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TEMPORADA 1 - EPISÓDIO 5

Rodrigo Grundig

Temporada 1 Episódio 5 – Rodrigo Grundig
PROJETO: Desenhando Produtos

Rodrigo é pós-graduado em Ergodesign de Interfaces: Usabilidade e Arquitetura de Informação pela PUC-Rio, Graduado em Comunicação Social pela ESPM, Rodrigo tem em seu currículo mentoria de Start-Ups, foi Diretor de Arte em várias agências até se tornar Designer Senior de Produto, tendo passagens pela HUGE e projetos para grandes empresas como Google, até ser o Co-fundador, Head of Design and User Experience na WARREN BRASIL.

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Hoje vamos conversar com o Rodrigo Gruding, ele é CDO na Warren. Ele é o cara que manda no design de um dos aplicativos mais skillup, Warren é um aplicativo de finanças que mais está crescendo no Brasil. É um fenômeno de case de estudo de produto, tem uma interface conversacional incrível. É um dos primeiros aplicativos que colocou conversa no início de um processo de aquisição. Por que você trabalha com produto hoje? Como nasceu a Warren?
Como você chegou nessa posição que está hoje?

Rodrigo Gruding – Eu sou formado em publicidade, tenho 34 anos, sou de Niterói, Rio de Janeiro, sou rubro-negro, inclusive. Saudações rubro-negras aos flamenguistas de plantão. Sou formado em publicidade pela ESPM do Rio de Janeiro, com ênfase em marketing. Então eu tive muita coisa que não só era voltado para a publicidade, mas também para o mercado, a forma que a gente bota as coisas na rua, o que é importante, entender o público alvo, como fazer argumentos de venda, redação, e tudo mais. Sou formado em comunicação social pela ESPM, sou pós-graduado pela PUC do Rio de Janeiro também, em ergodesign de interfaces, usabilidade e arquitetura da informação. Foi um dos primeiros cursos voltados a produto digital, foi onde também abriu muito a minha mente e me deu o preparo que eu uso até hoje. Eu comecei trabalhando em agência de publicidade, mas logo depois de alguns meses eu vi que não era o mundo para mim, era um mundo que infelizmente tinha muito ego, e
eu só queria trabalhar, então eu falei: “estou fora”. Mas quando eu trabalhava como diretor de arte, eu gostava muito de pegar os trabalhos que eram online, então eu já comecei a desenvolver uma paixão pelo mundo digital ali. E largando o mundo de publicidade, quando eu saí desse meio eu entrei na XP, que é a maior corretora hoje do Brasil, e na época já era também, e lá foi onde eu comecei a dedicar
exclusivamente ao mundo digital, foi durante a época também que eu estava fazendo a minha pós, só para dar uma noção de tempo. Eu fiquei lá, cerca de 4 ou 5 anos, foi muito bom financeiramente, eu aprendi muita coisa com relação ao meio corporativo, a lidar com o negócio, entender o negócio, mas eu via que não era muito bem o foco da empresa essa parte de design, eu vi que eu precisava mudar de área se eu quisesse evoluir como profissional. Depois dessa longa jornada na XP, surgiu a oportunidade de eu trabalhar na Huge, que é uma agência digital americana que não tem mais no Brasil, mas ainda existe em outros lugares do mundo. Eu saí da XP e entrei na Huge, e na Huge eu já acompanhava o trabalho de todo mundo que trabalhava lá, que eu conhecia, admirava muito, diversos profissionais que eu conheço vem de lá, então quando eu entrei lá eu até me senti um peixe fora da água, eu ficava: “nossa, o que eu, um Zé ninguém, estou fazendo no meio de tanta gente sinistra? Tanta gente foda”. Mas foi muito bom, porque eu fui muito bem recebido, o clima era outro, era muito dedicado realmente a aprendizado, a troca de figurinha e a fazer o que realmente interessa, extrapolar barreiras, fazer coisas sempre pensando assim, a gente ia fazer um projeto aqui, a gente pensava: “o que é a melhor coisa do mundo?”, digamos que é o melhor do mundo que faz isso aqui, como a gente pode fazer melhor? Então, é realmente extrapolar os limites, romper barreiras, inovar bastante. Isso foi muito bom criativamente, o que eu tinha muito engessado no meio corporativo da XP, eu me sentia como seu eu fosse um leão saindo da jaula e entrando no safari. Eu falei: “agora é a hora de botar para foder”. Nesse meio tempo, eu tinha saído depois de 4 ou 5 anos lá, entrei na Huge, depois de 3 semanas na Huge eu já estava fazendo projeto para o Discovery Channel, fazendo o aplicativo deles.
Depois eu entrei no projeto do Google, que na época era secreto, que eles chamavam de Quantum, que na verdade é uma Trio Design, que na época não existia. Esse projeto era um projeto que ia suportar todo o conteúdo de Guidelines, de como utilizar uma Trio Design. Se você entrar hoje no site de uma Trio Design, a primeira foi essa que a gente criou, que eu criei com o resto do time na Huge. Foi engraçado porque 3 semanas depois que eu entrei na Huge eu já estava fazendo esses projetos
gigantescos ali, logo depois que eu entrei eu falei: “valeu muito a pena eu ter feito essa mudança”, e 3 semanas depois, por esse projeto do Google ser tão confidencial e com o prazo muito apertado, porque ia ser apresentado pelo líder de design do Android, que é o Matias Duarte, no Google I/O, que é o WWDC do Google. A gente ficava fazendo aquele vai e vem lá, como era uma coisa sigilosa, fazia vários acessos para você conseguir acessar os documentos, para não cair na mídia, vai que um hacker entra no computador da agência, pega o negócio, bota na mídia, eles perdem o poder de negócio. Como nos Estados Unidos não tinha o Product Design, por isso tinha um brasileiro, no caso eu, que estava disponível para tocar esse projeto, eles resolveram me mandar para Nova Iorque para terminar o projeto de lá, quer dizer, começar e terminar o projeto de lá, ao invés de fazer tudo remotamente. Foi incrível, porque eu estava no lugar certo, na hora certa, com tudo certo, visto Ok, falo inglês, e tudo mais. Realmente juntou a fome com a vontade de comer, como dizem, e aí me mandaram para lá, chegando lá a gente começou a tocar o projeto, e foi muito legal, porque eu trabalhei com outros brasileiros lá, a gente vê como brasileiro é sinistro lá fora, talvez um dos melhores lugares que eu trabalhei na vida, trabalhei com ele lá. A gente tocou esse projeto e foi muito maneiro, mas eu voltei para o Brasil depois de 3 meses, fui em abril e voltei em julho, alguma coisa assim, foram uns 3 meses que eu fiquei lá. Voltei, fiquei na Huge até fechar, depois de 1 ano eu chegando no final dos meus 28, 29 anos. Eu sempre quis morar fora, eu estava com cidadania, e tudo mais, eu falei: “cara, se eu não fizer isso agora, não vou fazer nunca mais”, então resolvi pedir demissão, vendi as minhas coisas, vendi móveis, saí do meu apartamento, fiz o diabo e me mandei para a Europa só com a passagem de ida, eu falei: “quer saber de uma coisa? Eu vou ver como que é, e seja o que Deus quiser”. Só que nessa fase final da Huge, logo depois que eu voltei de Nova Iorque, desse projeto para o Google, eu estava caminhando pela agência, eu passei pela recepção e eu encontrei o Tito, e o Tito era chefe na área da XP, ele entrou na XP quando tinham 20 e poucas pessoas, então ele pegou bem o início, ele ficou mais de 10 anos na XP, sócio e tudo mais. Então, por eu ter ficado bastante tempo, embora a gente seja de áreas completamente diferentes, eu esbarrei com ele ali na recepção. Eu já conhecia ele de corredor na XP, eu falei: “ué, e aí? Tudo bom? O que você está fazendo aí?”, ele falou: “estou querendo ver um projeto aqui com a galera, eu vim aqui para ver o que eles acham”, eu falei: “beleza, então. Boa sorte e um abraço”, e segui a minha vida. E aí, não sei se foi no mesmo dia, na mesma semana, ele me mandou uma mensagem no Facebook perguntando: “você conhece algum designer?”, eu falei: “ué, mas não deu certo lá na Huge? O que aconteceu?”, ele falou: “puts, muito salgado, não tem condição, eu quero fazer um projeto, um MVP para começar”. Eu não sei se tinha essa sigla no vocabulário na época, no nosso vocabulário, porque nem passava pela minha cabeça fazer esse tipo de coisa, e eu falei: “eu sou designer, não serve eu?”, ele falou: “de repente, pode ser”. E aí, a gente combinou um papo para ele apresentar, ele e o irmão dele, que é o André, o que eles estavam imaginando. Quando eles comentaram aquilo, eu falei: “nossa, é uma confiança dos astros”, porque quando eu estava fazendo a minha pós, o meu projeto final era justamente para matar uma das dores que eu tinha quando eu estava trabalhando na XP. Então, eu estava trabalhando lá há 4 ou 5 anos, os meus amigos me viam como referência do cara que era do mercado financeiro, eles me perguntavam aonde investir, e eu nunca soube responder essa pergunta, eu nunca aprendi isso dentro da XP, nunca me ensinaram,
eu só fazia uma coisa lá e era aquilo ali. Eu até me sentia envergonhado em relação a isso. Quando eu estava fazendo a minha pós eu senti: “cara, eu quero fazer um projeto que eu consiga resolver esse problema”, porque eu tenho certeza que é o problema de muitos, eu vejo os meus amigos aqui. Então, o meu projeto final era um Akinator de investimentos, você ia respondendo perguntas até chegar na sugestão ideal, que é um pouco do que vocês já conhecem da essência da Warren. Só que eu, obviamente, não entendo chongas de mercado financeiro, então quando o Tito chegou para mim falando que queria fazer um projeto que trouxéssemos investimentos para as próximas pessoas, que fosse mais divertido, que fosse um modelo de negócio correto, eu falei: “cara, era a peça do quebra-cabeça que estava faltando. Não quero fazer esse projeto no fim não, quero pegar esse projeto para fazer junto”, ele falou: “vamos embora então”, e a gente começou a nossa saga de fazer um MVP, o Tito já estava morando em Nova Iorque, nesse meio tempo eu me mudei para a Europa, fiz essa demissão da Huge, o André estava morando em São Paulo ainda, e a gente começou a fazer esse MVP pensando em lançar nos Estados Unidos, lá que o Tito viu pela primeira vez as fintechs, vendo todo aquele burburinho e aquecimento que estava rolando nesse mercado no exterior. E a gente, depois de muito tempo fazendo reuniões às 3:00h da manhã para conseguir encaixar o horário de todo mundo, leiautando muito, a gente chegou no MVP, a gente apresentou a nossa primeira versão numa conferência lá em Vegas, que é a Collision, junto com outras 500 startups, o cara do Uber estava lá, tinham várias outras pessoas que estavam passando pelos stands de venda. Eu acabei não indo, eu estava na Europa, eu acho, não sei. Mas eu acabei não indo, quem foi, foi o Tito e o André apresentar o que a gente tinha desenhado. A gente ficou muito feliz, porque nós ficamos entre o top 10 de todas aquelas 500. Então, a gente fica assim: “pô, acho que tem alguma coisa que está fazendo sentido aqui. A gente não está totalmente maluco”. E aí, papo vai, papo vem, a gente já estava começando a conversar com gringos, de repente, fazer um seed money, que é o investimento inicial para começar a empresa, para quem não conhece. E aí também a gente acabou esbarrando com o Marcelo Maisonnave, que foi um dos fundadores da XP junto com o Guilherme Benchimol, ele tinha acabado o período de uma compit dele, e ele falou: “cara, eu estou querendo fazer uma coisa nessa pegada, no mundo de investimentos. Uma coisa que seja correta, uma coisa que seja pró-cliente. Estou fechadaço com a ideia de vocês, quero investir em vocês, fazer o negócio acontecer. Só tenho um pedido para fazer, vamos começar no Brasil?
Vamos começar jogando em casa. Lá eu conheço a regulação, está saindo uma nova regulação que permite gestores distribuírem os próprios fundos de investimento. A gente consegue começar muito mais fácil”. Dito e feito, fechamos, eu fiz as malas, larguei tudo de novo, voltei para o Brasil. O Tito já estava com apartamento lá, tinha acabado de ter filho em Nova Iorque, veio para o Brasil. A gente descartou Rio e São Paulo logo de cara, que a mão-de-obra é muito cara, o custo de vida é muito caro, então a gente estava ali só com o dinheiro do bolso, acabamos decidindo vir para Porto Alegre, onde é a nossa sede atualmente. Porque o André e o Tito são gaúchos, então eles conhecem bem ali. O André tem filho também que mora aqui no Sul, e o Tito tinha acabado de ter filho e a mãe dele mora aqui no Sul, então estar perto da família também era legal, mas Porto Alegre também tem um polo tecnológico muito legal, tem muitas faculdades boas de tecnologia e o custo de vida também é mais em conta. E outro fator também que é muito legal, é que a gente sabe que São Paulo é a merca da América Latina em relação a muita coisa, principalmente quando a gente fala de empreendedorismo e negócios. Então, tem muita coisa acontecendo sempre, então é muito fácil você se distrair também. Porto Alegre foi meio que o nosso bunker, que a gente conseguiu começar, existem vários pontos positivos, foi onde a gente realmente botou o primeiro pé, de fato, em realmente ter a nossa primeira salinha ali, era um muquifo o negócio, o ar-condicionado tinha um pombo que morava, era nesse nível. Mas foi onde tudo começou, nessa saga em trazer o mundo de investimentos do modelo correto, que hoje, infelizmente, só os multimilionários têm acesso, mas agora com o online, graças a Deus não, a gente mudar isso e também trazer uma experiência melhor para essas pessoas. Eu não preciso ser um economista, eu não preciso depender de um gerente ou de um assessor para tomar essas decisões de investimento, eu quero fazer isso sozinho, no meu tempo, quero fazer às 03:00h da manhã, quando eu tiver na minha insônia ou antes de dormir, de manhã cedinho, fora do mercado, eu quero fazer no meu horário, na minha conveniência. Então, trazer essas duas coisas que são o que regem o (inaudível) da
Warren, foi onde tudo começou ali. Quando a gente voltou para o Brasil, começou em Porto Alegre, foi onde teve esse primeiro KickOff ali, a nossa sede. Enfim, resposta longa, mas acho que deu para contextualizar.

Eu me lembrei de uma coisa que aconteceu em 2015, que a gente teve um encontro rápido, quando você estava construindo o produto, e você era o único designer? 

Rodrigo Gruding – Sim, eu fui o único designer por quase 2 anos. A gente completou 4 anos agora em março, então eu fiquei muito tempo segurando a bronca, não só de produto, e quando a gente pensa em produto, não só a visualização do cliente, mas a parte operacional também. No começo a gente sabia que ia ser puxado fazer tudo do zero, mas a gente fazia muita questão de ter o controle da experiência, de fornecer melhor experiência para o usuário, e isso impactava de a gente desenhar
também as telas operacionais. Então, aceita cadastro, aceita depósito, aceita resgate, fazer conciliação bancária, tudo isso, fora também a parte de comunicação. Então, o produto tinha esses dois lados, mais a parte da comunicação. E no começo sim, acabou ficando muito em mim ali, durou um bom tempo.

Se você puder contar para a gente como foi essa história de decidirem por ter uma interface conversacional. Hoje o WARREN no mundo é conhecido como referência num produto, um produto que é B2C, que é para o consumidor final, a pessoa pode ir ali e começar uma rotina de investimentos ou entender se investimento faz sentido ou não para ela, qual é o perfil dela. Mas tem toda uma lógica de uma história ali, tem uma história sendo contada, tem alguém falando com você, tem um personagem ali, “Oi, eu sou o Warren e estou falando contigo”. Como foi essa ideia? De onde surgiu essa ideia de ter uma conversa, ao invés de simplesmente “digite o seu nome, sua senha, toma um formulário”?

Rodrigo Gruding – Tudo começa com o nome da empresa, a gente não queria que fosse Welf alguma coisa, o Capital não sei das quantas, ou sei lá o que investimentos. A gente sabia que a gente queria fazer uma coisa que fosse para todo mundo, então ela tinha que ser próxima, a gente queria que fosse o nome de uma pessoa, que fosse o nome de alguém, e como a gente ia começar nos Estados Unidos, o Tito estava andando de bicicleta por lá e ele passou pela Warren Street, e ele falou: “está aí, Warren é um nome legal”. A gente brinca, todo mundo pensa: “ah, por causa do Warren Buffett”, essa é a história que eu gostaria de contar, mas acabou sendo mais na verdade porque o Tito estava andando de bicicleta e estava pensando no nome, ele encontrou ali atravessando a Warren Street o nome que ele achou que fazia sentido. Começou por aí, de realmente trazer o mundo de investimentos para próximo das pessoas, já fazendo isso no nome. E quando a gente estava vendo esse negócio de trazer a experiência de onboarding, a gente pensou muito na forma que era feita na época, no dia a dia. Então, eu não entendia porra nenhuma de investimentos, e a gente estava com o desafio de mudar isso, eu falei: “beleza, eu tenho que aprender esse negócio para poder desenhar melhor a experiência”, não adianta nada eu ser um papagaio de pirata aqui, ficar repetindo, quebrar a fase fazendo a interface, eu preciso realmente entender como se faz um TED financeiro. Então, eu cheguei para o Tito, que entende pra cacete de mercado financeiro e falei: “pô, Tito, tenho certeza que muitos amigos te perguntam como investir e você, quando uma pessoa te responde isso, você já tem uma pergunta na sua cabeça do que você quer fazer para ela”, então, com certeza tem uns critérios aí que você tem, que vão te moldando para o caminho que você acha que dá para conseguir chegar na sugestão. Então, vamos mapear esse negócio e transformar isso em digital para conseguir escalar. Startup é
isso, a gente usar a tecnologia para escalar negócios e otimizar recursos para conseguir trazer melhores condições de acesso para as pessoas, que as soluções mais em conta consigam ser escaladas. Então, o André tinha visto esse negócio de chatbot, estava na moda na época. Antes de dar aquele bum de chatbot que teve em 2016, 2017, todo mundo queria fazer chatbot para tudo, a gente usava chatbot antes de ser cool. E a gente experimentou outras coisas também, a gente no começo tentou fazer com interface de voz também, de você fazer uma conversa, tudo pensando em fazer
tipo o nosso bate-papo que a gente está fazendo aqui. Mas por voz é um mundo sem fim, porque é um campo de texto aberto, basicamente, a pessoa fala o que ela quiser e a interface tem que saber interpretar aquilo. Eu lembro claramente do dia que eu estava conversando com o André, que a gente tinha que decidir, mais ou menos, o que a gente ia fazer, eu lembro que estava saindo algumas coisas de SIRI, não sei se tinha SIRI na época, para você ver que é um negócio velho já, eu fiquei pensando:
Google e Apple, que são empresas gigantescas, estão se matando para conseguir fazer uma interface de voz aceitável, eu aqui no meu canto, no bairro pequenininho de Porto Alegre vou bater com esses caras? Não tem nem condição, a minha vida vai ser isso, vamos tentar fazer uma solução que seja melhor. O André já tinha essa referência do chatbot e a gente começou então a fazer essa árvore de decisão, que é esse papo que eu tive com o Tito usando essa estrutura do chatbot que a gente fez na
mão, a gente não usou nenhuma ferramenta, porque também na época não tinha. Para você ter uma ideia, não existia o chatbot do Messenger, realmente não tinha nada, era mato mesmo. Eu devo ter feito esse chat da Warren no começo, fácil, deve estar próximo de mil ou mais de mil, porque para cada ponto que você poderia ter um caminho diferente, era uma outra conversa, e a gente queria muito trazer uma experiência que fosse realmente próxima, então a gente pegava cada um desses fluxos e a gente destrinchava num detalhe para garantir que eles estavam contextualizados sempre. E a gente sempre tentava trazer uma leveza nos papos, a gente tinha uma brincadeira que a gente acabou tirando, mas muito provavelmente a gente deve voltar, que a gente fazia uma piadinha quando a gente perguntava a idade da pessoa, quando a pessoa falava que era da década de 30 a gente fazia uma brincadeira, quando a pessoa é da década de 50, falava assim: “o que você prefere? Pink Floyd ou Beatles ou Rolling Stones?”, pegava a atualidade, você tinha 20 e poucos anos, a gente botava assim: “os 30 já está chegando”. A gente queria trazer um pouco dessa leveza e mostrar que investimento pode ser legal, e o chat foi muito feliz nisso, porque no Brasil não tem essa cultura de investimentos. Quando você pensa em investimentos, ninguém acorda de manhã e fala: “hum, que maravilha. Hoje é o dia que vou planejar os meus investimentos”, ninguém acorda com essa vontade, a não ser os loucos do mercado financeiro, ou pessoas que são curiosas, que querem aprender esse negócio. Então, a gente tinha essa vontade de querer fazer uma coisa diferente, então trazer essa leveza era muito importante, e o chatbot foi muito feliz nisso, por não formular uma interface séria, era uma interface próxima, que você consegue articular e usar a conversa para conseguir trazer essa experiência e pegar a pessoa pela mão realmente, como se tivesse a gente aqui conversando. E acho que foi o que fez o grande diferencial no começo, que a galera falou assim: “caraca, alguém está usando o chatbot aqui de uma forma que realmente faz sentido”, e muitas pessoas perguntavam: “é uma pessoa realmente ou é um bot?”, isso para a gente era legal pra caramba, porque mostrava que realmente conseguimos ser bem naturais, ser bem orgânicos. Foi, mais ou menos, por aí.

Na RD, durante um tempo, quando a gente estava planejando montar uma interface conversacional, muitas vezes a gente olhava para o Warren: “peraí, vamos ver como esses caras estão fazendo, vamos percorrer o fluxo”, porque era diferente e mal a gente via isso lá fora também. Tinha um ou outro produto no exterior que tinha essa pegada de menos fricção no início da jornada e mais interatividade, mais divertido. Isso teve algum aspecto de métricas para conduzir esse processo? Vocês olhavam para alguma métrica?
“Vamos melhorar isso aqui, vamos melhorar a taxa de conversão, melhorar a
ativação, melhorar o processo de retenção”?

Rodrigo Gruding – Isso a gente só foi ver na época que a gente estava lançando, talvez, até um pouco mais para frente. Até então, era o cara que entendia de finanças, uma pessoa que sabia mexer com ferramentas de design e outro que era desenvolvedor, a gente não tinha esse viés de empreendedor, de ser um executivo, de ser um empresário. Outro dia eu estava conversando outro amigo designer, ele falou assim: “você é um executivo”, eu fiquei: “pode crer”, eu nem lembro, eu abro mais o Excel do que o Figma há muito tempo já, então muda muito. No começo a gente era muito mais voltado a tecnologia, a nossa estrutura de design, quer dizer, a gente ainda é, porque é a nossa essência, mas a gente só olhava isso, a gente não tinha ainda essa maturidade de olhar como é uma empresa grande também, até porque era um mundo muito novo para a gente, a gente não estava familiarizado com o mundo de startups, e o mundo de startups também expediu agora nesses últimos anos, agora está muito na Hype também, puxado por grandes empresas fazendo isso, Conta Azul, o próprio Nubank, tem várias empresas que estão dando um bum no mercado para as pessoas, do tipo assim: “vocês podem olhar para as startups como soluções para os problemas da sua vida”. Quando a gente começou, a gente não tinha esse negócio de olhar métricas, mas a gente começou com coisas muito básicas, a gente foi tentando metrificar com as perguntas, quando a pessoa seguia um fluxo, de
onde que ela estava saindo? Então ela começou a olhar para funil realmente, mas a gente não tinha um Benchmark para se basear, conversão, CAC, LTV, esses mundos acessíveis aí que a gente hoje bate. Cada vez que a gente começa a incluir outras pessoas, tipo investidores, e tal, a gente começa a aprender mais e mais ainda essas técnicas, esses termos. Porque, às vezes, a gente fala assim: “peraí, me dá um dicionário para traduzir esse negócio, porque a gente já está falando em sinônimos
aqui. A gente não está falando mais em português, fala difícil”. Mas a gente começou muito básico nessa parte de métricas, e hoje realmente a gente já está muito mais robusto, até por conta de, quando você tem uma empresa que tem investidores, é de praxe você ter um borde com os seus executivos, e nesse borde executivo você apresenta números, porque quem investe na empresa quer saber se a empresa está saudável, se não está, para saber como ajudar a reverter qualquer caso que não esteja indo bem, e se tiver bem, para entender o que deu certo, ver se a gente consegue replicar, e tudo mais. No nosso caso, foi assim que começou.

Você falou que ficou 2 anos sendo designer ali sozinho. Só que a gente sabe que hoje o Warren já evoluiu muito. Eu queria que você comentasse um pouco desses desafios. O que é sair de um designer e escalar um time de designers?

Rodrigo Gruding – É difícil pra cacete. É bem difícil. É um desafio. Eu sou um design, barra, executivo. Então, por ser um dos fundadores da Warren, eu conseguir ver tudo do começo acontecendo, e nesse meio tempo, eu vi muitas ondas que a gente passou, durante essas ondas, para cada onda eu fui um profissional diferente. Então, no começo eu fui um designer, no segundo eu fui um designer lead, até chegar onde eu estou hoje, como um CDO, segurando mais outras estruturas, que depois a gente pode até falar mais, se for o caso. Hoje a gente está com, aproximadamente 20 designers, a empresa está com (inaudível). No ano de 2020, embora tenha sido uma loucura, foi um ano muito positivo para a gente em relação a números, mas foi um desafio absurdo em relação a lidar com pessoas, a lidar com processos, a gente teve um crescimento realmente que foi muito significativo, isso significou um monte de aprendizados acelerados que a gente teve que ter, foi um catalizador em muitas coisas. Por exemplo, a gente começou 2020 com 130 pessoas e terminou com 400, a gente praticamente não demitiu ninguém, acho que não demitimos ninguém, não vou dar a certeza, porque agora não tenho esse número na ponta da língua. E o time cresceu muito rápido, e quando se cresce assim muito rápido, você precisa redefinir diversas coisas. De novo, foi o aprendizado que eu tive, e eu aprendi ali apanhando, que você tem que rever processos, você tem que rever formas de se comunicar,
definir hierarquias, estruturas de time, redefinir princípios. Enfim, tem todo o preparo que você tem que dar o ferramental, você tem que dar para o time para que você consiga que o time caminhe da forma que você imagina ser a ideal, e que você consiga dar o ferramental para que as pessoas consigam alcançar o seu resultado. Quando o time cresce assim, recentemente eu vi uma entrevista nessas minhas idas de estudar em como ser o melhor líder, eu estava assistindo uma entrevista de uma das primeiras Product Managers que tiveram no Facebook, na época que eram 20 e poucas pessoas, que foi a Kate Abramovitz. Depois eu posso deixar o link dessa entrevista, que eu recomendo muito para quem é Product Manager especialmente, e para quem é empreendedor e que pensa em ter designer, que é uma coisa muito forte na empresa. Ela falava assim: “quando eu cheguei, eu conversei com o Mark Zuckerberg, eu perguntei para ele o que ele achava. O que você espera do time de design?”, e ele falou assim: “eu espero que escale rápido”, e ela disse: “tá, e o que isso significa?” Ela me trouxe uma perspectiva que mudou muito a minha forma de pensar, em relação a como eu devo preparar o time. Ela falou assim: “tá, se segunda- feira que vem entrarem 30 designers, eu vou conseguir dar suporte para esses 30 designers? Eu vou conseguir trabalhar? Eles vão conseguir fazer um borde da sua empresa? Eles vão conseguir se organizar? Eles vão conseguir se achar? Eles vão
conseguir tocar?”. Ela me trouxe uma perspectiva que não é, tipo assim: “vai começar fulaninho na segunda-feira”, é tipo assim: “cara, a gente está aqui para porrar, a gente está aqui para crescer pra cacete. Se entrar 200 pessoas na segunda-feira, você vai conseguir suportar esse negócio?”. Então, você começa a pensar em realmente como se preparar como empresa e time, você ter aquilo organizado, e que as pessoas consigam seguir em frente de uma forma escalável, que seja uma forma
saudável. Esse para mim foi um grande aprendizado, talvez, o mais recente que eu tive em relação a crescimento do time de design, dessa jornada. Quando você passa por essas ondas, você precisa rever as coisas. Por exemplo, a gente conta com pessoas com mais experiências para nos ajudar a resolver questões que a gente não sabe, porque a gente nunca trabalhou como empresários antes, a gente está aprendendo esse negócio também, e você só aprende fazendo. Então, a gente pegou pessoas que já tinham a experiência, que eles faziam para nos auxiliar nessas tomadas de decisões maiores, e isso tem se tornado muito positivo, e também ajuda a gente a tomar as melhores decisões, já nos preparar para coisas futuras. Por exemplo, tem pessoas que entraram que já trabalharam em time de 3 mil, 5 mil pessoas, que tem produtos em mais de 90 países. Então, essa pessoa tem uma perspectiva de como a gente tem que estar preparado, se a gente um dia quiser chegar num tamanho desse. Essas perspectivas, essas formas de a gente pensar em escalabilidade, agora tem ajudado muito a gente, depois de ter apanhado nesse crescimento bizarro que a gente teve em 2020, que foi bom, mas foi suado, a não ter nenhum tipo de problema no futuro. Então, quando que a gente tem que criar
hierarquias novas, quando que a gente tem que mudar a forma de se comunicar, quando a gente tem que mover X pessoas, quem tem que estar incluído em tal comunicação, quais são os fóruns que a gente tem que ter, e tantas outras coisas aí que acabam entrando nessa rotina. E constantemente aprendendo ali, não existe balde prata, cada empresa, cada produto tem seu viés.

Você comentou de estrutura. Como é hoje a estrutura na Warren? Falando do time de design mesmo. É uma estrutura centralizada ou é uma estrutura híbrida?

Rodrigo Gruding – É exatamente isso que você falou: como está a estrutura hoje, porque uma coisa que a gente não tem apego nenhum na Warren é revisitar as coisas, é reconstruir coisas. A gente não perde tempo com esse negócio, não somos reféns de processo, o processo tem que nos ajudar. Se a gente está tendo que mudar coisa por conta de processo, “vamos seguir o processo”, a gente já descarta logo. Tem muito na nossa mente do que a gente imagina de resultado final, e o processo
tem que nos facilitar a chegar lá. Mas voltando na sua pergunta de estrutura, a estrutura que a gente tem hoje, pode ser que mude no futuro, a gente tem, basicamente, 3 grandes silos na estrutura do time de design. O primeiro deles é a comunicação, que é a parte de designers que tem mais essa veia publicitária, que é dentro do time de design. Tem o time criativo que fica dentro do time de design, que
comporta designers que pertencem ao time de design, é como se fosse uma matriz. Mas aí são diretores de arte que entram ali. Esse é o primeiro silo, comunicação. O segundo é produto, então é mais essa parte de interface e plataforma, web, IOS, Android, então são Product Designs que a gente tem ali, a maioria são Product Designs. E a terceira é o que a gente chama de Design Ops, que tem aspecto mais horizontal, que serve de suporte para o time de produto, principalmente, mas não
necessariamente apenas para o time de produto. O que entra nesse time de Design Ops? Entra o nosso time de design system e entra o nosso time de pesquisa, que é tanto o UX, quanto pesquisa mais abrangente também, como se fosse de mercado, por exemplo. É, mais ou menos, assim que a gente ficou estruturado, na forma mais macro. Mas a gente está constantemente revisitando essas estruturas, para que os times sejam mais eficientes possível, e consigam ter o impacto que a gente gostaria. Como, por exemplo, o design system, o ferramental para a empresa inteira, como a gente consegue otimizar o trabalho e a estrutura que ele está inserido, para que ele consiga ter conversas, ter envolvimento com outros times de uma forma produtiva. Depois que você vira um CDO, você começa a pensar: “esse time tem que estar próximo de quem? Vamos arrastar não sei para onde?”, quando você começa a crescer, o time, você começa a pensar: “vou fazer uma tribo para aquela squad”, para quem não sabe, tribo é um conjunto de squads, que tem o mesmo contexto. Então,
você começa a trabalhar e a pensar nessas formas, em como você consegue organizar melhor onde as pessoas vão ficando, para que os trabalhos consigam chegar no resultado que a gente gostaria.

Vocês são 20 designers hoje?

Rodrigo Gruding – Isso, englobando tudo, comunicação, design Ops, e tudo. A maioria é produto, hoje a gente está com 10 para 12, cerca de 10 product designs e o resto dividido mais em: product design, depois comunicação e depois design Ops. Mais ou menos, assim a escala ali.

Tem alguma outra pessoa dentro do time que responde como uma liderança? Ou você é a única liderança do time, e as outras pessoas são contribuidoras individuais?

Rodrigo Gruding – Não, a gente fez recentemente uma divisão de estrutura, o time cresceu e a gente viu que precisava ter mais liderança ali, não só para as pessoas conseguirem entender onde elas podem entrar. Quando a gente pensa em estrutura de time, tem uma cacetada de coisa para trazer para se ter um time saudável. Mas a gente tem sim hierarquias ali que facilitam, então a gente tem ali Bordim, que é o nosso designer manager de produto, a gente tem o Alexandre Fontes, que é o nosso creator lead na parte de comunicação, e a gente tem Bordim fazendo um trabalho interino, de ser o lead desse time de design Ops. Embaixo a gente já começou a fazer algumas lideranças também de design lead, que são os designers que vão liderar as tribos, ajudando eles ali. Cada um tem os seus papeis e responsabilidades, esse é outro fórum também que é bum, se a gente entrar ali, tem aquela famosa divisão da carreira em Y, que você pode ser ou um individuo contribuitor, que é o cara especialista. Eu sou designer e eu quero ser designer até os meus 80 anos, eu quero falar de pixel, eu falar de componente, eu não quero saber de gerenciar pessoas, eu não quero saber desse negócio, eu quero ser realmente especialista. Ah, não, eu quero ir para um lado mais de gerenciamento, fazer one-on-one, contando para a galera, saber ferramental, saber se eles estão felizes com o processo de trabalho, aí você vai para o Manager. A gente ainda não chegou no tamanho de time que justifique ter essas divisões ainda tão separadas, então a gente hoje faz um trabalho, uma guarda compartilhada, digamos assim. Então, hoje o designer lead acaba fazendo um pouco dos dois, mas eu imagino que em algum momento no futuro, o time crescendo, a gente vai começar a fazer essas divisões, mas já aprendemos a lição, já temos algumas coisas preparadas para quando esse momento chegar. Então não vai ser uma novidade. Quando a gente receber esses sinais de que está faltando, a gente já sabe para onde crescer. Isso já me dá uma tranquilidade em relação ao tamanho do time. Então começamos sim, a ter divisões ali de hierarquia, de lideranças ali dentro. O meu papel hoje é garantir que essas lideranças estão conseguindo executar o trabalho delas, e que eu consiga trazer toda a ferramental que, não só os líderes, mas o time, ou seja, os líderes acabam trazendo as necessidades do que o time precisa para mim, para eu ver o que eu posso fazer para conseguir facilitar, sejam cursos, sejam bate-papos, seja trazer pessoas para o time para aprender, ou até mesmo, se for o caso, botar a mão na massa, caso seja necessário, para ajudar e trazer ideias, contribuir para o time. Mas divido o meu tempo muito mais pensando em coisas que vão direcionar a empresa e direcionar o time de design, porque por mais que eu seja o CDO, por ser fundador eu acabo entrando em outros papos que, talvez, um CDO influenciasse, mas talvez não precisasse de tanto tempo, quanto, às vezes, eu posso precisar. E é bom também fazer essas divisões, porque você reconhece o time, a galera tem sempre alguém que está à disposição, não sou eu tendo que achar tempo para falar com a galera, tem sempre alguém que pode ajudar quando tiver algum problema. Tem vários pontos positivos em fazer isso, mas tentar fazer isso no momento adequado, senão você acaba subutilizando um profissional sem necessidade.

Eu gostei muito de um ponto que você falou antes, da questão de estar sempre aberto à mudança, sabendo que roda assim hoje, mas não quer dizer que vai rodar assim amanhã. Hoje está desse jeito, talvez amanhã a gente tem que mudar, porque a parada vai crescer, vai aumentar a complexidade, eu vou precisar resolver outros problemas que eu não tenho hoje. Uma coisa que eu vi quando eu estava como head de produto da Optadesk com 5 pessoas, e hoje já tem 40 designers no time de design. Mesmo com poucas pessoas ou com muitas pessoas, tem algumas coisas que me ajudam a organizar a forma de pensar e a forma de tomar decisão, como time, como indivíduo, como líder. Você tem alguma ferramenta que você usou, ou alguma forma de pensar, alguma filosofia que mais te ajudou a tomar boas decisões ao longo do caminho? O que você aprendeu nesse processo?

Rodrigo GrudingEstou aprendendo ainda. Boa pergunta. Eu ainda estou aprendendo, e com esse crescimento acelerado, a gente está revendo muitas coisas, mas o que eu já estou vendo, que já era uma coisa que a gente já desconfiava e que a gente só está tendo mais certeza ainda, é essa questão de ter um time diverso, de ter muita colaboração, de ter muita troca junto com o time e evitar as pessoas fazendo as coisas sozinhas, apartadas. Então, encontrar esse formato, esse balanço ali, talvez seja a luta que a gente está tendo hoje para achar. A gente está indo muito bem nisso, graças a Deus, mas foi uma coisa que no começo a gente falou assim: “a gente precisa ajustar isso aqui”, uma pessoa está decidindo uma coisa, outra pessoa está decidindo outra, uma pessoa está fazendo uma coisa de um jeito, vai ver que a outra pessoa já fez de outro jeito. Quando a gente fala de design, a consistência, tem diversas coisas que são importantes ali. Quando a gente pensa, aquela questão de escalabilidade, se entrasse 30 designers segunda-feira, como a gente se prepara? Uma das coisas que a gente tem que se preparar é como a gente toma decisão como um time de design, porque, de repente, o Josias vem de um background do seu negócio, o Salva, de repente, vem mais de um cara mais de craft, um cara que quer saber do pixel, ele vai estar antenado para um outro lado. Vai chegar um momento do design de produto que vai ter um embate ali, que você vai ter que decidir uma direção, e você precisa ter um lugar que você possa olhar e usar como um auxílio para tomada de decisão. A gente prioriza isso ou a gente prioriza aquilo? Para que caminho a gente vai? Tem várias formas que você pode fazer isso, a internet tem uma cacetada de ideias de fazer isso, mas uma delas que eu acho interessante são, por exemplo, os princípios do design. Isso é uma coisa que a gente tem conversado pra cacete esse ano, ainda estamos conversando constantemente, ainda não chegamos num martelo fechado, mas a gente já sabe da importância dele. E não é definir princípios de design da Warren que seja bonitinho para botar num quadro e pendurar na parede. Princípios que realmente, na hora que o pau tiver quebrando, que a gente abra lá Google Docs, seja lá o que for, que a gente abra e levanta os 10 mandamentos ali, e a gente consiga usar eles para embasar as justificativas de decisão, e caso ainda tenha dúvidas, a gente se auxilia, a gente se inclina ali na estrutura, na hierarquia da liderança para conseguir tomar essas decisões. Então, se o time, junto com os princípios, ainda ficam em cima do muro, a galera realmente está batendo pé, não tem uma clareza de decisão, escala para o designer lead, quando o negócio tiver pegando com a escala, vai subindo, até chegar… no meu caso ali, se for para eu ajudar nessa tomada de decisão, mas também não sou o dono da verdade. Na verdade, o que eu tento trazer é mais uma clareza para que o time consiga tomar a melhor decisão. Isso é outra coisa que é muito importante, deixar o time andar. Ter essas coisas que, às vezes, a gente acha que são burocracias ou coisas que são bobinhas. E você tem um time pequeno, talvez, realmente não precise, porque fica todo mundo numa mesma sala, tudo bem que na pandemia a gente fica separado, mas quando o time é menor, é muito mais fácil de você ter um alinhamento entre todo mundo. Quando você tem 50 pessoas a 100 pessoas, já começa a ficar mais difícil todo mundo entender exatamente da mesma forma o que você está falando. Ter essas coisas, princípios, valores e propósito, ter um lugar onde a pessoa consegue consultar isso, independente da hora que ela for precisar, ajuda muito a você ganhar essa velocidade e garantir que todo mundo está usando o mesmo critério para tomar as decisões de um produto, que é uma coisa só, e o produto tem que refletir essa unicidade de decisão, tem que decidir o mesmo viés. A gente tem um conceito, a gente tem uma premissa a ser seguida, então todo mundo tem que seguir essa mesma premissa. Por isso que são princípios de design da Warren, e não princípios de design de outra empresa, cada um tem o seu, coisa que a gente valoriza mais do que, sei lá, o Quinto Andar, o Quinto andar valoriza outra coisa, o Nubank valoriza outra coisa, XP eu tenho certeza que valoriza outra coisa do que a gente. Cada um tem os seus critérios, você ter isso claro, ajuda na hora de você escalar o seu time e garantir qualidade nas entregas. Garantir qualidade nas entregas, quando a gente fala de escala é super importante, porque você deixa de ter retrabalho, que significa tempo perdido, não só de design, mas de desenvolvimento e também de negócio. Às vezes, a feature que tomou uma decisão errada, você atrasou o release de uma funcionalidade que, de repente, você estava esperando ter uma receita de tanto, então você atrasou 1 mês, você já perdeu 1 mês de receita, isso impacta no seu balanço no fim do ano, e isso pode impactar na saúde da empresa, ou até mesmo em outras coisas, como contratação, a gente não atingiu tal meta de receita, então a gente não vai conseguir contratar, então a gente vai ter que reduzir a contratação. Só para trazer um pouco de como o alinhamento, extrapolando bem por alto, ela pode influenciar no andar, não só do produto, mas da empresa como um todo.

Eu queria mudar um pouco o foco. Eu queria que você comentasse um pouco de qualidades de um designer. O que um Product Designer deve ter? O que ele deve se preocupar em aprender? E também, até comportamental, o que você espera de um bom designer? Até para a galera que está começando, muita gente está começando, quer consumir conteúdo e, às vezes, não tem nem chance numa empresa que já está mais estabelecida. O que você diria tanto para quem já tem alguma experiência, quanto para alguém que está começando na carreira?

Rodrigo GrudingEssa pergunta é excelente. Essa pergunta é muito importante. No começo da minha jornada da Warren eu não levava muita importância para isso, agora eu estou cada vez vendo o quão importante isso é, talvez seja uma das coisas mais importantes que se tenha que ter, porque eu estava nessa posição, cada vez como mais executivo, eu fico muito mais distante do dia a dia. Então, escolher quem vai compor o time, acaba sendo mais difícil, ainda mais na Warren, quando a gente abre uma vaga, são 300 pessoas por vaga. É difícil pra cacete de decidir, de escolher, é muito complicado. Mas o critério que eu penso, não só o Gruding como líder de design dentro da Warren, mas o Gruding como um dos fundadores, como empresário também, o que eu espero de um profissional de design. O que eu espero de um profissional de design dentro da Warren, para mim, designer, independente do lugar, essa pessoa tem que ser, antes de mais nada, curiosa. O designer que não é curioso, para mim, já nasceu morto. A pessoa que não tem o interesse em aprender o que está sendo criado por outras pessoas, que não tem curiosidade de saber como as novas tecnologias estão sendo feitas, que não tem curiosidade de saber como o desenvolvedor trabalha, que não tem curiosidade de saber como se faz uma interface de voz, que não tem curiosidade de entender como a empresa que ele trabalha funciona, ele vai fazer um trabalho medíocre, não no sentido pejorativo, mas um trabalho mediano, realmente. Então, ele não vai realmente fazer a diferença ali. Para mim, curiosidade é essencial, o designer que não tem curiosidade, sinto muito, não tem lugar dentro da Warren. Então, primeiro tem que ter essa vontade de aprender e de querer ser o melhor designer todo dia. Eu sou apaixonado pelo o que eu faço. Por exemplo, um dos motivos que eu saí da XP, é que passava a metade do tempo falando de politicagem corporativa. Cara, eu sou designer, eu não sou político corporativo, eu não quero ficar fazendo média para ganhar bônus na Warren, eu quero ser o designer mais foda. Eu não tenho tempo, nem saco quero designer que goste de pegar no design mesmo, sangue no olho, que seja curioso, que traga referência e que discuta alternativas, que traga não só críticas, mas que traga sugestões e soluções, já que está criticando, de como tem que ser o caminho. Para mim, curiosidade é fundamental, porque quem é curioso tem um monte de ideia na cabeça, e quando enxerga um problema, já vem com uma ideia de sugestões ali para chegar. Então, isso é o principal, é o primeiro, mas tem outro segundo que para mim é tão importante quanto, que é ser humano, ou seja, você ter a humildade de saber que você trabalha em conjunto com outras pessoas. Você não é o Jony Ive, tudo que você vai fazer vai ser ouro. Se você pensa também desse jeito, sinto muito, a Warren não é o seu lugar. A gente trabalha em um ambiente em que é aberto a troca de ideias, e para a gente ter um lugar aberto a ideias, a gente tem que sentir que a barreira realmente está baixa, que a gente pode expor as nossas ideias e a gente também tem que saber respeitar e escutar as opiniões dos outros. Então, colaboração eu acho que é o segundo item, que eu acho que é imprescindível, não só para o designer da Warren, acho que para todo designer. Quem faz design de produto, não é arte, não é: “eureca, tive aqui uma inspiração, eu vou chegar lá e terminar”, cara, tem muita ciência por trás, tem dados por trás, tem metodologias, tem processos, mudanças na indústria, relativamente novas, tem muita coisa que a gente bebe da fonte do design gráfico, que já tem tempos aí de história, e a gente tendo essa colaboração e esse conhecimento, a gente consegue usar isso cada vez mais. No começo do nosso papo ali eu falei em relação a diversidade. Diversidade não é só uma palavra bonita, “queremos ser diversos, porque está muito em voga hoje”, isso a gente tem desde que a gente nasceu, então para mim é muito natural. E por que é importante a diversidade? Simplesmente porque você tem pontos de vista diferentes, e quando você tem pontos de vista diferentes e todo mundo com o ponto de vista diferente consegue falar sobre a mesma coisa, quando você bota ela na rua, você já garante que você conseguiu acertar o problema de todos esses pontos que são diversos. Isso foi uma coisa que deu muito certo no começo da Warren, porque eu vim do lugar de design, o Tito vem de finanças e o André veio de tecnologia. Então, quando a gente tinha as nossas discussões quando era só nós três ali, a gente já tinha altas discussões porque eram pontos de vista muito diferentes, muito distintos, então quando a gente chegava numa decisão e ia levar para um teste de usabilidade com outro usuário, eu já chegava com 80% dos problemas resolvidos. Foi curioso, porque quando eu estava fazendo os primeiros testes de usabilidade com a galera, a maioria dos problemas que tinham eram de copy, era de texto, não era de fluxo, não era de interface, não era de hierarquia, nem nada, porque eu já tinha destrinchado tanta coisa, tanto do âmbito tecnológico, para entender a implementação, quanto de negócio, para saber como que tem que ser incrementado, o que precisa ser incrementado, como a gente envelopa essas duas coisas e entrega para o cliente. Para mim, curiosidade e colaboração, são os dois pilares que eu não abro mão, quando eu penso em trazer pessoas para o time de design da Warren, e para mim são essenciais para qualquer designer que trabalha com produto, que queira realmente fazer a diferença no mercado. Pessoas que tenham tesão pelo que fazem, eu acho que já têm isso naturalmente. Tem muita gente que gosta de falar: “quero fazer o portfólio assim. Mas como eu faço meu portfólio fólio?”, cara, só trabalha, vai atrás que as coisas vão acontecer. Vai atrás, sendo curioso, você vai perguntar para uma pessoa, vai ficar com uma dúvida, vai ter que falar com outra pessoa, daqui a pouco você vai estar trocando uma ideia com outras pessoas que você, naturalmente vai ser direcionado, e as coisas vão acontecendo. Para mim seriam esses dois aí.

 

Tem alguma pergunta que a gente não fez para você e você gostaria que a gente tivesse feito? Algum tópico que a gente não abordou?

Rodrigo GrudingCom certeza tem muita coisa, design é uma cachaça, se deixar eu fico o dia inteiro falando, tem muita coisa para falar sobre design realmente, o craft, que embora eu esteja distante ali, eu estou muito de olho, eu sou apaixonado por isso. Tem muita coisa de liderança também que eu tenho lido, agora eu estou aprendendo, é uma nova profissão, você ser líder, eu não fiz faculdade de administração, lidar com pessoas é muito difícil. Na verdade, eu queria aproveitar e fazer o contrário, quem tiver ouvindo o podcast e tiver uma pergunta que queira fazer para mim, me chamem no LinkedIn, fiquem à vontade. Vamos trocar figurinha. É uma coisa que eu sempre quis ter, quando eu estava do outro lado da cerca. Eu não tenho papas na língua, não tenho esse negócio de “eu sou o cara que toca”, eu posso demorar para responder, mas eu respondo todo mundo. Quem tiver dúvidas aí, fiquem mais do que a vontade para me adicionar, me perguntar ali no LinkedIn. O design é uma cachaça para mim, vamos bater um papo, a nossa comunidade é forte, os designers brasileiros são os mais fodas que tem no mundo, não estou falando por falar, eu já trabalhei fora e já ouvi isso. Sejam curiosos, sejam colaborativos, se acharem que faz sentido entrar na Warren, também compartilhem trabalhos, a gente vai conversando de acordo com as demandas ali. O nosso mundo é muito pequenininho, a gente vai acabar se esbarrando cedo ou tarde, para quem realmente já está destinado ali, eu tenho certeza que vai acabar chegando no lugar que a gente vai se falar. Dei uma escapada.

Esse processo colaborativo que você comentou, é muito verdadeiro, porque a gente pediu para falar com você e você prontamente respondeu e a gente já está trocando uma ideia aqui, e gravamos esse episódio que ficou muito legal, muito conteúdo bacana. E a gente faz isso realmente porque a gente gosta, e porque a gente é apaixonado pelo o que a gente faz. Claro que tem que dar dinheiro, mas esse é o ponto final, o importante é a gente estar dentro de uma cultura, de um processo, dentro de uma área, uma disciplina que a gente ama fazer. A gente trabalha com o que a gente gosta. A gente sabe que vai ser difícil anyway, vai ser difícil ser líder, vai ser difícil ser designer, vai ser difícil ser designer de produto. Não tem moleza na frente, não tem moleza ao longo do caminho.

 

Rodrigo Gruding – Prazer estar com vocês e falar sobre esse tema que eu adoro tanto. Muito obrigado pelo convite. Queria deixa a última frase de pensamento, que serve tanto para quem é design, tanto para quem é líder, quanto para quem é empresário, graças a Deus a gente tem visto cada vez mais, não sei se eu estou parafraseando alguém, mas como designer, como empresário, seja o que for, é mais importante você fazer o certo do que você estar certo. Então, se você seguir com essa premissa, eu tenho certeza que vai conseguir já tomar boas decisões, independente do seu contexto. Vou deixar essa pérola aí.

 

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  • Inspired, Marty Cagan
  • The making of a product manager, Julie Zhuou

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