa e levar em outro lugar”. Ainda assim eu traduzi um documento errado. Na época eu não era casado com a Dani ainda, era uma união estável, e eu traduzi o documento errado de união estável, e eu só percebi quando eu estava entregando na embaixada, eu liguei para o advogado, ele me orientou. Eu traduzi o documento certo, mandei para eles. Demorou 1 mês, mais ou menos, e me ligaram com o visto aprovado. Esse processo, eu lembro que eu recebi a oferta em fevereiro e eu mudei para Amsterdã na última semana de abril, eu ia começar a trabalhar no dia 2 de maio, porque 1 de maio era feriado. Quando eu cheguei na Holanda já me colocaram também em contato, já tinha um e-mail para mim com um agente imobiliário falando: “essa sua primeira semana aqui antes de você começar a trabalhar é para procurar casa”, a Booking tem um suporte muito bom, eles me deram um bônus financeiro, além do meu primeiro salário para isso, para lidar com os custos da mudança, e deram esse agente imobiliário para me ajudar a achar casa, essa pessoa ia me apresentar seis casas, se eu quisesse ver uma sétima casa, eu teria que pagar um valor a mais. Mas ele ia me apresentar seis casas e ia me ajudar com a negociação com os donos da casa, porque na Holanda é muito chato isso, é bem complicado negociar com os landlords, quem já mora lá tem uma experiência maior em fazer essa negociação, mas eu estava perdidaço, então essa pessoa ia me ajudar com toda essa negociação. E a Booking deixou pago para mim 1 mês no hotel.

Eram legais essas casas? Você bateu o olho e gostou? Como foi?

Leandro Lima – Eram legais. Antes eles me ligaram, eu estava no Brasil ainda, eles me ligaram tipo fazendo um briefing do tipo de casa que eu queria. Eu não conhecia bairro nenhum, mas se eu tinha preferência por algum bairro, se eu tinha algum tamanho mínimo, se tinha algum requisito, do tipo, se eu tenho animal ou se eu tinha criança pequena, ou se eu estava procurando alguma casa que tivesse alguma adaptação, caso eu tivesse com alguma pessoa com deficiência física. Fizeram um briefing e com base nesse briefing me mostraram seis casas. Eles ainda falaram assim: “se você ver alguma casa nos sites…”, me deram uma lista de sites, “se você ver alguma casa nesses sites, manda para eles que eles vão tentar ligar e agendar a visita, mas nada garantido”. Quando eu cheguei já tinha a lista de seis casas que eu ia visitar, eu consegui uma casa dessa lista, mas eu fiquei ainda 1 mês nesse hotel pago pela Booking. O problema era assim, a primeira coisa que eu tinha que fazer quando eu chegava lá era me registrar na prefeitura como morador da cidade. E tem uma coisa meio louca, eu não conseguia a papelada para alugar uma casa se eu não tivesse registrado na prefeitura como morador, eu não conseguia me registrar como morador se eu não tivesse uma casa. O que aconteceu é que a Booking já me deixou um pré-registro, como se eu tivesse no escritório da Booking. Era uma situação meio louca, mas eles faziam, e fazia parte do pacote de suporte, não é porque eu sou especial, todo funcionário quando chegava lá já tinha esse pré-registro na prefeitura, como se tivesse dentro do escritório da Booking para conseguir achar a casa. Mas eu conheço gente que foi para lá sem suporte nenhum, e foi 3, 4 meses procurando casa. Uma coisa bem louca. Eu não sei como está hoje, mas era um mercado imobiliário muito aquecido, muito intenso. Mas achei a casa, e estava vivendo lá. Uma coisa que foi bem legal da Booking, mais uma vez, porque eu falo que empresas que imigram pessoas, ou melhor para começar, os seus primeiros três meses, o seu rendimento profissional vai ser uma bosta, não só pela mudança de cultura, mas porque você vai ter tanta burocracia para resolver, de tipo: abrir conta no banco, ir na prefeitura se registrar, se cadastrar no seguro saúde, se cadastrar no não sei o que lá que tem que se cadastrar, ir na embaixada para pegar outro documento, e tudo mais, esse processo vai uns três meses de você só fazendo tudo isso. Precisava faltar praticamente um dia por semana no trabalho para ir resolver essas burocracias, a questão é que eles já estavam conscientes disso, então eles sabiam que eu ia precisar. O fato deles, se eu não fizer isso, você não pode trabalhar para a gente, então você tem que fazer. Porque eles já eram experientes em fazer imigração de pessoas. Eu conheço casos de pessoas que mudaram e precisava resolver toda essa burocracia, e a empresa não sabia que precisava fazer toda essa burocracia, a empresa ficou impaciente com a pessoa tendo um rendimento mais baixo, porque precisava ir em vários lugares, resolver várias burocracias, e acabaram demitindo a pessoa no período de experiência. No caso da Booking esses primeiros três meses eu não tinha nem equipe, é tipo: “o seu foco nesses primeiros três meses é aprender a morar na Holanda”, ninguém espera que você tenha um rendimento bom, ninguém espera que você sente e já faça a Booking ser o maior site do mundo, e tudo mais. Seu foco nos primeiros três meses é aprender a morar na Holanda, depois desses três meses a gente espera que você esteja sentado, com uma casa, com conta no banco, cadastrado todos os documentos, aí a gente move você para uma equipe e você começa, de fato, a trabalhar. Isso foi uma coisa legal, porque eu sou muito paciente. Depois eu fui para a Suécia e foi a mesma coisa, foi a mesma coisa na Klarna, foi tipo: “você tem esses três meses para resolver a sua vida, achar um lugar”. E é a mesma coisa aqui no Google, eles me trouxeram para a Alemanha, num negócio que foi muito parecido com a minha imigração para a Holanda, e é isso, “os primeiros três meses a gente não espera que você faça nada, a gente espera que você arrume a sua vida, depois começa a pauleira, mas antes disso, arrume a sua vida”. Isso é legal, porque eu comecei a experiência e eles foram muito pacientes.

Hoje no Google você é IC, você é contribuidor individual? Ou você tem algum cargo de liderança?

Leandro Lima – Não, eu sou um contribuidor individual. Assim, eu sou um contribuidor individual, o Google se organiza da seguinte forma: as equipes são formadas por tríades de liderança de produto. Eu não tenho nenhuma pessoa que se reporta a mim, mas as equipes têm um product lead, um tech lead e um designer lead. Essas pessoas não são managers, mas elas lideram aquele produto ou aquele pedaço de produto. No papel eu sou um contribuidor individual, mas eu estou numa dessas tríades em três equipes aqui dentro.

Eu queria voltar um pouco. Você falou do inglês, você falou que no começo, você mesmo não manjando tanto, você foi para frente e foi dando certo. Como foi quando você chegou na Holanda? Você já sabia falar melhor o inglês? Como foi esses primeiros contatos com outra língua, com outra cultura? Você tendo burocracia para resolver? Como foi esses primeiros momentos?

Leandro Lima – Eu fui cara de pau pra cacete. Antes da Booking, na realidade, eu estava na Red Ventures, e a Red Ventures por ser uma empresa dos Estados Unidos, tinha a exigência que todo mundo falasse inglês. O meu inglês era muito ruim nessa época, ruim de eu não saber fazer perguntas em inglês, eu não sabia, por exemplo, que quando você vai fazer uma pergunta em inglês, você começa a pergunta pelo verbo, eu realmente não sabia disso. Durante a entrevista ele falou: “você fala inglês?”, e eu: “falo, falo sim”, e eu comecei a fazer os meus truques, por exemplo, como eu não sabia que as perguntas começavam com “do you” ou “can you”, qualquer coisa assim, eu falava a frase no afirmativo, que era como eu sabia falar, e terminava fazendo cara de dúvida e falando: “rigth”. Nesse período eu fui estudando o inglês também, fui aprendendo. Eu confundia palavras, às vezes, eu parecia muito perdido porque eu confundia “he” e “she”, ele e ela. Então eu começava a falar alguma coisa, eu queria falar “he”, mas eu usava “she”, porque travava na minha cabeça, mas ia indo, eu estava conseguindo me virar, melhorando a minha comunicação lá, mas estava conseguindo. Na Holanda eu estava mais treinado, por causa desse 1 ano da Red Ventures. A grande questão, eu tinha uma síndrome, muito brasileiro que eu converso que veio para fora, acaba falando: “ah, mas o meu inglês, eu estou inseguro”, eu também era bem inseguro com o meu inglês e a gente tem uma exigência sobre o nosso inglês muito maior do que todas as outras pessoas tem sobre o nosso próprio inglês. Tem gente que fica preocupada: “ah, eu tenho sotaque para falar inglês”, cara, todo mundo tem, todo mundo que não é nativo tem sotaque para falar inglês. Ou a pessoa fala: “ah, eu falo muito devagar”, está de boa, o importante não é falar rápido, é conseguir ser entendido. Então, o que eu falo para as pessoas, primeiro, treina falar inglês, treina desenrolar o inglês, senta com alguém e tenta conversar, pega um desses aplicativos, às vezes, porque muita gente que eu converso tem conhecimento para falar sobre design em inglês, é falta de prática mesmo. Então, pega um desses aplicativos de aula online, senta com alguém, troca ideia por 10 minutos, tenta apresentar um case de design em inglês, você vai desenrolando. Não se preocupa com o sotaque, não se preocupa com o falar devagar ou com a gramática perfeita, eu faço mil erros de gramática, às vezes, e está tudo bem. Quando a gente escreve, tem o corretor que ajuda a gente a melhorar a escrita, falando, às vezes, bem informal as conversas que a gente vai ter. O que é importante é, você precisa conseguir fazer com que conceitos de design que você quer transmitir sejam entendidos quando você fala em inglês, esse é o ponto. Se você, mesmo com sotaque, ou igual eu, mesmo sem saber fazer pergunta, ainda consegue transmitir esses conceitos de maneira que as pessoas entendam, você consegue falar em inglês para se comunicar em outros países. Os outros países não são tão exigentes quanto a gente é com a gente mesmo. Outra coisa, eu estava preocupado com o sotaque quando eu cheguei na Booking, outra coisa, aqui no Google também, são mais de 120 nacionalidades no mesmo prédio, então todo mundo tem sotaque, e está tudo bem. No final eu comecei a gostar muito de ouvir os sotaques das pessoas, porque é uma característica delas, da cultura delas, que elas não vão perder. Às vezes, é o que define elas como parte de uma certa cultura esse sotaque, e é legal pra caramba você ver, é um sinal de diversidade, vários sotaques se comunicando ao mesmo tempo. O que você precisa é ser cara de pau e treinar explicar conteúdos básicos. Tenta explicar o seu portfólio em inglês, se você conseguir isso você vai conseguir trabalhar em inglês.

Ainda na Booking, eu queria saber depois que você se assentou, passou os três meses. Como foi entrar? Para onde você foi ali? Você entrou como Product Designer ou UX? Como foi essa sua experiência no começo da sua carreira na Booking? Eu sei que você virou designer lead ali dentro, eu queria que você também falasse como foi essa transição. Várias dificuldades, língua, outro país, você ainda conseguir se tornar líder.

Leandro Lima – Primeiro, eu não fui designer lead, eu fui team lead, são duas coisas diferentes que existem lá dentro. É uma distinção importante, o team lead é manager de pessoas, então como team lead, ele é manager de pessoas que não são necessariamente de um único cargo. O designer lead é um cargo mais estratégico, ele gerencia estrategicamente a direção que o design vai dentro da empresa. O team lead gerencia as pessoas dentro de uma equipe para montar uma equipe que tenha ali o skill set certo, para que essa equipe seja produtiva. Eu não era designer lead, eu era team lead, eu era manager de pessoas. Eu tinha os dois cargos, eu era designer de uma equipe, e o team lead dessa equipe. Primeiro, sendo team lead, a primeira coisa que eu aprendi foi sobre estilos de comunicação. Se você quer investir, e isso era uma coisa que a Booking investia, diversidade dentro da empresa, diversidade dentro da equipe, isso significa que as pessoas dentro da sua equipe vão ter estilo de comunicação bem diversos, e você precisa respeitar isso. Se eu tentasse homogeneizar o estilo de comunicação das pessoas da minha equipe, eu podia estar tirando a característica que fazia aquela pessoa ser aquela pessoa, e eu acho isso muito cruel. Tem pessoas que são introvertidas, e tem pessoas que são extrovertidas. Tem pessoas que são mais técnicas, tem pessoas que são menos técnicas para falar e tudo mais. Eu tinha que deixar isso acontecer, era isso que ia trazer as perspectivas diferentes. Para mim, isso era um sinal de respeito por essas pessoas, é esse o sinal que eu estou aceitando você sendo você. Eu acho bem ruim, às vezes, que venham feedbacks, tipo: “ah, essa pessoa tem problemas de comunicação”, e eu penso: “tá. O que significa falar que tal pessoa tem problema de comunicação?”, muitas vezes me parece que a pessoa só tem o estilo de comunicação que não se adequa ao esperado. E eu, como team lead, o que eu tentava fazer não era pedir para a pessoa que estava se comunicando de uma forma mais introvertida, falar: “você tem que ser mais extrovertido”, mas era chegar para as pessoas que estavam falando e falar: “como você prefere que a gente se comunique?”. Tinha gente que falava assim: “eu me sinto mal falando em reuniões, mas eu me sinto muito bem falando se tiver um feedback silencioso, porque eu posso escrever e mando o que está feito”, “beleza, é assim que você se sente bem dando o feedback? Então vamos fazer assim para você”, a outra pessoa prefere falar, então vou deixar aquela pessoa falar, você escreve e a gente tenta criar momentos de troca. Em alguns momentos eu vou pedir para você falar, alguns momentos eu vou pedir para aquela pessoa escrever, mas eu vou tentar criar um ambiente em que todo mundo consiga falar desse seu jeito, falar usando esse seu estilo. Essa para mim foi a maior aprendizagem sendo team lead. Quando todo mundo ficou confortável com isso, a produtividade da equipe foi uma loucura. Eu trabalhava num produto que chamava “Booking Genius”, que é o produto de lealdade, ou programa de lealdade da Booking, em 3 anos a gente cresceu esse programa para 100 milhões de pessoas, e era uma equipe de 7 pessoas no começo. Foi muito legal. E foi basicamente isso, o jeito das pessoas ficarem na equipe. E era legal, porque as pessoas entravam naquela equipe e ficavam, elas não estavam querendo trocar, porque estava começando a surgir um clima gostoso, estava ficando um clima de respeito mesmo entre as pessoas daquela equipe. Tanto que no final, que trocou a liderança da equipe, no momento que eu já estava saindo, muita gente saiu também, muita gente acabou trocando de equipe. Esse foi o principal aprendizado como team lead. E eu tinha que pensar também assim, eu tinha uma estratégia de produto, eu tinha que pensar em como montar essa equipe para levar eles para essa estratégia de produto. O que acontece, isso até como designer, às vezes, eu estou apresentando o meu design para alguém, para um PO, por exemplo, para um programador, e a grande coisa que acontece é que a gente tem valores diferentes, eu, meu PO tem outro valor, meu programador valorizava outra coisa, e tudo mais. Eu lembro que a gente fez uma sessão uma vez entre a equipe, que ela fala assim: “o que importa para mim?”, qual é aquele valor que você carrega com você na hora de fazer produto que você não abre mão? Isso é o que importa. Tem aqueles que você vai abrir mão, mas tem aqueles que você não vai abrir mão, isso pode variar de pessoa para pessoa, por exemplo, às vezes, o Product Manager, o que importa para ele é conversão ou melhorar qualquer outra métrica. Às vezes, para o programador, o que importa para ele é latência, estabilidade do produto, poder escrever o código que desafia ele mais, essas coisas. E para o designer, a coisa dele, às vezes, o valor dele é a puridez visual. Eu não sou um vision designer, o meu design não é o mais bonito de todos, mas tem designers que se preocupam com isso, é um valor para eles, e valores que eles não estão afim de abrir mão. Se eu apresentar o meu trabalho de um jeito que desafia esse valor que a pessoa não quer abrir mão, eu vou criar um conflito dentro da minha equipe, vai ser muito difícil colaborar. O que eu fazia era mostrar que o trabalho de cada um ajudava as outras pessoas da equipe a fazer isso que elas valorizavam mais. Por exemplo, o Product Manager, eu estou falando métricas aleatórias, o Product Manager se preocupa muito com conversão, se eu chegar para ele para apresentar o meu design e falar: “olha, eu fiz aqui essa tela, vai ficar mais bonito, vai aumentar MPS”, essa pessoa não vai me ouvir, ela vai falar: “tá, mas não me importa nada disso, o que me importa é a conversão”, você chega para ela e fala assim: “se a gente fizer isso, eu consigo melhorar a sua conversão, começar melhorando essas outras coisas”. Ou se eu chegar para o meu programador, para o engenheiro do software e falar: “eu estou fazendo uma coisa aqui que eu imagino que vai ajudar você a melhorar essa latência do produto. Eu estou fazendo uma coisa para tentar desafiar você a usar animações”, qualquer coisa assim. A pessoa acaba se empolgando, porque ela vê que o que ela valoriza como boas entregas, e cada pessoa valoriza coisas diferentes, está sendo levado em consideração quando a gente está pensando em conjunto. Obvio que existem momentos que tem que abrir mão de uma coisa, ou tem que abrir mão de outra, você pode trabalhar em equipe, mas vê que todo mundo está fazendo um esforço para entender os diferentes valores que existiam dentro daquela equipe e tentar combinar eles numa entrega é o que unia a gente. Eu via esse como o meu trabalho como team lead, eu tinha que unir essa equipe para a gente conseguir entregar alguma coisa.

Eu queria comentar um ponto que você levantou. Eu achei bem interessante, hoje eu sou lead designer na Thoughtworks, quando eu entrei, a primeira mensagem que eu recebi foi um vídeo de boas-vindas do CEO da empresa, falando justamente um ponto que você comentou, que talvez, o mais importante nessa jornada de início de um boarding, eu como profissional, seria trazer para a empresa aquilo que é característica única minha, aquilo que me diferencia das demais pessoas, aquilo que é só meu. E você comentou ali sobre valores, comportamentos, sotaque. Na sua visão, você falou que não é vision designer, talvez não seja o que você gosta de fazer, ou o que você quer fazer. Qual é a sua área de competência hoje? E como você explora isso como um potencial para entregar valor para o time na sua atividade diária?

Leandro Lima – Tem duas coisas que eu acredito que eu faço bem. Um, eu manjo de estatística. Eu até brinco, eu falo que o meu sonho, quando vem um problema, eu falo: “calma, eu sei a estatística”. Eu entendo como usar as estatísticas, não me considero um estatístico, mas eu sei usar isso de maneira que eu consigo medir o meu design. E eu também entendo de como aplicar o método científico, como usar o método científico como processo de design. As pessoas me perguntam: “qual é o seu processo de design?”, eu falo: “o meu processo de design é o método científico”, que é tentar provar… não é tentar provar que eu estou certo, mas diminuir a incerteza das minhas entregas. Eu brinco, eu falo que eu trabalho não para dar certo, mas para estar progressivamente menos errado. São duas coisas que eu sei fazer bem, eu sei usar essas ferramentas muito focado em dados quantitativos mesmo. Eu falo que eu sei metrificar a experiência do usuário. Isso não significa usar métricas de UX, ou métricas de negócios, eu não acho nem que isso existe, acho que não existe essa divisão, mas o que eu sei fazer é olhar para um produto e escolher o que eu quero medir, que vai ajudar a gente a chegar naquele sucesso e a projetar a experiência que leve a gente para aquela nossa definição de sucesso. Outra coisa que eu sei fazer, eu sei pesquisar, porque eu sou curioso. É isso que eu contribuo.  E o meu valor que me guia como designer é assim, eu quero resolver problemas de duas coisas de uma maneira ética e de uma maneira sustentável. Quando eu falo ética, eu falo que eu mexo muito com métricas, mas eu não quero otimizar uma métrica seja o meu trabalho, eu até falo que se você trabalha para otimizar uma métrica, aquela métrica deixou de ser uma métrica boa, porque você entra num loop de olhar só para uma coisa muito fechadinha assim. Parte de trabalhar com ética é você ver todas as implicações que existem no produto quando você começa a usar uma métrica só, quando você começa a usar uma métrica como o seu objetivo. E quando eu falo de maneira sustentável é assim, maneira que dê uma resposta para o usuário, que ajude ele a relaxar e a ir embora. Eu falo que se alguém está usando o meu produto o dia inteiro, tem algum problema com o meu produto, eu quero que você use o meu produto para resolver o seu problema e vai embora para fazer o que realmente importa na sua vida. Eu estava na Klarna, por exemplo, eu queria que a pessoa só usasse a Klarna naquele momento pequenininho do dia dela, quando ela precisasse pagar uma conta e depois fosse embora fazer o que era mais importante. Quando eu estava na Booking, eu queria que a pessoa usasse a Booking naquele momento mínimo do dia dela e depois fosse viajar. Viajar que é legal. Se reservar o hotel é a parte mais legal da sua viagem, tem problema aí. Legal é você ir viajar. É a mesma coisa aqui no Google, eu ajudo managers a administrarem equipes. Se você tem que passar muito tempo na ferramenta para entender como sua equipe funciona, tem algum problema aí. Você olha a ferramenta, pega a informação que você precisa e sai para ir trabalhar com as pessoas que estão em volta de você. Eu acho que o valor que eu trago é isso, resolver problemas de maneira ética e que respeite o resto do tempo que a pessoa tem.

Hoje a gente vive num mercado super aquecido, especialmente pós-pandemia, antes da pandemia já tinha uma indicação de que isso ia acontecer, mas com a pandemia a demanda por profissionais de UX ou Product Designers aumentou significativamente. A gente estava comentando sobre processos de design, sobre a quantidade de cursos que tem hoje e são ensinadas diversas técnicas de processos, de maquiar problema, jornada, persona, e tal. Qual é a sua visão em relação a processos? O que ajuda, de fato, a gente a resolver problemas como designers? E o que diferencia alguém que está muito iniciante, que sai de um curso e quer ir trabalhar, para alguém que já tem bastante experiência em design?

Leandro Lima – A primeira coisa que eu achei interessante na pandemia, porque eu acho que a pandemia, em muitos aspectos, fez o mundo girar mais rápido. O que você falou, do crescimento de UX, por questões de empresas procurando profissionais de UX, isso era uma tendência que a gente via acontecendo, e a pandemia só fez essa tendência se amplificar. Então, eu acho que está um momento de mundo bem interessante para a gente pensar a nossa profissão, de um jeito bem filosófico, qual é o nosso papel real nesse mundo? Dito isso, o que eu penso sobre processos? Eu acho que é importante, mas, às vezes, é uma falácia a gente achar que existe um processo único que vai resolver tudo. É muito importante a gente entender processo como uma caixinha de ferramentas que vai ajudar a gente a chegar em um problema, mas o processo nunca é maior do que o problema. Uma coisa que me irrita muito em discussões de design, é que a gente está muito aficionado em discutir processos, e não em discutir problemas. A gente não pode falar de um processo sem entender quais são os problemas que estão sendo resolvidos, porque vai mudar pra caramba. Eu acho que, às vezes, criar processos de design você homogeneíza as relações que existem dentro da sua equipe, quando você faz essa homogeneização para tornar as relações entre as pessoas mais legíveis, você pode acabar matando aquela característica única que faz aquilo funcionar. Não que o processo não seja importante, é importante você pensar em maneiras de resolver problema, mas o que eu acredito e quando eu converso isso com a minha equipe é assim: “vamos pensar em qual vai ser a nossa caixinha de ferramentas para a gente conseguir pegar os atalhos cada vez mais rápido”, por exemplo, eu preciso melhorar o engajamento de um produto, preciso melhorar o número de pessoas cadastrando no produto. Às vezes, você não precisa montar uma persona para fazer isso, às vezes, você pode começar a resolver esse problema com uma série de testes AB, que te dá indicações de comportamento de pessoas. Mas vamos entender o porquê que as pessoas não estão reservando coisas num hotel ou porquê as pessoas não estão comprando um produto. Às vezes, conversando com as pessoas você entende mais sobre isso. Ela não precisa seguir um processo, tipo: “Faça uma entrevista, monte uma persona, faça um mapa de empatia, faça um teste AB”, isso não é um processo, isso são quatro ferramentas diferentes espalhadas pelo tempo. O que eu falo que para mim existe como processo, porque eu falo que método científico é o meu processo de design, é que ele é aberto o suficiente para eu usar a ferramenta que eu quero, a única obrigação que existe nele é eu entender o problema, a observar o mundo e entender o problema que você tem que resolver, depois pensar em estratégias, criar as minhas hipóteses e pensar em estratégias de testar a minha hipótese. Pesquisa acontece a todo momento durante os processos, quando você está observando o mundo, você está fazendo uma pesquisa. Quando você está formulando as suas hipóteses, você está fazendo uma pesquisa. Quando você está experimentando as suas hipóteses, você está fazendo outra pesquisa. Aprendizado, acontece o tempo todo. Ferramentas, pode acontecer o tempo todo. Às vezes, para observar o mundo você precisa de uma persona para tentar olhar o mundo no olhar dessa persona. Às vezes, não. Às vezes, para observar o mundo você só precisa de uma lista de situações, para experimentar, às vezes, você precisa de uma persona para direcionar esse experimento. Às vezes, não. Às vezes, para experimentar você precisa só de um teste AB que roda para todo que usa só sites. Eu não gosto de processos que atrelam ferramenta em determinadas fases, eu gosto de processos que atrelam objetivos a determinadas fases e deixa aberto para as pessoas a ferramenta que a gente quiser.

Falando um pouco de processos. Você já trabalhou na Booking e agora você está no Google. Quais foram as diferenças? Ou você sempre conseguiu aplicar o seu processo, ao invés de ter um processo já estabelecido na empresa e você ter que se adaptar a esse processo? Como foi isso? Você saiu do Booking, lá com certeza tem processos estruturados já de design. Eu queria que você comentasse um pouco sobre isso.

Leandro Lima – Maturidade de design não significa ter os processos estruturados, significa ter designers que sabem usar o arcabouço de ferramentas que você tem para entregar algo de maneira efetiva. Eu não tenho o meu processo, porque se eu tiver o meu processo, o que eu estou fazendo é enviesando a entrega do produto à minha visão. Existe um tipo de viés, que é o viés da legibilidade, que diz que a gente julga como bagunçado tudo aquilo que a gente não consegue ler. Eu posso olhar para a minha mesa aqui, a minha esposa pode chegar agora e falar: “nossa, a sua mesa está uma zona”, eu falo: “não, para mim ela está organizadinha, eu sei onde está o meu lápis de cor”, mas como ela não consegue ler a minha mesa, porque ela usa uma organização diferente, a minha mesa parece bagunçada. Quando a gente fala: “vou implementar o meu processo”, é isso que a gente está fazendo, a gente está tendo uma dificuldade de ler aquele ambiente, e tentando implementar a nossa visão de organização, no entanto, ao implementar a nossa visão de organização, a gente desconsidera quais são as características únicas que fazem aquele caos funcionar. Tanto a Booking, quanto o Google são dois ambientes bem caóticos. Um exemplo besta, que às vezes, eu vejo gente falando: “vamos à Figma, vamos aos esquetes”, aqui eu posso usar o que eu quiser. Tanto que eu uso Figma, o vision designer que trabalha comigo usa Illustrator, e a gente trabalha juntos. Ele usa a ferramenta que é melhor para ele, e ele faz coisas que eu olho assim e falo “cacete, eu não sabia fazer isso não”, ele faz tudo com o Illustrator, entrega para mim, a gente entrega isso para os Devs que usam as ferramentas deles, faz acontecer e a gente entrega. O meu vision designer é extremamente eficiente trabalhando com o Illustrator, de um jeito que eu não faço ideia como usar. Eu sei usar Figma, de um jeito que ele não faz ideia como usar, e a gente conversa. Eu respeito isso nele, porque eu sei que ele consegue ser muito efetivo dessa forma, e ao tentar homogeneizar isso, ou uma característica minha pode ser apagada ou uma característica dele pode ser apagada. Essa é a minha visão de processo. O que acontecia na Booking e uma coisa que acontece aqui no Google é que, a regra geral nos dois lugares é que você precisa ter duas coisas antes de começar, você precisa saber qual é o problema que você está resolvendo. Eu preciso saber assim, eu estou trabalhando para resolver esse problema, eu preciso saber o porquê que esse problema é um problema, porque não é um problema porque eu acho que é um problema, eu tenho que ter evidências que aquilo que eu estou resolvendo é um problema. Por causa de um erro ali, pode acontecer que um lead não acompanhe o lançamento de um produto da equipe dele, e ele perca essa janela de lançamento que acontece. Isso é um problema, impacta a equipe dele de uma certa forma, o meu usuário, a esse lead, impacta ele de uma certa forma, porque ele perde o controle sobre os lançamentos da equipe, e impacta o negócio de uma certa forma, porque a gente, como empresa, perde esse controle também. Isso é um problema. Por último, quando eu proponho a minha solução, eu tenho que explicar o porquê essa minha solução resolveria o problema. Quando eu falo o porquê que ela “resolveria”, é porque eu não testei ela ainda, ela vai passar por um teste, isso é muito obrigatório. A partir do momento que eu terminei a solução, fiz lá o controle que vai colocar isso, é o momento de eu começar a desafiar essa solução, é hora de eu trocar o chapéu do Leandro designer para o Leandro, o cara que não acredita que o design dele é tão bom assim, e desafiar essa solução para tentar provar que ela está errada, e aí eu vou validar essas minhas hipóteses. Passar por esses quatro estágios de identificar o problema, entender porquê que é um problema, criar a hipótese e testar essa hipótese. Aí tem uma maneira certa de criar hipótese, que ela tem que ser testável, tem que ser falseável. Mas o tentar observar essa hipótese, por isso tem que passar. Agora, como eu vou chegar nisso, dentro do Google é extremamente aberto. Como eu vou identificar que aquele problema é um problema? Do jeito que eu achar melhor. Já aconteceu aqui de eu ir fazer shadowing em sessões de planejamento de equipes, para eu entender como as pessoas planejam os produtos deles, já que eu estava fazendo um produto para isso, eu conversei com uma pessoa, eu falei: “eu posso ser uma mosquinha dentro da sala, só para ver você planejando?”, ele falou: “beleza, vamos lá”, fui, vi, comecei a anotar um monte de coisa, um monte de fricção que eu podia resolver. Já aconteceu na Klarna, por exemplo, de eu ver que as pessoas erravam o endereço demais e de eu perceber que o problema não existia fricção nenhuma para subirem endereço. O meu trabalho, às vezes, foi tornar um pouco mais difícil preencher os formulários. E isso aconteceu analisando dados, não foi observando, não foi de uma pessoa, foi tipo aberto demais. Toda ferramenta que eu posso usar para identificar esses problemas eu vou usar, não tem necessariamente um processo formal. Agora, tem algumas coisas que existem que são algumas linguagens em comum que a gente como equipe assume dentro do produto, no momento que a gente trocar esse linguajar, a gente tem que sentar e chegar em um acordo. Por exemplo, definição do que é um bom design, não pode ser só eu que defino, mas a gente como equipe tem que ter uma definição do que é um bom design e de como a gente vai observar que esse design está sendo efetivo ou não. Um exemplo de outro produto que eu trabalhei, que era uma loja virtual no passado, que é assim, o bom design é um design onde a pessoa compre algo, compra um produto, receba esse produto num determinado prazo e não devolva esse produto, não acione os mecanismos de cancelamento. Se a pessoa comprou, recebeu no prazo mínimo, e depois de duas semanas não cancelou essa compra, alguma coisa está funcionando. A gente tinha essa definição, e isso é medível, mensurável, não sei, esqueci o português. Eu posso medir isso, observava uma compra acontecer e eu monitorava ela por três semanas para ver se a pessoa não ia devolver, depois de três semanas, essa pessoa não devolveu, o meu design funcionou. E esse linguajar em comum existia entre todas as pessoas da equipe, porque aí um programador podia julgar o que eu estava fazendo, podia chegar e falar assim: “Leandro, você fez uma parada aqui e aumentou o número de devoluções. Aconteceu alguma coisa. O design não está tão bom assim, porque essa devolução diminuiu”, ou o mesmo programador podia julgar o meu design: “Leandro, você fez alguma coisa aí que ninguém devolve mais. Então o seu design foi bom”. Esse linguajar comum é o que a gente precisa ter alinhado entre todas as pessoas da equipe. Cara, se os outros designers que trabalhavam comigo usavam Photoshop, Fireworks ou Figma, eu não ligo, de verdade, eu realmente não ligo. Dito tudo isso, eu nunca implementei o meu processo.

O que você gostaria de comentar que a gente não te perguntou?

Leandro Lima – Teve uma coisa que eu esqueci de responder, você perguntou o que diferencia uma pessoa que está começando agora e uma pessoa que está há mais tempo na área. Eu acho que a grande diferença é assim, um designer Júnior hoje, provavelmente sabe usar algumas ferramentas muito melhor do que eu que estou há bastante tempo na área, isso é legal. O designer Júnior vai saber abrir o Figma e fazer coisas muito mais impressionantes do que as coisas que eu faço. O que me diferencia deles são duas coisas: um, por ter uma certa casca grossa, eu consigo navegar e negociar e fazer Trade Office com stakeholders bem rápido, e eu consigo escolher as ferramentas certas para cortar caminho. Às vezes, eu vejo a pessoa Júnior, e é Ok, não é um problema, é natural querer usar todas as ferramentas que tem disponível para ela, julgando o bom designer como o designer que usa mais ferramentas possíveis, eu falo: “não, você não precisa de tudo isso, vamos só resolver esse problema, só precisa usar a ferramenta A”. Eu acho que a experiência que vai fazer a pessoa crescer. Uma coisa que eu gosto de falar sobre lideranças e organização de equipes é assim, a gente como designer, o nosso trabalho é só traduzir em alguma maneira, em um produto, todas as conversas que a gente teve anteriormente com a nossa equipe. A grosso modo, o design que chega no nosso produto, a experiência que chega no nosso usuário, é só uma tradução de todas as relações de comunicação que existem entre os stakeholders. Você quer entender porque um produto é do jeito que ele é? Tenta entender como aquela empresa se organiza, porque no fim do dia o design de um produto é só um reflexo de toda a estrutura comunicacional de uma empresa. Se uma empresa trabalha em silos, você vai ter um produto que as partes parecem um pouco mais desconectadas e parecem um pouco mais inconsistentes, mas se essas partes são super otimizadas por um gol, que é o objetivo daquele silo. Tem equipes que trabalham mega conectadas em uma jornada, e você vai ver um produto super otimizado para uma jornada, mas várias outras jornadas esquecidas. Tudo isso não é problema do produto, tudo isso é como a empresa organizou as equipes ao redor daquele problema. Eu olho as coisas, eu tento não criticar o designer quando eu vejo o design ruim, porque eu penso assim: “como essa empresa se organiza?”, olhando esse produto o que ele me diz de como essa empresa se organiza? Eu falo isso porque eu já trabalhei tentando usar exatamente a mesma formula, tentar entregar exatamente o mesmo resultado, mas eu olhava e via que a empresa se organizava de um jeito diferente, isso influenciava o resultado. Uma dica que eu dou para os designers é quando você começar numa empresa, aquele tal período de boarding, você não precisa anotar processos de design, você não precisa prestar atenção nisso, você vai aprender isso no seu dia a dia. Você não precisa anotar: “qual é o seu processo de entrega do design A para o design B?”, ou: “qual é o processo dos designers entregarem coisas para os programadores?”, você vai aprender isso fatalmente no seu dia a dia. Usa esse período de boarding para entender como essa empresa se comunica. A comunicação é um top-down? As requisições vêm de um diretor que manda e todo mundo obedece? Ou a comunicação são pessoas propondo ideias e testando essas ideias, vendo que funciona, levando para esse diretor? Quem decide fazer uma pesquisa? É o designer? É um pesquisador? É um Product Owner? Quem reporta o sucesso do produto quando você tem aquelas reuniões de reportar o que está acontecendo? Quem faz esse reporte? É sempre o PO? Cada pessoa reporta a sua área? Como as lideranças informam as pessoas sobre os problemas? Tudo isso, toda essa estrutura de comunicação influencia em como o seu produto vai ser. O período de boarding é para você entender isso, é para você entender essa organização de pessoas, porque você vai poder olhar e falar assim: “ah, agora eu entendo porque esse produto é do jeito que é”, ou você vai olhar e falar assim: “agora eu entendo porque que tal problema que eu olhava de fora e falava “super fácil resolver esse problema. Como ninguém nunca pensou nisso?”, agora eu entendo porque ninguém nunca pensou nisso”, a comunicação entre as pessoas internamente não permite. Isso não é nem um conceito novo, é bem antigo. Mas pensa sempre que aquele seu produto é só a tradução de todas as estruturas de comunicação, e aí você vai saber como se comportar lá dentro e como influenciar o produto. Influenciar o produto não significa fazer um design lindo, que resolve todos os problemas e apresentar aquilo, e tudo mais. É você influenciar a maneira que as pessoas se comunicam. Se quem reporta o meu design é sempre o PO, e eu tentar cortar esse caminho, às vezes, eu vou parecer afobado dentro dessa organização. Se eu sei que quem reporta é sempre o PO, eu vou sentar com o PO e falar: “vamos fazer tal coisa juntos e você vai reportar dessa forma”, eu não faço a comunicação, mas eu influencio a comunicação do meu PO com as pessoas que ele está reportando. É aí que eu vou conseguir, de fato, mudar o produto. Essa é a dica que eu acho mais importante para qualquer pessoa que está entrando numa empresa, perca tempo entendendo a comunicação, você vai evitar tanto conflito.

Eu gostei da última fala, que você falou sobre influência. Foi super rápido ali, foi praticamente a última frase. Como eu faço para não parecer afobado, querendo conduzir uma história? “Estão fazendo errado aqui. Peraí que eu vou tomar a frente”, parece afobado, transmite insegurança para as outras pessoas. Uma das coisas que eu sempre perguntava a mim mesmo, quando as pessoas falavam para mim de uma organização é: “você precisa exercer a sua influência”, eu olhava para o lado e dizia assim: “que diabos é influência?”. E eu gostei muito da sua definição, porque em alguns momentos a gente olha para a senioridade de uma pessoa designer, e é justamente a capacidade dela de influência. O que mais a gente podia ajudar as pessoas a entenderem o que é influência?

Leandro Lima – Você não vai resolver todos os problemas, e se você tentar forçar, você não está sendo influente, você está sendo chato. O que você precisa entender é assim: olha para todas as coisas, parte do princípio que você é o novo, quando você entra num lugar, você é a coisa nova ali dentro. E a gente tem uma tendência de que quando algo falha, a gente acredita que a culpa é do novo, do desconhecido. Assuma que você é o novo, para você influenciar, primeiro você tem que ganhar confiança, e os melhores jeitos de ganhar a confiança não é redesenhando um produto, mas é pegando um problema pequeno, resolve e mede ele, só um. Pega o primeiro mês, você vai ver que tem muita coisa para você resolver. Eu vou falar um exemplo meu na Booking, o primeiro problema que eu resolvi lá, tinha muita coisa para melhorar no programa Genius, mas eu olhei e falei: “cara, as pessoas não entendem”, o programa Genius, depois que você viajar cinco vezes no período de 12 meses, você começava a ter descontos no site. Eu falei: “Tem um problema aqui, um problema. As pessoas não entendem que elas precisam viajar cinco vezes”, o que eu vou fazer? Eu fiz um desenho que era um quadradinho que ficava na página inicial, e tinham cinco estampas, como se fossem carimbos de viagem, eu pegava a fotinho do último hotel que ela ficou, eu até colocava ali no desenho de um carimbo só para contar cinco viagens, e desenhei um presentinho no final e coloquei no ar. Não era um problema grande, tinham muitos outros problemas para resolver. A Booking tem muitos problemas para resolver, por isso que eles contratam designers a rodo, mas eu resolvi um problema, eu quero que as pessoas consigam contar quantas viagens elas fazem. Lancei, fiz um teste AB e funcionou. Usei as métricas de sucesso que eu queria usar com esse projeto, defini tudo certinho, coloquei, rodei esse teste acho que por 1 mês e funcionou. As pessoas olharam para mim e falou assim: “nossa, você fez uma parada aí que funcionou. Faz de novo”, eu falei: “beleza”. Eu fiz 1 projeto, era muito pequeno, mas resolveu um problema, e as pessoas falavam: “você não pode usar isso para resolver outro problema?”, eu falei: “posso. Vamos tentar o próximo problema”, e o próximo problema é um pouquinho maior. Eu resolvi o próximo problema que era um pouquinho maior, veio pessoas falar comigo, falou assim: “nossa, você está resolvendo um problema. Me ajuda a resolver esse meu problema?”, eu falei: “claro que vou te ajudar no seu problema”. Agora eu estou influenciando outra área, porque a pessoa está voluntariamente pedindo ajuda, eu não vou passar na sua frente, eu não vou apresentar para você, eu te ajudo, te entrego e você resolve. E aí começou a gerar esse canal de confiança, porque eu não estava tentando roubar o projeto de ninguém, eu estava só ali falando assim: “Como eu posso ajudar você com isso que eu fiz aqui? Resolver algum problema que importa para você?”, e assim que a gente foi desenhando a influência, foi mais entendendo qual era o problema que importava, o valor que importava para essa pessoa, e desenhando experimentos para resolver isso. A gente falava assim: “quando for comunicar, tenta comunicar desse jeito aqui. Acho que rola melhor, mas você que comunica, você que assina, seu mérito”. Isso foi crescendo, mas tudo começa assim, pega um problema pequeno, mensurável, e resolve esse problema pequeno. Resolveu? Vai para o próximo. Mas eu acho que, às vezes, não é a pessoa chegar na empresa e querer mudar tudo, querer revolucionar tudo, você não vai.

O que um designer deve levar em consideração? O que ele deve se preocupar no começo da carreira? O que eles precisam fazer para conseguirem o primeiro emprego, por exemplo?

Leandro Lima – Para conseguir o primeiro, a dica que eu dou é: conheça a empresa que você está se aplicando. Conhecer a empresa não é conhecer o produto, óbvio, conhecer o produto é importante, mas tenta ir em algum lugar olhar quais são os valores dessa empresa, porque normalmente esses valores são frameworks para elas decidirem algumas coisas lá dentro. Se você designer se apresentar de maneira que você se distancia muito desses valores, por melhor que você seja, às vezes, você não consegue se adequar àquela empresa. Tenta mostrar como o seu design se adequa a aqueles valores, e como o seu design contribui para que a empresa viva aqueles valores, aí que você vai conseguir se adequar lá. Não minta para você mesmo, do tipo, se você viu que os valores de uma empresa são valores que você não concorda, tenha os seus valores também, aqueles que você não abre mão, porque isso é importante e isso define você. Se você ver algum valor daquela empresa que você não concorda, talvez seja um lugar que você vai ter alguma dificuldade para se adaptar, seja um lugar para você pensar se é o melhor lugar possível para você exercer o seu trabalho. Não é um problema seu, você olhar para uma empresa e falar assim: “puta, esse valor aqui eu não concordo”, e não é um problema da empresa, são só dois valores diferentes que existem. Essa é a maior dica que eu dou para quem está procurando o primeiro emprego, mostra como você pode contribuir para que a empresa viva esse valor. Quanto a aprendizagem, eu recomendo muito e eu falo que eu não seria 80% do designer que eu sou hoje se eu não soubesse estatística, eu acho que estudar estatística é uma lacuna entre design. Eu estou preparando um conteúdo sobre estatística, que algum dia eu vou lançar, porque eu não me sentia seguro de mostrar isso para o mundo, mas eu falo que eu não seria 80% do designer que eu sou hoje se eu não soubesse estatística. O mais maluco, foi que eu aprendi estatística na faculdade quando eu estudava educação física. Tinha matéria de estatística analítica e descritiva para fazer Scouting esportivo de atletas, anos depois, quando eu comecei a me envolver com design, comecei a fazer experimento, eu falei: “nossa, eu mixei isso”. Eu recomendo para todo design, estude isso porque vai ser importante para você, em algum momento isso vai ser importante. Por último, você está começando, é a fase de você montar a sua caixinha de ferramentas. Eu falei que o que o sênior sabe é escolher a ferramenta certa, para o Júnior, use esse período que você está sendo designer Júnior e troque ideia com o sênior, de ver como ele resolve o problema diferente de você, começa a montar essa caixinha de ferramentas, e categorizar ferramentas para cada situação, porque aí você vai saber pegar os atalhos certos e não querer usar todas as ferramentas ao mesmo tempo.

Quer mandar a última mensagem?

Leandro Lima – Qualquer coisa me acha no LinkedIn que eu costumo responder as pessoas lá. Se eu não respondi é porque eu não tenho tempo mesmo, porque eu não gosto de deixar as pessoas responderem. Eu tenho o Medium que eu tento escrever algumas coisas sobre design, eu deixo para você o link para colocar aí também. E tenho o Twitter, que ultimamente é uma das redes sociais que eu mais uso, o Twitter não é só sobre design, porque eu acompanho Fórmula 1, é uma das minhas paixões. Se você quiser trocar ideia sobre design, sobre Fórmula 1, sobre café, eu estou falando sobre isso no Twitter.