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TEMPORADA 1 - EPISÓDIO 7

Demian Borba

Temporada 1 Episódio 7 – Demian Borba
PROJETO: Desenhando Produtos

Nascido no Brasil, Demian é Gerente de Produto com quase 20 anos de experiência em tecnologia, design, negócios, desenvolvimento, comunidade e treinamento. Antes da Intuit, ele trabalhou na Adobe, PayPal / Braintree, BlackBerry, UCSD e várias agências digitais, incluindo a sua própria. Demian adora influenciar positivamente os outros, ensinando Design e Desenvolvimento no LinkedIn Learning e em outras plataformas. No lado pessoal, ele é um surfista apaixonado, pai e marido dedicado. Demian está baseado no sul da Califórnia, perto das ondas de Oceanside.

Atualmente Demian é Principal Product Manager, Intuit Design System (IDS).

Linkedin

Hoje vamos conversar com ele que é product manager na Adobe, trabalha na XD, é campeão de surf, manda ver no trabalho, nas ondas, quebra tudo. Demian Borba, muito obrigado.

 

Demian – Muito prazer de estar aqui conversando com o Brasil, muito bom, obrigado pelo convite.

 

A gente está muito feliz de você estar aqui, é uma alegria muito grande falar do que a gente gosta que é trabalhar com produto, com design, fazer coisas muito legais para outras pessoas e com empresas bacanas que dão apoio para isso.

 

Demian – Show de bola, vamos lá!

 

Queria que você falasse um pouco da sua história, por que você trabalha com design hoje e como você começou.

 

Demian – A minha história é bem maluca, meio linear e não foi planejada. Eu tenho muitos amigos que seguiram uma carreira muito linear, eles estão bem, mas a minha foi de curiosidade, de erros e acertos, de tentar dar um passo maior do que a perna, nem sempre dá certo, mas sempre aprendendo com essas tentativas. E hoje eu sou muito grato, estou na Adobe nos Estados Unidos como product manager, de um produto que está bem maduro hoje que é o Adobe XD, tem muita coisa para fazer ainda, mas já tem 5 anos. É uma história que me trouxe até aqui e de alguma forma deu certo. Mas voltando no tempo, comecei meu segundo grau técnico em desenho industrial no CEFET em Curitiba. Eu me apaixonei por design, mas naquela época era muito prancheta, muito o comecinho do computador com Corel. Mas eu lembro muito de fazer perspectiva na prancheta com a máquina de calcular do lado para você poder marcar os pontos e desenhar as vistas 3D. Foi muito legal, me apaixonei por design nessa época. Depois fui para Maceió, lá fiz Ciência da computação na Universidade Federal, consegui juntar os dois com a computação, isso em meados de 99, 2000 existia o Flash, me apaixonei e participei de várias iniciativas, fiz muitos cursos. Naquela época tinha que viajar para São Paulo para fazer os cursos, não tinha YouTube como tem hoje, não tinha cursos online como tem hoje, me especializei muito nessa coisa de design e programação junto nesse mundo do Flash e actionscript, fiquei nisso por mais de 10 anos, trabalhei em muitas agências, tive minha agência. Vim para os Estados Unidos fazer um curso de business em Marketing depois que tinha me formado em ciências da computação, fiquei e estou nos Estados Unidos desde 2006. Passei pelo Brasil uns 2 anos, mas fiquei com muita saudade e voltei para cá de novo. Então, tem muitas coisas que aconteceram no meio do caminho, mas eu acho que essa curiosidade e paixão tanto pelo design não só a parte de forma, mas também a parte funcional da coisa, também a ciência da computação que me mostrou como fazer aquilo virar realidade, me guiou em tudo o que eu fiz. Eu já organizei conferência para a Adobe, eu e minha mãe para 1.000 pessoas no Nordeste, coisa bem tranquilinha de fazer. Aprendi bastante, fiz 40 anos em dezembro e uma das coisas mais importantes que hoje fazem muito sentido para mim é relacionamento. Desde que eu fiz os eventos para a Adobe, que eu acabei conhecendo outras pessoas, isso acabou me levando a conhecer outras pessoas que me abriram portas, eu estou na Adobe, eu acho que você ter muito cuidado na sua carreira com relacionamentos, eu acho que é muito importante. Porque esse mundo de design e tecnologia é muito pequeno, todo mundo se conhece. Quanto mais você tiver cuidado com esse relacionamento, mais portas vão se abrir. Na hora do conflito se você tiver a política da boa-vizinhança, ao invés de sair chutando tudo, brigando e queimando as pontes, mais seguro vai ficar essa progressão durante os anos. É isso, mais ou menos em resumo é isso.

 

Em 2018 tem um ex-colega nosso, o Fabiano, a gente foi em San Jose visitar a Adobe.

 

Demian – Foi no Vale do Silício, foi muito legal receber vocês e mostrar um pouquinho do que acontece dentro. Isso foi muito legal para mim, quando eu entrei na Adobe, eu achava que tudo era muito organizado, os times estavam juntos há anos e quando você entra, você vê que não é bem assim. A empresa é muito dinâmica, o tempo inteiro tem gente mudando de lado. Tem engenheiro no XD agora, depois estão no Photoshop, ano que vem estão em outro produto. Os squads mudam o tempo inteiro, de acordo com os objetivos do ano que a gente tem. Tem iniciativas que acabam iniciativas que começam, é muito dinâmico tudo. E ver como a coisa acontece do lado de dentro foi muito bacana, continuo aprendendo. Trabalho com product manager com time dos Estados Unidos e da Índia, tenho reuniões 22h, 23h para fazer as coisas acontecerem com os engenheiros da Índia. 

 

Tem a questão do fuso todo.

 

Demian – Sim. 

 

Eu sou fã do seu trabalho, fã da Adobe. Quando eu entrei na Adobe junto com você, eu falei: “estou dentro do Photoshop”, as paredes pareciam que você estava dentro de uma textura do Photoshop, a loja da Adobe, a galera jogando basquete no horário do almoço, almoçando junto, tendo seu horário de lazer dentro da empresa. Eu sei que isso de certa forma está um pouco comprometido porque as pessoas estão em casa, mas se você pudesse falar sobre a cultura da empresa, isso que você falou de construir pontes, relacionamentos, como é dentro da empresa mesmo uma empresa gigante que é da Adobe, tem uma empresa enterprise, ela está presente em praticamente todo mundo, é difícil você falar com alguém que trabalha com design ou produto que não conhece Adobe. Como é a cultura de uma empresa assim?

 

Demian – A cultura da Adobe é fantástica, eu trabalhei na Blackberry, no PayPal, são empresas que eu amei a passagem lá, mas a cultura que eu vejo na Adobe hoje é muito focada na pessoa. Então, tem muito foco em diversidade. O time de produto do XD, por exemplo, tem gente de todos os lugares do mundo, não é uma coisa só brancos homens, tem gente de tudo que é canto, mulher, te, esse foco na diversidade, como diferencial competitivo, você acaba trazendo visões diferentes e acaba tendo discussões melhores e acaba lançando produtos melhores. Mas existe o foco muito grande em preservar o funcionário. Tem gente no meu time que está na Adobe há 20, 25 anos, é uma empresa que tem uma retenção muito boa, tem o foco no crescimento pessoal e profissional, por exemplo, a gente tem um fundo que pode usar todo ano de até 10 mil dólares para estudar o que quiser. E a Adobe reembolsa tudo, já fiz vários cursos legais, na Disney, em escola de produto, Stanford. E graças a esse incentivo todo. Uma coisa bem legal que tem lá também é o foco em pagamento, homem e mulher recebe igual e não tem diferença. Todo mês a gente tem reunião com nossos gerentes para falar da nossa carreira, dos nossos objetivos. Então, tem o foco muito grande na pessoa, no crescimento da pessoa. Eu acho que eles entenderam que é importante preservar, porque é muito mais caro você ficar fazendo on boarding de muita gente nova, o tempo inteiro do que você ter um funcionário que vai produzir, entregar, se sentir confortável. Eu acho que você se sentir seguro numa empresa é muito importante e isso é muito visível na Adobe, eles têm um foco muito grande no lado pessoal. 

 

Queria entender um pouco melhor sobre o papel do product manager junto com o designer, tenho curiosidade em saber como é essa dupla dentro da Adobe.

 

Demian – Claro, eu acho que cada empresa tem uma forma de abordar isso, a gente tem os squads normais, no time do XD a gente tem uns 6-7 squads espalhados pelos Estados Unidos, Índia e Romênia e cada squad tem um product manager, às vezes até dois, mas normalmente é um produto, engenheiros e um ou dois designers. A forma da coisa acontecer é muito de time, sabe? Algo que eu vejo que é muito claro na Adobe, é que não existe estrelismo, não é assim, “esse cara manda, aquele cara manda”. São pessoas muito inteligentes, eu fui programador por muito tempo, cheguei na Adobe achando que eu era um bom programador, você chega lá e vê os caras trabalhando no Photoshop, em ser mais baixo nível, memória. Cara, eu não sei nada, esses caras são cientistas, cheio de fórmula, então nem por isso os caras são arrogantes, tem o ego lá em cima. Eu acho que essa questão de você entender que a gente é um time, cada um vai fazer o máximo que der, até fazer o que não é responsabilidade nossa para fazer acontecer. Um exemplo disso, por exemplo, lancei um produto ano passado no meu cenário do XD, foi um plugin para o Visual Studio Code, que a gente está investindo um pouco nessa área de desenvolvedores agora e infelizmente o marketing não tinha tempo e nem recursos para produzir material, eu como gerente de produto fiz todo material de marketing, eu gravei todos os vídeos, eu escrevi a documentação. Tem muito essa coisa de fazer a coisa acontecer. E a relação de design e product manager e engenheiro, na Adobe a gente tem 3 pilares principais, engenharia, produto e design, nesse cenário de squads a gente tem normalmente o product manager introduzindo problema, definindo, esclarecendo qual problema a gente tem que resolver. E aí o designer vai ficar responsável pelos fluxos que vão ser criados para resolver aquele problema, pelos protótipos, pela UX, pelo Workflow, também em contato com os usuários, não é uma coisa muito isolada, não é o PM que fala, e o designer não fala, é muito tudo junto. E um vai ajudando o outro, eu acho que se for esclarecer bem, definir o que cada um faz, seria produto é entendimento, definição e alinhamento em relação ao problema, o design é como que algo vai ser criado para resolver aquele problema, validado e tal. E a engenharia como aquilo vai ser construído, vai ser codificado e lançado. Há uma parceria, a gente tem sprints de duas semanas e a gente está sempre conversando, começando com protótipos. No meu caso, eu defino os Workflows, o time de design a partir do Workflow com a gente, vai definindo as telas, usando o design system da Adobe e a gente valida com os usuários de forma bem qualitativa esses protótipos juntos, não é só o designer, não é só o product manager, a gente valida o máximo possível junto. E os engenheiros dentro do possível estão participando, mas normalmente estão mais executando sprints, eles ficam na parte de execução e código mesmo da coisa. Mas a minha vida de product manager na Adobe é muito intensa, eu estou definindo Workflows, pensando no futuro, pensando na estratégia. Mas ao mesmo tempo eu estou cadastrando Bug, estou colocando mais detalhes em Bugs, estou informando usuários quando os bugs são corrigidos, coletando informação qualitativa com outros times olhando analytics, não é muito preto no branco, é bem dinâmico.

 

Por mais que essa explicação, o product manager trabalha no problema, o designer na solução, mas não tem uma separação, é a galera meio que trabalhando junto.

 

Demian – Isso. O que não acontece, por exemplo, eu não vou desenhar as telas, isso é a área mais do design que vai estar ali informando, mas eu tenho total condição de rodar uma reunião com 2, 3, 4, 5 clientes, normalmente clientes enterprise, a gente vai testar aquele protótipo, todo mundo junto da forma mais aberta possível, sem se apaixonar pela solução, realente colocar a cara a tapa, coletas as normações e a gente faz um debrief depois, faz os ajustes e vai avançando. Mas de forma colaborativa, não tem essa coisa de um manda e o outro manda, é muito colaborativo. 

 

E hoje em dia o designer está sendo muito cobrado por entender do negócio, não só desenhar, sair da esfera de prototipação, mas entender do problema, entender do negócio em si. E eu queria saber o que você vê, os designers que você trabalha tem essa pegada? E o que falta para o designer chegar nesse nível?

 

Demian – Eu acho que quando você fala em negócio, se você falar em objetivos estratégicos da empresa, de aumentar usuários, aumentar faturamento, isso não é tão visível para o designer na Adobe, se ele quiser, todo mundo vai mostrar. Mas o que o designer fica mais responsável é por dentro de quando o problema é definido, “vamos atacar a área X, o problema que a gente vai resolver é isso”, o designer fica muito focado em criar solução para resolver aquele problema, esse alinhamento com os objetivos do negócio meio que já foram feitos pelo product manager no começo, vamos partir para a solução.

 

Eu acho que foi em 2016 que a gente pegou o início do Adobe XD, ele era uma versão beta, eu lembro que a gente começou a usar dentro da RD e algumas pessoas não gostavam, outros designers gostavam, virou a turma que gosta do XD e os que não gostam de XD. Os que gostavam ficavam apaixonados porque era muito rápido de mexer e fácil de mexer, continua sendo com a pegada de ser extremamente simples, muito mais veloz que o Photoshop, por exemplo. Mas se você pudesse dar uma retrospectiva do ponto de vista de desenvolver o produto em si, você estava dentro, quem trabalha com produto e design conhece o XD, é muito difícil não conhecer. Como foi sair de um projeto Beta e ir para a versão definitiva?

 

Demian – Hoje o XD é um produto muito mais maduro, a gente tem que trazer faturamento para o business, para o Adobe, a gente tem várias áreas do app que só funciona se você tiver a conta paga. E também eu acho que muita gente reclama que é caro o Adobe, hoje em dia com o subscription é tudo tão acessível. Se você trabalha na área de design, aqui nos Estados Unidos, se você não consegue pagar 10 dólares por mês para ter o XD, fica uma coisa meio complicada, é algo que tornou muito mais acessível tudo isso. No XD quando eu entrei, a gente tinha por volta de 30 pessoas no time, era um projeto bem secreto ainda, era bem startup, a gente podia testar muitas coisas, arriscar, fazer do nosso jeito. E hoje 5 anos depois a gente tem quase 300 pessoas envolvidas no projeto, em diferentes países, diferentes squads, é muito mais lento, estruturado, robusto, até porque a gente tem que ter muito cuidado com o código, não pode sair mudando tudo, a gente tem releases mensais. A gente tem muito cuidado com o ritmo, não pode arriscar tanto como a gente podia antigamente. Mas você vê uma startup virando algo mais sólido, agora é um produto oficial, é um dos principais apps da Adobe, é algo fantástico. O time cresceu, os processos aumentaram, o número de usuários aumentou, você saber que tem muito mais gente usando produto, é fantástico. Tem também os competidores que acabam fazendo todo mundo se esforçar um pouco mais para poder entregar valor de forma mais importante, mais relevante. Eu acho que o X hoje ainda não é o líder de longe, tem outros apps que estão liderando em áreas de design system, em áreas de design. Mas olhando para trás você vê apps de vídeo, de design gráfico, o Indesign é um exemplo de design gráfico, Premiere é um exemplo de vídeo. Demorou anos, mas a Adobe não entra numa área para perder. Então, eu acho que o XD ainda tem muitos anos pela frente, a gente vai continuar ouvindo os usuários, vendo continuar crescendo, continuar investindo no produto, teoricamente o objetivo é virar líder num futuro mais para frente.

 

E claramente, uns anos atrás logo quando a gente começou a trabalhar com design, as primeiras versões do Photoshop, a galera que precisava estudar, ela não comprava sendo bem honesto.

 

Demian – O CDzinho.

 

E se tinha uma empresa que tinha, você ia ver quanto a empresa pagava, era R$ 5 mil por um ano, cada release, ele era lançado uma vez por ano, uma vez a cada 2 anos. Então, era muito caro, não era acessível para a grande massa e cada atualização, levava muito tempo para ser lançada para o público. E hoje principalmente no mercado B2B tem muita gente falando sobre product lead, a importância de colocar o produto como driver de aquisição de clientes e ter uma versão mais acessível, mais escalável para colocar clientes para dentro, você comentou sobre isso, sobre ter um modelo de negócio que dê rentabilidade para a empresa. Para a área que você trabalha, vocês chegam a comentar sobre esse conceito? Aparece naturalmente sobre o produto ser o driver para fazer a máquina girar?

 

Demian – A gente tem um time de growth interno no XD, vários times tem seus times de growth, então, a gente saiu do cenário de introdução e agora a gente está no cenário de growth, a gente está crescendo e adquirindo novos usuários, a gente tem não só esse foco em crescimento, mas também foco em medir esse crescimento. Tem vários experimentos que a gente tem feito de apresentar informação de forma mais relevante para os usuários atrair mais usuários, reter mais usuários, eu acho que esse é o principal desafio, como você consegue reter os usuários, tem um time 100% dedicado a isso. E isso é um dos principais times da Adobe, esses times de Growth. Com certeza a gente tem foco em medir, em set a goals, mas sempre colocando as necessidades dos usuários em 1º lugar, a gente tem que ter esse balanço com os objetivos do negócio, mas a gente entendeu muitos anos que a gente tem que fazer o que o usuário precisa de forma mais rápida, mais eficiente e se a gente fizer um bom trabalho, eles vão ficar na plataforma, senão eles vão sair e a gente vai continuar batalhando.

 

Vocês têm um programa do Voice, de as pessoas poderem colocar os anseios, de você mesmo colocar seu desejo de feature, seu desejo de mudança do produto e depois as pessoas vão lá e votam naquilo que é mais votado, no que o time do XD prioriza e etc. 

 

Demian – A gente tem o https://adobexd.uservoice.com. Foi uma coisa que eu fiz quando entrei em 2015, porque o feedback chegava de muitas formas, e-mail, fórum, de vários outros lugares, reuniões de forma qualitativa. Era bem complicado a gente fazer um backlog de o que as pessoas precisam, pelo menos o que elas pensam que precisam. E aí a gente criou esse User Voice, qualquer um pode chegar lá e cadastrar um desejo de feature que eles querem e outras pessoas que querem a mesma coisa podem votar e a gente consegue priorizar o que as pessoas estão pedindo mais. A partir disso a gente vai usar como informação valiosa para definir estratégia, mas eu acho que é mais para informar, não é para fazer tudo o que as pessoas querem, se fosse assim a gente não teria inovado com protetipação por voz, com modelos 3D, de realidade virtual, várias coisas menores que apareceram e que não foram cadastradas lá.

 

Você está na Adobe há quase 6 anos. Queria que você comentasse sobre a transformação da empresa, desde quando você chegou e como ela está hoje, tanto culturalmente e se você puder falar estruturalmente de times, poder contar para a galera conhecer como a Adobe é, a cultura.

 

Demian – Claro. A empresa continua crescendo, quando eu entrei eram 13 mil funcionários, hoje é por volta de 20 mil funcionários no mundo inteiro. Alguns produtos morreram, novos produtos foram lançados, pessoas que eram um cargo um pouco menor, eles cresceram, várias pessoas saíram, várias pessoas entraram. Então, como em qualquer empresa, aqui na Califórnia tem uma rotatividade grande, mas em termos de estruturas é como outras empresas, tem a parte executiva, são a presidente, CEO, essas coisas todas. Aí tem vice-presidente executivos, que tem as grandes organizações, a Adobe tem 3 Clouds principais que é Creative Cloud, que a que eu trabalho, tem a Document Cloud que é o PDF e tal, tem a Marketing Class Experience que é de marketing, eu estou na Creative Cloud, que são todos os apps, todos esses serviços. E cada executive device president é responsável por cada uma das clouds, cada cloud tem seus objetivos. Por exemplo, tem um foco muito grande agora na Document Cloud, não sei se vocês perceberam, mas a Adobe está investindo muito nessa questão de documento, tem PDF no Browser, hoje você consegue abrir um PDF no seu celular e você consegue fazer um texto que uma vez, antigamente era fixo o layout, você consegue deixar ele fluido, consegue fazer ele ficar responsivo no celular, consegue aumentar, diminuir, toda essa tecnologia de documento, de assinatura, de escaneamento, é uma área que está crescendo muito em geral no mundo, a Adobe está investindo bastante, marketing também como sempre e a Creative Cloud também tem esses novos produtos, a aquisição que foi feita. O XD nasceu da Adobe, não foi comprado, a gente comprou uma empresa recentemente chamada Substance que faz toda a textura de cenários 3D para filme, para carro, era líder no mercado e a Adobe comprou, tem o foco grande em 3D também. E o foco é assim, como a gente vai na Creative Cloud deixar criar, deixar as pessoas conseguirem criar de forma mais eficiente, mais gratificante e mais rápida. Eu acho que esse foco continua, os problemas continuam lá e a gente tem visto muitas oportunidades legais, muita coisa que vai ser lançada esse ano, mais para frente vocês vão ver. Mas eu acho que em foco, em focar bem mais no cliente, interações mais rápidas, a gente tem muitos times agora interagindo muito mais rápido que antes, o Photoshop antes soltava release a cada 18 meses, hoje é 4-5 meses. O XD é todo mês. Tem muitas iniciativas focadas em aprender rápido, inteirar rápido e soltar o valor o mais rápido o possível.

 

Você comentou que no Vale do Silício a rotatividade muito grande, mas você está há quase 6 anos na mesma empresa, queria que você contasse qual o segredo da sua profissão de product manager. O que um bom product manager pode fazer para melhorar?

 

Demian – Eu estou na Adobe, além de ser uma empresa muito forte, para mim é uma empresa que faz parte da minha história, do Flash, das conferências que eu fiz lá atrás, para mim é muito mais do que uma marca, para muitos designers é quase que uma religião, eu acho que no Brasil isso foi muito forte por muito tempo. Eu estar lá dentro é algo fantástico, sou extremamente grato pela oportunidade. Em termos de product manager um bom product manager é aquele cara que realmente foca em fazer acontecer. Não é só definir o problema, não é só fazer road map, não é só fazer a estratégia, mas é garantir que vai entregar, que vai ter um lançamento que vai ser medido, que vai ter iniciativas de marketing com KPIs, é o cara que vai fazer o trem andar, sabe? Pegar todo mundo e falar: “vamos para frente, vamos fazer isso funcionar”. Se você não tem uma pegada de lida com conflito e situações intensas, talvez isso não seja uma área muito boa para você. Eu vejo muita gente falando que a carreira de product manager está muito glorificada, o cara é tomador de decisão e tal. Mas não é bem assim, as decisões que eu tenho hoje nos times que eu trabalho é muito mais uma coisa balanceada após muitas discussões, muitos pontos, de todo mundo do que um cara decidindo tudo. E em muitos momentos vão ter conflitos, vão ter decisões difíceis de serem tomadas, caminhos difíceis de serem escolhidos e se der uma caca a culpa normalmente é do product manager. Você tem que saber lidar com isso, saber que o que você tem que realmente amar é o problema, o que você está tentando solucionar e não a solução que você está criando para você não sofre com a rejeição, com números baixos, com coisas que quebram e realmente ficar sempre apaixonado pelo problema. Se você for uma pessoa que tem essa linha de pensamento de aguentar pressão, aguentar conflito, se motivar em construir alguma coisa, a carreira é perfeita. Mas não é para qualquer um. Eu fico até preocupado em ver gente glorificando demais a profissão porque pode machucar muita gente achando que vai cair nesse mundo, vai ser o dono da razão e vai se frustrar bastante.

 

Se você pudesse citar 3 características que considera essencial em um product manager.

 

Demian – Curiosidade, ir atrás do problema, falar com os clientes, falar com os usuários. A segunda é conseguir executar, às vezes vai ser um dia ruim, às vezes vai ser um dia difícil, mas é importante sempre andando para frente com os aprendizados e tal. E a terceira eu acho que é comunicação, a comunicação é muito importante para um product manager porque você vai ter que se entender bem com os executivos, designers, programadores, com o pessoal de marketing, com o pessoal de suporte. E cada um fala uma linguagem diferente, você pode falar a língua deles ou realmente chegar o mais próximo possível da língua de cada um desses grupos é muito importante. curiosidade, comunicação. Eu acho que comunicação é mais importante que curiosidade, você tem que repetir muito o que está sendo decidido, alinhar com outros times, eu acho que é mais ou menos isso.

 

E é de verdade isso, a gente viu o Demian na RD numa apresentação, o Demian parecia um polvo, o cara tinha 8 braços. Enquanto ele montava a câmera, ele preparava o roteiro, ligava a câmera, ligava a luz, preparava o computador, tanto tempo para apresentação, “vou fazer uma apresentação para Adobe do outro lado do mundo porque tem outro time”, mas ele também estava fazendo apresentação para o time do RD e tudo ao mesmo tempo. Eu não estou mentindo, o Salva também viu o cara fazendo a parada. Isso de ser a pessoa que vai lá, suja a mão de graxa, carrega o piano, bota a parada nas costas. A gente viu isso acontecendo.

 

Demian – Tem que ser, um product manager tem que meter a mão na massa, você exemplificou bem, sujar a mão de graxa. 

 

A minha visão, isso tem uma relação muito forte com seus princípios, com as coisas que você acredita. Se você não acreditasse, meu racional é: por que razão o cara faria se ele não acreditasse naquilo? E muitas vezes a gente vai fazer com vergonha, “vou falar para alguém que eu não conheço, para alguém que é importante, para o stakeholder que eu nunca vi na vida. E se eu falar bobagem a pessoa pode me demitir” e tal. Por essa característica de se expor bastante, de ir lá, meter a mão, o que você não abre mão de fazer porque você sabe que aquilo dá certo fazendo daquele jeito ou com determinada força, energia seja lá o que for. E o que você não compactua de jeito nenhum?

 

Demian – Pergunta interessante. Eu aprendi ao longo da carreira, quando eu era mais novo, queria impressionar os outros, sendo bem sincero, das coisas que eu fazia. E isso acaba criando uma pressão desnecessária, tanto para uma apresentação, quanto para a execução de alguma coisa. E hoje com 40 anos, eu acho que talvez por toda validação que eu já fiz de erros e acertos, de ficar numa reunião com o cliente. Às vezes é um CEO de uma empresa, “estou aqui, vou falar com esse cara agora, o meu objetivo com essa reunião tendo agenda, tendo objetivo da reunião é esse, a gente vai tentar entender o que ele está precisando”. E no fundo, é uma pessoa também que tem sua família, seus medos. Ficar um pouco mais confiante, mais as coisas fluem. Errar todo mundo erra, falar besteira todo mundo fala. Eu acho que você ser humilde o suficiente para reconhecer que você falhou e aprender com aquilo, ajuda muito também. Eu acho que é deixar o ego de lado, isso é muito difícil, a gente não consegue deixar o ego de lado, essa coisa da perfeição. Eu já fui muito assim no passado, você passar uma imagem de perfeição a longo prazo não se sustenta, acaba só atrapalhando. Minhas validações de interações com outras pessoas é: quanto mais autentico eu for, mesmo que por alguns motivos eu pise na bola, escorregue, mais forte fica aquela conexão, mais eficiente fica aquela comunicação, lógico que em reuniões de presidência você não vai fazer piadinha, você vai ficar mais profissional. Mas eu acho que uma mente aberta e ser você mesmo, se por um acaso você tem tentado ser você mesmo, lógico que você não vai ser um louco de botar um pé na mesa, eu já vi pessoas fazendo isso, sentar na cadeira em cima, mas eu acho que isso não precisa. Eu acho que você pode ficar em certos limites de um comportamento mais padrão, que vai te deixar mais confortável, vai te trazer um resultado dentro do que você espera, resumindo é deixar o ego de lado, faz a maior diferença com 40 anos, é o que eu acho.

 

E o que você nessa de relacionamento com outras pessoas, lidar com conflitos. Tem conflito na vida de product manager?

 

Demian – Só tem conflito. Mas com times maduros, com engenheiros, com designers maduros são conflitos saudáveis, tem que ter um conflito, sem conflito não existe progresso. Tendo respeito, tendo um conflito saudável, lembrado que o objetivo aqui é como a gente vai alinhar o objetivo da empresa com esse problema que o usuário está tendo, fica uma coisa muito tranquila. Eu acho que todas as conversas na Adobe até onde eu participei, todo mundo tem seu lugar, o designer tem seu lugar, o product manager tem seu lugar, a gente escuta todo mundo que se manifesta e nunca desmerecendo ninguém. Mais ou menos isso.

 

O que nessa parte do diamante do divergir, o que nessa etapa não tem espaço?

 

Demian – Eu acho que falta de respeito, é número 1. E isso não existe na Adobe, pelo menos nos times que eu trabalho. Existe muito respeito, ninguém faz piada com comportamento do outro, isso para mim não tem espaço nenhum, você desmerecer alguém, pisar em alguém, você se achar melhor do que alguém, eu acho que isso é muito nocivo. E até onde eu vi, isso não existe na Adobe.

 

E pegando esse gancho, queria que você comentasse como é trabalhar em times de alta performance. Você já trabalhou em vários times da Adobe, queria que você passasse uma mensagem de como é isso. A gente tem uma visão de fora que a régua tem que estar lá em cima. Queria saber o que você pensa disso, e se você se cobra de ter essa alta performance todo o tempo ou se dá para ficar mais tranquilo. Ou é assim, estou performando lá em cima. 

 

Demian – Eu acho que tem os momentos de mais tranquilidade, a gente tem as nossas milestones, a principal talvez é a nossa conferência Adobe Max em outubro, então, 2-3 meses antes da Adobe Max é uma loucura, é mais intenso. Mas a gente se prepara para isso, janeiro, final do ano como é mais estratégia, fica mais tranquilo. Em relação a performance, eu acho que é muito da pessoa, eu vejo isso na Adobe. Por exemplo, apareceu um problema, um Bug que está quebrando alguma coisa grave. Se eu não trabalhar no time de alta performance, com product manager, eu vou falar: “olha só, aconteceu isso aqui, ferrou”. Agora, num time de alta performance, com product manager eu vou entender aquele problema, vou falar com o usuário que está vendo aquele problema, vou coletar as informações dele, vou anunciar esse problema só para as pessoas que vão poder agir com relação a esse problema, não tem porque você informar outras pessoas para gerar pânico, gerar problema, gerar coisas desnecessárias. E como product manager de alta performance, pelo menos como eu vejo na Adobe, ao invés de apresentar o problema falando: “aconteceu isso, ferrou”. Vou falar: “aconteceu isso, o cliente XYZ está passando por isso, essa é uma forma de reproduzir esse problema. E além disso vou sugerir duas ou três opções de recomendações. Baseado nisso, eu sugiro que a gente faça isso, os riscos são esses”. Então é ir um pouco mais além do esperado. Porque no final das contas se todo mundo fizer isso, o barco anda de forma mais eficiente. Eu gosto de trabalhar com engenheiros, quando batem num problema, eles falam: “aconteceu isso, a gente tem opção A, B e C, os riscos são esses” e não só falar: “aconteceu isso, o que eu faço”? Eu acho que tem essa coisa de você ir além do que você pode, gastar um pouquinho mais de neurônio, mas acaba ajudando muito mais.

 

E na sua visão, o que um product designer deve ter? O que você considera como as principais características de um product designer?

 

Demian – Eu acho que a primeira coisa, entender bem dessa coisa de UX, como você vai levar o usuário do ponto A ao ponto B de forma eficiente. Se possível, prazerosa, com algo que seja uma experiência boa para o cliente, que tenha conhecimento de design, por exemplo, para você criar a forma da melhor forma possível da parte do design, entender de design systems, entender que tudo aquilo que você está desenhando, aquela figurinha que você está desenhando vai virar código, então, como você vai criar essa conexão com o desenvolvedor, como você vai informar o desenvolvedor. Se for parte de um design system melhor ainda porque vai estar muita coisa resolvida dessa ponte. E eu acho que seria mais isso, entender muito da forma, também da função que seria a UX, como aquilo vai funcionar.

 

E para fechar, queria saber o que você acha, hoje em dia tem muito designers que não rodam, alguns codam, queria saber a sua opinião sobre o product designer tem que saber codar?

Você falou que no início você tinha sido programador um tempo. 

 

Demian – Por muitos anos, na verdade, eu acho que ajuda sim. Não é requisito, mas dependendo do produto que você está trabalhando, por exemplo, eu sou responsável com product manager há quase um ano de toda conexão com os desenvolvedores, como o design que vai ser feito no XD vai chegar na mão do desenvolvedor. Tem as EPIs que a gente está criando para o Desktop, para os programadores criarem plugins, tem as EPIs de Cloud que a gente está criando para conexões externas e tem esses experimentos mais novos como o plugin do Visual Code que a gente fez. Ter conhecimento da área ajuda muito, eu estou tentando resolver um problema de design conectando com desenvolvedor e vice-versa. Se eu não entender como um desenvolvedor trabalha, eu seria muito menos eficiente, eu acho que é muito mais difícil. É a mesma coisa, você vai definir fluxos de um painel de avião e você não entende como funciona um avião, é algo extremamente ruim, arriscado, estressante. Acredito que tem que ter um pouco de entendimento daquela área, você não precisa saber como codar naquele último framework de React, de Flutter, de qualquer coisa que seja. Mas entender como aquilo acontece é muito importante. O designer não precisa codar a nível de um programador pleno ou sênior, mas entender o que o programador faz é muito importante. Eu acho que o entendimento é mais importante que saber executar. E é bem crítico.

 

Queria ajudar as pessoas que estão começando, seja porque a pessoa está começando na área, trabalha às vezes como a única pessoa que é designer numa empresa ou a pessoa que nem está numa empresa, mas que está fazendo um curso. Como a gente poderia ajudar essas pessoas a disseminar a cultura de design dentro da empresa, a pessoa pode fazer isso com as próprias ações do dia-a-dia, para quem está entrando, que dica você daria para ajudar a galera?

 

Demian – Eu acho que hoje em dia tem muita documentação, muita publicação mostrando que o design realmente ele traz retornos financeiros, você tendo um design system, você tendo uma estratégia que seja liderada por produto, por design acaba sendo melhor para o negócio, tem muito conteúdo hoje que pode ser apresentado. E para designers que estão procurando escalar o que eles fazem dentro da empresa que eles trabalham, como você faz a escala de design, uma sugestão é se for produto digital, que você estude mais sobre design systems e nesse caminho de design systems você conseguir criar um piloto, vou fazer um piloto de duas horas por dia, onde a gente vai criar um ou dois componentes que vão ter o UIKIT desenhado, o kit de UI desenhado e eu vou trabalhar com programadores para ter aquilo codado, criar esse sistema, começando pequeno mesmo, piloto pequeno, aí você começar a mostrar e medir que ao longo do tempo por você usar aquilo, você está salvando X ou Y de tempo e está economizando X de tempo, você acaba mostrando para o seu negócio que aquela iniciativa de design trouxe algo positivo, melhor. Como recomendação de designers que usam para escalar o que eles fazem, design system, começar a meter as caras um pouco em design systems e talvez executar um piloto por menor que seja.

 

E o que você gostaria de responder e que a gente não fez a pergunta para você?

 

Demian – Eu fico muito preocupado com o Brasil, vejo talentos muito bons aí e talvez influenciados deixando o ego tomar conta das decisões. Se eu puder pedir para as pessoas deixarem o ego de lado e realmente focar em ser mais vulnerável, eu acho que seria a mensagem. A longo prazo pode ser um pouco dolorido, mas vai valer muito a pena.

 

Muito obrigado pelo seu tempo Demian, é muito bom falar contigo, é bom te ver de novo. A gente segue te curtindo nas redes sociais, acompanhando suas ondas, seus lançamentos, novos releases.

 

Demian – Valeu pessoal.