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TEMPORADA 1 - EPISÓDIO 8

Karen Santos

Temporada 1 Episódio 8 – Karen Santos
PROJETO: Desenhando Produtos

Meu nome é Karen eu sou Product Designer e CEO da UX para Minas Pretas, também sou mentora, coordenadora, desenvolvedora e atuante em iniciativas voltadas ao Design, Tecnologia e pautas do movimento negro, como diversidade, equidade de gênero, raça e classe.

Tive a honra de receber prêmios como Forbes Under30 sendo reconhecida na categoria empreendedorismo social e terceiro setor, pela Globant Awards como Rising Star na categoria de mulheres —— e Tecmundo como iniciativa de impacto e relevância.

Minha missão é auxiliar mulheres negras a se posicionarem como protagonistas na criação da economia digital, conectando-as no mercado de tecnologia com foco em UX, através de ações afirmativas de compartilhamento, acolhimento e empoderamento enquanto individuo e/ou coletivo.

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Hoje nós vamos falar com ela, ela apareceu na Forbes antes do 30, ela é CEO do X para Minas Pretas, ela é minha colega na Mergo, Karen Santos. A gente está muito feliz de ter você aqui, é muito legal poder falar com pessoas que vivem o design, que migraram para a área de design, trabalham com produto e que vivem um perrengue de construir produto e certamente você tem muitas histórias para contar e é sobre isso que a gente vai falar hoje. A gente gostaria que você começasse falando sobre você.

 

Karen Santos – Obrigada pelo convite, fiquei bem animada quando recebi essa mensagem. Gosto de conversar, eu acho que a experiência que venho adquirindo nesses poucos anos atuando com produto já tem sido bastante proveitosa, eu acho que esse papo vai ser muito massa. Sou a Karen, sou uma mulher preta, de pele retinta, estou usando tranças soltas no cabelo, uma camiseta com abacaxis, no fundo tem uma parede cinza. Tenho 28 anos, sou filha da dona Edite, do seu Juraci, irmã do Caio, tia da Lorena e da Alícia. Nasci em Perus, cresci no bairro do Jaraguás que é um bairro periférico de São Paulo, morei até meus 27 anos lá, estou prestes a fazer meus 29 anos em maio, estou na minha jornada de trabalhos e mão na massa faz bastante tempo. Comecei muito cedo, desde criança a trabalhar. Já fui monitora de informática, secretária, operadora de telemarketing, babá, limpei casas. E em meados de 2009 saindo do ensino médio encasquetei que eu tinha que trabalhar com computador de alguma forma, quando você é jovem, você é um pouco ansioso, quer fazer as coisas correndo, eu inventei de fazer análise de sistemas, mas já no primeiro semestre identifiquei que não era para mim, pelas provas de estatística, tiveram outros casos também que fez com que eu precisasse trancar, questão de grana e tal. E ali foi o momento onde eu tinha iniciado a faculdade, mas precisei interromper. E 3 anos depois voltei com a ideia de fazer faculdade e tinha conhecido a área de design gráfico, interessante, gosto da questão de arte, talvez tenha a parte do computador. Trabalhar com computador era uma coisa que eu tinha interesse, era uma coisa que eu tinha atuado no momento do ensino médio como monitora de informática, comecei a fazer gráfico em 2013. E em 2015 era quase para me formar, me candidatei para uma agência e comecei a trabalhar nessa agência que era de marketing promocional, eventos, PDV e tal. E foi legal essa experiência, fiquei quase 4 anos atuando e eu ficava numa área de criança e família, eu atendia clientes como Disney, Nickelodeon, Cartoon Network, Turma da Mônica, eram clientes que eu cresci assistindo, tinha a oportunidade de mexer e de criar projetos para essas empresas que era muito bacana e foi um momento que logo saindo da faculdade, eu pude colocar essa experiência no dia-a-dia como designer gráfico. E aí em 2018 mais ou menos comecei a ficar com aquela sensação de zona de conforto, sentia que o design gráfico estava muito naquela coisa, agência, cria uma apresentação, manda para o atendimento, o atendimento vende, volta para você criar a arte final, manda para o mercado. Então, era um processo bem padronizado, comecei a ouvir falar de UX, interessante uma área que envolve pessoas, estratégia, outros processos. Existe a parte de design, tem outras coisas ali, talvez seja uma área que eu possa me dar bem, que eu goste de atuar. E comecei a participar de eventos, cursos, fiz um dos cursos com o Josias talvez naquela época, de 2018, 2019 mais ou menos, falei: “legal, é isso que eu quero”, faz total sentido para mim, talvez seja a hora de migrar de carreira. E já muito descontente com a agência de fato, falei: “bom, vou me arriscar, vou pedir as contas e seja o que Deus quiser e se nada der certo, volto para a área de design gráfico, procuro outra vaga e está tudo certo. E se tudo correr bem, conforme o esperado, eu consigo uma vaga de UX e vou trabalhar e consigo migrar de carreira”, aí eu pedi as contas, chutei o balde, fiquei com o seguro desemprego uns 5 meses, ainda bem que eu consegui dois freelas para atuar nesse momento que eu estava em casa e consequentemente fiquei estudando esse tempo que eu estava realmente focando na migração e tudo mais. Dado uns 5 para 6 meses, falei: estou com bastante base teórica aqui, talvez eu possa me arriscar, me lançar no mercado, tentar fazer algumas entrevistas e tal. Foi o que eu fiz, comecei a participar de processos seletivos, levei muitos “nãos”, foram 8 processos seletivos, um dos nãos que eu levei foi da empresa que eu estou hoje, Quinto Andar, isso há quase 2 anos atrás. Mas um sim que eu consegui foi no PicPay, consegui entrar no PicPay, entrei lá como designer de produto Júnior, foi um momento onde eu consegui aprender muito, consegui colocar na prática todos os estudos que eu estava adquirindo nos cursos e lá eu consegui entender o que era atuar como design de produto, como era trabalhar com squads, como era atuar como squads, de alto impacto e trazendo um pouco de contexto, quando entrei lá, fiquei responsável pela parte de onboarding do aplicativo, tanto na criação do cadastro do usuário, depois passei por uma squad de engajamento que era pegar os primeiros usuários que entravam no aplicativo e manter eles lá dentro, mais para o final entrei numa squad que era um pouco mais burocrática, que tratava do Bacen, a história do Pix estava começando a chegar e tal, tinham umas questões mais de conformidade. Foi um momento que eu consegui aprender muito, colocar a mão na massa de fato e implementar todos os aprendizados que eu estava tendo. E aí depois de um tempo acabei saindo do PicPay, vi a Alex no LinkedIn e mandei um “Oi sumida” para ela, perguntei se estava rolando alguma vaga no Quinto Andar. Desde a época que eu tinha levado um não, eu falei: “não tem problema, depois eu tento”, entendo que nesse momento não tem uma vaga Júnior e está tudo bem, mas depois poso tentar e foi o que rolou, ela falou: “tem sim, se candidata aí”. E me candidatei, estou lá há 7 meses, passou bem rápido e lá eu passei por outras squads, mas a gente pode ir conversando ao longo do caminho. 

 

A gente se conheceu em 2018, eu acho que foi no curso de facilitação de dinâmicas. Foi seu primeiro curso na área de UX?

 

Karen Santos – Não. Mas foi um dos primeiros. O primeiro que eu fiz foi o UX Weekend na Mergo também, era mais para ter um panorama geral, inclusive foi o curso que eu tinha perguntado para o Edu, qual fazer para quem está iniciando e não sabe nada de UX, qual curso poderia fazer e ele me indicou esse que era o UX Weekend, que passa por um geralzão, esse foi o primeiro que eu consegui fazer.

 

Uma das coisas que eu falava no curso, que eu continuo conversando no curso logo quando a gente inicia, qualquer curso que eu estou a frente, é a relação de propósito, aquilo que a gente faz que motiva a gente a continuar fazendo. Uma das coisas que eu percebi na sua jornada, nos momentos que a gente conviveu junto, foi em relação a iniciativa do UX para Minas Pretas. Algumas pessoas já fizeram meu curso de facilitação, continuaram fazendo outras edições do curso, tem pessoas que fazem o curso hoje de product design, eu sei que tem a formação de UX, tem várias pessoas que acabam tendo uma oportunidade de estudar, de ter interação próxima com outros profissionais, de ter uma formação na área, o que isso mudou na sua vida? Por que você puxou esse tipo de iniciativa? O que te motiva a continuar fazendo isso e que resultados você vê ao longo do caminho?

 

Karen Santos – O que puxou, sendo bem prática assim, na verdade, foi uma dor. Uma dor que eu identifiquei nessa migração de área, eu acho que existe uma diferença muito fácil de identificar entre a turma do design gráfico e a turma de UX Design, na área de design gráfico eu sentia poucos eventos, poucos movimentos voltados para a comunidade, isso eu acho que é muito positivo na nossa comunidade porque existem muitas pessoas dispostas a ajudar, existem muitos conteúdos, muitos cursos e tudo mais. Porém, eu quando comecei a migrar, não me enxerguei, eu tinha uma expectativa, uma fantasia que uma área que entende de pessoas, que pensa na experiência das pessoas, provavelmente vai ser uma área muito diversa, porque o mundo é diverso e as pessoas tem experiências diferentes. Talvez seja uma área que eu consiga me enxergar um pouco mais e na verdade, não foi o que aconteceu. Então, logo nos primeiros cursos, eventos, palestras e tudo mais que eu comecei a participar, eu não me via como aluna, não me via como professora, não me via como palestrante, nenhum desses personagens digamos assim. E eu fiquei extremamente frustrada, chocada, é um problema que a gente tem, vamos ver no que dá. E aí no início desses cursos que eu estava fazendo, surgiu uma oportunidade de um professor, ele tinha uma empresa e estava procurando uma mulher negra para trabalhar com ele e algumas pessoas me indicaram, “chama a Karen”, só que eu estava muito cru, no início e nem posso arcar com essa vaga, porque é uma profissional sênior que ele está procurando. E ele se disponibilizou para dar alguns cursos se tivessem mulheres interessadas em fazer esse curso, “deixa comigo que eu vou procurar pessoas para formar essa turma e volto para a gente conversar e ver como pode ser feito esse minicurso de UX”. Fui atrás, fiz um formulário rapidinho para lançar em alguns grupos da comunidade de mulheres negras e deixei ele rolando por 4 dias mais ou menos. Eu precisava de 5 mulheres para fechar essa turma e para que fizesse sentido o professor dar aula para a gente. E aí lancei na terça, na sexta precisei pausar porque de 5 mulheres que a gente precisava, tínhamos 300 mulheres interessadas em aprender o básico de UX. E o que a gente faz com isso? É muita gente. E aí a gente precisou mudar a estratégia de um curso que seria para 5 mulheres, a gente dividiu em palestras, palestras bem introdutórias de UX, inclusive a primeira que a gente fez foi no Nubank, a gente conseguiu encher o Nubank de mulheres pretas, foi incrível, foram quase 150 mulheres. E é muito doido ver isso, depois de 2 anos de existência de UX para Minas Pretas, eu olho as fotos, os vídeos, tem mulheres que estão voando dentro das empresas, que já migraram, já estão trabalhando e isso é muito incrível. E a partir disso a gente não parou, fizemos a palestra inicial no Nubank, depois fizemos outras na Nextel, conseguimos ir para a UX Comfy com a ajuda do Pedro, dos meninos, fizemos um Workshop em Porto Alegre, a gente conseguiu ir para Recife, para Belo Horizonte em 2019 quando a gente podia viajar. Fizemos muitos workshops aqui também, em São Paulo, desde o 1º momento já identifiquei que já tinha essa necessidade dessas mulheres, assim como eu, um interesse em migrar para a área de UX, mas que não tinha um ambiente onde a gente pudesse se reconhecer mesmo, um ambiente acolhedor, onde também pudesse ter esse início, falar do início, acaba que a gente pula as etapas, não aborda muito o profissional que está iniciando nessa carreira. Então, foi uma junção das duas coisas, eu acho que a gente foi muito feliz em questão de tempo, UX é uma área que está crescendo muito, está bombando muito, tem muitas vagas faz algum tempo. Em 2018 para cá, esse número cresceu muito e do outro lado, diversidade também é um ponto que as empresas estão abordando muito. A gente casou UX design com diversidade e ali voltado para mulheres e mulheres negras. De um lado, tinha o interesse do nosso público que são as mulheres negras e do outro as empresas que estão abordando o tema diversidade. Então, eu acho que teve esse momento que foi muito feliz, desde então, a gente vem atuando, fazendo o possível e o impossível para trazer mais e mais mulheres negras para as nossas áreas. E isso tem fortalecido muito, não só a mim, quanto a equipe, comunidade e também mudando todo um cenário dentro das empresas como um todo.

 

Queria entender o que mudou na sua vida.

 

Karen Santos – Tudo.   

 

O que você sente de forma prática na sua vida depois de começar a fazer esse tipo de iniciativa? E o que você diz: “isso é muito legal” ou “nunca imaginei que isso fosse acontecer e está acontecendo agora”.

 

Karen Santos – Uma vez uma amiga me perguntou: “Karen, você imaginava que teria o sucesso que está tendo? Que seria grande do jeito que é?” Eu falei: “não”. E ela: “como não”? Nunca que eu ia imaginar. E ela: “só que isso é como se fosse uma gota no deserto, é como se fosse um respiro, uma gama de pessoas ali, de mulheres aguardando uma oportunidade e essa oportunidade meio que chegou”. É mesmo, isso é muito doido, a questão das premiações, você começou a apresentação falando da Forbes e tal, jamais imaginaria que esse tipo de coisa iria acontecer e nem era o propósito. E o que mudou na minha vida, eu acho que tem uma coisa que eu sempre dizia quando eu trabalhava na área de design gráfico, que também me incomodava muito. Eu falava até para o meu amigo, “quero trabalhar e quero ajudar as pessoas através do meu trabalho”. Como eu vou fazer isso, não sei, mas é isso que eu quero fazer. E também eu acho que é uma das coisas que me chamou a atenção no UX Design. Logo no início quando eu identifiquei que tinha essa falta de mulheres negras e tal, identifiquei que era o momento de ajudar as pessoas, de me contemplar com isso, me sinto contemplada quando consigo ajudar outras pessoas com o que eu faço de fato. E muitas coisas mudaram no sentido de que tem a parte não romântica, porque acaba sendo um segundo trabalho e sim, é trabalho. Eu atuo como CLT até 19h e depois disso começo meu trabalho que é UX para Minas Pretas ou de fim de semana, feriado e é isso. Ainda bem que hoje tem uma equipe de mais 12 mulheres que são incríveis e atuam em diferentes frentes. Além disso, eu acho que mudou um contexto como profissional, sabe? Eu consigo passar para frente o conhecimento que eu tenho, mas também consigo aprender muito com elas no dia-a-dia. E eu não falo só de questões técnicas, é muito da questão humana, questão de acolhimento, de empatia, de entender o contexto de diferentes mulheres com diferentes bagagens. Na comunidade a gente tem mulheres dentro de profissões que vão desde psicólogas até operadoras de telemarketing, operadoras de caixa, mulheres que se identificam com a comunidade, também com a possiblidade de atuar com o que elas já trabalharam e agora usar isso em outra área. Eu acho que passa por aí um pouco nesse sentido.

 

Legal. Queria voltar um pouco no começo da sua história, quando você entrou no PicPay e te perguntar: o que você fez? Você disse que entrou como Júnior, mas o que precisou fazer para conseguir entrar no PicPay? Querendo ou não, o PicPay é uma baita empresa, não é uma empresa da esquina, é um monstro. Queria que você comentasse como foi isso, como você conseguiu, teve que montar alguma coisa, um portfólio?

 

Karen Santos – O PicPay é de Vitória, ele veio para São Paulo na época que eu entrei, em 2018, 2019. Quando eu entrei, o time de design era muito pequeno, tinha um designer de São Paulo, mais 3 ou 4 que vieram de Vitória para morar em São Paulo e eu seria a segunda e terceira de São Paulo, junto comigo entrou mais uma designer. E na época que eu estava nos processos seletivos, levando vários nãos e quase desistindo, na verdade, foi indicação de um amigo de um amigo que estava lá dentro, inclusive esse amigo estava meio que puxando essa pauta de diversidade dentro da empresa porque o time que era pequeno, ainda assim era pouco diverso. E aí esse amigo meio que mandou mensagem para mim: “tenta se candidatar, talvez você consiga”. E aí eu não tinha montado um grande portfólio, uma grande apresentação. O que eu fiz foi pegar a formação da Mergo que eu tinha feito, geralmente nas formações a gente tem um projeto do final do curso para poder finalizar, apresentar, inclusive o Josias estava lá na minha apresentação eu acho, torcendo. E foi esse projeto que eu apresentei no PicPay, é uma dica que eu falo no curso, falar qual foi a parte do projeto que você atuou, como você de fato ajudou naquela construção. Mostrei aquele projeto que eu tinha do curso, também mostrei umas telas que eu tinha feito, que eu estava meio que entendendo o que era UI Design ali, montei um projetinho de música e na entrevista foi bem tranquilo, era a vaga Júnior, achei legal porque ali naquele momento eles não estavam esperando que eu apresentasse algo como sênior, que eu viesse com um grande case de sucesso e tal, isso foi bastante interessante nesse sentido.  

 

E o que você falaria para as pessoas, qual sua mensagem para quem está começando agora? O que fazer para entrar numa empresa?

 

Karen Santos – Eu acho que primeiro é não ter medo, quando a gente decide mudar de carreira, obviamente não é uma decisão fácil, para quem não atuou ainda e quer isso de fato, a intenção acredito que não é ter medo de se arriscar, buscar aprender bastante, eu acho que tem esse ponto positivo da nossa comunidade que é ter muito conteúdo, muita coisa gratuita, muito curso, as pessoas são acessíveis, hoje a gente está a um click de poder mandar mensagem para alguém que você admira, que acha que é legal de conversar porque trabalha numa empresa que é uma empresa que você gosta. Então, eu sempre tento responder as mensagens das pessoas que querem mudar de carreira para poder dar esse suporte, eu acho que isso é muito interessante. Tem a questão de mentorias que eu acho muito bacana, tem no mercado pessoas que estão dispostas a dar mentoria, isso ajuda muito mesmo. A gente fica com essa questão do portfólio que é muito latente e acaba empurrando muito com a barriga, “preciso fazer um portfólio, não consigo fazer um portfólio, como eu faço? Por onde começo”? Se você conseguir montar um projeto, mesmo que fictício, pegar uma Ong, algo no seu bairro que te ajude a conseguir construir uma linha de pensamento que acaba sendo um dos pontos fortes avaliados nas entrevistas, como você constrói a solução, como você monta essa história, eu vejo que as mulheres da comunidade se preocupam muito com a parte visual e acha que o portfólio é isso, “preciso ser designer, preciso montar algo muito bonito” e esquece um pouco ou acaba não sabendo disso, desse processo de contação de história e construção dessa jornada de solução. Eu acho que é um pouco disso, não ter medo, arriscar, buscar coisas na nossa comunidade de forma gratuita, acessível se for o caso, questão de não ter possibilidade de pagar cursos. Eu não gosto de indicar que as pessoas façam muito curso, eu fui uma das que fiz muitos cursos, foram bons, adquiri muitos conhecimentos, mas eu acho que foi um pouco excessivo, talvez se tivesse focado apenas na formação, não que seria o suficiente, mas seria um começo para poder ter uma bagagenzinha. Mas se for focar em cursos, que seja um curso que você estude um pouco sobre ele antes, entenda se é aquilo que você realmente quer fazer, até para investir em algo mais certeiro.

 

Queria entender como foi sua história dentro do PicPay, como você foi se transformando ali dentro, é bem importante, eu acho que isso é uma coisa que as pessoas gostariam de saber, você entra como Júnior, tem muitas incertezas, tem vários projetos acontecendo ali, as coisas chegam até você. Como você lidou com isso? Como foi essa transformação e você passou por isso? 

 

Karen Santos – Costumo pensar que quando a gente quer muito uma coisa, a gente vai meio que preparado para alguns cenários, desde a agência, eu estava muito determinada a migrar, pedir as contas, comecei a estudar e tal. e no momento que eu identifiquei que já estava preparada para entrar no mercado, aconteceu e eu comecei a me preparar para alguns cenários que poderiam aparecer. E logo no início, quando eu entrei, a área de produto quando eu entrei no PicPay, ainda era muito recente. Os times, as squads que estavam começando a ser formadas, a gente estava identificando ainda como dividir a área de produto e tal. E eu fui a primeira encaixada na primeira squad que foi encaixada no PicPay, que era essa squad de onboarding, nas primeiras semanas, nos primeiros meses digamos assim, eu fiquei acompanhada de um designer sênior, ele me dava a parte necessária para poder também conseguir atuar, era um time que era composto por mim, mais um designer sênior, a PM e a galera de engenharia, ela era muito responsável por mexer no fluxo de cadastro mesmo, desde entender os problemas que teriam naquele fluxo, mexer nas telas, fazer as pesquisas, entender quais melhorias a gente poderia ter ali, esse foi um momento bacana para poder entender como funcionava a entrada, o topo do funil do produto em si. Foi muito interessante no sentido de conversar com outras áreas, com outras pessoas, eu acho que isso era uma coisa que nunca tinha experienciado, na verdade, era tudo muito novo e essa parte de ter que lidar com outras pessoas da empresa foi interessante para construção desse trabalho. E depois de alguns meses conforme as squads foram começando a se dividir, a crescer de fato, eu mudei de time, fui para engajamento, para duplar um pouco com outra designer, era muito essa questão de que entraram os primeiros usuários, como a gente mantem essa galera aqui e melhora o produto em si. Querendo ou nós, o PicPay por ser uma carteira digital, ele tem vários produtos dentro de um produto só, organizar a arquitetura dele, as informações que tem ali e tudo mais, era um grande desafio para a turma de engajamento. Conforme o time foi crescendo por mais tempo, eu precisei mudar de time mais uma vez, fiquei lá durante 1 ano e mudei de time três vezes. E foi quando entrei nesse time de conformidade, digamos assim, nesse time fiquei com um desafio, que foi um case de sucesso, um filhinho que eu consegui deixar na PicPay, obviamente construído com outras pessoas, com um time completo, mas que foi o extrato. Comecei a criar o extrato do PicPay que era algo que eles queriam fazer desde 2012, era uma coisa muito requisitada pelos usuários, uma carteira digital que aceita cartão de crédito, que paga boleto, carrega celular, os usuários não conseguiam ter essa visibilidade de um extrato, de um lugar centralizado que tivesse todos os gastos, ganhos, a questão do cashback no PicPay é muito forte. Então, os gastos e ganhos era uma visibilidade que os usuários tinham pouco. Era engraçado porque nas entrevistas, nas pesquisas, eu via que as pessoas anotavam em planilhas, no papel, pessoas que usam muito esse tipo de aplicativo e não tinha esse controle, etano foi uma entrega muito feliz, até hoje eu recebo mensagem da galera: “está rolando uma apresentação aqui e a sua foto está na apresentação, estão falando do extrato”. Que legal, que maneiro isso, fazer parte de um produto e de uma entrega tão importante é muito gratificante enquanto profissional. Foi um pouco disso, no momento que eu estava para sair, estava rolando essa questão do Pix, muitas mudanças no Banco Central e tudo mais, era uma coisa que estava bem forte, foi um pouco disso.

 

Você falou que uma etapa da formação foi a apresentação do trabalho no final da formação em UX Design no curso que você fez. Teve alguma relevância aquela etapa de apresentar, receber feedback para você?  

 

Karen Santos – Teve sim, eu acho que no momento em que a gente está numa formação é um pouco difícil tornar palpável o que a gente está construindo, por estar num projeto fictício, não ser o dia-a-dia de uma empresa real. E no momento que a gente está estudando, todo feedback é importante, porque, de fato, a gente está naquele momento de tentar… pode falar.

 

Só para dar um contexto, a gente não pega leve nas apresentações, então as pessoas vão lá apresentar o trabalho que elas fizeram durante dois meses e tal, no seu curso, muitas pessoas estão migrando para a área, ou estão começando na área, ou estão querendo pegar experiência na área, e a gente não está lá para pegar leve, a gente faz exatamente o mesmo trabalho que a gente faria dentro de uma empresa, dentro de um processo de construção de um produto ou de um artefato, ou de qualquer coisa assim. Não tem nada pessoal na história, o que a gente está avaliando ali é o trabalho. Se isso teve alguma relevância para você? Se não teve também, não tem problema nenhum. Mas esse contato, essa experiência, se isso de alguma forma, te ajudou ou continua te ajudando ao longo do caminho?

 

Karen Santos – Sim, inclusive, o feedback da apresentação é com o tempo, se passou o seu tempo, acabou, sinto muito. Apresentou, apresentou, se não, tchau. Acho que sim, ajudou e ajuda, porque até a questão do feedback, saindo da parte técnica, é algo que nem todas as pessoas estão acostumadas ou conseguem receber. Assim como você falou, nem todos os feedbacks eram bons, tinha ali os pontos de melhoria, e você quando está no momento de apresentar uma coisa com outras pessoas te olhando e receber um feedback duro, como que você recebe aquilo é muito importante também, é algo que, querendo ou não, acontece no dia a dia de trabalho. Nem sempre o que você vai fazer está bom, ou está coerente, ou está alinhado com a estratégia. Acho que essa etapa do curso, como um todo, além da construção em si, a parte de receber o feedback é muito importante.

 

Na sua visão, o que te ajuda a continuar evoluindo? Eu acabo prestando muita atenção, justamente quando alguém faz alguma crítica em relação ao que eu estou fazendo, e eu levo bastante a sério isso. Como você encontra essas alavancas, ou como você vem encontrando, tanto no PicPay, quanto no Quinto Andar? Para quem você pede ajuda? Você pede ajuda? Você não pede ajuda? As pessoas vêm prontamente querer dar feedback para você?

 

Karen Santos – Esse é um ponto muito importante, inclusive, para mim latente, porque eu sou uma pessoa que eu me autocritico, quem cobra de mim sou eu mesma, então eu sempre peço feedback para os meus pares, para os meus líderes. Antes mesmo de pedir o feedback eu já vou tentando avaliar os meus pontos de melhorias, enfim, coisas que dá para ir ajustando ali. No Quinto Andar isso é legal, porque a gente tem um processo lá de evolução de carreira muito bem estruturadinho e existe um acompanhamento por parte dos líderes, então logo de primeira quando eu estava na primeira squad que eu atuei, eu já tinha montado uma apresentação com as coisas que eu identificava que eu queria ou aprender ou melhorar, quando eu fui apresentar para a minha líder, ela já estava ciente de quais eram esses pontos, eu falei para ela: “olha, você vai ter trabalho, porque tem muita coisa aqui que eu gostaria de fazer e de melhorar, então acho que pode casar com o que já tem estruturado aí de evolução de carreira”. E aí, a cada 15 dias lá no Quinto Andar a gente tem uma conversa com os líderes e vai acompanhando esse processo, o que pode ser melhorado, e tal. Eu acho muito importante, muito mesmo, e eu proativamente acabo pedindo esse feedback para as pessoas, não só os meus líderes, por exemplo, eu atuo hoje bastante com operações, com pessoas que, não necessariamente, somente os usuários finais ali, mas também quando a galera de dentro, geralmente eu peço feedback para eles também, porque acabo apresentando coisas, conversando com eles de uma forma mais aprofundada ali, e é importante para mim saber se o que eu estou falando está fazendo sentido, se o que a gente está construindo no produto também está fazendo sentido para eles, porque no final do dia são eles que vão utilizar. Então, acho importante sim, não só em relação aos líderes, mas também com outras pessoas da empresa.

 

Qual é a importância de você ter um bom par como PM? Essa relação PM e designer, o que você enxerga disso? O que você poderia contar para nós?

 

Karen Santos – Eu acho que essa relação é extremamente importante, porque a pessoa que mais troca no dia a dia, e dando um contexto, hoje eu não tenho um PM, eu tenho dois PMs. Assim como no design, eu trabalho em dupla, eu tenho uma dupla de design e são dois PMs, uma PM e um PM, isso nesse momento. E dando um contexto ainda antes também, eu entrei no Quinto Andar na área de compra e venda, então eu comecei ali mexendo em chat de negociação entre proprietários e inquilinos, ali eu tinha uma PM só, mas ainda assim era um momento onde a gente trocava bastante, justamente porque eu tinha entrado no Quinto Andar, fiquei em acompanhamento com outro designer, até que ele precisasse ir para outra squad e eu pegasse o contexto, depois de 1 mês a minha PM entrou, e então teve essa troca. Ali era um momento onde nós duas estávamos aprendendo, entrando no contexto do Quinto Andar, entrando no contexto imobiliário, porque eu venho do mercado financeiro, tinha vindo de uma agência, e entrando no contexto de compra e venda de imóveis. Então, era um momento onde as duas precisaram se unir muito para poder entender todas as coisas e fazer a roda continuar rodando, não podia parar em momento algum. Isso foi muito interessante. Na virada do ano, no início desse ano eu migrei, agora eu estou na área de aluguel, saí de compra e venda e fui para aluguel. Eu entrei para a dupla A com uma designer, e também entrou outra PM nesse time que já existia, e o time de engenharia é relativamente grande. A gente troca muito. Existe um grupo onde só tem os dois PMs e nós duas como designers, e toda e qualquer decisão que a gente vá levar para o time, ou estratégia, a gente se reúne, não só com os grupos ali, mas com reuniões constantes para pensar em tudo que a gente vai construir. Então, acho que essa relação precisa ser boa, precisa ser transparente, do ponto do feedback nem sempre vão ser conversas felizes e Ok, muito pelo contrário, a gente acaba sendo muito colaborativo e muito incisivo também nessas soluções, para que a gente consiga tornar as coisas mais redondas possíveis.

 

Você trabalha com uma pessoa gerente de produto? PM?

 

Karen Santos – Sim.

 

Como é no seu dia a dia? Porque muitas pessoas acabam estudando design, acha que o design vai entrar e vai desenhar soluções, e que tem super poderes. Mas na prática a gente tem uma relação de construção entre pessoas, então são várias pessoas trabalhando em conjunto em prol de um problema, tanto engenharia, design, quanto a parte de gestão de produto mesmo. Na sua visão, como tem sido essa construção? Vocês têm um problema para resolver e tem um desenho de solução que sai no final, que é o que depois o pessoal de programação vai colocar no ar, o pessoal de engenharia. Como é a sua relação como designer com uma pessoa PM, uma pessoa Product Manager, gerente de produto?

 

Karen Santos – Agora também um pouquinho do contexto para eu desenhar o cenário, agora na parte de aluguel eu cuido da parte do offboarding, que é o momento em que o inquilino está saindo do imóvel, ali é o momento onde essa pessoa precisa lidar com várias questões, desde mudança, reincidir o contrato, desligar as contas, enfim, entre muitos detalhes ali. Na prática, além de conversar com diferentes pessoas da empresa, e é uma coisa que no início acabava tendo um preciosismo, digamos assim, com o design, com as telas, herdei um pouco isso do design gráfico, ficava segurando muito as telas até que ficasse perfeito, que ficasse bonito e tudo mais. Eu já desconstruí isso total, porque na verdade, não dá muito tempo para fazer isso e a gente acaba precisando ser menos precioso nesse sentido, para poder focar em outras etapas. Então ali, além de falar com diferentes pessoas, eu faço pesquisa, facilito dinâmica, a gente tem que fazer teste com o usuário, tem que criar as interfaces em si, a gente faz a parte de design, critica, mesmo com a tela não tão refinada assim, a gente participa de cerimônias, a gente cria os fluxos, o mapeamento, entre muitos outros detalhes. Tem um alinhamento ali com operações, então hoje o meu usuário final é muito mais a galera de operações do que o inquilino ou o proprietário do imóvel, então eu tenho mexido ultimamente muito com sistemas internos, que é CRM, que são as ferramentas, de fato, do Quinto Andar. A experiência em si para esse usuário interno, precisa ser um processo menos manual, menos moroso, talvez mais automatizado, mais conectado. Então, tem todos esses detalhes, além da troca com engenharia em si. A gente tem algumas cerimônias, algumas a gente fica ali entre design e PM para poder fazer o alinhamento, antes mesmo de passar para a engenharia. E quando a gente passa para a engenharia, por exemplo, a gente tem um pré-story mapping, que é conversar com uma pessoa específica de engenharia, para que ela olhe aquilo e veja se faz sentido ou não, “isso aí nem tenta porque não vai rolar”, também não vamos mostrar para o time, se faz sentido a gente faz um story mapping, que é apresentar para o time o que a gente está pensando ali, e no final dessa reunião a engenharia sai com umas lições de casa para estudar a estrutura ali, ver se dá para fazer e tudo mais. Tendo isso, enquanto isso o designer vai refinando ali a solução na parte de ideação, prototipação e tal. Quando a gente chega na etapa de refinamento, a engenharia já consegue olhar um pouco mais fiel ao que precisa ser da solução, e consegue ir encaixando ali, quebrando as tarefas. E quando a gente chega na Plane, isso já está um pouco mais definido, já entende que aquilo é um projeto grande, que vai precisar quebrar em três Sprints, ou não, em uma Sprint só, em uma semana a gente consegue fazer aquilo, de fato, e a engenharia consegue tocar. Ao mesmo tempo, tem todo o processo que eu acho que acaba sendo um pouco dinâmico, talvez invisível do design, que vem antes de passar para a engenharia, ou até depois, que é a primeira etapa do discovery, que é muito de entender qual é o problema que a gente vai atacar, de conversar com diferentes pessoas também. Uma coisa que eu aprendi no Quinto Andar e que eu estou adorando é a parte de documentação, a gente documenta muita coisa, então a gente escreve horrores no Nocion, eu tenho feito isso e tem ajudado muito, porque antes mesmo de partir para um próximo problema ou solução, no sentido de escrever, de tirar da cabeça o que a gente quer resolver, como a gente quer resolver, com quais pessoas a gente tem que falar, como isso vai impactar, em quem vai impactar, quem vai utilizar. Essa já é uma das etapas que eu utilizo nesse processo, e depois também da entrega, e a definição de métricas, o que a gente quer acompanhar dessa solução e entender se está dando certo ou não, como a gente acompanha depois de ter implementado para a galera.

 

Eu queria volta no assunto que a gente estava falando de Product Managers e designers. Hoje em dia a gente passa por várias situações, e uma delas é um pouco de ter essa sensação de hierarquia nas empresas, que o Product Manager é o cara que vai direcionar muito o trabalho que está sendo feito. O que você acha disso? Hoje em dia o designer tem que estar muito mais conectado com o business, com o negócio e com o entendimento do problema, e tentar tirar essa sensação de que design é só desenhar, ou só está ali esperando chegar o negócio, vou desenhando as telas e vou passar para frente. Não sei se na sua carreira até agora sempre teve esse lance de parceria com o PM ou você já sofreu um pouco com isso.

 

Karen Santos – Olha, contando desde o início, eu acho que eu passei por uns seis PMs diferentes, eu acho que cada um tem o seu perfil, a sua maneira de atuar e momento também de trabalho ali, então acho que varia bastante. Eu já tive PMs que eram um pouco mais dependentes do designer, eu tinha o papel um pouco delimitado entre o design e o PM, mas eu precisei tomar um pouco mais a frente, fazer um pouquinho da parte de gestão, enfim, de definição, de fato, do que iria ser cuidado ali pelo time. Já tive também PMs que eram um pouco mais a frente, gostava de tomar as decisões e depois trazer para discutir um pouco mais, ou já vinha com algumas sugestões de soluções, eu acho que talvez não funcione muito, eu gosto do momento que eu estou, acho que é um dos melhores PMs que eu já tive, que é muito colaborativo, chama para participar, chama para construir, chama para definir, tudo muito junto. Eu acho que esse modelo é o modelo ideal, justamente pelo o que você falou de o designer ter que agora pensar um pouco na estratégia, pensar no negócio, não ser só aquela coisa de esperar que o designer chegue ou que a solução chegue para ser construído. Pelo contrário, se a gente vai construir essa solução em algum momento, que seja então desde o início, desde a elaboração, da decisão, do impacto, para que seja, de fato, uma participação completa até o final do processo, acho que isso ajuda não só o designer, o PM, mas também o time e a empresa, como um todo.

 

Como é esse lance no Quinto Andar? Como é discovery que vocês fazem? Vocês têm algum processo pré-estabelecido? 

 

Karen Santos – Eu, de fato, meio que acabo criando alguns processos, dependendo muito da demanda, então eu não tenho um processo fixo, até porque eu acho que nem todas as coisas funcionam para todas as soluções ou desafios. Acho que uma coisa fixa que eu coloquei no meu processo, de fato, é a documentação mesmo, qualquer coisa que eu vou fazer eu inicio com essa documentação ali na parte do discovery, tem a parte de conversar com as pessoas, que tem sido muito útil. Então, eu colo em pessoas de operações que eu já sei que tem informações, até porque as coisas mudam muito rápido, os times mudam muito rápido, cresce o time muito rápido. Então eu já seleciono algumas pessoas meio que fixas, que estão no Quinto Andar há um tempo e conseguem me passar um contexto mais completo das ferramentas, dos sistemas e das pessoas, de como funcionam as coisas. Então, tem essa parte da documentação, de conversar com as pessoas, ali entendendo o maior problema, digamos assim, a gente tem a parte de operações, em operações a gente tem um número muito alto de ligações por parte dos usuários, de reclamações por um motivo X. A gente sabe que com o produto, de repente, a gente automatizando consegue melhorar esse processo, consegue minimizar um pouco essas reclamações, e consequentemente, melhorar a nota do produto, melhorar também para operações e processo, que acaba sendo manual, então tem todo esse entendimento. A parte de pesquisa, de mapeamento, eu tenho começado a estudar agora, eu tenho sentido necessidade em design de serviço, estou pensando ali na parte de operações, como eu consigo entender o processo como um todo, entender como que uma coisa amarra na outra. Até porque, a etapa que eu estou é a última etapa. O Offboarding é o momento que a pessoa já chega no imóvel, já morou no imóvel e agora ela está indo embora. Tem muita coisa dessa jornada como um todo que se amarra nessa etapa final. Eu estou começando agora a estudar design de serviço, acho que tem feito muito sentido para conectar essas pontas, é uma coisa que tem feito parte do meu processo, como construir alguns fluxos, desenhar uma jornada um pouco mais completa, isso muito antes de começar a desenhar a tela. Depois de ter esses mapeamentos, eu consigo já ir começando a pensar em algum tipo de solução, pensando também, às vezes, muito mais nas ferramentas internas e não no aplicativo em si, algumas coisas acaba respingando no aplicativo, que são pequenas funcionalidades. E aí começo: ideação, prototipação, vou mostrando para o time, compartilhando com os PMs, com a minha designer, que é a minha dupla, a gente troca bastante, inclusive, muito importante isso. Troco também com o time de design, então se tem alguma coisa ali já meio definida, a gente faz o design “critique”, todo mundo colabora, faz os comentários ali, isso é bem legal também. E aí começa o processo passando para o time de engenharia, depois a gente vai acompanhando e ajudando eles pontualmente em algumas dúvidas que vão surgindo.

 

A gente tem que fazer a pergunta polêmica. Para tudo a gente faz Discovery? Quando que a gente faz? Quando que a gente não faz?

 

Karen Santos – Depende, o mínimo Discovery sim, para alguns casos, pelo o que eu tenho percebido. Tem coisas de um processo que já existe muita coisa, muita documentação, como eu comentei, o Quinto Andar tem esse costume de documentar muita coisa, e muitas vezes, talvez, você já encontre coisas que você estava pensando em buscar, em estudar, e tudo mais, você já encontra ali normalmente estruturado. Então, acho que tem esse processo de entender o que já existe, o que já foi feito, o que já pensaram, olhar isso, ver se faz sentido para o momento que você está, porque pode ser que no momento em que aquilo foi estudado e documentado oral alguns anos atrás, isso já não faz mais sentido para o contexto atual. Entender se aquilo então faz sentido, usar o que pode ser utilizado, até para otimizar o tempo, e se sentir falta de detalhes mais específicos, fazer um Discovery um pouco mais aprofundado nesses detalhes. Mas eu gosto dessa ideia de entender quem já fez, o que já foi feito, o que a gente pode aproveitar disso, até para complementar o que a gente está pensando. Então, não sei se todas as coisas precisam de um discovery, mas eu gosto da ideia de minimamente estudar alguma coisa anteriormente, sabe?

 

Pré-discovery, nem pensar? O discovery do discovery?

 

Karen Santos – O que é o pré-discovery? Eu não sei.

 

Eu também não sei, não faço a menor ideia do que é isso. Mas eu escutei esses dias e não entendi. Até porque, o discovery já é o processo da gente buscar entender alguma coisa, seja porque a gente precisa de insumos, seja porque o nosso time precisa de mais insumos. Teve alguma coisa que a gente não perguntou para você e que você gostaria de falar sobre?

 

Karen Santos – Difícil. Não sei.

 

Eu tenho uma pergunta para você. A sua história é muito legal, até o projeto que você fez, você puxou muita resiliência, muita perseverança. Se você pudesse comentar um pouco e passar uma mensagem para outras pessoas, independente de cor, raça, crença, que mensagem você diria para essas pessoas que estão querendo começar como designer? Que estão querendo entrar nesse mundo?

 

Karen Santos – Eu sou uma pessoa, acho que talvez fique um pouco pessoal isso, mas eu sou uma pessoa que gosto de atuar com um propósito, eu gosto de saber e entender que o que eu estou fazendo está fazendo a diferença. Isso independente de ser um projeto pessoal ou dentro de uma empresa. Se eu estou numa empresa de um ramo X, eu posso fazer a diferença nesse local, fazendo o meu melhor trabalho, na medida do possível. Acho que uma mensagem que eu gostaria de deixar, talvez, não só para quem está entrando, mas para quem já está nesse mercado, é mais uma provocação de entender o impacto que a gente está gerando dentro do poder que a gente tem, enquanto designers, qual é o impacto que a gente quer gerar e qual é o legado que a gente quer deixar, e como a gente quer ajudar as pessoas com o que a gente faz. Eu tenho muito medo da nossa área acabar virando, se já não está um pouquinho, um lugar onde as pessoas enxergam possibilidade só de receber os melhores salários, ou enfim, só de trabalhar numa empresa que está em grande crescimento, e tudo mais, e ter um status com isso. Na verdade, eu acho que a nossa atuação, enquanto designer, seria legal se a gente tivesse esse olhar um pouco mais humanizado para as coisas, e não só como é, de fato, um lugar onde a gente pode ir. Só cresceram de uma forma financeira, e tudo mais. Então, acho que a gente tem um poder bem grande nesse sentido, de realmente entregar coisas que fazem sentido, que melhora a vida das pessoas, não de uma forma romantizada em si, porque tem o lado da estratégia, o lado que a empresa precisa ganhar dinheiro, que os produtos precisam dar certo, precisa ter impacto, e tudo mais. Mas acho também que de alguma forma, nós enquanto designers, ali na nossa cadeirinha, querendo ou não, pode ir plantando algumas sementes, acaba melhorando a sociedade como um todo.

 

E por que continuar fazendo o UX Para Minas Pretas, então?

 

Karen Santos – Meu sonho, na verdade, é trabalhar só com o UX Para Minas Pretas, ter ela como empresa e como a única atuação. Inclusive, acho que, não só as UX Para Minas Pretas, mas todas as outras iniciativas devem existir, e acaba sendo um trabalho que a gente faz que supre uma demanda, meio que de governo, enfim, coisas que deveriam ser olhadas. E a gente, enquanto comunidade, pequenininho ali, está tentando chamar atenção, falando: “gente, isso aqui é importante”, porque acaba gerando impactos e melhorias, não só nos times das empresas, de fato, tirando a questão dos times que são homogêneos, que são muito iguais e acabam, querendo ou não, com os seus vieses, criando produtos que são iguais, não necessariamente para todas as pessoas. Tem também a questão do próprio envolvimento, não só no impacto da solução final, mas da cultura da empresa como um todo, equipes e times, enfim, mais diversos performam melhor, tem consciência de outras coisas. Então, acho que tem toda essa cadeia que vai modificando, não só da parte do meu lado, que fala no recorte de raça e gênero, mas também a questão de acessibilidade, LGBTQIA+, pessoas com deficiência, enfim, tem muitas coisas que a gente precisa melhorar, olhar e incluir. Isso só tem ganho, inclusive, ganho em relação a lucro para a empresa.

 

Sua última mensagem. O que você gostaria de dizer para o mundo, para o Brasil, para o planeta Terra?

 

Karen Santos – Vou deixar a provocação então. Eu gostaria que o nosso “novo normal” no design, fosse um “novo normal” diferente. A gente tem esse termo de “novo normal”, eu acho que, na verdade, nunca vai voltar a ser, mas acho que, enquanto designers, a gente tem essa missão de entender o que a gente quer para o design, de fato, para o UX Design, de fato, no futuro, nesse ano, no próximo ano, o que vai acontecer? Se a gente vai continuar, de fato, construindo coisas a rodo, sem pensar no impacto que a gente tem e de como a gente pode melhorar a vida das pessoas mesmo.

 

Legal Karen, muito obrigado. Foi um prazer estar com vocês aqui.

 

Obrigado Karen, desejo todo sucesso para o seu projeto, na sua vida.

 

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