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TEMPORADA 2 - EPISÓDIO 5

Michel Ferreira

Temporada 2 Episódio 5 – Michel Ferreira
PROJETO: Desenhando Produtos
TRANSCRIÇÃO: Lady González

Michel Ferreira é um designer brasileiro vivendo em Sydney, Australia onde ele trabalha como Design Manager na Atlassian. Antes disso ele foi Designer de produto da Shopify no Canadá e da Booking na Holanda. Michel trabalha com Design há mais de 20 anos e mentor no ADPlist e o host do podcast Latinxs who design podcast, focado em ressaltar grandes nomes de design da América Latina.

Como escritor e palestrante, Michel viajou vários países onde ele apresentou novos conceitos em design e explorou melhores práticas pra times e organizações.

Livros

Culture Map

Scale: The Universal Laws of Life, Growth, and Death in Organisms, Cities, and Companies

Radical Candor

To Sell is Human

Thinking fast and slow

Videos

Adobe Design Summit: Farai Madzima on Bias in Multicultural Teams

Michel Ferreira – The Science of Good Design

Erin Weigel: Lessons learned from working in brick & mortar – Elite Camp 2019

Links

https://www.atlassian.com/team-playbook

https://jobs.lever.co/atlassian?lever-via=aH5bqbOFcG – hiring Atlassian

 

 

Hoje estamos gravando esse episódio com ele que é host e um podcast de design também, na América Latina. Ele é escritor, palestrante e trabalha numa das empresas de maior valor do mundo, Atlassian. Nós vamos falar com ele, Michel Ferreira. E aí Michel, seja muito bem-vindo.

Michel – Obrigado! 

Se apresente, diga de onde veio, o que está fazendo, quais são suas projeções para o futuro e o que gostaria de passar como mensagem da sua vida, da sua história para as pessoas se inspirarem.

 

Michel – Bom, em primeiro lugar estou falando bom dia porque eu estou no futuro, estou na Austrália, moro em Sidney. Para quem não me conhece, Michel Ferreira, design manager na Atlassian na parte de experiência da Jira, um produto que muitas pessoas ou amam ou odeiam, não tem problema, a gente está aqui para fazer e ser melhor. Nós estamos construindo uma plataforma que é a plataforma de Jira que é comandar a equipe que constrói essa plataforma. Estou aqui há quase 2 anos, vim para cá depois de trabalhar em vários lugares no planeta, trabalhei no Canadá, na Holanda, nos Estados Unidos, no Brasil e agora estou aqui. 

A mensagem de vida para os outros: eu acho que a primeira coisa que me vem a cabeça, seja aberto a oportunidades, seja aberto a tentar coisas diferentes e eu vou muito pelo deixa as oportunidades me levarem para o mundo todo, eu sempre fui por aí, deixei as oportunidades fugirem e fui correndo atrás de culturas de empresas que me agradam, você vai ver pela minha experiência que eu fui atrás de cultura, não fui atrás só de tamanho. Se você vai atrás de tamanho, você vai trabalhar na IBM que é gigante, tem nome de mercado, sempre existiu e é estável, mas eu não fui procurando isso, fui procurando a cultura das empresas, a cultura de design dentro delas para poder crescer, sempre procurando qual a próxima coisa que eu quero aprender, então, você vai ver também isso na minha história eu diria. 

A gente estava falando justamente sobre a sua história, como você começou e quando começou tudo era mato, como era no início quando você começou a trabalhar? O que te fez aterrissar no design?

Michel – É muito engraçado, eu sempre falo essa frase, que eu comecei quando era mato, eu sou do Rio, morava na Barra e o pessoal que mora na Barra tem muito essa frase: “Barra da Tijuca tudo era mato”. Em 1980 não tinha nada na Barra de Tijuca, era mato aquela porcaria. E hoje em dia é um mundo, né? É mais ou menos essa sensação. 

Eu comecei na internet na época de 96, eu não estava nem na faculdade ainda e comecei a fazer blog quando não existia blog, não existia WordPress, não existia nada disso, era um site HTML CSS, eu escrevia na mão mesmo e eu e meus amigos fazíamos piada um contra o outro, era só para isso, não tinha propósito nenhum. Quando eu fui começar a faculdade, eu fazia faculdade de propaganda e marketing, porque não tinha faculdade de design. UX Design não existia, não fazia sentido. O que eu fui inspirado por design, foi por filmes. 

Eu via muito filme, sou fanático por cinema e a Pixar lançou Toy Story, quando eu vi aquilo, eu falei: “caraca, é isso que eu quero fazer, quero fazer filme, quero fazer 3D, vou aprender esse negócio”. E aí eu fui fazer curso de 3D no Rio, um pouco antes de começar a faculdade, meus 3Ds eram muito cartoon, era muito desenho animado, o pessoal fazia tudo focado em game, era tudo mais realista. E os professores falaram: “não, isso não vai dar certo para você, seu papel não é designer, você não vai fazer isso”. E sempre que me falam: “você não vai fazer isso”, eu vou contra, eu vou e bato naquela tecla a mais. Mas não existia a faculdade para isso, tentei faculdade fora do país, eu não tinha grana para fazer, eu não tinha grana nem para fazer a faculdade dentro do país, então, eu corri atrás de uma faculdade no Rio de propaganda e marketing que era o mais próximo que eu achei. 

Na faculdade de propaganda e marketing, eu continuei fazendo belos sites e para bancar a faculdade, acabei fazendo o site da faculdade das semanas de marketing que eles tinham, dos eventos de marketing que eles tinham. Um dos professores viu aquilo e falou: “cara, tu tem que vir trabalhar comigo, você sabe de internet e ninguém sabe essa porcaria, vem para trabalhar na minha empresa”. E aí eu virei estagiário, devia ser em 97 isso, numa agência que o cara tinha acabado de comprar e que depois foi vendida para o iBest. E aí começa a história, eu fui trabalhar no iBest, para quem não conhece o iBest, de novo, para quem lembra da história do passado da internet brasileira, o iBest era gigante no Brasil, ganhava prêmio de internet, todo mundo queria ganhar iBest, era uma competição, “tenho 5 iBest”, praticamente era uma historinha que todo mundo queria. Eu fui trabalhar lá construído site. E eu não tinha nenhuma noção de design, HTML, meu papel era escrever HTML na mão, entra no site, clica em cada página porque era assim que funcionava e naquela página você altera o HTML, salva e publica. Tudo na marra, não existia nada que hoje em dia existe para facilitar a criação de produtos. O que me ajudou, porque eu aprendi tudo muito do começo, o difícil. Meu papel sempre foi: como vou fazer isso mais fácil? Como eu ajudo os designers da minha empresa a fazerem mais fácil? Sempre virou meu foco de vida, fazer mais fácil. Bem no comecinho foi isso, foi no iBest, trabalhei em várias agências no Rio, comecei a dar aula no Senac, sempre gostei de dar aula, eu dominava Photoshop, Illustrator e Flash, eu tirei certificação ACE (Adobe Certified Expert) de todos esses produtos para poder dar aula no Senac no Rio. 

Era muito engraçada a minha vida, porque o Senac do Rio era no prédio do Consultado Americano, para você ir para o Senac, se você fosse professor, você tinha que ir de terno e gravata. Então, você imagina, eu morava no Recreio no Rio de Janeiro, que é bem longe do centro da cidade, eu tinha que ir de terno e gravata para o Leblon para trabalhar numa agência durante o dia, todo mundo olhava: “que porcaria é essa? O que ele está fazendo numa agência de terno e gravata”? Todo mundo doidão na porcaria da agência e eu lá de terno e gravata. 

E de lá eu ia para o centro da cidade para dar aula de noite. E aí saía do centro da cidade por volta de meia noite para voltar para o Recreio, chegava quase na hora de ir embora de novo. E outra coisa que eu sempre falo também, o Rio de Janeiro por volta de meia noite, saía de lá, é Gotham City sem Batman, é uma zona, você fica morrendo de medo. Isso era minha vida, eu achava nessa época que a minha possibilidade de vida era: “eu tenho que sair daqui, tenho que trabalhar fora, eu tenho que conseguir uma oportunidade de trabalhar nas empresas que realmente fazem a internet”, era assim que eu pensava. 

Mas isso existia na minha cabeça porque eu sempre falei em inglês, me formei num curso de inglês quando tinha 15 anos, virei intérprete da NBA durante um tempo no Rio, com isso eu pensei: “eu tenho inglês, eu posso botar meu nome no mercado, eu posso botar meu currículo para fora”. E o meu currículo existia na internet durante muito tempo, eu recebia propostas, quando eu respondia, as empresas falavam: “você não está nos Estados Unidos, não pode contratar”. Um dia deu a louca: “e aí, e se eu for para os Estados Unidos”? Eu fui, peguei as malas, eu falei: “vou aplicar para uma dessas empresas”, nessa época a grande ainda era a Yahoo. Vou aplicar para Yahoo e trabalhar na maior empresa que eu conseguir achar. 

Apliquei para Yahoo, me chamaram para o processo de entrevista, eu estava nos Estados Unidos, eu estava na Flórida e eles iam me levar para a Califórnia para a entrevista. Eu lembro disso até hoje, estava com tudo lá, tudo planejado, todos os planos possíveis para poder trabalhar no Yahoo e na semana que eu ia viajar para a Califórnia para a entrevista, o Yahoo teve uma proposta de compra da Microsoft, eles cancelaram toda a contratação, tiveram que congelar a contratação. E eu estava com a entrevista marcada, eu ainda tenho o e-mail até hoje lá no Gmail em algum lugar com as 8 pessoas que iam me entrevistar, iam ser 8 horas de entrevista, o dia inteiro e um painel de entrevistas, era uma coisa de louco aquilo. 

De novo, naquela época as pessoas chamavam o cargo de Web Master, a gente está falando bem do início da internet, meio decepcionado com o fato de que eu não ia trabalhar no Yahoo, eu não queria voltar para o Brasil. Então, apliquei para um monte de empresas, acabei aplicando para uma agenciazinha de publicidade e design, na Califórnia, que queria contratar alguém que tinha experiência, que conhecia design, eu já estava trabalhando no Brasil há pelo menos 10 anos nessa época. E aí eu fui parar na Califórnia, não fui trabalhar no Vale do Silício, nunca cheguei lá, mas fui trabalhar nessa agência e essa agência acabou trabalhando com várias empresas de produto e fomentou ainda mais minha vontade de ir trabalhar numa empresa de produto. 

Eu trabalhei com eles durante 6 anos, comecei como designer, virei diretor de design da agência, tomei conta da agência inteira. E na Califórnia trabalhei com muitas empresas, essa empresa trabalhava com vários clientes dos Estados Unidos inteiro, a gente tinha que viajar para os Estados Unidos inteiro, encontrar clientes e tudo mais. Foi legal para caramba, foi muita experiência. A vantagem da empresa pequena, uma agência pequena como essa é que eu botava tudo que é chapéu, mas eu virei o diretor de design, comecei a crescer o resto da equipe e fazer a galera aprender, todo mundo estava nós época ainda do Flash quando eu cheguei lá e eu cheguei pensando: “que Flash o que”? A gente está fazendo site Webstender, HTML puro com acessibilidade, vãos botar WordPress na mão de todo mundo para o cliente poder escrever site, eu cheguei com outra mentalidade e tive que ensinar toda essa galera a fazer isso e crescer essa galera nesse sentido. 

Trabalhei com eles por 6 anos, comecei a sentir aquela coceira, aquela vontade de trabalhar naquelas empresas de produto, tinha uma empresa especificamente que eu trabalhei lá, eles me colocaram dentro da empresa e eu tive que fazer parte do grupo de agile deles, aprender a fazer parte do scrum deles e tudo mais, comandar a equipe de design daquela empresa, eu falei: “é isso que eu quero”. Praticamente pedi para eles me contratarem, “me leva”. Vi que continuar nos Estados Unidos era difícil porque a gente estava ne época do Obama, apesar de ser uma promessa da época do Obama, se você lembra um pouco, depois que ele entrou e fez a parte de saúde, é engraçado como política mexe um pouco com a cabeça das pessoas, ainda mais morando fora, o Obama investiu em plano de saúde e com isso ele não pôde investir em imigração, porque a maneira que a política funciona nos Estados Unidos, ele perdeu o capital dele e não podia fazer uma segunda coisa grande. 

E eu vi isso, falei: “não vai dar certo, não vou poder ficar aqui porque ele não vai conseguir melhorar a imigração para pessoas como eu”. Abri o olho e comecei a procurar oportunidades mais para fora do país de repente, não querendo voltar para o Brasil, tentei investir em aplicar para outros lugares, achei uma empresa na Holanda. Na época estava começando o boom da Holanda e da Europa, que foi a Booking.com crescendo. 

Quando eu cheguei lá, tinha por volta de 20 designers, quando eu saí, a gente tinha mais de 200, foi um crescimento louco em 2 anos. Todos os times tinham um designer, imagina, se eu estou falando que tinha 20 designers é porque a gente tinha 20 times, a gente tinha mais de 200 times quando eu saí de lá, os times eram modelos agile mesmo, era um designer, um team leader, um Project manager e 6 ou 7 developers. Era aquilo ali e cada time tinha seu omerch para praticamente uma pequena startup dentro da empresa. Aquilo para mim foi um sonho porque era tudo o que eu queria, era uma empresa de produto e era uma empresa que tinha algo grande para eu aprender. A Booking.com, eles fazem testes, não tem nada do site Booking.com que não tenha sido testado. A gente testou fonte, logo, almoço, nego testava tudo, era ridículo. Porque a frase deles era: “você pode ter várias opiniões”, mas dados ganham de opinião, a gente entre si, a galera brasileira, falava que é que nem sovaco, cada um tem dois e os alguns fedem. 

A gente usava muito dados para poder discutir e conversar como construir coisas. o legal era poder aprender isso, coisas que o Google fazia, hoje em dia o Netflix faz e a Booking estava crescendo nisso, foram 4 anos, foi uma imersão em um curso de design de dados e aprender como usar dados para construir um bom design. Eu até fiz palestras sobre isso, o modelo científico de design existe, é só você querer, não é todo mundo que usa o modelo científico, mas existe, você pode seguir uma hipótese, colocar uma experimentação, testar o modelo, igualzinho o modelo científico, pegar o resultado e aplicar o resultado, você tem o controle, você tem uma base, tem tudo isso, compara um com o outro. A questão é: o designe em si tem que saber que ele não decide, ele não é o dono da verdade. E muitos não entendem isso, isso fazia parte do DNA, “você não é parte da verdade, você tem que aprender que suas ideias são boas, você vai testar suas ideias, se elas funcionarem para o nosso público, então, elas são aplicadas para todo mundo. O que é muito difícil, o designer tirar esse pedal, eu acho que era bem interessante. Mas foi muito bom, diminui o ego para caramba, você vê quantas vezes você está errado, você está 90% das vezes errado, é muito legal, você vai sempre estar sabendo, eu estou pronto para errar de novo. Um colega que eu entrevistei no meu podcast, que é o Leandro, ele usa uma frase genial: “você não tem que estar certo, você tem que estar progressivamente menos errado”. Eu acho lindo isso!

E você está sempre errado, 90% das vezes você está errado, se você aprende a fazer design com dados e aprende que 90% do tempo você está errado, eu tenho que estar testando tudo, porque eu tenho que achar aqueles 10%, tem que achar aquele momento onde está certo agora, não é certo, é certo agora, não é certo amanhã, você não sabe o amanhã, entendeu? Foi meu aprendizado na Booking, achei muito legal, contudo, na vida, tem momentos meio montanha russa, foi um momento de pico maravilhoso, aprendi para caramba e também vi um lado negativo dos dados depois. Então, eu líder um pouco com um pessoal de data Science lá e a gente tinha uma disputa grande, porque a gente estava corrigindo um bug visual no site.

Eu tinha aplicado no site uma icon fonte, para substituir os ícones da empresa. A gente não tinha design systems, a gente não tinha nenhuma coisa que fizesse o site ser consistente entre os designers, então, eu falei: vou mudar isso um pouco, voltei no meu passado e quero fazer ficar melhor para os outros. Já tinha um pouquinho de design nops, eu vou tirar todas as imagens do site, colocar tudo no icon font, ele vai ser mais fácil de achar, você podia digitar a palavra Search, aparecia um iconezinho de Search, você podia digitar a palavra “quarto de quatro pessoas”. Queria facilitar a coisa, mas quando eu fiz isso, criei um bug visual em alguns browsers e aí eu falei: “vou corrigir esse bug, vou achar uma solução”. 

O pessoal de data Science cismava: mesmo sendo um bug visual, você tem que melhorar a conversão do site para poder aplicar a sua solução. E isso não cabia na minha cabeça. Como eu posso corrigir uma coisa que é visual, que eu preciso melhorar para o cliente e ao mesmo tempo ter que me focar na conversão? Não tem benefício de conversão, você não está falando da mesma coisa. Mas era insistência deles, eu acabei vendo que não ia continuar essa mentalidade deles de testar tudo, eu estava vendo que começou a surgir esse problema na minha cabeça com eles e aí comecei a procurar oportunidades fora da Booking. Mas você está na Holanda, o que tem na Holanda nem essa época? Estava surgindo o Uber, surgindo Facebook em Londres e tudo mais, eu já não estava a fim de Facebook, mas Londres e Inglaterra estava caminhando para Brexit, rolou um medo, será que eu vou para a Inglaterra? Será que eu tenho coragem de participar de um Brexit? Uma coisa que a gente não falou é língua eu falo inglês, na Holanda tranquilo eu falar em inglês. 90% das pessoas em Amsterdã falam em inglês, você liga para alguém na Holanda e liga para um médico, uma farmácia: “Oi desculpa, você fala inglês”? “É obvio, eu sou holandês”. É a parada mais engraçada para mim. 

Mas você vai para o interior, você vai para o norte, você tem que falar holandês um pouco, eu tive que falar holandês, na Inglaterra era tranquilo, eu podia morar lá, mas eu estava com medo do Brexit, onde eu não podia morar era na França, na Alemanha, eu tinha medo. Eu vou para a Alemanha e vou ter que aprender mais uma língua, vou para a França aprender francês? Eles nem gostam que fale inglês. Eu visitava a França e tomava esporro de todo mundo, você pede para comprar um bilhete de trem e o cara não quer te explicar em inglês, o cara quer que você fale francês com ele e eu não tenho nenhuma noção de francês. 

Quando eu comecei a procurar essa próxima vaga, tinha que ser um lugar que falava inglês. Você volta para Estados Unidos, Inglaterra, Canadá ou Austrália, aí eu apliquei para algumas empresas no Canadá e na Austrália, tirei a Inglaterra da lista, tirei Estados Unidos porque eu sei que a situação deles de migração ainda é difícil e fui procurar o que tinha de interessante na Austrália, no Canadá. Obviamente no Canadá, o interessante era Shopify e na Austrália era Atlassian, eu apliquei para as duas, corri atrás para caramba de conseguir essas duas vagas, fiquei num dilema muito grande porque eu consegui as duas. 

Eu estava num dos maiores problemas de primeiro mundo onde você tem duas boas oportunidades e não sabe o que escolher. Eu fiquei um mês inteiro pensando para onde eu ia, outra coisa que eu não falei, nessa época na Holanda eu já tinha dois filhos, você não está mudando você, você está mudando a família inteira, levantando todo mundo e indo para Canadá ou Austrália. A minha primeira filha nasceu nos Estados Unidos, a gente mudou para a Holanda, foi tranquilo, mas essa segunda mudança era uma mudança grande, era uma mudança difícil, tinha mais coisa envolvida. Eu optei pelo Canadá porque era mais perto do Brasil, é mais perto dos Estados Unidos, onde eu tinha bastante conforto de conhecer, de viajar, eu gosto de viajar e ver minha irmã, ela mora na Califórnia ainda, eu podia viajar e ver minha irmã ainda, podia encontrar minha mãe na Flórida onde é mais perto entre os dois, podia fazer esse tipo de coisa. Eu praticamente não escolhi a Shopify, eu escolhi o Canadá. 

É engraçado porque a Shopify estava crescendo também, já era uma empresa gigante, ela se acha mais gigante do que era na época, a Booking era muito mais de design do que a Shopify, mas a Shopify se achava gigante. E eu tive um choque cultural gigantesco chegando no Canadá, porque na Booking eram 100 nacionalidades diferentes no mesmo prédio. O meu time era um russo, um chinês, um indiano, eu brasileiro, um americano, todo mundo de um país diferente, de raça diferente, tudo diferente. 

Eu cheguei no Canadá, todo mundo canadense, todo mundo na mesma faculdade, todo mundo entrou praticamente como estagiário e virou design. Nenhum deles gostava de tecnologia e o meu time estava fazendo uma coisa completamente analógica, trabalhado com envio de produtos. Foi um choque gigantesco para quem estava trabalhando numa empresa que testava tudo, que focava no cliente. Eu entrei e era assim: “a FedEx quer lançar um novo produto pela Shopify, o seu time vai construir”. Mas quem quer isso? “A FedEx quer”. Mas eu não construo para a FedEx, eu construo para o usuário. “A FedEx quer e você vai fazer”, foi um choque grande, uma mudança de mentalidade gigantesca. Sem contar que é frio para caramba.

E quanto tempo você ficou lá no Canadá?

Michel – Foram 2 anos inteiros. Mas os dois anos foram uma luta.

E de lá foi para a Austrália?

 

Michel – Fui parar na Austrália. E foi engraçado porque eu estava entre Canadá e Austrália, eu até brinco, escolhi errado, podia ter escolhido a Austrália antes, mas fui parar no Canadá, a gente erra na vida. Podia ter abreviado isso tranquilamente, mas faz parte do aprendizado da vida, você às vezes precisa passar por coisas que te ensinam. Eu sempre procurei a cultura das empresas, a cultura que eles vendem não era a cultura que meu time tinha, tem times que tem essa cultura e isso é muito difícil em empresa grande, às vezes a empresa é tão grande que ela tinha uma área da Shopify que chamava Shopify Core, que é o centro da Shopify. 

Então, aqueles times eram muito focados na cultura mesmo do design, desenvolvimento. Você aprende gigantescamente sobre design systems e como trabalhar em conjunto, como colaborar com times grandes. Só que não era a imagem que eu tinha de fora, que você está sempre lançando coisas novas, sempre produzindo coisas para o cliente, para o usuário. O meu time também era focado no que as empresas precisavam, que a gente lançasse, então, como eu falei, especificamente nesse time era difícil, não funcionava tanto assim para mim, para a minha imagem, que eu tinha. Eu senti uma coceira, falei: “vou tentar melhorar aqui dentro”. Lá dentro eu consegui achar uma brecha onde a gente foi lançar um produto novo. 

É isso, vou me meter nessa brecha, meu time foi construir um sistema onde você tem os armazéns e os clientes Shopify mandam os produtos para os armazéns e de lá a gente manda para o cliente. Isso era novo, eu falei: “é isso que eu vou fazer, vou achar como me enfiar nesse projeto”. Nesse projeto comecei a tomar um pouco conta do time, uma parte do projeto que era dentro do Shopify mesmo, eu fazia parte do time de design, produzindo design e na outra parte eu tomava conta do management de design, focava em ajudar outros designers a crescer e produzir aquilo mais rápido, focar um pouco em não ser só o designer que está produzindo e ser mais manager do time, puxar a galera. Porque eu tinha mais experiência que os outros nessa época já, eu estava tentando trazer a galera para fazer parte desse time, para poder produzir mais. 

E para mudar a mentalidade e tentar ser: “podemos fazer um MVP, podemos lançar isso em 6 meses”? A gente construiu um armazém em 6 meses dentro da empresa e todas as blusas da Shopify que mandam para os outros, boné da Shopify que você manda, tudo foi mandado pelo nosso armazém interno para poder testar o produto, a gente tinha que escanear um código de barras, escanear um label de correio, imprimir um label de correio na hora, fechar as caixas e mandar tudo dentro da empresa para poder testar o nosso sistema. E funcionou, em 6 meses a gente tinha produto, 3 meses depois virou beta e depois logo quando eu saí lançou para o público mesmo e foi um mega lançamento, tem Tweet do CEO da empresa falando do produto e tudo mais. Eu acho que foi uma grande conquista. 

Eu fiquei feliz, foi bastante tempo de pesquisa, em tentar criar um pouco a cultura de sair daquela coisa de: “a gente vai lançar o que ele pediu”, eu tinha saído há quase 1 ano e meio fazendo o mesmo produto e não saiu do papel. E esse produto a gente chegou: “vamos meter a cabeça para virar um MPV”, virou beta, saiu. Então, eu me senti muito bem com isso, eu estava me sentindo muito mal com não ter lançado nada, entendeu? Voltando, frio para caramba, -45º, se alguém perguntar para você se é celsius ou Fahrenheit, você responde: “não importa porque Celsius e Fahrenheit juntam e vira uma coisa só, é quando você descobre que é frio para caramba”. 

E eu já não estava achando que eu ia conseguir ficar lá, entra a vida que você é imigrante, depende da empresa, você depende de um monte de coisas e comecei a procurar oportunidades, lembrei que a Atlassian tinha sido uma entrevista interessante, uma oportunidade boa. Falei: “por que eu não volto atrás e vou falar com a Atlassian”? Óbvio, é uma conversa complicada porque eu tenho mais uma filha, né? Então são 3 crianças.

Isso 2 anos depois praticamente.

Michel – Na verdade, eu olhei um pouco antes, rolou uma decepção muito grande, a Booking você lançava produto todo dia, tudo é um teste. Tudo você sabia que você estava errado, você pode testar para ver se está certo. Na Shopify não, era: “vamos começar a criar essa parada aqui, daqui a 3 anos a gente vai ver se funciona”, era muito distante uma da outra para mim. A distância era gigantesca, você tem que desaprender muita coisa, não acho que a empresa em si está errada, eu acho que eu não encaixava com a cultura. Mas eu precisei estar lá para ver isso, especificamente nesse time, era tudo muito para frente. 

E eu estava acostumado a lançar tudo o tempo todo. Eu lembrei que na Atlassian a conversa tinha sido um pouco diferente. Falei: “vou conversar com eles”. Cara, fiz coisas malucas, não tinha vaga no site, não tinha nada. Entrei no LinkedIn, achei a recrutadora que eu tinha falado há muito tempo atrás, o cara que tinha me chamado mesmo, estava no Facebook de Londres. E tinha uma colega dele, eu falei: “vou chamar essa colega dele e vou falar com ela”. E ela falou: “ai que ótimo que você falou com a gente, a gente está procurando gente sim, só não tem vaga aberta ainda, vou te mandar para a pessoa certa”. 

Aí me mandou para a pessoa certa e eu comecei a falar com essa pessoa. Em menos de um mês, eu estava com uma proposta na mão e saindo do Canadá, foi uma coisa muito louca, eu falei com ela, fiz entrevistas em horários ridículos porque são 08h da manhã e aqui e que horas são aí. Com Canadá e Austrália fiz entrevista às 05h, às 04h, desenhando em whiteboard às 04h, foi uma coisa linda. Passei, tudo na mala, criança na mala, todo mundo na mala, viaja todo mundo para cá e viemos para cá. Não sem seus soluços, sempre tem suas dificuldades, viajar é difícil, antes da pandemia era difícil também, mas imagina viajar com família, cachorro, casa, tudo nas costas. 

A gente teve que botar tudo no storage, ficou no Canadá durante um tempo, a gente veio para cá. E a empresa bancou tudo, me colocou num hotel aqui, colocou com móveis alugados numa casa, fez tudo o que pôde fazer para melhorar a situação, mesmo assim a gente não chegou todo mundo junto, minha família ficou um tempo no Brasil, teve que esperar um tempo para sair a documentação e tudo mais, enquanto eu estava trabalhando. 

Cheguei num domingo, comecei a trabalhar numa segunda. E até a equipe ficou assim: “cara, assim você chegou ontem no Brasil”? Eu fui do Canadá para o Brasil para deixar a família, do Brasil eu vim para cá, praticamente isso em uma semana. E estou aqui, há 2 anos na Austrália. A gente brinca muito, eu vim treinar como usa máscara, porque no verão teve queimadas e a gente teve que ficar usando máscara, logo depois acabou a máscara, aí começa a pandemia, todo mundo teve que usar máscara de novo. Mas a gente está num lugar que não teve muito impacto até agora, a gente ficou muito livre, a Atlassian foi ótima com relação a pandemia, deu equipamento para você trabalhar de casa, eles ajudaram a comprar, tem câmera, tem microfone, a mesa em si. 

Desde que eu cheguei aqui, eles foram uma mãe nesse sentido, cheguei como designer no final, foi uma das mudanças grandes também, meu cargo sempre foi desde que eu saí da agência, era designer e UX designer, as empresas chamam do que querem, para mim não importa muito porque isso é praticamente um título irrelevante, eu acho que os títulos vão mudar muito, eu acho que a gente ainda vai ter muito mais segmentação de título para o futuro. Você vê que o Google ainda não mudou, tem o Interaction e o Vision Design, os dois são uma empresa gigante. 

Mas vim para cá como designer e logo vi que tinha muito para contribuir para o time, tinha uma galera nova, interessada, não era todo mundo australiano, eu acho que é legal essa vibe de ser todo mundo diferente, tem o português, o francês, americana, tem um pessoal na Índia, no meu time mesmo. A gente está em Sidnei, mas a galera está na Índia. A gente trabalha mais ou menos focado nos times on do mundo, nos fusos-horários, a galera da Índia tem um fuso-horário muito parecido com a gente, dá para trabalhar com a gente. 

O que fica difícil é a galera da Inglaterra trabalhar no mesmo fuso-horário que a gente, a galera da Inglaterra trabalha mais no fuso-horário de Nova Iorque. A galera daqui trabalha mais no fuso-horário de Sidnei, a gente divide o mundo em alguns fuso-horários para poder ficar mais fácil. 

Como garantir a consistência na comunicação? Como a Atlassian faz para o time de design em si, para conseguir essa consistência na comunicação?

Michel – Ótima pergunta! Não tem uma resposta assim, tipo, não tem uma resposta que responde tudo. Na verdade, a Atlassian tem vários produtos, Trello, Jira, Confluence, várias coisas que são focadas em trabalho de qualquer maneira. A gente veste muito a camisa da empresa, usa muito os produtos da empresa. E uma das coisas que você aprende quando chega aqui, a gente diz que a Atlassian é uma empresa de Blog, internamente é blog, é o tempo todo escrever. Então, a gente vive no Confluence e se não está no Confluence, não existe, é uma das outras regras da empresa. 

É regra geral, isso faz a diferença, porque o slack é legal para você falar um Oi, para pedir uma coisa e para tirar uma dúvida. Você entra e você resolve. Você vai no Zoom, não dá para ir na mesa de ninguém, não tem mais escritório, você vai no Zoom ou onde você quiser e chama: “Oi, Josias, preciso tirar uma dúvida, vamos falar isso aqui”. Falou, mas essa decisão tem que estar salva em algum lugar, essa história tem que estar salva em algum lugar, a gente cria espaços no Confluence, tem espaços do design time geral, o espaço do design time focado em OPS, tem design time focado em plataforma que é meu time. 

Então, o Jira Platform, o time que faz a plataforma Jira tem um espaço onde todos nós contribuímos e você escreve páginas com pergunta: será que a gente deveria fazer isso? Como a gente pode fazer isso para melhorar para o cliente? Às vezes você tem uma dúvida, uma pergunta, uma provocação, alguma coisa do gênero, você põe numa página. A gente faz páginas para decisões, a gente tem modelos disso, a Atlassian é famosa pelos modelos de página. Você entra no nosso Playbook da Atlassian e tem várias dicas. 

Tem um que chama de DACI, você inclui essa galera toda numa página, você fala: ok, essas são as pessoas que vão tomar a decisão, essas são as que tem que saber, tem os colaboradores e a galera que está informado. Informado às vezes é um monte, meu time de plataforma tem que informar todos os outros times sobre uma coisa que a gente vai lançar, tem que informar todo mundo sobre a mudança na navegação, a pessoa que vai decidir está lá, está esperando check-in daquela pessoa, mas está tudo documentado, isso faz parte da cultura, não foi algo que a gente tem que incluir isso, mudar isso. O que a gente mudou mesmo foi, cada vez que chega uma galera nova, por exemplo, entrou uma pessoa do Uber, uma pessoa que também era da Shopify comigo, a gente vai trazendo algumas coisas da cultura. 

A gente começou a ver que tem que fazer um negócio que chama Shareback, a gente faz umas apresentações em slides para mostrar o que a gente está construindo, como quer construir. O cara trouxe, queria que fosse slide, mas nenhum designer queria fazer slide. Aí entra o Michel e fala: “que tal se a gente fizesse isso no Figma”? Aí eu fui lá criei um sistema de slides no Figma, coloquei para todo mundo, seguindo o padrão do cara, mas no Figma. E você podia linkar do próprio Figma que você estava para outra página do Figma, ficava muito mais fácil mostrar o seu processo e não ter que seguir o modelo de slides. Tudo sempre assim, soluções disponíveis. Esse slide tem que parar no Confluence, se não parar no Confluence não vai ser visto por todo mundo. 

O Figma só vai ser consumido pelos designers muitas vezes. Então, assim, o designer tem que saber que ele não está falando outra língua no sentido que tem que saber falar inglês para morar fora do país, ele está falando a língua do business e a língua do developer, numa empresa grande como essa, onde você tem 10-15 developers num time e um designer. Você é que fala a língua errada, não é o time, você que não sabe falar a língua deles. Então, a gente tinha que botar tudo no Confluence, a gente coloca na página e distribui para todo mundo. E a verdade é que os blogs são vistos, nego comenta no blog, comenta, dá like. E até os CEOs das empresas comentam, você recebe pergunta num Blog: “vocês vão lançar isso? Como criaram isso? Quero saber mais”. E aí você recebe mensagem deles no próprio Confluence e tem que responder, muito legal essa colaboração, funciona muito bem. 

Muito passa, irado mesmo. 

Como foi essa expectativa, não sei se tinha alguma expectativa quando você foi para a Atlassian em relação a virar designer manager, porque você falou que foi como designer. Tinha expectativa de virar manager? Por que virar manager?

Michel – Ótima pergunta! Tinha expectativa sim, na Shopify eu estava caminhando para isso, completamente diferente, título é uma coisa que não serve para nada. Todas as empresas tem uma coisa diferente sobre título, cada empresa tem a sua. Eu não sabia o que significava aqui e o meu portfólio não dava para mostrar de lá para cá, para entrar como manager, era muito mais simples para mim com a quantidade de coisas que eu tinha para mostrar, entrar como designer. Eu estou falando simples aqui, não tem simplicidade nenhuma nisso, é uma entrevista, é um processo, mas o portfólio condizia mais com isso, eu tinha coisa para mostrar com aquilo. 

Então, eu vim como designer lead e entrei na empresa, o foco era crescer nessa área, na área de design. Só que eu vi que o que eu estava fazendo com design, a gente tem 8 ou 10 na minha equipe e tem muita coisa para resolver. E volta o meu chapéu de OPS, eu sempre tive essa mentalidade de OPS, eu quero acelerar os outros, quero fazer os outros serem mais rápidos, quero fazer a equipe produzir mais. 

E eu não penso só no meu time, a gente estava em Sket quando eu cheguei, eu ajudei a equipe a transicionar todo mundo para Figma, foi a empresa inteira e eu participei de m time que não era meu, era de design systems, para ajudar eles a fazer essa mudança. Então sempre rolou essa ideia de acelerar e tentar fazer os outros crescerem e trazer a minha experiência para os outros, a vantagem aqui é que a empresa não se acha gigante, apesar de ser gigante, não tem aquela mentalidade do ego tão grande, quando eu cheguei com a experiência de outros lugares, eles aceitam essas experiências, eles pegam essa experiência e tentam fazer o melhor possível dela. 

E aí conversando com meu manager na época, ele falou: “você tem duas opções, pode escolher virar lead ou manager, a gente experimenta e vê o que funciona para você”. E eu falei: “eu acho que com a minha experiência, eu vou poder contribuir mais, crescer mais outros designers, fazer com que eles se desenvolvam, se eu virar manager, conseguir contribuir para a equipe no crescimento deles e não só no foco de design”. Focar menos no meu impacto com o cliente e focar mais em: “quero fazer melhores designers, melhores times”. Era essa diferença para mim e para quem me conhece, para quem trabalhou comigo, desde a Booking eu fazia isso, focava nisso, só não era manager, mas eu já pensava: “como eu faço o time ser melhor? Como eu faço a gente construir algo que todo mundo vai usar”? O caminho foi esse, a oportunidade surgiu internamente, eles falaram: “vai ter uma vaga, só que você tem que entrevistar para a vaga porque não é seu cargo”. E aí eu tive que fazer uma entrevista interna para isso, fiz a entrevista, o head of design geral de plataforma me entrevistou, falou: “perfeito, assim que a vaga concretizar, a gente coloca você nessa vaga. 

Foi um caminho nesse sentido, teve um processo interno para poder participar, depois treinamento, conferência fora da empresa, dentro da empresa, tudo para crescer ainda mais e aprender ainda mais porque mudou, o seu skill de designer é delivery, execução, lançar produtos, colocar no Figma, mostrar para alguém, praticamente vender a ideia para alguém, depois tirar aquilo lá. Criar os Specs do Confluence, mandar para o time de development, ter certeza que aquilo saiu e foi laçado, hoje em dia eu estou mais focado no que a gente quer lançar nos próximos 6 meses, nos próximos 2 anos, o que o time está construindo hoje, o que o time está construindo para frente. 

Como a gente conecta com os outros times, como a gente cria esse impacto para fora do time? O meu time é muito forte em impactar outros times, em crescer outros times, então, a gente está criando essa cultura interna do time esse é meu papel, ajudar a criar essa cultura interna do time e colocar a galera para frente.

E como é trabalhar tanto e ter família? O que você faz quando não está trabalhando?

Michel – Essa é uma das perguntas mais difíceis sempre. Não tem está explicação, ainda mais agora em lockdown, você tem que ter uma empresa que entende um equilíbrio entre trabalho e vida. E eu não sei funcionar se uma empresa não tiver isso, a verdade é essa, não dá para funcionar se não tiver isso, eu já fiz de tudo que é loucura que você puder imaginar na Califórnia porque a empresa não tinha essa mentalidade, eu às vezes ia para o trabalho às 04h para começar muito cedo, voltar cedo para casa e ter um tempo com a minha filha. Porque eu sei que se eu não fosse muito cedo, ia pegar trânsito. 

E são opções de vida, naquela época eu precisava fazer isso para eu me dar esse tempo. Aqui eu estou trabalhando de casa, meus filhos são ali fora já querendo falar comigo, eu fecho a porta, mas de vez em quando entra a criançada. A galera sabe que faz parte do dia-a-dia, durante a pandemia a gente tem dias de pandemia que a gente tira, são folgas especiais, posso tirar um dia especial para poder dar aula para o meu filho, para ensinar aqui em casa, mas normalmente eu levo as crianças para o colégio, começo o meu dia de trabalho, por volta de 14:30h faço o break para levar o cachorro na rua, para poder buscar meu filho, trago meu filho para casa e trabalho de novo um pouco, sempre quebrando o dia, você tem que aprender a quebrar seu dia e ser honesto sobre. 

A gente tem um contrato social que a gente faz com o time, onde a gente faz uma página no Confluence: “é assim que eu trabalho, assim que é o Michel, se você precisar de mim provavelmente às 08h você não vai conseguir falar comigo, mas de 08h às 12h eu estou ali, vou parar para tirar um break e buscar meu filho, vou voltar e trabalhar esse horário” e de noite eu estou disponível, pode mandar mensagem que eu não me importo, respondo. Assim que eu colocar a molecada para dormir, vou responder. Você criar suas linhas na areia e o time aprender a colaborar com você naquilo. A empresa tem que ser boa e saber ser aberta, a gente teve colegas na Índia que teve tanto caso de Covid, que a empresa inteira falou: “vocês não vão trabalhar dois dias por semana”. 

Não dá para você ver a quantidade de gente morrendo e tendo problema de saúde e você continuar trabalhando todo dia. E a gente teve situações de saúde também ou de trabalho, a pessoa estava cansada, estava sentindo que precisava de um break, a pessoa resolveu trabalhar de domingo a quinta, quer sexta-feira fora, precisa descansar um dia de semana e um dia de silêncio, dia de trabalho focado, a empresa deixou a pessoa trabalhar de domingo a quinta.

O importante é você se sentir bem com seu trabalho, achar uma empresa que permita isso, a nossa empresa é focada no designer e deixar com que o designer tenha a saúde mental dele e o balanço entre família e trabalho. Não respondi sua pergunta, porque no final, todo dia é diferente aqui em casa. Eu ainda tenho uma menina de 13 anos, um menino de 7 anos e uma de 6 anos. O de 7 tem autismo, então a vida cada dia é uma coisa diferente, suas necessidades mudam todo dia. Tem dia que tem que fazer Meeting indo no mercado comprando comida, beleza, está bom. Contanto que você tenha uma equipe que saiba lidar com aquilo.

Você falou que não respondeu à pergunta. Mas eu tomei nota de várias coisas que você falou e disse: “cara, vou usar essa parada de contrato social porque isso é muito massa”. Para mim está mais que respondida.

Michel – Você não só pode fazer um contrato social, como você pode roubar ainda mais, a gente levou o contrato social no Confluence, mas o contrato social na Confluence é para todo mundo, os developers tem, os managers tem, todo mundo tem. Para a galera de design precisa um passo a frente ainda, eu tenho um template que é no Figma, é um cartãozinho, na frente é quem é o jogador, o designer que você está falando, tem uma foto legal da pessoa, o estilo de design do card que a pessoa vai fazer é o estilo que a pessoa gosta, pode ser um design suíço, neon, 3D, quando você vira cartão, são dados sobre a pessoa. 

Quais são os skills que aquele designer tem, ele é focado em visual, em interação, o que ele gosta? Ele é introvertido, é extrovertido? Isso ajuda para caramba, eu criei para o meu time inteiro, outros times fizeram e a gente criou o que a gente chama de play, tem o play book que eu falei, aí eu vou nos outros times, apresento o projeto e a galera cria na hora, a gente dá uma hora para a galera criar o cartãozinho e depois se apresentar para os outros, contrato social definitivamente, eu acho que vale a pena, mas para design ainda faz é mais visual ainda, fica muito legal.

Quero

Queria entrar em outra esfera, a sua carreira, eu vi que você falou da Booking, foi pautada em teste, em dados. E eu queria saber sua opinião justamente disso, qual a importância de usar dados para o designer, para a esfera que a gente está inserido? O que acha disso?

Michel – Eu acho que a língua do business são os dados. A gente entrevistava muito na Booking, para chegar de 20 a 200 pessoas, você imagina quanto a gente não entrevistou gente. E o que a gente sempre via, “pergunta para alguém o que você mudaria na Booking.com”. E 90% do tempo a resposta é: “a fonte de vocês é meio feia, não é muito consistente o site e essa cor aqui”. Isso é muito resposta de designer. E eu entendo, designer tem que gostar de design, mas qual o benefício disso para o usuário? Entra entender dados e business. A linguagem do negócio não é a linguagem do design. O negócio não está focado se a fonte é isso, se a cor é aquilo. 

Está focado em o que você construiu ajuda o usuário, se ajuda o usuário, qual valor isso adicionou ao usuário. Design tem que saber medir algo para saber que foi melhor, falar: “a gente fez um design melhor”. Não significa nada, melhor para quem? Quem decidiu que é melhor. para mim é essencial o uso de dados, você tem que saber lidar com a ideia de que o seu design tem impacto, o impacto é no usuário, o usuário vai sentir esse impacto, você tem que medir esse impacto, tem que saber visualizar esse impacto. A dificuldade é: como sua empresa visualiza esse impacto? Cada empresa vê de maneira diferente. 

No caso da Booking Proib Testing, 90% do tempo era em conversão, porque é um e-commerce. Mas em outras áreas da empresa eu trabalhei em várias áreas da Booking que não era conversão. Eu trabalhei no que chama de Post Booking, então, assim, é a galera que volta, compra de novo, você compartilhou com alguém de novo, a gente sabe muito que as mídias sociais medem engajamento, clique. Depende do que você está medindo, eu acho que medi engajamento é uma besteira gigantesca, não é só porque clicaram que é bom. Mas depende do produto. No site da Atlassian, se eu falar que eu vou medir engajamento, nego vai rir da minha cara. O cara clicou no botão e daí? O que ele veio fazer? Veio aqui criar uma tarefa e mandar para o chefe dele que a tarefa dele foi completa. Clicar no botão não significa nada, tem uma jornada e a gente tem que saber se a jornada foi cumprida. 

É isso o que a gente mede, a gente mede a jornada, a gente mede a satisfação do usuário nessa jornada, a eficiência do usuário nessa jornada. Correto? Mas depende do que cada time está medindo, depende do que cada time está aprendendo ou quer aprender naquele momento. Eu acho que a dificuldade é que o designer tem que saber que ele não sabe tudo, aceitar que os dados vão te ensinar muita coisa e isso para mim é uma das maiores dificuldades que eu vejo. 

A resistência em que o designer não sabe tudo, a resistência de que não é só chegar lá e botar uma cor nova no site, que vai tudo se resolver. Por exemplo, a Booking.com é dona da Kaiak.com, certo? É a mesma empresa. A Booking.com testava tudo e a Kaiak.com tinha um chefe de design. E o chefe de design a cada dois anos falava assim: “está na hora de mudar esse site, né? Não está fresh, vamos fazer ficar pop, bonito”? E ele mudava o site inteiro. Aí o pessoal da Booking perguntava: “como você testou isso”? “Não, o chefe falou que vai ficar legal, vai ficar melhor. Você olha para a Booking e olha para Kaiak, você vê qual dos dois faz mais dinheiro, qual dos dois atinge o objetivo, qual das duas faz com que o usuário complete sua tarefa. 

Cara, a Kaiak não existe no mercado, ela não tem porcentagem nenhuma de mercado, ela não cresce no mercado. Ela tem um papel bom, até uso às vezes o Kaiak, mas não cresce no mercado, enquanto a Booking.com só cresce e multiplica progressivamente, aquilo é uma máquina de fazer dinheiro, certo? É essa a diferença, é o cara saber que o chefe falou que era melhor, beleza, mas isso não significa que seja melhor, melhor para quem? Melhor para ele, ele se colocou como usuário, o designer tem que lembrar, você não é o usuário, certo? Você está fazendo para alguém. Quem é esse alguém, qual o objetivo desse alguém no seu produto? Por isso você tem que medir os dados, para saber se aquele objetivo daquela pessoa foi cumprido.

Na sua jornada, se você tivesse que falar uma métrica, Shopify, Booking, Atlassian, qual a métrica que é de ouro e te acompanha?

Michel – Tem uma que me acompanha, satisfação do cliente, eu acho que é muito engraçada essa métrica. Como mede satisfação? Que dado é esse? De onde você tirou esse dado? Está em que botão? “O cliente tem 75% de satisfação”. Como você sabe disso? Essa eu meio que rio um pouco. Eu diria que não tem uma específica, depende do que o produto está fazendo. No caso da Shopify, na Booking era um e-commerce, é fácil, conversão é a mãe, você quer todo mundo vendendo. Mas você tem que ter coisas auxiliares a vender. 

Porque uma das coisas que acontecia muito era, “a gente teve um crescimento de 10% de crescimento em conversão”. Legal, qual foi o crescimento de cancelamento? Você tem que comparar com outra coisa, não é só um dado. É uma comparação de dados, é uma visualização de dados em conjunto. Se todo marcou porque você disse: “olha, todos os quartos estão de graça”. Todo mundo vai comprar aquilo, a conversão vai sair pela janela. Só que se não for de graça, nego vai cancelar. Então, você tem que saber o que você está medindo. E-commerce para conversão, para Shopify e Atlassian são empresas que trabalham com produto interno, soa produtos de trabalho. O que o usuário quer é que você não mude tudo o tempo todo, a gente recebe muita reclamação do tipo: “você mudou, onde era esse botão”? Ou: “você tirou isso aqui do lugar”. A pessoa sente que a Atlassian é o escritório dela. 

Se eu cheguei hoje, o caminho que eu faço do produto todo dia mudou, é como se você pegasse o elevador do seu prédio e tirasse do lugar. O usuário fala: “espera aí, cadê meu elevador, cara? Eu pegava elevador aqui”. E isso acontece, a gente tirou, por exemplo, a estrelinha que a pessoa põe no produto na Atlassian, você podia marcar um nicho no Jira com uma estrelinha e aquilo vivia na navegação, a gente mudou da navegação para outro lugar, nego ficou louco com a empresa. “Como é que vocês tiraram daqui e botaram ali sem avisar ninguém”? Depende do que você está medindo, depende de qual é o objetivo. 

Essa mudança tinha objetivo, não tinha nada a ver com a estrela, a gente teve que voltar atrás e achar uma solução para a estrela depois, é se adequar ao problema que você está corrigindo e se você conseguiu corrigir aquele problema específico. É menos qual me serve e mais aprender. Existe uma coisa do ser específico, ser bem específico faz a diferença. Se você medir que essa página é melhor do que aquela página, a resposta sempre vai ser não, porque é uma página inteira, você não tem como comparar uma página inteira. Mas se você tiver com uma coisa bem específica, quando eu tirei isso aqui daqui, eu atrapalhei o usuário, eu modifiquei o caminho dele, é muito mais fácil de medir porque é uma coisa bem específica. Faz sentido? Essa é a medida, não é medir A ou B, é medir especificamente o que você está perguntando. Faça sua pergunta. 

Eu tinha uma brincadeira na minha apresentação que era aqueles widget boards, que é uma coisa que americano faz muito em filme de halloween, você põe na mesa um vidro e o negócio mexe sozinho e a criança deixa o negócio escrever uma palavra. Perguntar para o usuário do outro lado da tela que você não está vendo, o que ele acha que está certo, é lidar com widget board que não tem letra, só tem duas respostas: sim ou não. Você pergunta para o cara: “está melhor”? Aí o negócio mexe para o sim ou para o não. Se parar no meio é porque você não chegou à solução ainda, faz de novo.

O que muda quando a gente está numa empresa com uma projeção global diferente de quando a gente está trabalhando com design numa empresa menor? O que muda na cabeça da pessoa?

Michel – Eu acho que a vantagem foi cair de cabeça na Booking.com. Eu não esperava o tamanho daquilo, tenho uma apresentação que fala sobre a Booking que é A Ciência do Bom Designer. E nessa palestra eu comento que na época, a Booking tinha 1 milhão de vendas por dia, a cada 24 horas, 1 milhão de vendas e 42 línguas, é muita coisa. De um dia para o outro você aprende que você tem que entender que é todo mundo diferente, você precisa entender isso, é aquele time no Google que trabalha com o próximo milhão de usuários, é a Booking pensando qual é o próximo mercado que a gente vai entrar. 

A gente é dominante na Europa, como a gente é dominante na China? Como a gente é dominante no Japão? Você aprende que amarelo no Japão e na China, não tem a mesma conotação do que é amarelo na Europa. Não tem como você começar do zero e falar: “vamos pensar no global”, eu acho que é difícil. Mas quando você está envolvido numa empresa que já é global, é você tentar se abrir para os outros. Uma das maneiras que a gente fazia isso, era fazer o time ser diverso, você ter cada um de um lugar do planeta, ajudava. Porque todo mundo no time usava o site numa língua diferente. Então estava todo mundo lendo na sua própria língua, todo mundo tentando entender se tinha alguma coisa de errada na própria língua e você trazer gente de outros países, faz com que você troque um pouco a cultura. 

Quando a gente trouxe uma designer da China para a Booking pela primeira vez, ela falou: “a tela do app não faz sentido para a gente, eu tenho que digitar muito”. E o chinês era muito com aquela coisa, “já quero clicar, porque se eu digitar muito com aqueles caracteres chineses, dá muito trabalho”. Então ele queria só poder clicar em coisa, era muito mais me dar respostas e deixa eu clicar nelas. Você aprende muito mais rápido quando você está exposto a isso, mas você tem que estar exposto, é difícil. Porque se a sua empresa está só no Brasil e você não tem essa exposição para fora, para você criar essa exposição, você vai ter que tentar conhecer pessoas de fora, falar com pessoas de fora, achar mentores de fora. Achar pessoas para discutir. 

Tinha uma pessoa muito legal no Uber chamada Nancy, ela era do caribe, mas ela é uma mulher, de cor, estava grávida quando foi dar essa palestra. E ela fala o seguinte: “estou eu aqui, de cor, mulher grávida falando com uma pessoa branca do Vale do Silício”. E a pessoa fala assim: “eu tenho empatia por você, eu sinto o que você sente”. “Você não sente, me pergunta o que eu penso, o que eu sinto ao invés de dizer que você sente o que eu sinto, entende o que eu sinto”. E ela dizia que ela adorava falar com o Brasil, era ótimo entrevistar brasileiro no Uber, porque brasileiro é muito criativo, brasileiro criava soluções que ela não esperava. 

Por exemplo, Uber com dinheiro. Para todo mundo na empresa Uber no Vale do Silício, pagar Uber com dinheiro não fazia nenhum sentido. E ela achava aquilo o máximo porque ela é uma pesquisadora, ela achava genial. “Eles acabaram de dizer para a gente que o Uber que a gente acredita que existe não importa, porque para eles o produto funciona assim”. E quem manda no produto é o usuário, quem vai usar o produto, quem precisa dele no dia-a-dia. E se a pessoa precisa e quer pagar com dinheiro, por que a gente vai dizer que não? Ela batia muito nessa tecla.

 E aí eu acho que é interessante, a pessoa vai para o Brasil entrevistar gente para aprender com a gente. A gente tem que fazer o que para aprender por fora? Ir para fora ou falar com as pessoas de fora para poder aprender delas, não tem um botão, não tem um clique, tem que ser falando, conversando. Como funciona meu site na Inglaterra? Será que eles entendem? Tem diferença entre Austrália e Inglaterra? Eu recomendo muito um livro chamado “The Culture Map: Breaking Through the Invisible Boundaries of Global Business”, da Erin Meyer. O legal desse livro é que te mostra coisas que você não espera, a cultura asiática é uma cultura muito de auto contexto, a cultura nossa brasileira americana, é uma cultura muito de baixo do contexto. 

Então, quando a gente está conversando ou está fazendo uma apresentação, uma coisa que brasileiro e americano faz muito é: “vou falar para você o que eu vou falar e está aqui a agenda do que eu vou falar. Eu falei o que eu ia falar e agora resumo o que eu falei, para dizer que eu falei o que falei”. Você fala isso para um asiático e ele fica: “por que essa pessoa está se repetindo”? Não faz nenhum sentido. O alemão espera que você comece com o resultado e termine dizendo como você chegou lá. O brasileiro espera que você fale todo o processo de chegar na coisa para dar o resultado, tudo uma questão de expectativa, tudo uma questão de aprender a cultura do local que você está falando. 

Esse livro ajuda bastante, é um bom começo, se você for ouvir a versão de áudio é extremamente engraçada porque ela faz vozes, eu não recomendo, eu acho que as vozes ficam até meio ofensivas, às vezes. Mas ela não tem essa intenção, a intenção é mostrar pessoas diferentes de culturas diferentes lidando em times. E vale a pena os exemplos, se você puder, eu diria que o mercado de design está aí para isso, as pessoas falam no Twitter, as pessoas falam no LinkedIn, elas entram em contato. Estamos aqui na Austrália, falo com você aí, troca figurinha, conversa com todo mundo e é assim que aprende.

Acabei de comprar o livro, acabei de fazer o pedido.

Michel – Queria que eu ganhasse alguma coisa com isso, mas eu só indico porque é muito legal. E no site dela ela também tem uns mapinhas em PDF, onde você pode clicar e ver diferença entre as culturas, o que também é bem interessante.

Eu vi isso, o jeito que os designers apresentam seu trabalho no Facebook e como fazem um processo de design Challenger, é o desafio de design para apresentação que é diferente da expectativa que empresas no Brasil tem quando você vai apresentar alguma coisa. 

 

Michel – A nossa cultura de compartilhar, chamam de “sparring”, igual boxing. Por quê? Qual o sentido? Um boxeador não pode ir para uma luta do nada, sem nunca ter tomado um soco na cara, ele precisa ter tomado um soco na cara, ele precisa de um sparring. Então ele vai para o sparring todo dia e toma soco, dá soco e toma soco. E o cara vai ficando mais forte, o casca dura, vai tomar mais soco, aprender a tomar soco e continuar em frente. A cultura de design aqui diz o seguinte: “com o seu time mais próximo, você troca soco mesmo você fala na real”. “Vai doer, mas esse botão aqui está no lugar errado. E você não segura a onda para falar não, você fala a real mesmo. “Não está no lugar certo, não está seguindo a regra, não combina com design systems, não está obedecendo”, na direta. Se você não for direto, o time mais afora não vai ser. E o usuário não vai saber dizer. Então, no time de dentro mesmo, para a gente não deixar ferrar o usuário, tem que trocar tapa, trocar soco e saber levar o soco, saber deixar a pele ficar mais dura, porque quanto mais dura for, mais você vai saber levar esse feedback para dentro e melhorar o design. O objetivo obviamente não é soco, o objetivo é melhorar o design. Mas ser honesto e direto, aceitar essa troca de tapa é o que faz a diferença.

Animal cara.

Michel, alguma pergunta que faltou a gente fazer? Alguma coisa que você gostaria de dizer?

Michel – Queria agradecer muito, achei muito legal poder participar e compartilhar esses anos de história. Quem estiver querendo saber mais sobre outras pessoas que trabalham fora do Brasil, eu tenho um podcast chamado Latinxs Who Design, tem vários brasileiros nesse podcast, você vai ver figurinhas como Leandro Lemos, Pedro Marques, a galera que está no mundo todo, gente em Berlin, em Amsterdã, por aí vai e são latino americanos que também saíram dos seus países e que também foram contribuir para o mercado de internet fora do seu país. Eu acho essa história muito legal de compartilhar porque eu acho que ajuda muito você a ver que é possível e que totalmente é possível para todos nós. E muito feliz de estar aqui e compartilhar meu lado também.

Nós é que ficamos muito felizes, agradecemos muito o seu apoio em participar. Colocaremos todos os dados, as informações, as recomendações, os livros que você indica. Fica tudo registrado na descrição desse episódio. 

Agradece e encerra.