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TEMPORADA 3 - EPISÓDIO 2

Luciana Terceiro

Temporada 3 Episódio 2 – Luciana Terceiro
PROJETO: Desenhando Produtos

Luciana mora na Suécia e é Sr. UX Designer e Design Guild Lead na Zettle by PayPal, uma das principais fintechs européias. Trabalha há mais de 20 anos na área digital, tendo atuado em empresas como IBOPE, UOL e PagSeguro. Possui especialização em Pesquisa de Mercado pela ECA-USP, é mestre em Tecnologia e Design Digital pela PUC-SP, e atualmente mestranda na Universidade de Estocolmo, em Antropologia Social, além de contribuir como mentora no programa Google for Startups Accelerator Europe Team. Adora inventar projetos, como o Coletivo Mola e o Project Portfolio Canvas, e está sempre querendo aprender algo novo. Acredita que design é um trabalho em equipe e que bons serviços são construídos por todos.

Como sugestão, compartilho alguns links onde é possível encontrar muito conteúdo de qualidade:

Minhas associações preferidas: EPIC e Service Design Network – https://www.epicpeople.org/ e https://www.service-design-network.org/

Os sites tem muito conteúdo bom!

Interaction Design Foundation – https://www.interaction-design.org/

Os cursos são pagos, mas também há muito conteúdo bom aberto!

Nielsen Norman Group – https://www.nngroup.com/articles/

Outro site com muito artigo bom.

99% Invisible: um podcast com muito conteúdo bom para que se interessa sobre design e cultura. Eles se definem como o podcast sobre todas as coisas que existem no mundo e não pensamos sobre, e como estas coisas definem nosso mundo. https://99percentinvisible.org/


Está começando mais um Desenhando Produtos e Construindo Histórias. Eu sou o Josias Oliveira.

Eu sou o Leonardo Salvador.

Hoje nós temos um papo incrível. A gente vai falar com uma pessoa que é referência no design no Brasil e no mundo, ela tem muita história para contar para a gente. Ela é incrível. Ela passou por diversas empresas, professora e hoje ela trabalha em Estocolmo, na Suécia, numa empresa que foi recentemente adquirida pelo PayPal, o Zettle. É isso. Luciana Terceiro, seja muito bem-vinda.

Luciana – Oi, Josias. Oi, Salvador. Nossa, que recepção. Obrigada pelo convite, obrigada por estar aqui, eu fiquei super feliz, eu acho que o Podcast é incrível, já ouvi todos, sou super fã e fiquei super feliz mesmo com o convite. Vou contar um pouquinho de mim, depois a gente começa o papo. Como o Josias falou, eu estou trabalhando faz um tempão na área, eu comecei lá em 1998. Na verdade, eu vou até voltar um pouquinho, eu me formei em desenho de moda, ou seja, eu fiz uma coisa um pouquinho diferente lá, mas eu já estava ligada com a parte de design. Na própria faculdade eu comecei a explorar essa questão de design gráfico, que por incrível que pareça, um pouco de design no computador. Gente, era muito condimentado o negócio na época. Mas lá para 1998, no final da faculdade, eu consegui um estágio super legal, onde foi por sorte, eu consegui um estágio num estúdio de fotografia que fazia web sites para algumas marcas conhecidas brasileiras, tipo a Melissa, sandálias, Valisère e tudo mais. Então foi meio uma sorte aquele momento onde a gente estava sendo webmaster ou web designer, aprendendo HTML, aprendendo Flash, enfim, era pura diversão. Era uma coisa meio: “Vamos fazer aqui, vamos testar isso aqui. Deu certo, põe no ar”, e estava tudo bem. Eu segui durante alguns anos nessa dobradinha de webmaster e web designer, que era o que a gente tinha lá para o começo dos anos 2000. Até que, por volta de 2003, eu comecei a trabalhar no IBOPE. O IBOPE foi um lugar que, por um lado acho que foi muito bacana no aprendizado sobre pesquisas em geral, a gente tinha contato com muita pesquisa, naturalmente, por ser o IBOPE. Mas, por incrível que pareça, eles também começaram a fazer teste de usabilidade lá, a gente estava repensando o portal do IBOPE, em termos de quantidade de informação que eles tinham e tudo mais. E concidentemente, em 2003, quando eu comecei lá, eu também encontrei um curso de arquitetura de informação, até com o Guilhermo Reis, que agora está lançando um livro, e aí eu vislumbrei uma possibilidade de trabalho que era menos “na louca”, como a gente estava fazendo até então, e muito mais estruturada. Eu acho que aí eu comecei a visualizar uma outra perspectiva de trabalho. Eu falei: “Nossa, isso é muito interessante, é um trabalho muito mais organizado, muito mais estruturado. Eu quero seguir por aí”. Era uma coisa que a gente começou a experimentar lá dentro do IBOPE mesmo, até que em 2005 eu fui trabalhar no UOL, e no UOL eu fiquei durante quase 11 anos. Depois acabei ficando só com o PagSeguro durante alguns meses, mas fui lá para o UOL, tive muita oportunidade de trabalhar com empresas bastante diferentes. Eu acho que o UOL começou em 2005 a estruturar uma área que seria muito semelhante ao que o UX faz hoje, e a gente pôde experimentar muita coisa, muito teste de usabilidade, muito teste com o usuário, desde o começo com a Tray, e tudo mais. Então, a gente pôde experimentar com produtos muito diferentes, públicos muito diferentes, fazendo processos diferentes, testes. Então, acho que nem todo mundo entendia muito bem o que a gente estava fazendo lá dentro, mas era ótimo, então a gente experimentava de tudo. Fiquei lá no UOL, no PagSeguro até 2016, quando eu falei: “Quero mudar um pouco de área”. Foi um período muito sabático, eu falei: “Vou experimentar outras coisas”. Fui fazer um mestrado na PUC, comecei uma iniciativa, não era uma ONG, mas era uma iniciativa sem fins lucrativos que foi o Coletivo Mola, junto com a Martinha Moreira e a Nataly Garcia, e no Coletivo Mola a gente, basicamente, queria explorar métodos de design e, de preferência, levar isso para pequenos negócios e para profissionais liberais. Ou seja, eu já tirei um período para experimentar coisas diferentes mesmo. E o plano era voltar a trabalhar em algum momento, quando eu tivesse mais para o final desse mestrado lá na PUC, mas aí apareceu uma oportunidade de a gente, eu e a minha família, mudar para a Suécia. E eu falei: “Por que não”? Eu nunca tinha vindo para a Suécia, não fazia ideia do que tinha aqui, eu falei: “Vamos para lá”. E a parte engraçada é que um pouco antes de vir para a Suécia, o meu marido falou assim: “E se a gente fosse para a Inglaterra”? Eu olhei para ele e falei assim: “Acho que a Inglaterra é muito fria. Não quero ir para lá”, aí meu marido falou: “Quem te vê hoje em dia, não é”? E estamos aqui na Suécia. A gente veio para a Suécia, não tinha lá muitas perspectivas, eu estava com o inglês muito enferrujado, mas eu falei: “Vamos lá, vamos ver o que tem para fazer, dar uma pesquisada por cima”, e falei: “Parece um lugar legal, parece que tem boas empresas para trabalhar e boas oportunidades para estudar”. Eu adoro achar coisa para estudar, então eu vim para cá, fui estudar um pouco de sueco, resolvi fazer Hyper Island por aqui, comecei a trabalhar. Hoje em dia eu trabalho numa empresa chamada Zettle By PayPal, fazem 2 anos e meio, mais ou menos, que eu estou lá. Resolvi fazer outro mestrado por aqui, na área de antropologia social. Acho que é basicamente isso. Hoje em dia eu continuo fazendo mestrado, o mestrado está nos seis meses finais, e continuo trabalhando na Zettle, onde a gente desenvolve, basicamente, essas maquininhas de pagamento. A empresa trabalha em alguns países, então a gente oferece o serviço, além da própria Suécia, na Alemanha, França, Holanda, Inglaterra e mais alguns outros. Enfim, e ainda continuo tentando aprender sueco, está difícil, mas acho que um dia eu chego lá.

Se você pudesse falar um pouquinho para a gente. Você comentou assim: “Surgiu uma oportunidade de vir para a Suécia”. Como que surge uma oportunidade de ir para a Suécia?

Luciana – Pois é, boa pergunta. Na verdade, no caso, o meu marido trabalha na área de desenvolvimento. Você sabe, o mercado para a área de tecnologia é bem aquecido. Ele começou a receber alguns contatos, e a gente, como família, a gente falou assim: “Puxa, se houver oportunidade de morar um tempo fora, isso seria bem interessante”, por vários aspectos, uma pela experiência de trabalho mesmo, outra pela oportunidade, de repente, estudar algo fora. E a gente tem uma filha, então a possibilidade é também dela poder crescer em outro ambiente, ia ser bem bacana. Então a gente começou a apostar nisso, começamos a falar: “Se aparecer alguma oportunidade de trabalho fora, vamos nessa”. E foi o que aconteceu. No caso, aconteceu para ele e a gente resolveu topar a aventura. Mas eu acho que hoje em dia, a impressão que eu tenho é que tem muita oportunidade, não só para quem desenvolve, a gente vê muita entrada de designer também, só exige um pouco de coragem aí, no final das contas.

O mercado de tecnologia hoje, não só para quem desenvolve, mas para quem dá todo o apoio durante a cadeia produtiva ali, pessoas agilistas, designers, pesquisadoras.

Luciana – Exato.

Você enfatizou a questão do inglês ali. Você disse: “Ah, o meu inglês estava enferrujado”. Por que você falou disso?

Luciana – Porque eu estava há alguns anos sem estudar inglês de verdade, e como essa mudança toda não foi exatamente uma coisa super planejada, foi meio que aconteceu, eu não estava realmente me preparando para isso. Quando eu mudei para cá, eu falei: “Gente, eu preciso dar uma atualizada no inglês”. Eu passei, acho que os seis primeiros meses super em aulas intensivas para desenferrujar, porque eu falei: “Não dá”. Tanto que a primeira entrevista de emprego que eu fui, que eu ainda estava com o inglês super enferrujado, foi um desastre. No final eu estava pedindo desculpa para o cara, eu falei: “Nossa, desculpa por isso”. Eu estava realmente sem praticar o inglês há muito tempo. Onde eu trabalhava no Brasil eu também não tinha que falar inglês, então foi um processo de reaprender mesmo.

Porque a gente sabe que o inglês no Brasil tem algumas questões, uma delas é que a grande maioria das pessoas não tem acesso a um ensino de inglês de qualidade, especialmente, as pessoas que não tem tanto acesso a outras coisas também, incluindo o inglês. O quanto a gente tenta, na sua visão, chegar lá e se dar conta que: “Peraí, eu vou ter que aprender o inglês de uma outra forma, de uma outra maneira”, porque isso afeta de alguma forma o seu desempenho como profissional. O quanto esse desenvolvimento da língua inglesa afetou ou, pelo menos, mudou a percepção das outras pessoas que iriam trabalhar contigo, acerca da sua performance, da sua qualidade como profissional?

Luciana – Eu acho que foi uma mistura de duas coisas, um é, às vezes, tem pessoas que não estão ou não possuem o inglês super afiado, mas elas têm confiança suficiente. Então, mesmo ela sabendo que não está com o inglês maravilhoso, ela se desenrola. Mas no meu caso, por estar muito… ou por ter uma super cobrança interna, eu falar “não está legal”, então isso acabava sabotando ainda mais a possibilidade de expressão. E eu sentia que, como designer, que em grande parte do tempo eu tenho que explicar o que eu estou fazendo, por que eu estou fazendo, justificar de alguma maneira, conversar com as pessoas, negociar, ou seja, tudo isso é muito na base da conversa mesmo, do poder de comunicação. Então, para mim, eu acho que juntou o fato de eu me autocobrar de estar com o inglês muito em dia, e pensar comigo: “Nossa, eu preciso ter o inglês muito bom para poder fazer tudo isso”, sei lá, tem um pouco da síndrome de impostor quando você acha que não está conseguindo se expressar direito. E uma coisa que eu percebi com o tempo é que as pessoas com quem você vai trabalhar, não necessariamente, também possuem o inglês tão maravilhoso, mas a gente se encontra no meio do caminho. Então, você tem que explicar o negócio, você desenha um outro negócio e, no final das contas, dá certo, a gente se desenrola. Mas no começo, quando eu vim para cá, eu falei: “Gente de Deus, eu não estou conseguindo me expressar”, e você fica com essa autoconsciência de que não está bom, aí sai menos ainda. Então, nesse ponto não foi só a prática de inglês, mas acho que a confiança, ir ganhando confiança assim: “Ok, não está muito bom, mas está indo e no final das contas, a gente se entende.

Só para fechar esse assunto, as empresas cobram muito o inglês de pessoas de fora, ou isso é um mito que a gente cria? É uma visão errada que a gente tem? Tipo: “Eu não vou entrar, eu não vou me inscrever, ou, não vou entrar no processo seletivo para X empresa, porque o meu inglês não é bom”. Como é isso, na sua visão? É real?

Luciana – Eu acho que é óbvio que se você não conseguir nem o mínimo para se comunicar, vai ser complicado. Mas eu acho que é muito mais uma questão de confiança no que você está explicando, confiança no que você está falando, do que de fato a qualidade ou o quanto você sabe do inglês. Eu acho que se você for com uma dose boa de confiança, com calma, eu acho que isso vale mais do que o inglês perfeito, porque eu acho que ninguém tem o inglês perfeito, até quem nasceu falando inglês não tem o inglês perfeito. Então acho que é mais conseguir transmitir, que assim, eu sei o que eu estou fazendo, eu entendo do que eu estou fazendo aqui, mais em realmente ter essa confiança do que ter o inglês perfeito mesmo. Porque as empresas que entrevistam, elas sabem que você não é de lá. Tudo bem, elas entendem que você está falando uma outra língua que não é a sua, assim como vários outros. E tem um lance, eu acho, quanto mais você se expõe ao idioma, mais você aprende. Então é melhor você falar assim: “Vou fazer mil entrevistas”, e você sabe que as primeiras, de repente, o inglês não vai estar aquela beleza, mas tudo bem, se você não vai treinando isso, quando chegar aquela vaga que você fala: “Puts, eu quero muito essa vaga”, aí você não vai ter treinado antes. Então essa foi outra coisa que eu percebi muito, porque eu ficava pensando: “Não, eu tenho que treinar para estar preparada”, e eu percebi que não, eu comecei a me candidatar para tudo que aparecia, eu ia em todas as entrevistas que apareciam, porque aquilo para mim era como se fosse uma aula de inglês. Eu ia lá, eu tentava fazer a entrevista e ia aprendendo com aquilo. Aí quando apareciam vagas melhores, eu já estava com o inglês, enfim, eu já conseguia explicar tudo melhor, eu já conseguia falar mais calmamente. Então ajudou bastante.

Muito legal. Essa foi uma ótima dica. Se você não tem o inglês afiado, mas tem vontade de ir para fora… cara, vai, se joga, faz os testes.

Luciana – Não se restrinja, vai. Vai, que você vai aprender mais do que não indo.

Luciana, se você pudesse voltar no início da sua carreira, com todo o conhecimento que você tem hoje, a sua trajetória é bem extensa, o que você diria para o seu “eu” lá de trás? Você mudaria alguma coisa?

Luciana – Boa pergunta essa. Eu não sei se eu mudaria muita coisa não. Eu acho que quando eu comecei a trabalhar, tinha a vantagem de que como eu não tinha nada muito estruturado, ninguém sabia direito para onde iria aquilo. Eu tenho a impressão de que era tudo muito mais divertido nesse ponto, era muito mais de experimentação, sem um sentimento de grandes consequências. Então: “Vamos montar um site aqui em HTML”, “vamos, vamos fazer”. Acho que a gente era meio inconsequente nesse ponto, fazia as coisas, estava dando certo e ia. Não sei, eu acho que o que eu diria é: Continue explorando mesmo. Eu acho que até hoje eu tento manter um pouco essa cabeça assim de aprender coisa nova, e aquele momento lá era muito isso, era muito de descoberta, de saber… apareceu uma coisa nova, podia ser uma tecnologia, podia ser um jeito de trabalhar, o que fosse. Explorar sem medo. Eu acho que continuamos nessa, porque tecnologia muda tanto hoje em dia, sempre.

Eu vou aproveitar essa deixa aí para fazer uma pergunta temporal, mas relacionando com o mercado hoje. Como você vê a utilização de ferramentas prontas hoje que nós temos? Nós temos o Bootstrap, Material, várias bibliotecas prontas para a gente usar e que facilita de alguma forma. Facilita bastante, acelera bastante, a gente consegue ser muito rápido, a gente consegue criar as coisas super rápido e tal. Mas como você vê a questão… lembra quando a gente usava o flash, que era assim: Meu Deus, eu tenho uma tela em branco, eu não tenho nada aqui, vou ter que colocar coisas aqui para dentro. E eventualmente, saíam coisas horríveis, mas saíram muitas coisas boas naquela época, tem várias coisas que são interessantes, que a gente olha até hoje: “Nossa, essas agências, esses designers faziam isso em 2002, 2003, 2004”. Como você vê a homogeneização do design? Por exemplo, quando a gente fala de um produto. Vamos pegar um exemplo, um elemento como o perfil do usuário: Todos os perfis dos usuários são uma bolinha, uma elipse, e tem uma fotinha ali dentro. Aí você entra no produto A, B, C, D, parece que todos os perfis são uma bolinha com um rosto humano lá dentro. É a única forma de fazer isso? Como você vê isso? Por um lado, facilita, porque você bate o olho e as pessoas entendem aquilo como padrão, mas quanto é você… “tá, mas aonde que eu estou? Será que não é o mesmo produto que eu estava usando antes”?

Luciana – É até engraçado, às vezes, eu olho o Facebook e o LinkedIn, por um segundo eu falo: “Aonde estou mesmo”? Os dois começam a ser tão parecidos, até a cor, e tudo mais. Mas eu acho que existem vantagens em ter bibliotecas que todas as plataformas usam, compartilhadas. Eu acho que uma das grandes vantagens é que as pessoas não precisam aprender do zero como usar aquilo, então eu acho que, óbvio, tem a vantagem de facilitar para quem desenvolve, porque já existem certos padrões, mas também eu fico pensando em quem usa, essa pessoa não tem que aprender do zero toda vez, porque afinal de contas, por exemplo, uma página de perfil de usuário, eu estou lá para ficar descobrindo ou para decifrar essa página, eu quero saber as informações que estão lá. Então, nesse ponto, não ter essa curva de aprendizado para cada página de perfil que eu vejo, é uma vantagem. Eu consigo cortar caminhos de aprendizado com isso. Mas eu concordo contigo que, em partes, a gente perde um pouco a questão da exploração, parece que antes a gente tinha menos medo de ousar, de falar: “Vou fazer uma coisa diferentona aqui. Vou experimentar uma coisa diferente mesmo”. Hoje em dia, a gente acaba se prendendo um pouco mais a esses padrões. Eu fico pensando: A gente, por exemplo, usa muito design system hoje em dia, as empresas possuem. Por um lado, é ótimo, porque você garante uma consistência, economiza o tempo de desenvolvimento, garante que a coisa não vira um certo Frankenstein. Mas por outro, tem hora que a gente deixa de experimentar, de repente, de arriscar uma coisa diferente por isso. No fundo, eu acho assim, essas bibliotecas todas, elas ajudam muito, tanto para quem desenvolve, quanto para quem usa. Eu acho que, principalmente, eu vejo a vantagem para quem usa. Mas o problema todo é quando a gente começa a achar que todo mundo que usa é igual, porque no final das contas, a biblioteca faz isso, ela tende a entender que todo mundo que usa é meio parecido, vamos dizer assim, e você para de pensar que, de repente, as pessoas que estão usando o seu produto precisam de alguma coisa diferente, elas demandam alguma coisa especial. E aí, o risco é você ignorar esse lado, e simplesmente ir no piloto automático. Eu vejo um pouco por aí. Óbvio que dá para usar, mas tem sempre que estar prestando atenção se aquilo realmente está resolvendo os problemas para o seu público.

Eu vou fazer uma ponderação aqui. Eu fui chamado algumas vezes para alguns trabalhos, aonde se utilizava a ferramenta Material, Bootstrap. Utilizavam essas bibliotecas, que serviam de base para a construção do design system. Por que o produto era um Frankenstein, se as pessoas tinham a biblioteca à disposição?

Luciana – É que mesmo você tendo a biblioteca, não quer necessariamente dizer que todo mundo que vai implementar entende a biblioteca do mesmo jeito. Eu acho que não basta ter a ferramenta em si, no final das contas, precisa ter algumas pessoas dentro do grupo que desenvolve que consegue orientar, consegue cuidar um pouco da consistência. Eu acho que não adianta você entregar um material, um guia de uso, por exemplo, um style guide, vamos dizer assim, entre aspas aqui. Por melhor que seja esse material, sempre vai ter um espaço para a interpretação humana. Então, as pessoas olham aquele componente e falam: “Acho que serve para isso. Acho que eu posso usar para aquilo”, e aí não tem jeito, sempre que tem gente no meio, as coisas sempre podem ir para caminhos não esperados. No final das contas, acho que é como desenhar o produto mesmo, quando a gente está desenhando a gente imagina que as pessoas vão usar de determinadas maneiras, e quando você vai fazer teste de usabilidade, por exemplo, você percebe que as pessoas são muito criativas, usam os produtos de todos os jeitos possíveis. Então não tem muito jeito, eu acho que não basta ter a ferramenta em si bem-feita, você tem que ter pessoas junto, que consigam trabalhar, que consigam manter uma certa coesão nisso. Se não tiver, não funciona. Acho que não tem nenhuma ferramenta estática, eu vejo isso um pouco na empresa, o design system todo dia a gente tem discussão em cima de alguma coisa, todo dia tem algo que… o produto vai evoluir, o que a gente está fazendo evolui para algum lado, não tem jeito. E não dá para simplesmente estar sempre usando as mesmas coisas, sem pensar nessa evolução.

Luciana, você já trabalhou muito tempo no mercado brasileiro, e hoje você está trabalhando na Europa, como você disse. Então, levando em consideração isso, e a gente falando sobre cultura. Na sua opinião, qual é a principal diferença entre esses dois mercados?

Luciana – Eu acho, da minha experiência, eu trabalhei em algumas empresas no Brasil, não conheço todas, e eu conheço basicamente uma empresa aqui na Suécia. Então vou falar sobre o que eu conheço. A minha impressão é que no Brasil, no geral, a gente tinha sempre uma urgência maior em colocar as coisas para acontecer, então os prazos geralmente eram mais curtos, a gente tinha que fazer acontecer num prazo sempre muito menor, por mil motivos, pela situação econômica do Brasil, o mercado é muito mais competitivo e tudo mais. Aqui, no geral, a gente tem muito mais tempo para fazer, porque eles entendem que você vai fazer pesquisa, você vai conversar com as pessoas, você vai testar protótipos, você vai fazer pesquisa A com o seu protótipo. Então, quando você propõe: “Olha, vou fazer um mês de discovery”, as pessoas não tendem a achar isso muito esquisito, eles vão achar: “Ok, você precisa de um mês para fazer o discovery, vai lá e faz”. Então, parece que há um senso de urgência menor e que permite, de repente, às vezes, você explorar mais possibilidades. Por outro lado, a minha sensação é que o Brasil tinha um mercado muito mais dinâmico, onde eu trabalhava tinha sempre uma certa… não sei, era mais animado, nesse ponto. Você sempre tinha assim: “Puts, vamos fazer esse negócio, vamos fazer esse projeto para a semana que vem. Vamos fazer”, isso fazia com que a gente tinha que fazer, sei lá, pesquisa em 1 dia, “tá, descobrimos isso. Vamos colocar isso no ar, vamos testar”. Então, esse dinamismo, de certa maneira, era muito bacana. Era como se a gente tivesse menos medo de arriscar, de repente, e vamos testar, vamos ver o que sai disso. E aqui, por outro lado, eu acho que você ganha nesse tempo de experimentação todo, mas você se sente um pouco menos dinâmico. O que mais? Eu acho que trabalhar com brasileiro, no geral, é mais divertido, porque as pessoas são mais descontraídas, aqui as pessoas tendem a ser mais reservadas. É o que todo mundo fala, então as pessoas, no geral, são um pouco mais reservadas. Mas aí, às vezes, é uma questão de tempo, eu já acho que hoje, lá dentro da empresa, no time onde eu trabalho, a gente já fala um monte de coisa, já tem muito menos receio de se expressar.

A gente sabe que o design hoje em dia está muito mais global, uma coisa muito mais mundial, digamos assim. Na sua opinião, quais são as principais habilidades, tanto hard, como no soft skills, que um product designer deve ter, independente do lugar onde esteja?

Luciana – Eu acho que em termos de soft skill, está muito aberto para outras culturas. Eu acho que a gente sempre vai ter uma certa limitação no que a gente consegue aprender dessas outras culturas, mas eu vejo, a gente faz o produto e oferece esse produto em diferentes mercados, diferentes países. Eu percebo que a relação com as pessoas, dependendo do país, essa relação com o produto é diferente, então está muito aberto para entender: Como as pessoas estão se relacionando com o meu produto? Qual valor que elas dão para isso? E tudo mais. Eu vou dar um exemplo que onde eu trabalho, ele é muito ligado com a parte de imposto e taxação, lá dentro do serviço. O que eu percebi? Dependendo do mercado em que a gente oferece, dependendo do país, as pessoas são muito mais preocupadas em manter as coisas de imposto certinhas, e tudo mais, em outros países, por exemplo, elas não estão tão preocupadas assim. Então, tem algumas nuances que a gente precisa entender um pouco de cada país que a gente está oferecendo. Eu acho que em termos também de soft skill, e isso não é tão ligado no desenho do produto em si, direto, mas eu acho que super influencia, que é realmente, aí é trabalhar com pessoas de diferentes lugares, que eu acho que esse é outro aprendizado. Então você vai trabalhar em times com pessoas de vários lugares. Eu já trabalhei com pessoas que vieram da China, do Afeganistão, da Rússia, do Egito, da Turquia, enfim, é só para citar alguns, eu já trabalhei até com sueco, eu consegui até trabalhar com sueco aqui nessa terra. Mas é aprender um pouco também da cultura dessas pessoas, porque, na verdade, quanto melhor a sua integração com as pessoas do seu time, no final melhora o resultado. Então, eu acho que essa parte de soft skill interna, do desenvolvimento do produto, também é importante. Em termos de hard skill, eu nem sei se pesquisa a gente põe em soft ou hard skill, é um pouco dos dois. Eu acho que também fazer pesquisa com o usuário em diferentes países, é uma coisa que a gente faz, mas a gente é muito sentindo as limitações, a gente não entende a piada que o alemão vai contar, por exemplo. Eu não tenho o repertório dele. Então a gente tem que estar ciente dessas limitações, mas ao mesmo tempo, tem que estar aberto a estar conversando com pessoas de outros lugares. Eu acho que aí é bem hard skill mesmo, tem coisas que eu fui aprendendo. Por exemplo, eu faço um produto que vai estar traduzido em algumas línguas, será que aquele botão comporta um label em finlandês, por exemplo? Será que cabe um texto em alemão, sem ficar o view no meu aplicativo muito esquisito? Então, as outras coisas que você vai aprendendo com o tempo e você fala… A sua tela desenhada bonitinha, com o texto em inglês, a hora que você passa para o finlandês desmonta tudo. Então, tem algumas técnicas também que eu fui aprendendo a observar com o tempo.

Que dica você daria para quem está começando agora ou está querendo entrar no mercado de design? Na sua opinião, quais são as características principais para uma pessoa que está entrando no mercado de design, aprendendo?       

Luciana – Puxa vida. Bom, hoje em dia tem tanto curso. O mercado oferece tanto curso para as pessoas aprenderem. Eu acho que quem puder fazer um curso, tem muito material gratuito na internet, Medium, etc… Eu acho que o primeiro passo é entender um pouco sobre o processo de design mesmo, tem muita leitura disponível. Então, entender um pouco o que é um processo de criação, o que é um processo de desenvolvimento, de pesquisa, entender sobre metodologias ágeis, porque é geralmente o que você vai encontrar dentro das empresas. Eu não digo a pessoa ser um expert em nada disso, porque ela está começando, mas acho que ter um básico disso é importante. Eu acho que treinar o que é visto na teoria. Eu acho que, às vezes, falta as pessoas colocarem mais a mão na massa. Se você faz um curso, você tem possibilidade de desenvolver alguns cases, o que é super legal, mas eu acho que vale a pena ir para além do curso, tentar desenvolver algum case, entre aspas, da vida real. Pega um projeto que você tem vontade de desenvolver, vai, ver se algum pequeno negócio quer algum tipo de ajuda, nesse sentido. Sair um pouquinho daquela fórmula de bolo que os cursos oferecem, porque um problema que eu acho dos cases de curso é que eles acabam tendo todos a mesma cara e os mesmos passos, e os mesmos entregáveis e tudo mais. E aquilo, não tirando o valor dele, mas aquilo acaba sendo um pouco um case de laboratório. Tentar fazer algo um pouco mais na vida real mesmo, sujar mais as mãos, nesse sentido de ir lá e tentar fazer alguma coisa. Documentar o que você faz, para, de repente, botar num portfólio. Às vezes, a gente se empolga com o trabalho e esquece de documentar as coisas. Eu acho que é um pouco por aí. Eu acho que, principalmente, é ter a oportunidade de, entre aspas, trabalhar com algo, fazer um projeto. Sabe?     

A Luciana acabou de validar a nossa hipótese, Salvador. Eu tenho um curso de product design, que a gente pegou um produto real para colocar na mão das pessoas. Eu disse assim: “Eu cansei de fazer coisas de “faz de conta”, de fingir. Vamos pegar e vamos fazer esse negócio de verdade”, e o impacto disso na vida das pessoas, desde o primeiro dia, as pessoas já sentem assim: “Nossa, é real isso”, sabe? Não é de mentira, tem alguém aqui que está junto com a gente e o produto é de verdade. Então, isso prepara muito mais as pessoas para a vida real, para o mercado mesmo.

Luciana – Assim, eu não invalido os cases de estudo, quando você está aprendendo, porque é realmente seguir a receita. Vamos supor, você nunca fez nada, você vai seguir a receita, maravilha, você aprendeu o que é uma persona, fez um Canvas, enfim, está ótimo. Mas a vida real vai te falar assim: “Tá, eu tenho esse problema aqui” ou “eu acho que eu tenho esse problema”, às vezes, a pessoa nem sabe direito. E aí? Ninguém vai falar assim: “Me dá o Canvas X, a persona, a pesquisa”, ninguém vai falar assim para você. Então é assim: “Se vira”. Eu acho que uma outra coisa é: Troque ideia com outras pessoas, se possível, procure uma mentoria séria, uma mentoria legal, porque eu acho que a gente aprende muito conversando com outras pessoas. Eu acho que a combinação entre tentar fazer algo de verdade e ter alguém para te dar um feedback, ou alguma orientação, eu acho isso super legal, porque, às vezes, a gente tenta fazer algo na real, e como não tem experiência, fica meio sem saber se está fazendo certo, como posso fazer melhor. E quando você tem alguém para te mentorar, para te dar um feedback, eu acho que é super valioso. Eu aprendi muito, acho que em toda a carreira, tentando fazer coisa, conseguindo mostrar para alguém e alguém falando assim: “Ah, e se você fizer assim e assado”? E o resultado fica muito melhor.

Você tocou no ponto de portfólio. Hoje, acompanhando muito o mercado aqui, as pessoas que estão iniciando na carreira, elas têm essa preocupação, tipo: “Ah, eu preciso de um portfólio”. Eu queria saber a sua opinião, você acha que o portfólio… sim, ele tem uma certa relevância, mas é a principal coisa que essas pessoas têm que focar?

Luciana – Não, eu acho que o portfólio é importante, no sentido de… aqui, pelo menos, todo emprego que eu vejo para aplicar, eles pedem portfólio. Então, dependendo de onde você está procurando, ele pode ser importante. Mas eu acho que tem um foco que troca a ordem das coisas. O portfólio é uma consequência do que você já fez na vida, ele vem depois. Então, o foco das pessoas devia ser ter a vivência de algum jeito. O portfólio é um resumo, é uma consequência das coisas que você fez nessa vida. Tudo bem, “eu só fiz uns cursos”, tudo bem, você põe aquilo ali. Mas ele não é, por si só, ele não é o principal, ele vai ser um jeito de você contar a sua história. É que você, no geral, precisa ter alguma coisa organizada para contar a sua história, dependendo de onde você vai trabalhar. Mas eu acho que o que se inverte é que, assim: Eu não tenho vivência alguma, mas eu preciso ter o portfólio, aí é tipo ter um pastel de vento, não tem nenhum conteúdo nisso. Eu não sei como que tem sido o processo de seleção no Brasil, exatamente, aqui o que eu vejo, as vagas geralmente pedem o portfólio. Mas é o que eu falei, o que se espera no portfólio é uma espécie de… é como pedir um currículo. O currículo é também um jeito de você contar a sua história. Se você não tem uma história exatamente para colocar lá, vamos dizer, você tem que estruturar a sua história para colocar lá. O mais importante é a história, não o portfólio em si.

A história é muito importante. Por isso eu vou perguntar sobre a sua história, Luciana. Sobre ser imigrante em outro país: Como é ser uma imigrante em outro país? Você já se sente naturalizada ou tem algum preconceito por você ser brasileira? Você sofre alguma coisa? Você tem que mostrar mais o seu valor do que seria no seu país? Como que é isso?

Luciana – Tem gente que fala que quando você é imigrante você nunca vai fazer parte daquele lugar de verdade. Eu não sei se daqui a 10, 20 anos eu vou estar falando uma coisa diferente. Mas sim, eu não sou uma sueca, eu não sou uma pessoa sueca, eu não tenho essa história aqui, eu não tenho a cultura da mesma maneira que eles têm. Eu acho que existe sim um nível de preconceito contra o imigrante, mesmo se você vem trabalhar aqui na empresa de tecnologia, tem pessoas que têm preconceito, não é a maioria das pessoas. Geralmente, as pessoas não vão te tratar mal, mas, às vezes, você encontra uma coisa ou outra que é meio desagradável. Não sei muito o que te dizer, Josias. Você acaba sendo um pouco um estranho no ninho sempre, mas você também convive com isso, não é uma coisa que eu fale: “Ah, impossível”, não, é ok. Às vezes, você encontra alguém que você fala: “Não está sendo super legal”, mas “bola para frente”. Existem algumas coisas que eu acho mais difícil. Quando você encontra pessoas que são um pouco mais reservadas, vamos colocar assim, com pessoas que não são daqui, às vezes, para mim é mais difícil agendar entrevista para entrevistar o usuário, por exemplo, entrevistar as pessoas. Eles batem o nome no meu olho e falam: “Essa pessoa não é daqui”. Como que eu sei isso? Toda vez que a gente faz esses mutirões para recrutar gente, eu vejo taxa de resposta, por exemplo.

Você consegue acompanhar?

Luciana – Eu consigo acompanhar isso. Para você ter uma ideia, por exemplo, a comunicação que a gente manda, o e-mail que a gente manda para as pessoas, é um template aquilo, não é que eu escrevi algo estranho no e-mail, não, é um copy page, então você percebe assim: “Será que está rolando alguma coisa aqui”? E uma coisa que eu falei, eu acho que a minoria das pessoas mesmo, é uma minoria que você encontra que dá essa sensação esquisita, mas eu acho que entender um pouco sobre microagressão, foi uma coisa que me ajudou muito a identificar esse tipo de coisa. Porque você tende a entender esse preconceito como uma coisa muito escancarada, e aí você percebe que, às vezes, não é assim tão escancarado. Eu diria assim: Não tenha medo desse tipo de coisa, se você tiver planos, se quem tiver ouvindo tiver planos em experimentar outro país, não tenha medo disso, porque geralmente é, de fato, uma minoria, que, às vezes, eles são meio barulhentos. Mas também venha preparado, sabendo que tem níveis de reação, e muitas vezes eles estão nessas microagressões. Eu já tive situações de trabalho, onde as pessoas ficam falando numa outra língua. Numa empresa aqui, por exemplo, tem que se falar em inglês o tempo todo, e você fala: “Olha, já pedi para falar em inglês pela décima vez”, e a coisa continua, aí você fala: “Hum, pera”. Um fato quando as pessoas, em algumas situações, que não te chamam para uma reunião. Então, tem algumas situações, conforme a constância da coisa, com a repetição, você fala assim: “Pera, tem algo que está meio estranho aqui”, mas muitas vezes elas são sutis, está ligada nessas coisas.

É muito bom saber disso, porque muitas vezes a gente escuta assim: “Trabalhar fora é muito melhor. É muito melhor receber em euro”. Mas tem um outro lado, não são tudo flores, você tem que lidar com algumas situações, aprender a lidar com as situações, porque faz parte do próprio desenvolvimento. Que certamente, o quanto você ser exposta a esse tipo de situação também te fez mais forte, te fez entender outras coisas.

Luciana – Sim. Na verdade, se a gente parar para pensar, em qualquer lugar vai ter algum tipo de desafio. Vamos colocar assim. Eu acho que no Brasil você encontra desafios diferentes, aqui você vai encontrar outros. Provavelmente, em outros lugares vão ser também outros tipos de desafios para encarar. Eu acho que quando a pessoa vem com a cabeça aberta, em termos de aprendizado, enfim, no geral, está tudo bem, a gente aprende ali a lidar com as coisas e aprende que faz parte mesmo, faz parte do aprendizado de vida mesmo. Percalços assim acontecem em todos os lugares.

Sim, faz parte.

Luciana – Faz parte.

Escolhendo um caminho ou outro, nós escolhemos os sabores e dissabores desse caminho, e a gente só vai saber quando a gente caminhar por ele.

Luciana – Exato. Eu acho que assim, uma coisa quando a gente mudou, que a gente tinha muito em mente, a gente ainda tem, na verdade, se a gente não gostar a gente volta. Se a gente achar que não deu certo, a gente pega e volta para o Brasil. Por que não? Ninguém disse que não pode fazer isso. Mesmo que você passe um tempo fora e resolva voltar, você traz toda uma bagagem, eu acho que você traz toda experiência. Isso ninguém tira de você.

Sim, e é incrível. Luciana, alguma pergunta que nós deveríamos ter feito e não fizemos para você, e você gostaria de responder?

Luciana – Não sei, eu acho que não. Não sei, Josias. Eu ia falar que uma coisa que eu ando pensando muito é que não importa para onde o designer decida levar a carreira, para estar sempre estudando e aprendendo alguma coisa. Eu estou falando “estudando”, entre aspas, porque não precisa ir para uma escola formal para fazer isso. Esse ano, por exemplo, eu comecei a desenvolver uma coisa que eu nunca tinha feito, que era trabalhar com acessibilidade. No começo eu estava meio desesperada, eu falei: “Nossa, eu nunca fiz exatamente isso”, hoje em dia eu estou achando incrível. Então, eu acho que por mais tempo que a gente tenha de trabalho, sempre tem alguma coisa nova para a gente aprender. Toda vez que a gente encontra coisa nova, é sempre muito estimulante. Eu acho que o legal é ir atrás de coisas novas para aprender. Quando você estiver meio de bode da vida, sem saber o que fazer, fala assim: “poxa, tem tanta coisa acontecendo no mundo. O que eu vou estudar aqui”? Hoje em dia tem tanta coisa, enfim, inteligência artificial, sei lá, tem tanta coisa acontecendo no mundo para se estudar. Não fiquem parados.

Muito bom, Luciana. Muito obrigado por essa mensagem “continuem estudando, continuem aprendendo”.

Luciana – Exato.

Muito obrigado pelo o seu tempo, pela sua paciência, por responder tão atentamente todas as nossas perguntas. Espero que tenha sido tão bom para você, quanto foi para a gente poder te escutar.

Luciana – Foi muito bacana. Muito obrigada pelo convite. Espero que seja útil o que eu consegui compartilhar com vocês. Valeu.